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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E OS ASPECTOS LEGAIS PARA FORMAÇÃO E

2.8. Dos fins Lícitos Exercidos pelas Associações

2.8.1. Vedação legal – dos atos ilícitos

O Código Civil tratou de vincular as realizações dos atos ilícitos às responsabilidades civis que as pessoas físicas e jurídicas vierem a ter e, neste sentido, separando assim da responsabilidade criminal. Cumpre dizer ainda que todo e qualquer ato ilícito é vedado pela carta constituinte, independente de qual esfera de responsabilidade a mesma se encontre.

Este subcapítulo tem o intuito de trazer à baila preliminarmente a ideia de ato ilícito. Segundo entendimento de Silvio Venosa “se o agente dos negócios e atos jurídicos, por ação ou omissão, pratica ato contra o Direito, com o sem a intenção manifesta de prejudicar, mas ocasiona prejuízo, dano a outrem, estamos no campo dos atos ilícitos”168.

Delineada e conceituada no artigo 186169do Código Civil, é a ideia de que se realize um ato prejudicial, que acarrete em perdas, seja de valores ou patrimoniais a

166 Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o

prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

167 Direito civil esquematizado, volume I – São Paulo: Saraiva, 2011.- p. 183-184. 168 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. São Paulo: Atlas, p. 549.

169 “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

outrem, cujo detentor de tais ações, estará sujeito a responder civilmente quanto a seus atos ilícitos. Desta forma, cumpre entendimento de que um grupo de pessoas não podem se associar no intuito de realizar ações que iriam embasar a violação de direitos alheio.

Neste diapasão, seguindo o conceito de Maria Helena Diniz, o ato ilícito é praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo individual. O ato ilícito ainda se configura quando quem o realiza, afeta de maneira concreta o lesado, causando danos morais ou patrimoniais, passíveis de indenização170.

Concomitantemente, Maria H. Diniz vem a traçar um paralelo entre o ilícito da esfera penal e da esfera cível. Sob os conceitos que a mesma leciona, ambos possuem o mesmo fundamento ético, que seria a infração de um dever preexistente. Contudo, mister salientar que no delito penal, consiste ofensa à sociedade pela violação de norma imprescindível à sua existência, enquanto o ilícito civil, consiste em um atentado ao direito privado de um particular em especifico, ou um grupo de particulares171.

Óbvio que nenhuma associação criada, terá como atividade fim, atos ilícitos que acarretem em prejuízos ao direito alheio das pessoas. Nesse caso, e somente com relação às pessoas jurídicas, o dolo poderá ser afastado, uma vez que nenhuma delas vise o prejuízo do direito de um particular. Entretanto, as associações não escapam das outras modalidades de atos ilícitos.

Noutro ponto, o ato ilícito está extrinsecamente ligado a responsabilidade civil. Na realidade, os atos ilícitos acarretam, de maneira mais abrangente, responsabilidades não só na esfera civil, como também na esfera ambiental e administrativa, bem como na esfera penal. Ocorre que a boa fé que cerca as personalidades jurídicas de direito privado está ligada de maneira intrínseca, com suas atividades fim, de outra forma que o Estado não chancelaria suas atividades se relacionassem a algo ilícito.

Ressaltamos ainda com maior vigor que as associações, que são criadas no intuito de em muita das vezes, proteger um direito coletivo, em teoria, não infringiriam ou ofereceriam dano a direito individual ou coletivo que fossem causar prejuízos.

170 Curso de Direito Civil Brasileiro, volume I: teoria geral do direito civil. 29. Ed. – São Paulo: Saraiva,

2012. – p.598.

171 Curso de Direito Civil Brasileiro, volume I: teoria geral do direito civil. 29. Ed. – São Paulo: Saraiva,

Nos ditames doutrinários de Flávio Tartuce172, a depender do grau de culpabilidade de quem realizou o ato ilícito, seja pessoa natural ou jurídica, a mesma pode ser triplamente responsabilizada, dentro das esferas penal, cível e administrativa. Em caso de conduta de ofensa direta ao particular, os atos ilícitos praticados pelas associações irão ser dirimidos dentro da esfera civil, entretanto, em caso de complexidade maior, bem como alcance, nada afasta o caso ser resolvido em outras esferas do direito, acarretando em dupla ou até mesmo tripla responsabilidade.

O ato ilícito é a lesão ao direito, culminado com o dano, ou seja, em que pese determinada pessoa realize atos afrontosos à legislação e ao ordenamento jurídico nacional, somente se caracterizará ato ilícito se houver resultado ao dano. Em casos de bens e direitos públicos, como ataques ao meio ambiente ou infração do código penal (parte especial), em sua grande parte, o dano se dá no momento da infração. Em outros casos, em que estejam evidenciados bens de direitos privados, tem que se provar a conexão entre o ato lesivo concomitante com o dano.

Convalidando o entendimento, Tartuce menciona que:

A primeira e a mais importante diferença é que o dispositivo anterior utilizava a expressão ou em vez de e que consta da atual legislação, admitindo o ato ilícito por mera lesão de direitos. Isso, como se pode perceber da fórmula antes apontada, não é mais possível. A segunda é que a disposição atual permite a reparação do dano moral puro, sem repercussão patrimonial (“dano exclusivamente moral”). A previsão não tem grande importância prática como inovação, pois tal reparação já era admitida pela Constituição Federal, no seu art. 5.o, V e X.

A consequência do ato ilícito é a obrigação de indenizar, de reparar o dano, nos termos da parte final do art. 927 do CC. Repise-se (...) este autor está filiado à corrente doutrinária segundo a qual o ato ilícito constitui um fato jurídico, mas não é um ato jurídico, eis que para este exige-se a licitude da conduta173.

O ato ilícito é o ato que ocasiona lesão ao direito somado ao dano, que pode ser moral ou patrimonial. O ato traz consigo uma responsabilidade àquele que o realizou, na esfera cível, ocorre à responsabilidade civil, a qual pode ser classificada por uma série de denominações.

A responsabilidade contratual, por exemplo, ocorre quando a conduta de uma das partes vem a descumprir alguma das cláusulas contratuais, que acarretem em danos materiais à outra parte, e, desta forma, caracterizar ato ilícito, uma vez que

172 Manual de direito civil: volume único - São Paulo: METODO. 2011. – p. 396. 173 Manual de direito civil: volume único - São Paulo: METODO. 2011. – p. 397.

houve lesão ao direito bem como o dano causado. O inadimplemento, podendo acarretar em perdas e danos, gerando assim dever de indenizar, nos termos do artigo 389174 do Código Civil175.

O dispositivo legal ainda aborda uma nova modalidade de ato ilícito, conceituada no artigo 187176 do Código Civil. Ao tratar-se de abuso de direito, essa nova modalidade traz consigo quatro requisitos que devem ser analisados para identificação, sendo eles: Fim Social; Fim Econômico; Boa-Fé; Bons Costumes177.

Tartuce178 ainda reforça o conceito de abuso de direito, no teor de suas palavras, mantém a íntima relação com o princípio da socialidade, que vigora em similitude com o artigo 187 do Código Civil, pois é extrínseco a referência ao fim social do instituto violado179.

Nesse sentido, é cediço o entender de que o abuso de direito enquadrado nos moldes do artigo 187 do Código Civil180, independe de comprovação de culpa, diferentemente do dispositivo anterior, em que se faz necessário realizar a prova da culpa, uma vez que a mesma pauta-se no critério objetivo finalístico,

O Agente deve exercer suas funções de forma ética e que não possa prejudicar seus colegas/clientes. Segundo Peluzo “não constitui ato ilícito o exercício regular de um direito (art. 188. I, do CC), todavia, não se permitem excessos que contrariem os fins económicos e sociais daquele”181.

Conclui-se que o ato ilícito pode ser realizado pelas pessoas jurídicas, devem representar um ato lesivo juntamente com um dano moral ou patrimonial. No que tange ao abuso de poder, essa modalidade não necessita da prova, uma vez que assim que o agente se desvirtua de seus deveres legais em benefício próprio ou de

174 Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e

atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

175Direito civil esquematizado, volume I. – São Paulo: Saraiva, 2011. P. 376.

176 “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede

manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

177 Manual de direito civil: volume único - São Paulo: METODO. 2011. – p. 396.

178 Nesse diapasão, na V Jornada de Direito Civil, aprovou-se enunciado com o seguinte teor: “Os

bons costumes previstos no art. 187 do CC possuem natureza subjetiva, destinada ao controle da moralidade social de determinada época; e objetiva, para permitir a sindicância da violação dos negócios jurídicos em questões não abrangidas pela função social e pela boa-fé objetiva” (Enunciado n. 413)

179 Manual de direito civil: volume único - São Paulo: METODO. 2011. – p. 398.

180 “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede

manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” – lei 10.406 de 10 de Janeiro 2002.

outro, o mesmo já cometeria os referidos atos ilícitos.