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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E OS ASPECTOS LEGAIS PARA FORMAÇÃO E

2.9. Similitude das Obrigações Securitárias e o Entendimento do Superior

Um dos grandes embates é a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas relações entre associação e associados, principalmente nas de proteção veicular. A questão levantada seria de que as associações com esse caráter se enquadrariam no conceito de fornecedor.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços184.

O ponto principal seria a expressão “desenvolvem atividade” transformando qualquer pessoa, física ou jurídica, que com habitualidade pratica determinada atividade como fornecedor, englobando algumas associações que oferecem serviços aos seus associados ou ao público externo.

O Código Civil, conforme já mencionado anteriormente, trata as associações como pessoas jurídicas de direito privado, mas sem fins lucrativos, fazendo com que fosse afastado a incidência do CDC nestas relações, visto se tratar de uma pura relação entre associado e associação, onde ambos atuariam em conjunto por um denominador comum sem obrigações recíprocas entre si.

O que não ocorre com as associações de proteção veicular, que apesar de não possuir fins lucrativos comercializam produtos e prestam serviços aos seus associados, se encaixando no conceito de fornecedor, conforme o artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor.

Tal entendimento é jurisprudencial, dado a natureza similar do contrato de seguro e a atividade de proteção veicular, onde os associados partilham o eventual sinistro e ocorre o pagamento de indenizações entre eles, bem como os inúmeros serviços oferecidos (guincho, chaveiro 24h, proteção contra roubo e etc.).

(...) deve ser ressaltado que o programa de proteção veicular possui natureza jurídica similar à do contrato de seguro, diferenciando-se deste em razão de ser realizada por entidades associativas, cujo risco é diluído dentre seus membros e mediante cobrança de contraprestação de seus associados, obrigação esta assemelhada ao prêmio que é pago pelo segurado no contrato securitário. (...)

De acordo com as considerações acima, tem-se, portanto, que o

contrato em análise no presente caso, por possuir importantes características comuns à modalidade contratual securitária, ostenta a natureza de seguro e, por conseguinte, além de se submeter às regras do CDC, sofre o influxo da regulamentação dada a este negócio jurídico pelos arts. 778 e seguintes do Código Civil. (Apelação, Acórdão 1167711, 07045545420178070006, Relatora:

SANDRA REVES, 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, data de julgamento: 2/5/2019, publicado no DJe: 8/5/2019 )185.

E devido a essas características amolda-se estritamente ao conceito de serviço dado pelo Código de Defesa do Consumidor. Os quais vejam:

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista186.

Transformando o ato de associar-se um simples obstáculo para consumir os serviços oferecidos, não existindo o animus associativo, mas meramente um interesse nos planos ofertados, caracterizando uma relação de consumo onde o associado aponta-se como consumidor vulnerável.

A não ser que a associação de proteção veicular cumpra os requisitos para criação, formação e desenvolvimento de uma associação nos moldes previstos na Constituição Federal, no Código Civil e no Código de Defesa doConsumidor.

185 Apelação Cível. Acórdão Nº 1167711. Rel. Des. Sandra Reves. 02.05.2019. TJDF.

186 §2º do Artigo 3º da Lei Federal Nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990 (Código de Defesa do

Contudo, apesar das muitas discussões acerca da responsabilidade que deverá ser assumida pelas associações de proteção veicular, e consequentemente, regime jurídico e requisito de funcionamento, enquanto não houver uma lei com a qual se possa regularizar o funcionamento das mesmas para com os ditos “consumidores”187.

A falta de uma lei federal e a crescente criação e procura por essas instituições civis que demandam esse tipo de serviços, fez com que o Estado de Goiás redigisse uma pequena lei a nível estadual, com o objetivo de regularizar as relações comerciais que ocorrem entre associações e associados. A Lei Complementar Estadual nº 20.894, de 29 de Outubro de 2020, assinada pelo Governador Ronaldo Caiado vem com o escopo de, principalmente, transpassar a responsabilidade consumerista às associações de socorro mútuo.

Assim define o artigo 1ª da supramencionada lei:

Art. 1º Define como fornecedor a Associação de Socorro Mútuo destinada a organizar e intermediar o rateio/divisão das despesas certas e ocorridas entre os seus associados.

Parágrafo único. Conceitua-se como consumidor os associados que participam do grupo de rateio e utilizam de serviços prestados por tais associações.

Com esta novação legislativa, caracterizando a relação consumerista, pelo menos no Estado de Goiás, se afasta qualquer possibilidade de que as relações entre particular e instituição seja regidas pelo Código Civil e, com possibilidades de prejuízo ao associado.

Destacou-se também com o estudo desta lei, que não faz qualquer requisito relacionado a fundo de reserva ou garantias financeiras, pontos que são exigidos pela SUSEP para que seguradoras possam funcionar no mercado de seguros. A ideia é, possivelmente, respeitar o já sedimentado entendimento do STJ, onde se aduz que proteção veicular não se trata de contrato de seguro, e garantir um funcionamento com maior transparência àqueles interessados em se filiar ao socorro mútuo.

Em suma, as associações não terão prejuízos com a lei, pois esta não estabelece procedimentos de difícil acesso, mantendo assim a função social que as

187 Entende-se por consumidores, entretanto, a relação estabelecida entre associação e associado é

regida pelo código civil, e como não há uma lei específica federal, não há como, objetivamente, classificar essa relação como consumerista.

associações civis garantem nos termos da Constituição Federal e do Código Civil, dessa forma, permitindo a abertura de novas associações a medida que esse mercado for crescendo, bastando tanto as atuais, como as futuras, requisitos mínimos que deverão ser constados no estatuto.

2.10. Regulamentação da Atividade, a não Interferência do Estado no