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CAPÍTULO II O Direito de Tendências no Partido dos Trabalhadores:

3.11. As conquistas do I Congresso, segundo a DS

O I Congresso ocorreu durante o período que pode ser considerado o prelúdio da expulsão da Convergência Socialista (CS), inaugurado com o encaminhamento do registro das tendências na reunião do DN de 20 de maio de 1990, às vésperas do VII EN. Como sabemos, a Causa Operária não teve seu registro aceito, mas a CS obteve do VII EN um “pré-reconhecimento” da validade de seu registro, condicionado à sua adequação à resolução sobre tendências. A questão se arrastou pelo período seguinte, e em dezembro de 1991, quando a DS publicou o artigo “As Conquistas do I

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Congresso” no nº 256 do Em Tempo, já estava instaurada entre a militância do PT a sensação de que a expulsão da Convergência era questão de pouco tempo.

Em “As Conquistas...”, João Machado parte de considerar equivocadas as “interpretações” que surgiam do I Congresso na “grande imprensa e nas publicações de correntes do PT como a Convergência Socialista”. Distanciando-se dessas interpretações, baseava-se no fato de que, mesmo num momento de ofensiva ideológica da direita, o I Congresso esteve centrando na discussão do socialismo, o que demonstrava a “vitalidade do PT como partido classista e socialista”. De saída, esse motivo já indicava que o I Congresso deveria ser considerado “como uma grande vitória para os socialistas” O texto saudava o avanço na participação feminina no Congresso, passando em seguida a uma caracterização das posições aprovadas sobre o socialismo e a conjuntura internacional. Estas posições, via de regra já contidas na tese-guia que a Articulação apresentara ao Congresso, eram fundamentalmente corretas e armavam bastante bem o partido para a disputa política, de acordo com Machado. O autor destaca que, nesse ponto em específico, os conteúdos aprovados pelo Congresso se distanciavam das elaborações do PPB, tão criticadas pela DS no período pré-congressual, que consideravam a conjuntura como sendo de “avanço da democracia”. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 3.)

Machado comemora o aprofundamento das definições do “socialismo petista”, através da dupla negativa “nem estalinismo, nem socialdemocracia”. Aponta ainda que o I Congresso reconhecia uma “contraposição entre o estalinismo e as concepções iniciais da revolução russa, com uma valoração positiva desta e uma caracterização do estalinismo como fruto de uma contra-revolução”. Mas uma confusão teórica teria sido introduzida com a aprovação de uma emenda proposta pelo PPB e incorporada pelo documento aprovado pelo congresso, que negava a “ditadura do proletariado”, e na prática acabava por reduzir esse conceito “à sua interpretação estalinista”. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 3.)

O debate congressual sobre tema da “construção partidária”, na opinião da DS, teria ficado excessivamente centrado sobre o direito de tendências, indício de que a questão permanecia candente. Acompanhemos sua síntese, conforme a formulação de Machado:

Na questão das tendências – a votação mais dividida do Congresso – venceram os partidários de um PT plural e democrático, que não quer ser uma federação de frações, e no qual as tendências são correntes que podem se organizar no interior do partido para defender suas posições. Isto não foi uma novidade: trata-se de uma concepção já presente na regulamentação aprovada em 1990, agora apenas mais explicitada (em particular, na regulamentação das relações internacionais) e enfática na ideia de desbloqueamento do partido”. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 3.)

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É necessário frisar que a DS permaneceu dando prioridade à ofensiva contra os setores que identificava como a direita partidária. É nesse sentido que Machado relaciona o tema do controle dos mandatos com os princípios de unidade e disciplina partidária.

(…) O crescimento dos meios de expressão, dos recursos e da audiência pública devem ser acompanhados de um proporcional sentido de responsabilidade, de ética, de disciplina e de maior controle partidários”. Se isto for aplicado será um grande avanço, pois, infelizmente, o que mais tem faltado a alguns de nossos parlamentares é justamente este sentido superior (…), como ficou claro nas declarações e artigos na Folha de S. Paulo e no Jornal da Tarde, entre outros, dos deputados José Genoíno, Eduardo Jorge e Paulo Delgado atacando de forma tortuosa o resultado dos Encontros Estaduais em que foram derrotados. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 3.)

Em todo caso, a avaliação geral das resoluções aprovadas era a de que os avanços na concepção do socialismo permitiam falar em um PT “até mais definido à esquerda que antes”. Os avanços eram mais tímidos no que se referia aos desafios de resistir às pressões para a integração do partido nos aparatos do Estado burguês e de apontar uma estratégia para enfrentar a crise política brasileira e a política econômica do governo Collor.

Um dos pontos mais comemorados pela DS foi a dinâmica de recuos e o desempenho modesto do “Projeto para o Brasil”. Se a princípio os signatários daquela tese tinham a elevada pretensão de disputar com a Articulação qual seria a tese-guia do Congresso, acabaram aprovando poucas emendas, e fracassando em polarizar os delegados que apoiavam a Articulação, o PPB obteve apenas 12% dos votos dos delegados. Mas essa derrota da ala direita do partido não significava a redução de seu peso político no PT: permaneciam tendo influência sobre setores da Articulação, além de figuras públicas de expressão e acesso à grande imprensa.

A esquerda partidária também não escapava às críticas de Machado. O dirigente da DS avaliava negativamente a dinâmica “extremamente sectária” apresentada no congresso pela Convergência Socialista, “seguida por outras correntes menores e em geral pelo O Trabalho”.

Desde o início do processo do Congresso a CS vem caracterizando o PT como majoritariamente social-democrata, e elaborou uma tática de “unidade das esquerdas” para atingir 40% do Congresso e enfrentar a Articulação e o PPB tomados como um bloco. Na questão das tendências, aferrou-se à defesa do seu “direito” de atuar o mais possível como uma fração pública do PT e em não apostar na construção do partido, mas sim na sua própria. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 4.)

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Diante dessa postura, restava à DS “torcer para que a CS e as outras correntes que se somaram a esta dinâmica revejam sua posição”. (Em Tempo, nº 256, 1992, p. 4) Em todo caso, a tônica do congresso era dada pelo esforço da DS e de outros setores, incluída a “maioria dos companheiros da Articulação”, em fazer avançar a “linha do PT classista, socialista, revolucionário e democrático”. De acordo com Machado, eram esses setores que compunham a “esquerda real do Congresso”, cuja interação apontava a “possibilidade de uma recomposição da direção do partido para aprofundar seu projeto”. Esse prognóstico otimista seria aprofundado no decorrer do período seguinte, e teremos oportunidade de tornar a falar das divisões na Articulação, nas quais se baseava a estratégia da DS.

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