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Outras oportunidades no cultivo da seringueira: mel, fixação de carbono, óleo e

Para Marques et al. (2011) foi-se o tempo em que a seringueira produzia somente látex, matéria-prima empregada na indústria de pneumáticos e artefatos de borracha. “Nos dias atuais, essa planta vem sendo explorada em outras cadeias produtivas e o seu cultivo cumpre funções sociais, ecológicos e econômicas, que ampliam a renda na propriedade em todas as fases de sua vida útil, dado os seus usos múltipos” (MARQUES et al., 2011, p. 51).

Uma dessas oportunidades é a apicultura. A partir do terceiro ou quarto ano de plantada a seringueira inicia a troca de folhas e com ela a produção de néctar utilizado pelas abelhas na produção de mel. Segundo representante da EBDA/Seagri, Camamu-BA (ENTREVISTA, 2011), na seringueira, a abelha produz o mel a partir de um líquido adocicado, que atrai as abelhas, que elas extraem na intersecção das folhas da árvore e não nas flores como nas outras plantas melíferas. Além do que, essa produção de néctar se estende por quatro a seis meses

depois da renovação foliar, tempo muito superior ao de outras espécies melíferas, que só produzem néctar no interstício da floração, ou seja, em curto prazo de tempo. Portanto, a apicultura é também uma oportunidade para o setor, especialmente nos SAFs, a exemplo de sua exploração comercial na região produtiva de seringuira na Bahia, conforme mostra a Figura 32 de um apiário na fazenda PMB no município de Igrapiúna-BA.

Figura 31 – Sistema de apicultura em seringais da PMB

Foto: Próprio autor, na PMB.

Nota: Foto de uma colmeia, tirada no Centro de Biotecnologia da PMB, em Igraoiúna-BA, em 2011.

Marques et al. (2011, p. 51), ao comentarem sobre o tema, argumenta que

Tal característica é uma das razões que indicam os seringais como excelente alternativa de pastoreio apícola. Um apiário, com 15 colméias [sic] por hectare de seringueira, pode produzir em média 150 quilos de mel por ano, constituindo-se fonte alternativa de renda e ocupação, principalmente para os agricultores familiares (MARQUES et al., 2011, p. 51).

A fixação de carbono atmosférico (CO2) e a respectiva venda do crédito de carbono é

outra possibilidade de geração de renda da seringueira, uma vez que se trata de uma árvore com capacidade de fixação de carbono atmosférico (CO2) em quantidades equivalentes às florestas

naturais, com o diferencial de que na seringueira o carbono é fixado no látex, onde permanece por longo tempo. Além disso, a borrracha natural por ela produzida também emite menos gazes tóxicos que a borracha sintética,

credenciando-se assim como ótima opção para o recebimento do certificado de redução de emissão (RCE). Considerando que a comercialização da borracha ocorre a partir do sexto ano após o plantio do seringal, a perspectiva de venda futura dos créditos de carbono pode melhorar o fluxo de caixa no período de imaturidade da cultura (MARQUES et al., 2011, p. 51).

O óleo produzido a partir da semente da seringueira é outra oportunidade que não pode ser desprezada. Pois trata-se de um produto de boa qualidade, já testado na fabricação de tintas, vernizes, sabões, resinas, entre outros usos. Além disso, o óleo da seringueira tem boa qualidade industrial e tem potencial tecnológico para uso como biocombustível no futuro.

Como o Brasil vem buscando a autossuficiência na produção de borracha vegetal e a perspectiva é de se plantar aproximadamente 1,25 milhões de hectares nos próximos vinte anos, a produção de sementes da seringueira poderá ser utilizada na produção comercial de energia renovável, biocombustível, biodiesel e energia limpa, dado ao alto rendimento do óleo (43%), podendo diminuir a dependência de produtos derivados do petróleo nas principais regiões produtoras de borracha (MARQUES et al., 2011, p. 51).

A madeira é outra grande oportunidade gerada pela cultura da seringueira. Como após o ciclo médio de 30 ou 40 anos de produção os seringais de cultivo devem ser renovados, essa renovação gera um produto muito importante na atualidade que é a madeira dos seringais substituídos. Com a madeira se tornando um produto cada vez mais escasso no mercado mundial e a legislação ambiental e as convenções globais aumentando as restrições sobre a extração de madeira das florestas naturais, aexploração da madeira da seringueira torna-se um negócio bastante atrativo.

A seringueira é uma das espécies potenciais para suprir a alta demanda, em razão das características que a qualificam para os mais diferentes usos: móveis residenciais, de escritórios, móveis institucionais, escolares, médico- hospitalares, móveis para restaurantes, hotéis e similares, além de forros e escadas. Em diversos países asiáticos, a produção e exportação de mobiliário confeccionado com madeira de seringueira é atividade de grande importância, a exemplo da Malásia e do Vietnã, que acumulam riquezas através da exportação de produtos gerados com madeira dessa planta (MARQUES et al., 2011, p. 52).

Nesses casos, a conclusão à qual se chega é que como no Brasil há perspectiva de aumento no consumo de madeira nos próximos anos, o ideal é incentivar práticas silviculturais direcionadas para formação de fuste ereto e alongado, caso da seringueira, para a produção de madeira.

Além do que, a seringueira ainda pode ser usada como sombreamento de topo, em especial para o cacaueiro e como mourão vivo, na formação de cercas ecológicas em diversos SAFs, conforme demonstrado na Figura 33.

Figura 32 – Algumas das formas de utilização da seringueira

Fonte: As três primeiras fotos do próprio autor. A última, modificada de Anip (2013).

No caso do Sombreamento de topo, na Bahia, a Ceplac tem encorajado a utilização da seringueira em inúmeros programas de agricultura sustentável, como uma das espécies possíveis de consorciação, por proporcionar um sombreamento de qualidade aos cacaueiros, além de reduzir o período de imaturidade das culturas permanentes, gerando empregos e renda durante todo o ano e por todo ciclo de exploração do SAF, fornecendo produções contínuas de alimentos, cacau, látex, mel e madeira, e promovendo a diversificação da produção pelo uso mais eficiente dos fatores de produção (luz, água e nutrientes). Além de ampliar substancialmente a área plantada com seringueira e cacaueiro. Esse sistema funciona também como alternativa viável de recuperação de áreas degradadas e contribui para diminuir a pressão sobre os remanescentes da Mata Atlântica baiana.

Segundo Marques (2010, p. 2), para viabilizar o multiuso da seringueira, e não apenas do látex, deve-se observar as seguintes possibilidades: a) plantio simultâneo das seringueiras em fileiras duplas e orientadas no sentido leste-oeste, para permitir maior entrada de luminosidade nos cacaueiros e a movimentação de máquinas e animais nas práticas culturais e

na colheita; b) facilitar o monitoramento das culturas principais e viabilizar o aproveitamento futuro da madeira da seringueira, sem causar danos aos cacaueiros; c) viabilizar uma densidade populacional de seringueira próxima à dos plantios em monocultura e possibilitar a intercalação com outros cultivos agrícolas de ciclos curtos e semiperenes nas fases de imaturidade dos cultivos principais, tornando o sistema SAF atrativo.

3.7 Fatores políticos como estratégia para transformar os gargalos da cadeia produtiva