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LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTIVAS EMPRESAS

4.2 OS RECURSOS TERRITORIAIS NA DINÂMICA DA AVICULTURA DE CORTE BAIANA

4.2.2 Oferta de grãos e a densidade técnica envolvida na produção

No que se refere à oferta de grãos, sobretudo, de milho e de soja, a mesma constitui um fator importante no desenvolvimento da avicultura uma vez que a ração representa mais de 70% dos custos de produção do frango.

Dentro do território baiano, até 1992, a produção de milho era realizada, principalmente, na Região Econômica de Irecê e na Região Econômica do Oeste, onde o período de colheita era realizado de março a maio, e na Região Nordeste do estado, na qual a colheita ocorria de agosto a outubro (BAHIA, 1992).

Nesse sentido, a oferta de milho seria relativamente bem distribuída ao longo do ano, se considerado os períodos de colheitas no estado, e esse aspecto, a princípio, constituiria um fator positivo para a produção avícola baiana. Entretanto, a produção desse grão apresentava-se de forma pulverizada, com baixa produtividade por área e com inexistente formação de estoques.

Nesse sentido, o que a princípio constituiria um fator positivo para o desenvolvimento da avicultura, revela-se um verdadeiro entrave uma vez que os produtores de frango tinham que recorrer à produção de milho de outros estados para suprir a necessidade desse insumo na produção de rações.

A oferta de grãos dentro do Estado da Bahia era, portanto, incipiente para atender de forma satisfatória a produção avícola estadual, mesmo considerando a estrutura técnica e economicamente atrasada dessa atividade. Desta forma, a complementação para atender à demanda da avicultura para esses tipos de grãos era realizada via importação dos mesmos em outros estados produtores como os

Estados de Goiás, Minas Gerais e Piauí. Essa situação acabava por constituir um elemento negativo para a expansão da atividade avícola industrializada.

É preciso destacar, ainda, que as condições de acesso à produção desses grãos no que se refere, entre outras questões, à infra-estrutura entre os centros de produção de grãos e as áreas de produção avícola eram bastante precárias. Assim, as dificuldades para a avicultura baiana no que se refere à produção de rações encontravam-se basicamente na incipiente produção de milho e soja, mas também nas distâncias das regiões produtoras em relação às granjas e na qualidade das estradas de acesso a essas regiões que, devido às precárias condições de tráfego, aumentariam os custos de produção.

Considerando a importância desses recursos produtivos, a facilidade da oferta dos mesmos torna-se fundamental para permitir a redução dos custos e do preço final dos produtos avícolas, favorecendo, portanto, ao aumento do consumo destes produtos, possibilitando, assim, a expansão da atividade avícola. Nessa perspectiva, o fator oferta de grãos tende a constituir um relevante elemento que influi nas estratégias de territorialização das agroindústrias avícolas.

Na Bahia, nos últimos anos, vem sendo observado um crescimento expressivo tanto em termos de área cultivada quanto em termos de produção dos grãos de soja e de milho, nas principais áreas produtoras de grãos, conforme aponta tabelas n° 26 e n° 27 e as figuras n° 20 e.n° 21.

Os dados apresentados acima permitem afirmar que, embora haja pequenas oscilações, tanto a produção de soja quanto a produção de milho tem aumentado significativamente no espaço baiano. Principalmente nos últimos anos, é possível notar que há um significativo crescimento da produção sem que, no entanto, haja um expressivo aumento da área plantada.

No geral, durante o período considerado, a área plantada para o cultivo de milho aumentou de 418.477 ha, em 1990, para cerca de 802.294 ha, 2005, ou seja, houve um aumento de 91,7% de área plantada, em relação à 1990. Entretanto, a produção saiu de 127.041 toneladas, em 1990, para cerca de 1.616.464 toneladas, em 2005, o que significa afirmar que houve um aumento de, aproximadamente, 1.172% na produção de milho em relação a 1990.

Tabela n° 26

BAHIA: área plantada e produção de milho - 1990-2005

Ano Produção (toneladas) Área plantada (ha)

1990 127.041 418.477 1991 440.568 578.094 1992 446.422 514.642 1993 527.729 544.137 1994 711.106 744.885 1995 675.352 502.425 1996 740.214 619.529 1997 1.066.778 691.796 1998 633.343 522.780 1999 895.224 667.839 2000 1.321.569 674.267 2001 992.852 689.388 2002 849.743 705.592 2003 1.216.855 799.359 2004 1.610.524 810.965 2005 1.616.464 802.294

Fonte: IBGE/ PAM - Produção Agrícola Municipal

Figura n°20 - BAHIA: área plantada e produção de milho - 1990-2005

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Produção (ton.) Área Plantada (ha)

Fonte: IBGE/ PAM - Produção Agrícola Municipal Elaboração: Edney Conceição

Tabela n° 27

BAHIA: área plantada e produção de soja - 1990-2005

Ano Produção (toneladas) Área plantada (ha)

1990 220.416 360.015 1991 441.000 210.000 1992 480.000 320.000 1993 592.269 381.049 1994 873.384 434.036 1995 1.072.911 470.575 1996 700.211 433.263 1997 1.013.541 456.550 1998 1.188.000 553.700 1999 1.150.000 580.000 2000 1.508.115 628.356 2001 1.407.600 690.000 2002 1.464.000 800.000 2003 1.555.500 850.000 2004 2.365.290 821.270 2005 2.401.872 870.000

Fonte: IBGE/ PAM - Produção Agrícola Municipal

Figura n°21 - BAHIA: área plantada e produção de soja - 1990-2005

0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Produção (ton) Área Plantada (ha)

Fonte: IBGE/ PAM - Produção Agrícola Municipal Elaboração: Edney Conceição

No que se refere à soja, durante o período considerado, a área plantada subiu de 360.015 ha, em 1990, para 870.000ha, em 2005, o que significou um aumento de 141% em relação a 1990. Entretanto, a produção dessa cultura cresceu de 220.416 toneladas para 2.401.872 toneladas, ou seja, se comparado ao ano 1990, houve um crescimento de 989% na produção de soja.

Tal fato revela que este crescimento na oferta de grãos de soja e de milho no Estado da Bahia se deve, em grande parte, à incorporação de processos modernizadores da produção agrícola que têm possibilitado o aumento da produção, sem exigir, necessariamente, a expansão da área cultivada.

Aqui cabe ressaltar que não é simplesmente a oferta de grãos que se constitui como recurso. É antes de tudo a densidade técnica envolvida na produção dos grãos de soja e de milho e a disponibilidade de terras que, aliados às políticas de financiamento agrícolas, tem contribuído para aumentar a oferta de grãos. Portanto, no que se refere à oferta de grãos é o conjunto desses elementos que efetivamente se apresenta como recurso territorial valorizados nas estratégias e ações das agroindústrias avícolas.

É esse conjunto que vem contribuindo para colocar Estado da Bahia numa posição privilegiada para o desenvolvimento da avicultura atraindo o interesse de grandes empreendimentos. É inegável, portanto, que o fator grãos tenha influenciado decisivamente para a expansão da atividade avícola dentro da Bahia, pois, essa questão é reiteradas vezes apontada pelos diversos agentes envolvidos no processo de territorialização da avicultura de corte. Wilson Broff4, por exemplo, ao

se referir à implantação do Grupo Avipal na Bahia, afirmou que, o “centro agrícola de Barreiras que produz soja, milho e mais recentemente sorgo - insumos básicos para a criação de frangos e suínos - tornou o projeto competitivo.”

Outras referências à importância da oferta de grãos como fator influenciador no conjunto de estratégias territoriais da avicultura de corte baiana são feitas pelo atual Gerente Agropecuário da Avipal Nordeste S.A. e pelo Gerente de Fomento da Avigro Avícola Industrial Ltda. quando questionados, respectivamente, sobre os fatores que levaram à instalação da Avipal e à ampliação da Avigro no Estado da Bahia. Segundo esses gerentes, um dos fatores que tem permitido a expansão da avicultura baiana é:

4 Gerente da Avipal Nordeste no período de implantação da empresa na Bahia, em Reportagem feita pela Revista Negócios

a questão ligada à produção de grãos. Com maior importância, a questão da própria soja na região de Barreiras e o milho também. Então, realmente pelo fato da região norte e Nordeste ter uma nova fronteira agrícola, a gente entende que, se nós olharmos o movimento das grandes empresas hoje no Brasil, elas estão saindo do sul e do sudeste para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste. (Gerente da Avipal Nordeste S.A.).

A produção de grãos. A gente tem um pólo de grãos maravilhoso, que é o pólo de Barreiras. No início da avicultura aqui sempre os grãos eram comprados de São Paulo ou Minas. Hoje, a Bahia é exportadora de grãos. Apesar de que tem que correr atrás de oferta. Se a oferta for Goiás ou Mato Grosso agente tem condições de trazer e compensar o frete. Tem que correr atrás. Entendeu?. Mas, hoje a Bahia ela... o oeste baiano, especificamente, cresceu muito, muito rápido. Tanto que a empresa Mauricéa ela foi pra lá porque é mais barato você produzir o frango próximo a matéria-prima do que transportar matéria-prima e estar próximo ao mercado consumidor. (Gerente de Fomento da Avigro Avícola)5

As afirmações dos gerentes de algumas das principais empresas avícolas instaladas na Bahia revelam, mais uma vez, o peso que a disponibilidade de grãos exerce no conjunto de ações e estratégias utilizadas pela empresa no seu processo de territorialização. Tais afirmações denunciam que um dos fatores que tem contribuído para a expansão da atividade avícola dentro do território baiano é o aumento da oferta de grãos, verificada, efetivamente, no oeste do estado.

Dentro dessa questão, há claramente uma estratégia territorial das grandes empresas avícolas envolvendo o fator oferta de milho e soja, uma vez que as mesmas procuram acompanhar a produção territorial desses grãos visando à incorporação de mercados regionais. Esse é um dos fatos que, segundo Mizusaki (2003), nos últimos anos, tem orientado as empresas a destinarem investimentos para o Centro-Oeste e Nordeste do país, pois, estas empresas se instalam acompanhando, também, a expansão da produção da soja e do milho.

Não obstante, observa-se que a maior parte das unidades produtivas das empresas avícolas no Estado da Bahia encontra-se concentrada na área polarizada por Feira de Santana (principalmente nos Municípios de São Gonçalo dos Campos e Conceição da Feira, área de estudo deste trabalho) que, por sua vez, não apresenta destaque expressivo no cultivo de grãos utilizados na produção da ração. Tal problemática leva-nos a considerar que mesmo que os insumos da ração representem a maior parcela dos custos de produção, existem outros fatores que passam a influenciar fortemente nas decisões territoriais das agroindústrias.

Desta forma, a grande questão que se coloca neste momento é: por que mesmo não tendo um destaque na produção de grãos de milho e de soja os Municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos conseguem obter uma expressão relevante no desenvolvimento da atividade avícola?

É evidente, portanto, que a oferta de grãos e, conseqüentemente, o custo da ração, não deve ser visto como único fator a ser considerado para avaliação da territorialização da avicultura industrial de corte no Estado da Bahia.

As respostas para tal questionamento devem ser buscadas no peso de outros recursos territoriais e nos discursos dos principais agentes envolvidos na atividade avícola tanto a nível municipal quanto regional. Entretanto, esse questionamento já revela a existência de uma complexa articulação dos recursos que estruturam as estratégias e as ações territoriais dos agentes inseridos na dinâmica avícola baiana.

Tal questionamento aponta o caminho da investigação da dinâmica de territorialização, entendida como o processo de materialização no espaço, das relações sociais de produção, e da territorialidade, consideradas como o conjunto de ações e estratégias dos agentes, neste caso, das agroindústrias avícolas, dentro do estado da Bahia.