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A competitividade é um fator constante de pressão entre os agentes da produção, entre as cadeias produtivas, entre as redes de empresas e entre as configurações territoriais, caso dos territórios e as regiões produtivas. O tema é aqui tratado em virtude da concentração espacial, em escala global, da produção e oferta de borracha natural e seus derivados e da respectiva demanda pelo produto e seus derivados principalmente pelas redes de indústrias pneumáticas.

Ao afirmar que “a competitividade de um país depende da capacidade de sua indústria de inovar e melhorar”, Porter (1999, p. 167) reforça a argumentação de que as empresas conseguem vantagens sobre os demais competidores do mundo justamente em razão das pressões e dos desafios postos, uma vez que “elas [se] beneficiam da existência de rivais internos poderosos, de uma base de fornecedores nacionais agressivos e de clientes locais exigentes” (PORTER, 1999, p. 167). Por isso, o aumento da competitividade de setores

específicos no mercado global, em função do acúmulo de conhecimento, implica o aumento da competitividade e importância de seus respectivos países. Isso porque a vantagem competitiva é gerada e sustentada localmente. “As diferenças nos valores nacionais, a cultura, as estruturas econômicas, as instituições e a história são fatores que contribuem para o êxito competitivo” (PORTER, 1999, p. 167). Com a ressalva de que nenhum país é capaz de competir em todos os setores e nem mesmo na maioria dos setores.

O pensamento econômico predominante de que a competitividade é determinada pelos custos de mão de obra, taxas de juros, taxas de câmbio e economias de escala, ao mesmo tempo em que tem levado as empresas a fusões, alianças e a formação de redes empresariais em escala global, também tem levado os governos a se articularem por meio de políticas estratégicas para promoverem a competitividade nacional. Ao analisar as vantagens competitivas setoriais mundiais entre dez países selecionados, Porter (1999, p. 169) concluiu que

muitos indicadores da vantagem competitiva, como a rentabilidade divulgada, às vezes são enganosas. Escolhemos como melhores indicadores a existência de exportações substanciais e sustentadas para uma vasta gama de outros países e/ou investimentos externos significativos, com base em habilidades e em ativos gerados internamente.

Por isso deu ênfase aos fatos históricos das vantagens e desvantagens de cada setor, de forma a encontrar respostas para o questionamento sobre a razão pela qual determinado

setor iniciou no país, como cresceu, quando e porque as empresas desenvolveram a vantagem competitiva internacional e o processo pelo qual se sustentou ou se perdeu a vantagem competitiva. As histórias de casos daí resultantes ficam aquém do trabalho de um bom historiador, em termos de detalhes, mas proporcionam insights sobre o desenvolvimento tanto do setor como da economia nacional (PORTER, 1999, p. 169, destaque nosso).

Com o esclarecimento de que ainda não existe uma teoria capaz de explicar a competitividade nacional. “Pior ainda, não há uma definição consagrada do termo ‘competitividade’, no que se refere a um país” (PORTER, 1990, p. 170). Para reforçar esse argumento, ressalva que a história mostra que países com escassez de recursos naturais se tornaram muito mais competitivos do que outros países onde esses recursos são abundantes. Também considera que as políticas governamentais, em si só, não são elementos fundamentais para a competitividade nacional, uma vez que há evidências tanto de países que se tornaram determinados setores competitivos após a implantação dessas políticas, caso do Japão e da

Coreia do Sul, quanto de países onde não houve tais políticas e houve competitividade, caso da Alemanha.

Para Porter (1999, p. 172), “o único conceito significativo de competitividade no nível nacional é a produtividade”. Isso por considerar que um país para elevar o padrão de vida de sua população deve necessariamente potencializar a produtividade por unidade de trabalho e capital. “A produtividade é o principal determinante do padrão de vida de longo prazo do país; é a causa primordial da renda per capita nacional” (PORTER, 1999, p. 172). Como essa produtividade fica a cargo das empresas, estas devem, por meio da ciência, tecnologia e inovação, aprimorar, permanentemente, seus sistemas produtivos, para competirem em setores cada vez mais sofisticados e, portanto, de alta complexidade do mercado globalizado.

Nesse contexto, a depender da política governamental interna e das estratégias empresariais nacionais, o comércio internacional e os investimentos externos são fatores que tanto podem contribuir para fortalecer a competitividade nacional, como podem se transformar em ameaças. “Eles a fortalecem ao permitir que os países se especializem naqueles setores e segmentos nos quais suas empresas são mais produtivas e ao importar nos casos em que é menor a produtividade” (PORTER, 1999, p. 172). Porém, por submeterem os setores econômicos de um país aos padrões de produtividade global, o comércio internacional e os investimentos externos poderão enfraquecer os setores nacionais. “Se o país perder a capacidade de competir num conjunto de setores de alta produtividade e altos salários, seu padrão de vida estará ameaçado” (PORTER, 1999, p. 173). Ressaltando que, no tocante à produtividade, o nível alto de emprego não significa elevada competitividade. “O elemento decisivo para a prosperidade econômica é o tipo de empregos, e não a capacidade de empregar os cidadãos com baixos salários” (PORTER, 1999, p 173, destaque do autor). Nem tampouco no nível de exportação ou importação com geração de superávits ou de equilíbrio na balança comercial, o que pode ser conseguido em razão de baixos salários, moeda fraca ou de importação de produtos tecnologicamente sofisticados, demonstrando fraqueza das indústrias domésticas. Ou seja, se esses fatores, por um lado, podem contribuir para demonstrar avanços na competitividade, por outro, podem não contribuir para elevar a qualidade de vida em escala nacional.

Embora a competitividade não esteja definitivamente no país e nem na economia como um todo e, sim, nos setores específicos com níveis avançados de ciência, tecnologia e inovação, esses setores estão articulados no interior dos respectivos países aos quais asseguram competitividade. “Trata-se do resultado de milhares de lutas pela vantagem competitiva contra os rivais estrangeiros em segmentos e setores específicos, nos quais são gerados e aprimorados

os produtos e processos que constituem os pilares do crescimento da produtividade nacional” (PORTER, 1999, p. 173).

Já para Farina (1999), o conceito de competitividade é um conceito que vem se firmando no debate sobre política econômica em escala mundial. “Para um país integrado à economia global, a competitividade internacional é necessária para evitar a estagnação e o declínio econômico, tornando-se um objetivo de política inquestionável” (FARINA, 1999, p.147). Mas ressalta que, se a competitividade tem um claro significado quando aplicado a empresas, o mesmo não se pode afirmar em relação a um país, por este não ter todas as suas indústrias ou setores competitivos. “Do ponto de vista das teorias de concorrência, a competitividade pode ser definida como a capacidade sustentável de sobreviver e, de preferência, crescer em mercados correntes ou em novos mercados” (FARINA, 1999, p. 48). Portanto, trata-se de um conceito próprio para se avaliar o desempenho das firmas individuais. Todavia, esse desempenho depende de relações sistêmicas envolvendo coordenação vertical e logística. Nesse contexto, os principais fatores de competitividade são a presença de fornecedores e distribuidores internacionalmente competitivos; evolução da participação no mercado; custos e produtividade; capacidade de ações estratégias; e inovação em produto e processo.

O ambiente competitivo é constituído pela estrutura do mercado relevante (concentração, economias de escala e escopo, grau de diferenciação dos produtos, barreiras técnicas de entrada e saída), pelos padrões de concorrência vigentes (concorrência, preço e extrapreço, presença de grupos estratégicos, barreiras de mobilidade, etc.), pelas características do consumidor/cliente, que abrem possibilidades de segmentação de mercado e pelo ciclo de vida da indústria, coadjuvante na definição dos padrões de concorrência (FARINA, 1999, p. 151).

Acrescentando que os padrões de concorrência constituem as regras da competitividade. Dessa forma,

preço, marca, atributos de qualidade, estabilidade de entrega, reputação de confiança, inovação contínua em produto ou em processo, assim como a importância relativa dessas variáveis, formam o padrão de concorrência de uma indústria ou grupo estratégico dentro da mesma indústria (FARINA, 1999, p. 151).

Quando se trata da competitividade de sistemas agroindustriais a análise recai sobre o desempenho de um sistema e não de uma firma individual. Embora sejam esses sistemas formados por segmentos com diferentes graus de dependência mútua. “A primeira questão conceitual que emerge é a propriedade desse nível de agregação, já que se trata não somente de

estender o conceito de competitividade horizontalmente (da firma para a indústria) como também verticalmente (da indústria para a cadeia produtiva)” (FARINA, 1999, p. 154). Com base nesses pressupostos e por considerar que são as empresas e não as nações que competem nos mercados, uma vez que uma nação não pode ser competitiva em todos os setores ao mesmo tempo, a autora reafirma que a competitividade das nações é um conceito vazio. Com a ressalva de que essa mesma crítica não é pertinente ao conceito geral de competitividade do sistema agroindustrial brasileiro, por se tratar de “sistemas agroindustriais específicos tais como o SAG do leite, SAG da cana-de-açúcar, e assim por diante” (FARINA, 1999, p. 154).

Portanto, o conceito de competitividade dos sistemas, caso do sistema agroindustrial, leva em consideração a capacidade de sobrevivência do segmento como um todo no mercado, mesmo que várias de suas firmas sucumbam.

Por exemplo: o segmento industrial da soja pode tornar-se mais competitivo com a consolidação econômica, o que significa o desaparecimento de grande número de firmas que se tornaram não competitivas. Então, o segmento melhora sua competitividade, ainda que parte de suas empresas não sejam competitivas (FARINA, 1999, p. 154).

Por esses pressupostos se conclui que o conceito de competitividade, além de ter se estendido para a análise do sistema industrial, tem sido crescentemente usado como foco de política pública, o que sugere que o conceito abarca, mesmo de forma indireta, a escala nacional e, por conseguinte, as relações de competitividade que a partir dessa escala se estabelecem em escala mundial.

Para Durski (2003), a competitividade de uma cadeia produtiva depende da integração permanente entre seus elos, uma vez que seu objetivo final é atender às expectativas e às necessidades dos consumidores finais. Essa integração é necessária para equilibrar a produtividade das cadeias produtivas diante de fatores variáveis, tais como, mudanças de preços; custos de produção; diferenciação de produto pela concorrência; estrutura de mercado; ganhos de produtividade; confiabilidade e prazos nas entregas; qualidade; disponibilidade dos serviços pós-vendas; inovação tecnológica; investimento em capital físico e humano; influência dos meios institucionais; infraestrutura etc. “quando se pretende medir o grau de competitividade de uma cadeia, de seus elos ou de uma empresa em particular, é importante conhecer o esforço inovador, por tratar-se de um fator decisivo na evolução da competitividade” (DURSKI, 2003, p. 36). Isso por considerar que, para se medir a capacidade competitiva de determinada empresa ou setor, a principal variável a ser analisada é o volume de recursos empregados em pesquisa e desenvolvimento.