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As categorias internas de análise do espaço geográfico

Segundo Santos (2004), o espaço é conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações e é a partir dessa conceituação que se pode reconhecer as categorias internas ao conceito de espaço e os recortes espaciais. Como categorias, tem-se a paisagem, a configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, o espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas-conteúdo. Como recortes espaciais tem-se a região, o lugar, as redes e as escalas.

E do mesmo passo podemos propor a questão da racionalidade do espaço como um conceito histórico atual e futuro, ao mesmo tempo, da emergência das redes e da globalização. O conteúdo geográfico do cotidiano também se inclui entre esses conceitos constitutivos e operacionais, próprios à realidade do espaço geográfico, junto à questão de uma ordem mundial e de uma ordem local (SANTOS, 2004, p. 22-23).

Para se entender essas categorias internas do espaço geográfico é preciso o entendimento de alguns processos básicos, originalmente externos ao espaço, tais como a técnica, a ação, os objetos, a norma e os eventos, a universalidade e a totalidade, a totalidade e a totalização, a temporalização e a atemporalidade, a idealização e a objetivação, os símbolos e a ideologia. Essas estruturas externas são fundamentais para se entender as categorias internas do espaço, pois definem a sociedade e o planeta. “O espaço é uma categoria autônoma do pensar histórico” (SANTOS, 2004, p. 30).

Embora seja o espaço formado por objetos, é o espaço que determina os objetos, pois, ao ser inserido no espaço, o processo de adaptação-concretização naturaliza o objeto tornando- o condição de existência de um meio simultaneamente técnico e geográfico.

De fato, dizemos nós, não há essa coisa de meio geográfico de um lado e meio técnico do outro. O que sempre se criou a partir da fusão é um meio geográfico, um meio que viveu milênios como meio natural ou pré-técnico, um meio ao qual se chamou de meio técnico ou maquínico durante dois a três séculos, e que hoje estamos propondo considerar como meio técnico- científico-informacional (SANTOS, 2004, p. 41).

Como a técnica está integrada ao meio, formando uma única realidade, o espaço é um híbrido, um composto de formas e conteúdos.

[...] o conteúdo técnico do espaço é, em si mesmo, obrigatoriamente, um conteúdo em tempo – o tempo das coisas – sobre o qual vêm agir outras manifestações do tempo, por exemplo, o tempo como ação e o tempo como norma. Não é que esta suprima o espaço e o tempo, apenas altera em sua textura, e pode também alterá-los em sua duração (SANTOS, 2004, p. 46).

Nesses termos, o espaço se impõe como condicionante da produção, da circulação, dada comunicação, do exercício da política, das crenças, da moradia e do lazer. Por isso, Santos (2004) considera que o espaço é formado, ao mesmo tempo, por um conjunto indissociável, solidário e contraditório de sistemas de objetos e sistema de ações, em um quadro único no qual a história se dá. Assim sendo, o espaço é evolutivo, de forma que no começo, há milhões de anos, a natureza era selvagem, formada por objetos naturais. Estes objetos, ao longo dos anos, foram sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, transformando a natureza em uma espécie de máquina. “O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes” (SANTOS, 2004, p. 63). O Espaço é um sistema de valor que muda

permanentemente, pois é formado pelo resultado do material acumulado das ações humanas através do tempo mais o dinamismo e a animação das ações atuais.

Santos e Silveira (2001, p. 27) apresenta a sucessão dos meios geográficos ocorridos no Brasil e identifica três grandes momentos na organização do território brasileiro: “os meios naturais, os meios técnicos e o meio técnico-científico-informacional. Por esses meios e por intermédio de suas técnicas diversas no tempo e nos lugares, a sociedade brasileira foi construindo uma história dos usos do território nacional”.

O primeiro período, o período pré-técnico, foi marcado pelos tempos lentos, com o predomínio da natureza sobre as ações humanas (dos índios) e, mesmo com instalação dos europeus no território brasileiro, nesse período se buscava amansar a natureza, mas havia carência de instrumentos artificiais.

No segundo período, o período técnico, a mecanização seletiva começou a dominar a natureza em lugares seletivos, transformando o território brasileiro em um conjunto de “ilhas”, um arquipélago de mecanização incompleta. Primeiro, pelas técnicas pré-máquinas e técnicas máquinas; depois, com a introdução das máquinas, completou seu período técnico, iniciando- se a urbanização do país e a formação da Região Concentrada. Em seguida, no pós-guerra, a instalação de estradas e rodagens articulou a integração nacional, aumentando, mais ainda, a hegemonia paulista sobre o território brasileiro.

O terceiro grande período foi dividido em duas fases: a primeira, a fase do período técnico-científico e a segunda, do período técnico-científico-informacional. Na primeira fase a revolução das telecomunicações dos anos setenta difundiu o meio técnico pelo território brasileiro. Em seguida o meiotécnico-científico-informacional se instalava no país, todavia, restringindo-se a algumas áreas. Quando a globalização se tornou realidade, esse meio, articulado à informação e às finanças se espalhou no território, porém distinguindo os lugares conforme sua presença ou ausência, configurando a nova geografia do território brasileiro. Dessa forma, os modernos recursos da informação, incorporados ao conjunto da ciência e da técnica, deram origem ao período da globalização, transformando o mundo. O território brasileiro foi atingido por esse processo que, concentrado no Sudeste-Sul, se espalhou por meio da hierarquia das redes fixas e flexíveis, ou virtuais, para todo o território, aumentando as possibilidades de produção, por meio da circulação de mercadorias, capitais, seres e dinheiro; e de informações, comunicações diversas, tais como dinheiro virtual, ordens, poder, ideologias, controles etc., tornando o território brasileiro um grande mercado, globalizado.