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1. LEGALIDADE E LIBERDADE NA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES

1.3. As Dimensões dos Direitos Fundamentais

1.3.4. Os direitos fundamentais de quarta geração

No tocante aos direitos fundamentais de quarta dimensão, se afirmam como a derradeira fase acerca da formação do Estado Social. Trata-se primordialmente sobre o direito a democracia, pluralismo jurídico e informação. Em teoria, os direitos de 4ª dimensão surgem para dispor todos os direitos anteriores a um caráter universal e de globalização.

Os direitos a democracia, pluralismo e informação se complementam, uma vez que, para que haja uma democracia direta, correta e transparente, sem que exista manipulação, é necessário ter assegurado o direito à informação para que a sociedade tome conhecimento dos fatos, bem como o acesso pluralista ao sistema.

Ingo Sarlet que afirma:

A proposta do Prof. Bonavides, comparada com as posições que arrolam os direitos contra a manipulação genética, mudança de sexo etc., como integrando a quarta geração, oferece nítida vantagem de constituir, de fato, uma nova fase no reconhecimento dos direitos fundamentais, qualitativamente diversa das anteriores, já que não se

73 Curso de Direito Constitucional / André R. Tavares. – 18. ed. Saraiva. – São Paulo: Saraiva, 2020.

cuida apenas de vestir com roupagem nova reivindicações ded uzidas, em sua maior parte, dos clássicos direitos de liberdade74.

Destarte, é cediço que as dimensões do direito se complementam, a fim de evitar que os poderes do Estado tragam malefícios e abusos perante a sociedade, bem como fazer com que se obtenham benefícios através desses poderes.

1.3.5. Características e dimensões do direito de associações

Dentre a interpretação simultânea das regras constitucionais, listamos as 10 características e dimensões desse direito.

Primeiramente, temos a lição de Pontes de Miranda, um dos doutrinadores mais clássicos do Direito brasileiro. Segundo o mesmo, “o termo “associação” possui sentido vasto, bastando que haja uma união voluntária em comum, com finalidade comum, havendo solidariedade entre os membros”, ou seja, basta apenas a vontade em juntarem-se para haver uma associação legítima pautada nos direitos constitucionais, todos possuem a liberdade de escolher unir-se a uma associação75.

Segundo o autor, pode nem haver economicidade em uma associação, que podem traduzir vinculações pessoais e reais, duradouras e até acidentais76. Ele defende que “todos têm liberdade de associar-se, mas a associação ou a sociedade está sujeita a regras jurídicas sobre capacidade dos figurantes, sobre possibilidade e licitude do objeto, satisfação de formalidades exigidas por lei e sobre atendimento de regras jurídicas cogentes77”.

Sucessivamente, Afonso da Silva alerta que o termo associação possui duas acepções, uma em sentido lato, baseando em qualquer união de pessoas a quaisquer finalidades (lucrativa, partidos políticos, sindicatos e conselhos de classe), e a associação em sentido estrito, que são pessoas jurídicas sem fins lucrativos78.

Por outro lado a Professora Rachel SZTAJAN preceitua que, sociedades e associações seriam “duas manifestações dos contratos de comunhão de escopo”.

74 SARLET; Ingo. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais na

Perspectiva Constitucional. 12ª ed. Livraria do Advogado. 2015. P. 54.

75 Vide PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado – Parte Especial. T.

XLIX – Sociedades. São Paulo: RT, 2012. P, 93.

76 Op. Cit. Pontes de Miranda. P. 80-81.

77 https://www.conjur.com.br/2014-jul-03/andre-camargo-aspectos-gerais-liberdade-associacao-brasil

acesso dia 14/07/2020

78 AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19a. ed. São Paulo: Malheiros,

Contrato de Sociedade e Formas Societárias79.

Para a autora, ainda, os fenômenos associativos se apresentam sempre que nos defrontamos com uma coletividade organizada por um ato de autonomia privada para a perseguição ou administração de interesses comuns de seus membros80.

José Afonso da Silva trouxe ainda mais dois conceitos de associação, que é usualmente aceito pela doutrina. Segundo ele, o direito de associação possui quatro subdireitos; criar, aderir, se desligar, encerrar uma associação. O aludido doutrinador ainda pontua duas garantias coletivas, quais são a vedação da interferência estatal no funcionamento das associações e seu desenvolvimento compulsório ou atividades suspensas com presença de decisão judicial transitada em julgado81.

Nas palavras de Alexandre de Moraes, o direito de associação diverge do mero direito de reunião de pessoas, para o doutrinador, o que caracteriza a associação é a estabilidade e a permanência de pessoas, com interesses comuns, cujos interesses não afrontem a ordem pública e jurídica. Alexandre de Moraes ainda define como quesito necessário, o ânimo de permanência dos associados e o dever de percorrer um fim lícito para seu funcionamento82.

Nas palavras de Alexandre de Moraes, o direito de reunião, um direito público subjetivo previsto expressamente no artigo 5º, XVI da CF/88, possui 4 (quatro) elementos: (a) pluralidade de participantes (forma de ação coletiva); (b) duração limitada, temporária e episódica; (c) propósito determinado; e (d) ocorre em um local fechado83.

Já na visão de Celso Bastos, o direito de associação possui natureza negativa, que proibiria o Estado de interferir desde a criação até a dissolução da associação, mantendo incólume o direito de auto-organização dos estatutos, e demais funcionamentos84.

Para Slaibi Filho, este assevera que se trata de uma liberdade de “mão

79 SZTAJN; Rachel. Direito Societário. Volume II. Disponível em:

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2062019/mod_resource/content/1/WALD.A.DIREITO.EMPRE SARIAL.associacoes.pdf. Acesso em: 08 de julho de 2020.

80 Idem, p. 32.

81 Op. Cit. José Afonso. P. 98.

82 MORAES, Alexandre de. Direitos e garantias individuais: direitos de reunião e associação. Revista

de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo. v.8. n.31. p.114-121. abr./jun. 2000, p. 105

83 MORAES, Alexandre de. Direitos e garantias individuais: direitos de reunião e associação. Revista

de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo. v.8. n.31. p.114-121. abr./jun. 2000, p. 117.

84 Vide BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22a. ed. São Paulo: Saraiva, 2001,

dupla”, passando a englobar associação e desassociação, sendo um “direito potestativo” do associado85.

Penã de Moraes classifica como um direito coletivo86. Já Canotilho encara como um direito complexo87.

Em concordância está Paulo Gustavo Gonet Branco ao comentar os incisos XVI a XXI do artigo 5º da CF/88, “a liberdade de associação compreende, portanto, um amálgama de direitos, de diferentes titulares”88.

Alguns direitos são de “indivíduos, outros da própria associação ou de indivíduos coletivamente considerados”89. De acordo com Paulo Branco, “o termo “associação” no texto constitucional tem sentido amplo, nele se incluindo as modalidades diversas de pessoas jurídicas conhecidas no Direito Civil, bem como outros grupamentos revestidos de personalidade jurídica.”90.

Por fim, Alexandre de Moraes aponta sobre expressas limitações constitucionais à liberdade de associação, ambas relacionadas às suas finalidades e previstas no artigo 5º, inciso XVII, da CF/88: (a) percorrer fins ilícitos; e (b) ter caráter paramilitar91.

Alexandre de Moraes alerta que, para que tal vedação seja caracterizada, “deverá ser analisado se as associações, com ou sem armas, se destinam ao treinamento de seus membros a finalidades bélicas, devendo-se observar a existência de organização hierárquica e o princípio da obediência”92.

Segue abaixo tabela comparativa referente às dimensões do direito.

DIREITOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO LIBERDADE:

85 SLAIBI FILHO, Nagib. Revista da EMERJ, vol. 7, n. 27, 2004. P. 28-29.

86 Vide PEÑA DE MORAES, Guilherme. Curso de Direito Constitucional. 3a. ed. São Paulo: Atlas,

2010, p. 29 e seguintes.

87 CANOTILHO, J.J. Gomes et al (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:

Saraiva/Almedina, 2013, p. 309.

88 MENDES, Gilmar Ferreira, GONET , Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 14° edição.

São Paulo: Saraiva. 2019. P. 85.

89 Op. Cit. Canotilho. P. 319.

90 https://www.conjur.com.br/2014-jul-03/andre-camargo-aspectos-gerais-liberdade-associacao-brasil

acessado dia 14/07/2020

91 Op. Cit. Moaraes. P. 87.

DIMENSÕES OU (GERAÇÕES)

DO DIREITO

Compreende os direitos civis, políticos e as liberdades clássicas. São direitos ligados à liberdade individual, permitindo uma oposição ao estado, limitando a sua atuação e poder. abrange os direitos à vida, liberdade, não discriminação racial, propriedade privada, devido processo legal, liberdades de culto e religiosa, opinião, reunião pacífica, participação política e etc. logo, sua principal característica é o afastamento do estado, eis que apresentam uma atividade negativa da sua parte, ou seja, a sua não atuação dentro da esfera individual.

DIREITOS DE SEGUNDA DIMENSÃO – IGUALDADE:

Compreende os direitos econômicos, sociais e culturais. É considerando uma evolução ao direito de proteção da pessoa humana, acentuando o princípio da igualdade material entre os homens. Os de segunda geração incluem o direito ao trabalho e a proteção contra o desemprego, o lazer, a saúde, bem-estar, educação, à propriedade intelectual, bem como o direito a igualdade, cultura, assistência social, dentre outros. Portanto, reclama do Estado o direito de possuir condições mínimas de vida com dignidade, buscando diminuir as desigualdades sociais.

DIREITOS DE TERCEIRA DIMENSÃO – FRATERNIDADE/

SOLIDARIEDADE: Compreende o direito ao meio ambiente

equilibrado, qualidade de vida saudável, paz, autodeterminação dos povos e o progresso. Trazendo o ser humano como valor supremo em termos de existenciabilidade o protegendo de forma coletiva, cabendo não só ao Estado a obrigação de proteger e zelar pelo bem tutelado, mas também a própria população como um todo, um bom exemplo é o artigo 225 da Constituição Federal.

DIREITOS DE QUARTA DIMENSÃO – TECNOLOGIA:

Compreende os direitos relacionados ao estado social, o que abrange o direito a democracia, pluralismo jurídico e informação. Estando intimamente ligado a globalização e os direitos tecnológicos e biotecnológicos. Poucos autores discorrem sobre a

existência de uma quarta geração de direito.

Tabela 2 – Gerações dos Direitos Fundamentais Fonte: Elaborado pelo autor Márcio Messias Cunha

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E OS ASPECTOS LEGAIS PARA FORMAÇÃO E