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A celebração do princípio da dignidade da pessoa humana frente o direito de associação

1. LEGALIDADE E LIBERDADE NA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES

1.2. Princípio da Dignidade Humana Frente à Liberdade de Associação

1.2.4. A celebração do princípio da dignidade da pessoa humana frente o direito de associação

O princípio da dignidade da pessoa humana nasceu com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e foram reconhecidos juridicamente após as experiências vivenciadas com o nazismo e com a Segunda Guerra Mundial (século XX). Tais direitos representam, hoje, um importante marco da civilização, com vistas ao convívio social digno, justo e pacífico.

As constituições de diversos países consagraram o princípio da dignidade da pessoa humana como direitos fundamentais e que está inserido no seu artigo 1º prevê: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade”61.

A obra de Cristiano Rosenvald trata a dignidade como fator que integra a natureza do sujeito e um processo de análise, devendo ser conduzido através do valor supremo, a dignidade. Desta forma, todos os atos realizados em uma sociedade não podem interferir dentro desse princípio, pois se trataria de uma afronta não só aos princípios e direitos constitucionais da pessoa, mas também uma ofensa direta à Constituição da República62.

A compreensão trazida a esta palavra, é resultado da investigação obtida com a própria evolução histórica, de acordo com Ingo Sarlet, o significado de dignidade é tudo aquilo que deve ser respeitado, considerado e estimado. Sarlet ainda traz a

61 NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Art. 1°. Disponível em:

https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/. Acesso em: 18 de julho de 2020.

definição estoica de dignidade, onde era inerente ao ser humano ser diferente das demais criaturas, e todos os seres humanos são iguais entre si, dotados de uma mesma dignidade. Sarlet acredita que a dignidade é um direito irrenunciável do ser humano, e jamais deve ser descartado, mesmo que duas pessoas se encontrem em diferentes posições sociais63.

Na Lição de Moraes, o princípio da dignidade da pessoa humana revela o papel importante no contexto da formação do Estado Democrático de Direito. Destarte, que no passado, a humanidade sofreu com as crueldades provocadas pela Segunda Guerra Mundial e em resposta as atrocidades advindas dos campos de concentração nazistas, surge a Declaração Universal da ONU, de 1948, que impôs limites aos poderes estatais, que permitiram aos indivíduos conviver em um cenário de maior segurança, paz e dignidade em suas vidas64.

Assim “os direitos inscritos nesta Declaração constituem um conjunto indissociável e interdependente de direitos individuais e coletivos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, sem os quais a dignidade da pessoa humana não se realiza nem se desenvolve por completo”65.

No Brasil, o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana só foi reconhecido com a instituição da Carta Magna de 1988, como cláusula pétrea, disposto no inciso III do seu art. 1º, cabendo aos legisladores brasileiros criar mecanismos de proteção a fim de que não se concretize qualquer tipo de infração a tal princípio fundamental.

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a Dignidade da Pessoa Humana;

Tal princípio é o fundamento precípuo da nossa Constituição, o qual deve obrigatoriamente ser respeitado em todas as relações jurídicas, sejam elas públicas ou privadas, estando aqui incluída a liberdade de associação.

63 Op. Cit. Sarlet. P. 34-35

64 MORAES, Guilherme Peña de.Direitos fundamentais: conflitos e soluções. Niterói: Labor Júris,

2003. p. 11.

65 HOGEMANN, Edna. Direitos Humanos: Sobre a Universalidade Rumo aos Direitos Internacional

dos Direitos Humanos. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/brasil/textos/dh_univ.htm. Acesso em: 08 de julho de 2020.

O princípio da dignidade da pessoa humana foi elevado ao status de fundamento da República Federativa do Brasil, cujo principal objetivo é proteger o ser humano em todas as dimensões do direito.

Dessa forma, não fez outra coisa senão considerar que o Estado existe em função de todas as pessoas e não estas em função do Estado66. Observa-se também a alusão aos princípios da cidadania e dos valores sociais de trabalho, priorizando o direito do cidadão e seu papel importante quanto a participação na sociedade.

O princípio da Dignidade da Pessoa Humana está previsto no artigo 1º da Constituição Federal do Brasil de 1988, já que nossa ordem democrática reconhece a dignidade como elemento fundamental legitimador do Sistema Jurídico Nacional.

O princípio da dignidade da pessoa humana, disposto no artigo 1°, inciso III da CF, trouxe o ideal do Estado centrado no ser humano, ou seja, como principal referência organizacional, não se pautando em classes ou na propriedade, e sim no povo, pois dali que todo poder emana.

Esse princípio em especial, abrange raízes como o direito a vida, privacidade, à honra e imagem de cada um, individualmente e tem como objetivo o tratamento igualitário a todos os habitantes do país, reforçado inclusive no Artigo 5°, quando diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

Reconhece-se assim a temática da vida, dignidade e humanidade, todas, presentes no princípio acima citado, visto serem valores basilares para a formação de uma sociedade justa, de tratamento igualitário entre os seus, sendo base também para evitar tratamentos adversos.

A compreensão a respeito das garantias fundamentais da Constituição sobre o direito de liberdade de associação tem origem e relação com os direitos humanos.

Assim, os direitos humanos asseguram os direitos básicos a todo e qualquer ser humano e a liberdade de se unir livremente em associação constitui um dos pilares do direito fundamental brasileiro, garantindo assim a liberdade e dignidade da pessoa humana dentre o rol dos direitos e garantias fundamentais amplamente lembrados na constituinte vigente.

1.2.5. Princípio dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

O princípio dos Valores Sociais do Trabalho e da Livre iniciativa, também consta no rol dos princípios fundamentais, esse fundamento serve como um complemento ao anterior, porquanto garante que nenhum trabalhador será exposto a condições degradantes de trabalho, devendo ter condições mínimas aceitáveis para que o trabalhador exerça sua função com dignidade e segurança.

Tal entendimento se revalida no artigo 170 da carta maior, quando prediz que as relações de trabalho têm por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social67.

Posteriormente, o artigo 3° trata dos objetivos fundamentais cujo Estado deverá cumprir, os quais sejam68:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Percebe-se que os objetivos garantidos pelo Estado, pautam-se também no rol do artigo primeiro. Essa relação assegura o direito material, o que possibilitaria a todos, oportunidades igualitárias para evoluir e ajudar no desenvolvimento pessoal de cada cidadão, bem como proteger seus interesses individuais e coletivos.

Destaca-se também o fato de os constituintes terem implementado no inciso IV, a não concordância com a discriminação, o que pauta-se junto ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no rol do artigo 1°.

O Artigo 4º tem por mérito, expor um rol onde é enumerado cerca de 10 incisos acerca dos princípios fundamentais, que complementam os anteriormente apresentados69, podendo destacar entre eles: “II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;”

Denota-se desse rol, que o mesmo estabelece uma singularidade única em comparação com os princípios anteriores, quando, por exemplo, em seus incisos II,

67 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem

por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

68 Artigo 3º, I, II, III, IV da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 69 Artigo 4º, I - X da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

III e IV, persevera-se a cidadania e a dignidade da pessoa humana, garantido primeiramente no rol do artigo 1°.

O rol acima citado garante a liberdade dos brasileiros se unirem em prol de um objetivo comum para o progresso, conforme disposto no inciso IX do art. 1º da Constituição Federal de 1988. Tais reconhecimentos pautam a prevalência dos direitos humanos.

Todo esse entendimento trazido com a Carta de 1988, se pauta pela construção moral do homem pela história, culminada com valores e princípios morais e éticos, que resultaram nos movimentos sociais mais abundantes da história da humanidade. Dentre os principais movimentos, se encontra a Revolução Francesa, que interferiu positivamente nos moldes tratados pela nossa carta magna.

Os pensadores jurídicos então entenderam que havia uma necessidade de divisão desses direitos, para melhor identificarem cada aspecto evolutivo na cadeia constitucional. Então, os Direitos Constitucionais se pautaram na divisão em quatro dimensões, que serão previamente destrinchados.

Os fundamentais, constantes em nosso texto maior, podem ser encarados através de duas perspectivas, que seriam a objetiva e a subjetiva. A perspectiva subjetiva diz respeito aos direitos e deveres jurídicos por parte do indivíduo em face do poder público, já, a objetiva, demonstra os princípios e valores básicos onde são compreendidos os direitos fundamentais, na formação do Estado Democrático de Direito.

Essa perspectiva objetiva ainda orienta a participação do poder público em face dos particulares, em que o Estado deve criar normas de proteção a esses direitos, protegendo não só as pessoas, mas o livre exercício dos seus direitos fundamentais.

Por fim, pode-se relacionar os princípios aqui trazidos com a realidade das associações nos meios sociais atuais, como por exemplo, além de um maior alcance para pessoas protegerem seus patrimônios, por meio de rateio de sinistros, estas também geram empregos, fazendo com que o princípio do valor social do trabalho seja realizado de forma integral, gerando empregos e ajudando no combate às diferenças sociais. Também destaca-se acerca do principio da livre iniciativa, é perfeitamente legitimo que pessoas possam se unir, sem interesse lucrativo, visando, assim, apenas o exercício da atividade de rateio, tendo seus lucros destinados à própria associação culminando em mais uma realização de sua função

social, que seria, por exemplo, beneficiar seus associados com programas de fidelidade, entre outros.