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LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTIVAS EMPRESAS

4.2 OS RECURSOS TERRITORIAIS NA DINÂMICA DA AVICULTURA DE CORTE BAIANA

4.2.4 Recursos institucionais normativos do território baiano

É de extrema importância que a análise geográfica valorize não só o conjunto de objetos técnicos dispostos sobre a superfície, mas também o conjunto de ações que lhes atribuem sentido, como forma de apreender a dinâmica territorial. Nessa perspectiva, a interação existente entre os objetos técnicos (daí a idéia de sistemas de objetos) e destes com o conjunto das ações que determinam a sua lógica de uso, é estruturada a partir da intencionalidade dos agentes que implementam tais ações e passam a participar da organização do espaço de acordo com seus objetivos e necessidades. Urge, portanto, a necessidade de investigar as ações e as intencionalidades destes agentes como caminho para compreensão da dinâmica territorial e, consequentemente, da regulação política do território.

Desta forma e de acordo com os objetivos propostos nesse trabalho, é imprescindível que se tenha uma atenção especial para a “atuação” do poder público, nas suas mais variadas esferas, considerando-o como um importante agente na medida que, coordena a regulação política e econômica do território.

Segundo Alba (2002, p. 37), “O Estado Moderno é elemento presente e atuante, responsável por um grande número de tomadas de decisões. A vida social, econômica e, portanto, espacial é, em boa parte, ditada, viabilizada e mediada pela via política, através do Estado”.

Durante um período relativamente longo, a figura do Estado se apresentou como um dos principais agentes na organização do espaço brasileiro ao viabilizar as condições necessárias para ocorrência do processo de industrialização do país.

Entre os anos de 1930 e 1980 a presença do Estado nos setores de produção de fontes de energia, infra-estrutura de transportes e comunicação, indústria de base e abastecimento de água, bem como no fomento às pesquisas e novas formas de produção, foi decisiva para expansão das atividades econômicas industriais, refletindo, evidentemente, na organização espacial brasileira.

A partir dos anos 1990, observa-se uma transformação na forma de agir do Estado em decorrência da “crise” do modelo de estado keynesiano e o conseqüente “surgimento” do modelo de Estado Neoliberal, frente aos sucessivos processos de globalização. Tais transformações têm culminado em intensos processos de privatizações, mas, em hipótese alguma, têm significado redução de importância do papel desempenhado pelo Estado. Ele continua a agir decisivamente na organização espacial através da regulação/normatização política e, portanto, econômica, do espaço e do território.

No âmbito da escala municipal (considerando aqui os municípios que integram a área da pesquisa), é preciso destacar, a principio, que a ausência de uma política, sistematizada a nível municipal voltada, especificamente, para o desenvolvimento da atividade avícola, somada à dificuldade de acesso aos principais representantes do poder público municipal, não tem possibilitado uma análise mais aprofundada da participação do poder público municipal na questão da atividade avícola.

Entretanto, a partir das entrevistas realizadas com os secretários municipais de Agricultura, acrescentado dos depoimentos de diretores das principais empresas avícolas instaladas nos municípios, foi possível ter uma visão geral da participação do poder público municipal no processo de desenvolvimento da atividade avícola. Nessa perspectiva, ao serem perguntados sobre essa participação, eles afirmam:

alguns prefeitos, alguns municípios, sem uma política formalizada, ajudam. Eles [as prefeituras] fazem acessos, eles fazem poços artesianos [para os integrados], mas, são políticas adotadas individualmente, sem ter nenhum plano formalizado. (Diretor da Gujão Alimentos S.A.)

houve uma negociação até política, por parte de governantes locais, deputados e parlamentares no sentido de fornecer a propriedade, uma área onde esse abatedouro seria localizado. Além disso, algumas vantagens em termos de IPTU também foram negociadas. Então eu acredito que o ponto crucial foi o fornecimento da área. (Gerente da Avipal Nordeste S.A) tem sido dado todo apoio necessário para que a Avipal se expanda mais aqui no nosso município, né? O papel da Prefeitura tem sido de facilitar o contato entre aquelas pessoas que têm interesse em colocar galpão, ou seja, têm interesse de ser criador de frango. De ser integrado à empresa. Como o município tem interesse que essa atividade se desenvolva, tem-se buscado junto à empresa promover essa aproximação entre o produtor e a empresa com o objetivo maior de construir o maior número de galpões aqui em São Gonçalo dos Campos. (Secretário de Agricultura do Município de São Gonçalo dos Campos)

Os depoimentos dos funcionários das principais empresas avícolas e do Secretário de Agricultura do Município de São Gonçalo dos Campos evidenciam a forma de atuação do poder público deste município no que se refere ao desenvolvimento da atividade avícola.

É possível perceber que, de um modo geral, mesmo sem uma política formalizada de desenvolvimento avícola, o poder municipal tem atuado no sentido de, na medida do possível, dar sustentação à expansão da avicultura. A sua atuação tem sido verificada na promoção de melhorias das estradas que dão acesso aos galpões dos produtores integrados e também na aproximação entre a empresa integradora e os possíveis interessados em se tornar produtores integrados. Segundo afirma o Secretário de Agricultura do referido Município, essa aproximação envolve também a participação de organismos financeiros (Banco do Nordeste do Brasil) como forma de viabilizar o financiamento da construção dos galpões de criação.

As ações do poder público municipal de São Gonçalo dos Campos também tem sido verificada na política de redução de impostos municipais9 com o objetivo de atrair novos empreendimentos avícolas, como foi o caso do Abatedouro da Avipal Nordeste S.A. Nesse sentido, constata-se que essa esfera de poder tem

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Segundo funcionários do quadro administrativo da Avipal Nordeste S.A., na época de implantação da empresa na Bahia ocorreram algumas negociações políticas envolvendo a empresa, o poder público municipal e estadual que culminaram no fornecimento da área para construção do abatedouro e na redução do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).

orientado as suas ações referentes à expansão da atividade avícola tanto no âmbito da oferta de infra-estruturas quanto no âmbito das políticas fiscais, ainda que as mesmas não configurem uma política formalizada voltada, especificamente, para o desenvolvimento dessa atividade.

No tocante ao Município de Conceição da Feira, é importante destacar que uma parcela considerável dos representantes do poder público municipal desenvolve ou já desenvolveu alguma atividade ligada à avicultura. Entretanto, o que se observa é que, mesmo sendo a avicultura a principal atividade econômica do município, não existe, pelo menos nos últimos anos, um plano de desenvolvimento voltado, especificamente, para a atividade avícola.

Em que pese tal fato, isso não significa afirmar que o poder público municipal em Conceição da Feira não tem atuado no sentido de fortalecer a expansão dessa atividade. Mas, considerando a importância que a referida atividade tem para o município, uma vez que emprega uma parcela considerável da mão-de- obra, as ações implementas por essa esfera de poder têm se revelado como ações pontuais.

O depoimento do Secretário de Agricultura do Município traz uma certa noção da participação do poder municipal no desenvolvimento da avicultura, quando afirma que essa atividade:

iniciou, evidentemente, através do poder público municipal em 69 ... 70, ali com o Prefeito Anézio Pinto Corrêa que trouxe a empresa. Nos dias de hoje...o município... Nós estamos aqui procurando estar presentes. Estar, sempre que possível, nas reuniões dando a nossa colaboração. Mas, uma vez que a avicultura, hoje, tá praticamente nas mãos dos grandes produtores com o setor de integração, então o município fica ao lado ali no que for importante a sua participação (Secretário de Agricultura do Município de Conceição da Feira).

Nessa perspectiva, as ações do poder público local têm se restringido a serviços de manutenção das estradas de acesso às granjas e na organização de seminários, reuniões e audiências públicas.

Um bom exemplo da atuação do poder público local ocorreu quando do agravamento dos problemas sanitários provocados pelo vírus H5N1 (“gripe do frango”) que, embora não tenham ocorrido no Estado da Bahia, acabaram por afetar a avicultura baiana uma vez que a produção que seria destinada para o mercado

externo acabou sendo destinada para o consumo interno a um preço relativamente reduzido.

Nessa ocasião, o poder público municipal, através da Câmara Municipal, organizou uma audiência pública que contou com a participação de representantes das principais empresas avícolas da região, dos órgãos de fomento financeiros, do Governo Federal, de Deputados Federais e Estaduais além de representantes da sociedade civil. Essa audiência teve por objetivo maior reunir esforços no sentido de pressionar os governos estaduais e federal para adotar medidas de proteção da avicultura baiana.

De uma forma geral, o que se constata é que ações desenvolvidas pelo poder público desses dois municípios não constitui um plano de ação estruturado de forma a possibilitar, efetivamente, uma maior expansão da atividade avícola. Essas ações têm se concentrado basicamente na manutenção das estradas de acesso às granjas e organização de reuniões entre os futuros integrados e a empresa integradora constituindo, dessa forma, ações pontuais que ajudam, mas, não fortalecem o processo de expansão da avicultura nos referidos municípios.

Dentro dessas perspectivas, em termos de atuação do poder público como agente atuante na dinâmica de territorialização da avicultura de corte baiana, verifica-se uma ação mais efetiva do governo estadual que tem agido de maneira a dar sustentação à nova dinâmica avícola industrial que se impõe.

É preciso destacar, nesse sentido, a importância das políticas públicas desencadeadas/materializadas pelo poder público estadual que expressam, pois, na sua essência, o seu papel no processo de expansão do modo industrial de produzir no setor avícola.

O Estado tem agido de forma decisiva no processo de expansão da avicultura industrial na Bahia, principalmente com a disponibilização de crédito para financiar a implantação e ampliação de unidades de produção avícola industrial.

Desta forma, torna-se inevitável analisar o papel das políticas públicas destinadas para o setor avícola, pois, o quadro da avicultura baiana tem se modificado a partir dos estímulos governamentais, materializados através da Política de Atração de Investimentos, a qual motivou a instalação de modernos frigoríficos no Estado (OLIVEIRA, 2004).

A participação do poder público estadual como agente na dinâmica de territorialização da avicultura de corte encontra-se expressa no estabelecimento de

infra-estrutura necessária para o desenvolvimento das agroindústrias ligadas ao setor, equipando o território com energia elétrica, melhorando as condições de tráfego nas rodovias, serviços de terraplanagem, entre outros. Entretanto, a maior expressão de suas ações encontra-se evidente nas políticas de atrativos fiscais e de financiamento das agroindústrias que se instalam no estado.

O quadro n° 1 destaca os principais instrumentos utilizados pelo poder público estadual com vistas a incentivar o desenvolvimento da atividade avícola no Estado da Bahia.

Quadro n° 1

Principais programas e normativas utilizados pelo Governo do Estado da Bahia para incentivar a atividade avícola.

Instrumentos Principais Objetivos Programa de Investimento

para Modernização da Agricultura na Bahia –

AGRINVEST - 2000

fomentar programas e projetos que visem estimular, em padrões competitivos, o desenvolvimento dos setores agropecuário, agro-industrial e pesqueiro no Estado da Bahia;

propiciar avanço no padrão tecnológico e no desenvolvimento dos empreendimentos agropecuários, agro-industriais e pesqueiros;

tornar os investimentos mais atrativos, assegurando aos beneficiários do programa a compensação parcial de custos financeiros decorrentes de financiamentos;

Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica do Estado da Bahia – DESENVOLVE - 2001

fomentar e diversificar a matriz industrial e agroindustrial, com formação de adensamentos industriais nas regiões econômicas e integração das cadeias produtivas essenciais ao desenvolvimento econômico e social e à geração de emprego e renda no Estado.

estimular a instalação de novas indústrias e a expansão, a reativação ou a modernização de empreendimentos industriais já instalados, com geração de novos produtos ou processos, aperfeiçoamento das características tecnológicas e redução de custos de produtos ou processos já existentes.

Portaria n° 119 Proibir, em todo Estado da Bahia, a entrada de aves de descarte procedentes de outras Unidades da Federação; Proibir a entrada no Estado da Bahia de esterco e de cama de aviário, como de resíduos de Incubatório e abatedouros, para qualquer finalidade.

As transformações ocorridas no seio do setor agrícola brasileiro têm resultado em modificações na capacidade do Estado em estabelecer uma regulação geral desse setor, obrigando-o, como afirma Silva (1998), a formular políticas específicas para cada segmento constituinte do setor agrícola. Entretanto, os instrumentos e ações implementadas pelo poder público estadual vêm expressar, na realidade, a continuidade das ações estatais no sentido de promover, dentro da Bahia, a expansão do setor agropecuário aliado ao modo industrial de produzir.

No nível estadual, podemos observar que a expansão da avicultura foi beneficiada, através das políticas de incentivos, principalmente fiscais, à industrialização no Estado.

O Programa de Investimento para Modernização da Agricultura na Bahia (AGRINVEST) foi instituído através do Decreto n° 7.749 de Janeiro de 2000, como forma de promover a expansão e modernização dos setores agropecuários, agroindustriais e pesqueiros, tornando os investimentos nestes setores mais atrativos e, ao interiorizar os empreendimentos, proporcionar a geração de empregos.

Através do AGRINVEST, o Estado assume o pagamento de parte (50%) dos custos financeiros incidentes, no período de carência de até três anos, dos financiamentos contratados com instituições financeiras, desde que este benefício não exceda a 6% (seis por cento) de custos financeiros ao ano.

Para os financiamentos sem previsão de prazo de carência, o Programa assegura o pagamento dos custos financeiros por parte do Estado, durante os dois primeiros anos de amortização.

O importante a destacar nesse momento é o fato de que as ações estatais através do AGRINVEST seguem no sentido de promover o desenvolvimento, em padrões competitivos, de diversos setores da economia baiana. Tais ações visam, sobretudo, viabilizar o desenvolvimento e a modernização de segmentos agropecuários técnica e economicamente atrasados e/ou com amplas possibilidades de expansão e competitividade, aproveitando as oportunidades apresentadas pelo espaço baiano.

Dentre os produtos, projetos e atividades selecionados para serem objetos do programa de incentivos do AGRINVEST, encontra-se a atividade avícola (Quadro n° 2). A inserção dessa atividade dentro desse Programa é justificada, entre outros

fatores, pelo quadro de profundo atraso e falta de competitividade que caracteriza a avicultura baiana.

Quadro n° 2

BAHIA: principais metas de investimento do Programa Agrinvest, 2000-2002 PRINCIPAIS METAS