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LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTIVAS EMPRESAS

4.2 OS RECURSOS TERRITORIAIS NA DINÂMICA DA AVICULTURA DE CORTE BAIANA

4.2.1 O potencial mercado consumidor

Segundo Araújo (2002), “[...] a Bahia dispõe de uma área territorial em 567.295,3 Km2, rica em recursos naturais e clima favorável; contudo, é um estado importador de alimentos, tendo como destaque na sua pauta de importação a carne de frango.” (p. 14).

Esse contraste contribuiu para que, durante um período relativamente longo, em decorrência da incipiente produção interna, a demanda crescente de produtos avícolas dentro do Estado da Bahia fosse, em grande parte, sendo atendida via importação oriunda de outros estados da federação. Assim, apesar das condições climáticas favoráveis, a Bahia continuava “importando frango vivo, congelado e industrializado, sobretudo dos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, transferindo renda para essas regiões” (CARMO, 2002, p. 23).

Para atender as necessidades de produção de carne de frango, os produtores baianos ficavam dependentes do mercado da Região Sul e Sudeste e, nesse sentido, “reféns” das oscilações da produção avícola nessas regiões. Esse fato comprometia, conseqüentemente, o número de frangos alojados e abatidos no estado e o consumo per capita efetivo.

Essa é uma questão que era ainda mais agravada considerando a inexistência de abatedouros industriais com inspeção federal dentro do estado, pois, como constatou o estudo realizado pela Secretaria de Indústria e Comércio do Estado da Bahia:

enquanto em outros Estados do Sul e Sudeste do Brasil existem abatedouros industriais de grande porte, na Bahia, o abate de frangos ainda é [era] caracterizado por pequenos estabelecimentos semi-artesanais, que em muitos casos, deixam a desejar quanto à higiene e qualidade do produto. (BAHIA, 1992, p. 33)

Nessa perspectiva, o frango produzido no estado era comercializado “in natura” e a oferta de frangos congelados bem como de produtos avícolas industrializados, no mercado baiano, dependiam mais uma vez da importação de outros estados, principalmente dos estados de maior expressividade nacional no desenvolvimento da avicultura. A tabela n° 25 apresenta dados levantados pela SIC junto às três maiores empresas da época (Chapecó, Perdigão e Sadia), fornecedoras de produtos para o Estado da Bahia. Os dados são relativos às importações baianas de carnes de aves nos anos de 1990 e 1991.

Tabela n° 25

BAHIA: importações de carne de aves – 1990 e 1991

Produto 1990 1991

Frangos congelados 17. 028,88 26.385,92

Derivados ind. de frangos - -

Corte de frangos 964,59* 1.097,46*

Miúdos de frangos 262,03* 199,35*

Total 18.255,50 27.682,73

Fonte: BAHIA (1992)

* Total anual de um só fornecedor

Embora não represente a totalidade das importações baianas de carne de frango nos anos de 1990 e 1991, os dados apresentados na tabela são bastante significativos para evidenciar o quanto o mercado baiano, nesse período, era profundamente dependente da produção de outros estados para poder suprir a demanda interna.

Ainda segundo os dados obtidos pela Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo do Estado da Bahia, em 1990 e 1991 o estado abateu, respectivamente, cerca de 15.656 e 24.734 toneladas de carne de frango. Se comparado com os dados das importações apresentados na tabela n° 25, verifica-se que o estado importou quase que a mesma quantidade que produziu durante os anos de 1991 e 1992. Certamente, se considerada a totalidade das importações, elas seriam

superiores ao volume produzido internamente e evidenciaria, dessa forma, que a grande parcela do consumo baiano de produtos avícolas era atendida pela produção de outros estados do país.

Em face do exposto e considerando o crescente consumo per capita da carne de frango em nível nacional e internacional, somando-se o fato de que o consumo per capita baiano (12 kg por pessoa, no ano 2000) situava-se abaixo da média brasileira (29,9 Kg, no ano 2000), o mercado baiano apresenta amplas possibilidades para a expansão do consumo e, consequentemente, da atividade avícola.

É importante destacar também, que há algum tempo vem sendo observada uma gradativa mudança nos hábitos alimentares dos consumidores que têm optado por dar preferência pelo frango resfriado ou congelado. Dentro do Estado da Bahia, esse fato tem uma ressonância muito forte, pois, tem provocado a redução do número de abatedouros artesanais e a instalação de frigoríficos industriais para atender às novas tendências de mercado.

É exatamente dentro dessas perspectivas que o fator mercado consumidor tem se revelado como um elemento propulsor da territorialização avícola dentro do estado da Bahia.

Araújo (2002), analisando comparativamente os sistemas de produção familiar integrado e o de produção familiar independente na avicultura de corte no Município de Conceição da Feira, constatou que a empresa gaúcha Avipal S.A, antes de se instalar no Estado da Bahia, chegou a destinar cerca de 30% da sua produção para atender ao mercado baiano.

Esse fator é, inclusive, destacado pela empresa como um dos elementos decisivos para a implantação, em 2001, da Avipal Nordeste S.A. no estado. O grupo escolheu a Bahia para expandir, porque não existiam grandes projetos avícolas no Nordeste.

Nas ultimas décadas, o setor avícola baiano tem presenciado um expressivo movimento de expansão com a implantação de novos empreendimentos industriais e também com a ampliação dos que já existiam anteriormente. Todo esse processo de implantação e/ou ampliação das unidades produtivas da avicultura de corte foi fortemente influenciado pelas amplas possibilidades oferecidas pelo mercado consumidor baiano em potencial, conforme ficou evidenciado no depoimento de um dos gerentes da Avipal Nordeste S.A.

Segundo um dos Gerentes da Avipal Nordeste S.A., um dos principais fatores que influenciaram na instalação da Avipal no Estado da Bahia:

foi a falta de produtos produzidos dentro da Bahia, ou seja, a Bahia não é auto-suficiente em produção de carne de frango. Se não me falha a memória, temos hoje uma defasagem em torno de 80 mil toneladas que são importadas por ano, o que praticamente equivale a uma outra Avipal. Por isso que eu disse que a Avipal poderia duplicar a produção. (Gerente da Avipal Nordeste S.A) 3

Embora nos últimos anos tenha se verificado um aumento expressivo da produção avícola dentro do Estado, o mercado consumidor baiano ainda continua oferecendo perspectivas de crescimento para a avicultura de corte. Esse fato é revelado considerando que mesmo com a implantação e ampliação de plantas industriais ligadas à avicultura, segundo dados da SEAGRI, existe um déficit na produção de aves abatidas no Estado de aproximadamente 101.237 toneladas por ano, o que corresponde a 34% da demanda total. Assim, o fator mercado consumidor baiano teve e ainda tem contribuído para a territorialização da avicultura de corte, pois, o quadro interno que anteriormente atendia menos da metade da demanda, hoje se encontra relativamente alterado em função da expansão produtiva dessa atividade.

O potencial mercado consumidor, considerado como um recurso do território tem sido um forte influenciador no processo de territorialização da avicultura de corte não só no âmbito da escala estadual, mas, também, regional uma vez que grande parte da demanda avícola, no Nordeste, é atendida por empresas instaladas em outras regiões do país. As amplas possibilidades oferecidas por um mercado em potencial, cuja produção avícola interna não é suficiente para atender a sua demanda, tende a se tornar um importante atrativo de empresas avícolas de expressão nacional com o objetivo de suprir a demanda regional dos produtos avícolas.

No que tange à influência desse recurso sobre a atividade avícola dos municípios de Conceição da Feira e São Gonçalo dos Campos, observa-se que tais municípios são valorizados nas estratégias das empresas, entre outros fatores, pela proximidade e acessibilidade que os mesmos apresentam em relação aos principais

centros populacionais do estado da Bahia e da Região Nordeste, como procurar-se- á evidenciar posteriormente.

É difícil, entretanto, afirmar que este constitui o principal fator responsável pela expansão da avicultura industrial de corte, pois, a mesma encontra-se inserida num quadro que envolve a interação de diferentes recursos territoriais e agentes produtivos e, por isso, é necessário continuar a analisar o peso de cada um destes elementos.