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3. ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DAS

3.2. Função Social Direito da Pessoa de Baixa Renda em ser Assegurada

3.2.4. As diferentes formas de mutualismo em outras associações

Como foi demonstrado em toda a pesquisa, o direito de associação é um princípio constitucional basilar para o Estado Democrático de Direito e esta intimamente ligada a dignidade da pessoa humana. Só com essa premissa é possível destacar que a atuação das associações podem abranger inúmeras áreas,

desde que não tenham caráter paramilitar e possua fins lícitos, conforme preceitua a Constituição Federal.

O mutualismo, por sua vez, é a possibilidade de “rateio de despesas ou prejuízos” através de um grupo de pessoas que se unem a fim de formarem um fundo comum para divisão de riscos. Como já demonstrado, não se trata de cobertura, e sim de divisão de gastos entre os associados, onde uma quantia variável por mês é repassada de forma igualitária a todos os membros, então quanto maior o número de membros, menor o valor a ser pago por cada associado.

Um bom exemplo de associações mutuarias são as associações de moradores. Essas instituições surgem principalmente com o intuito de promover uma melhor qualidade de vida, visto que o Estado não tem conseguido propiciar todas as necessidades da sua população, assim, um grupo de moradores, através de uma assembleia geral, estabelece o fornecimento de determinadas necessidades básicas para o bairro, como coleta de lixo, portaria, captação de água, monitoramento 24 horas, manutenção de vias públicas e espaços comuns (praças), através de uma colaboração mensal dos associados.

O rateio de despesas ordinárias é a base das associações de moradores, assim, através do mutualismo e da autogestão os moradores de determinado loteamento possuem benefícios básicos, não fornecidos pelo Estado ou prestados de forma precária, colaborando mensalmente pelas despesas e manutenção destes benefícios ofertados pela associação de moradores. Assim, a oferta de serviços também é uma característica das associações de moradores, não sendo algo particular das proteções veiculares.

Esse é o mesmo caso do Banco de Remédios, associação sem fins lucrativos de Porto Alegre, mas que possui “filiais” nas demais regiões do Brasil, a qual promove o acesso a medicamentos de auto custo aos seus associados, cobrando uma mensalidade que varia entre R$ 20, 00 (vinte reais) a R$ 50,00 (cinquenta reais) para que haja a manutenção da instituição.

A associação de ajuda humanitária atua há mais de 10 anos no Estado do Rio Grande do Sul, com ampliação para outros estados como São Paulo, Amapá e Acre, sendo criada por Damásio Macmillan que após passar por um transplante de rins percebeu a dificuldade de conseguir medicamentos caros, mesmo através do Sistema Único de Saúde – SUS, e que muitos ex-pacientes de diversos tratamentos possuem medicamentos em perfeito estado de uso que eram descartados por não

serem mais necessários. Assim, através de um controle de classificação, conservação e validade os medicamentos são catalogados e distribuídos aos associados que necessitem.

O Banco de Remédios é uma associação, sem vínculos governamentais e partidários, mantida exclusivamente pelos seus associados através do mutualismo. O estoque, classificação, verificação de conteúdo e prazo de validade são feitas por voluntários da área da saúde e demais profissionais que queiram participam. Atualmente o estoque conta com 7.000 mil medicamentos dos mais variados tipos, desde pílulas anticoncepcionais até medicamentos para doenças crônicas.

Para receber os medicamentos é necessário que o interessado se associe, apresente diagnostico médico e receita, além da contribuição mensal.

Este é o mesmo caso da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – FEMAMA, associação civil, sem fins econômicos, que busca ampliar o acesso adequado no diagnóstico e ao tratamento do câncer de mama para todos os pacientes.

Foi criada em 22 de julho de 2006, durante o Seminário Visão de Futuro 2006 - 2015, promovido em São Paulo, atualmente possui 70 (setenta) ONGS associadas, estando presente em 17 (dezessete) estados mais o Distrito Federal, representando mais de 1.000,00 (um milhão) de mulheres.

A FEMAMA cobra de seus associados uma contribuição pecuniária para sua manutenção, sendo de um salário mínimo nacional, podendo ser parcelado, conforme prevê o seu manual220.

A particularidade desta instituição é o fato dos associados serem ONGS e não pessoas físicas como nas demostradas anteriormente, o que não descaracterizaria o mutualismo, visto que não há exigências neste sentido.

Neste mesmo espoco podemos observar a Associação Brasileira de Planos de Saúde, entidade sem fins lucrativos que organiza o sistema privado de prestação de serviços médicos. Contando como seu principal objetivo o de representar institucionalmente as empresas privadas de plano de saúde, junto aos órgãos federais, estaduais e municipais, sendo fundada em 8 de agosto de 1966, estando presente há mais de 50 anos no mercado de associações civis.

220 FEMAMA. Manual para associação de novos membros. Disponível em:

https://www.femama.org.br/site/_files/view.php/load/pasta/10/5b9c1b0a8ab3c.pdf. Acesso em: 19/08/2020.

Atualmente conta com mais de 20 milhões de beneficiários, ou seja, 30% dos cerca de 70 milhões de clientes da saúde suplementar brasileira221.

Entre os serviços ofertados pela associação encontra-se o de urgência e emergência, onde os usuários das operadoras associadas à ABRAMGE recebem atendimentos quando estiverem em trânsito em locais em que haja hospital indicado, ou seja, fora da cobertura assistencial, como se fosse um seguro viagem.

As operadoras de planos de saúde que pertençam à ABRAMGE devem pagar uma contribuição associativa para que estes benefícios sejam ofertados a elas, sendo calculados através do número total de beneficiários (n° total de beneficiários = n° de beneficiários principais + n° de beneficiários dependentes), possuindo como taxa base, válida para 2020, os seguintes valores:

• R$ 307,45 fixa por empresa por mês.

• R$ 46,46 por 1000 beneficiários, até 250.000 beneficiários cobertos. • R$ 23,22 por 1000 beneficiários, para a população coberta que exceder

a 250.000 beneficiários.

Demostrando que até mesmo entidades representativas de empresas, independente do ramo, necessitam de uma quantia dos seus associados para ofertarem benefício, tendo em vista a necessidade de manutenção da associação, o que evidencia a utilização do mutualismo a mais tempo do que as associações de proteção veicular, assim como representa a possibilidade de ampliação deste tipo de atividade a mais ramos de mercado, propiciando uma maior qualidade de vida aos brasileiros.

Portanto, a regulamentação das associações de ajuda mútua não favoreceriam apenas as de proteção veicular, mas também propiciaria a outros ramos a utilização no mutualismo para promover uma melhor assistência social de serviços não ofertados pelo estado, ou oferecidos de forma precária.

No linear desta mesma forma de autogestão e funcionamento, podemos abranger a área de atuação de futuras possíveis associações aos demais nichos seletivos de mercado, fazendo-se valer da prerrogativa de função social da associação bem como seu caráter filantrópico, auxiliando em áreas como, serviços jurídicos, acertos trabalhistas, assistência mútua doméstica, estabelecendo regras

221 ABRAMGE. Institucional. Disponível em: http://abramge.com.br/portal/index.php/pt-

convenientes para cada área, bem como reduzir o custo individual através do sistema de ajuda mútua. Apesar de embrionária, o valor social enorme unido ao preceito fundamental do animus associativo, ajudariam milhares de pessoas ao redor do Brasil.