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3. ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DAS

3.2. Função Social Direito da Pessoa de Baixa Renda em ser Assegurada

3.2.2. Associações x seguradoras

No capítulo anterior foi demonstrado que os órgãos reguladores responsáveis pela fiscalização e autorização para aberturas de empresas seguradoras em geral, a SUSEP, compõe-se de normas bastante rígidas para a autorização ao funcionamento de empresários e acionistas que desejem constituir a uma sociedade seguradora.

De tal forma a forte regulamentação resultou em consequências ao mercado, atualmente, segundo a SUSEP, existem cerca de 122210 (cento e vinte duas) seguradoras atuantes de forma regular no país, ofertando seguros dentre as mais diversas modalidades.

As seguradoras são obrigadas, ainda, a enviar periodicamente, seus balancetes financeiros à SUSEP, a fim de cumprirem com transparência e provar ao órgão que suas atividades estão dentro da legislação.

Não obstante, o número relativamente pequeno (tendo em vista o potencial de mercado nacional) tem influenciado de forma negativa os gestores das seguradoras. Dado ao fato de que, como todas as empresas que visam lucros, os mesmos, por serem atuantes de um mercado de riscos, buscam reduzir as possibilidades de pagamentos de indenizações para com seus clientes, dificultando a adesão dos mesmos ao produto ofertado.

Exemplo disso, motocicletas, jovens, recém-habilitados, dentre outros grupos pré-determinados encontram bastante dificuldade para assegurar seus bens, uma vez que, segundo a interpretação das seguradoras, estes detêm maiores possibilidades de se envolverem que algum tipo de sinistros. Desta forma, as empresas de seguro acabam por dificultar o acesso à adesão do produto, aumentando consideravelmente o valor da cotação do seguro.

Outro exemplo típico ocorre no caso de motoristas de aplicativo, que em algumas capitais como Goiânia, onde pesquisamos, nenhuma seguradora assegura bens desses profissionais e em se tratando de taxistas o preço é tão elevado que inviabiliza a contratação de seguro.

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p. 3. Disponível em: http://www.susep.gov.br/menuestatistica/SES/relat-acomp-mercado-2020.pdf. Acesso em 13/07/2020.

Graças a esse tipo de ação, as seguradoras reduziram os números de indenizações pagas, e consequentemente, aumentaram o seu faturamento, tendo ano após ano, evoluindo financeiramente.

As modalidades de seguro ofertadas se concentram entre os seguros de veículos automotores, e os seguros pessoais, ambos representaram um total de 68% do mercado de seguros no ano de 2019211, segundo a Superintendência de Seguros Privados.

Para que esse mercado pudesse representar bastante crescimento nos últimos anos, muito se deve aos corretores de seguros, afinal são eles quem realizam a captação de clientes para que as seguradoras pudessem então realizar seus contratos.

Basicamente, a função do corretor de seguros é realizar uma ponte entre o cliente e a seguradora. O corretor de seguros deve ser regularizado junto a SUSEP para desempenhar a função. O corretor de seguros também poderá abrir sua própria empresa especializada atuante no ramo, e para isso, também necessitará de autorização da SUSEP, que emitirá um certificado diferente para o CNPJ criado.

Segundo dados da Superintendência dos Seguros Privados, até o ano de 2018, existiam cerca de 105 mil corretores de seguros no Brasil, sendo 55.944 corretores em pessoa física, e 48.997 corretores em pessoa jurídica212. Contudo, o mercado em que as seguradoras se encontram, apesar dos sucessivos crescimentos, vem concorrendo com empresas que se encontram fora da regulamentação da SUSEP, as associações.

Com intuito de proteger o patrimônio das pessoas que em muitas das vezes eram ignoradas pelas seguradoras em geral, as associações ingressaram de vez no mercado antigamente ocupado somente pelas empresas de seguro, oferecendo em muitas das vezes os mesmos serviços, benefícios, a preços que fossem compatíveis com o bolso do consumidor.

Esse movimento associativo partiu da ideia de um grupo de pessoas, que se viam muitas das vezes excluídos de terem seu bem, patrimônio em geral, das empresas de seguros, e em muitos casos com preços abusivos, uma vez que as

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p. 16. Disponível em: http://www.susep.gov.br/menuestatistica/SES/relat-acomp-mercado-2020.pdf. Acesso em 13/07/2020.

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suas atividades pertinentes representavam um risco muito grande para que essas empresas assumissem. Grupos como os caminhoneiros e os taxistas resolveram compor uma associação civil de proteção mútua, cujo intuito era dividir os custos de um eventual sinistro entre eles.

Inicialmente, para que essa ideia se concretizasse, fora necessária a criação de uma associação para esse fim. Em que pese a atividade realizada fosse a de risco, totalmente semelhante com a que desempenhava as seguradoras, essas não tinham a supervisão da SUSEP, muito menos os requisitos necessários mínimos de atuação, como o Capital Mínimo de Reserva, bem como o funcionamento integralizado via sociedade anônima, além do fato de não precisar necessitar da prévia atualização da SUSEP.

Após toda burocracia necessária para constituir uma associação ser realizada, cada associado deverá contribuir mensalmente com um valor fixo pré- estipulado, que será revertido ao fundo comum, o mesmo que bancará todos os sinistros que vierem a ocorrer com cada associado. Essa ideia praticamente foi uma verdadeira ameaça para as sociedades seguradoras no momento em que começou a se desenvolver por todo o Brasil. Afinal de contas, para constituir uma associação, basta ser necessário um estatuto conforme as normas do artigo 54 do Código Civil, um espaço físico, definição da área de atuação, não exercer atividades com finalidade lucrativa e respeitar os princípios do Estado Democrático de Direito.

As empresas seguradoras visam lucros, e por esse fato, tentam ao máximo somente proteger patrimônios que representem risco mínimo, para que evitem pagar indenizações e consequentemente dividir os lucros dos contratos com seus sócios acionistas. Na contramão, as associações, impedidas de exercerem atividades lucrativas, porém há a possibilidade de exercerem atividades econômicas, não tem feito distinção de patrimônio a ser protegido, abarcando todos que foram “excluídos” das empresas de seguro.

Incialmente cumpre destacar que as associações de proteção veicular acabavam por apresentar seu produto de forma semelhante com as empresas seguradoras, de tal forma que havia certa confusão se realmente se tratava ou não de seguro veicular. Dado a esse fato, ocasionou que os corretores de seguros bem como os principais interessados nas atividades, tentaram descredenciar as associações, apelidando seus serviços como “seguro pirata” uma vez que os mesmos não tinham o respaldo da SUSEP, e nem as garantias necessárias de que

seus bens estavam de fato protegidos e que iriam receber as indenizações necessárias.

Para que os valores para proteção patrimonial junto às associações fossem atrativos e econômicos, os fundadores optaram por não restringir o acesso ao serviço, podendo quem quiser associar-se, desde que mantenha em caráter regular as suas obrigações.

O nicho de associações tomou uma proporção maior ao mercado de risco, atualmente, cerca de duas mil associações operam no país, em face de 119 seguradoras. A diferença se dá em virtude da dificuldade em abrir uma sociedade seguradora e a facilidade de uma associação.

Outro fator que tem atraído os consumidores a buscarem uma associação de proteção veicular, são os valores. Na atual situação financeira em que o país se encontra, comum o brasileiro buscar sempre o melhor custo benefício. Desta forma, as associações tem ofertado proteção patrimonial por valores relativamente menores que as seguradoras, a diferença é de uma economia de cerca de 60% em relação ao mesmo produto que queira proteger, estimativamente falando.

As associações não fornecem seguros, pois este tipo de atividade é restrito às sociedades seguradoras, mas elas estão aptas a fornecerem uma proteção patrimonial, pois se trata de uma atividade lícita e possível, configurando-se pela união de pessoas com o intuito de proteger mutuamente um determinado patrimônio.