• Nenhum resultado encontrado

3. ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DAS

3.1. As Associações de Proteção Veicular

3.1.3. Requisitos para uma associação legalmente constituída

As associações são pessoas jurídicas de direito privado que se unem a partir de um ideal comum sem um fim lucrativo. O ideal pode ser externo (benemerência) ou interno (fortalecimento de uma classe ou causa), incentivando o bem estar social, cultural, filantrópico ou para realização de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos.

Não há na legislação (Código Civil) a obrigatoriedade de um número mínimo ou máximo de pessoas para organizar uma associação, podendo ocorrer até mesmo entre duas pessoas, mas na prática, porém, o número recomendado é de pelo menos 10 (dez) pessoas, pois é a quantidade necessária para preencher os cargos do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal.

De acordo com pesquisa efetuada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a finalidade de averiguar o número de fundações privadas e associações sem fins lucrativos (FASFIL), bem como efetuar o mapeamento do universo associativista e fundacional, tendo como ano de referência 2016, existem cerca de 236.950 mil associações ou fundações no Brasil194, atuando nas mais diversas áreas.

Essa atuação abrangente se dá pela instituição do livre associativismo imposto pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso XVII, vedando apenas a de caráter paramilitar e a de fins ilícitos, permitindo a reunião de pessoas que tenham um objetivo comum para atuarem em qualquer área que não seja proibida por lei.

Com essa extensa permissão dada pelo Estado e o forte incentivo na criação de associações para promover assistência a comunidade em geral, tem-se o surgimento de associações com caráter filantrópico, de defesa à vida, de classes, de produtores, consumidores, de pais e mestres, dentre outras.

194

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATISTICA. Número de associações privadas e fundações sem fins lucrativos no Brasil. 2016. Disponível em:

Temos como exemplo de associações filantrópicas, a união de voluntários que prestam assistência social a crianças, idosos, pessoas carentes, grupos de minoria, etc. Tendo, basicamente, um caráter de assistência social. É o caso de creches comunitárias, centros de recreação infantil, associações de proteção e assistência aos reeducando e ao idoso, etc. Buscando colaborar com o País nas questões aos quais o Estado não consegue assessorar, visto o inchaço do Poder Público.

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é um bom exemplo de associação filantrópica. Criada em 1954, no Rio de Janeiro a APAE tem a intenção de promover de forma integral assistência à pessoa com deficiência intelectual e múltipla, estando atualmente presente em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional, garantindo os direitos das pessoas com deficiência e promovendo políticas públicas de incentivo, como é o caso da incorporação do Teste do Pezinho na rede pública de saúde.

O associativismo rural também é bem presente na economia brasileira, pois busca viabilizar o trabalho dos pequenos proprietários rurais, permitindo com efetividade a sua participação no mercado agropecuário. Com a cooperação dos associados a comercialização de bens e serviços torna-se bem mais rentável e a concorrência é bem mais igualitária entre todos. É o caso da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha (ABRABOR), que promove cursos de especialização para os pequenos produtores de borracha, abertura de mercado e promoção de livre concorrência e assistência aos produtores.

Mas para que ocorra o pleno funcionamento de uma associação deve-se seguir parâmetros impostos pela lei brasileira, com isso, exemplificaremos de uma forma sucinta como funciona o registro de uma associação, demostrando os documentos necessários no momento de sua fundação, bem como o seu procedimento de abertura.

Primeiramente as associações devem-se registrar no Cartório de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoa Jurídica por meio de um requerimento assinado pelo representante legal da entidade, devendo constar o seu nome, por extenso, cargo e residência, conforme consta no artigo 121 da Lei 6.015/73 e artigo 1.151 do Código Civil, visto que este será o preposto em casos de eventuais demandas judiciais. Bem como, a apresentação do seu estatuto social (original e cópias), datados e assinados pelo representante legal da entidade e visados por um

advogado, indicando o seu nome e número de inscrição, de acordo com a Lei 8.906/94, artigo 1º, II, parágrafo 2º. No estatuto deverá conter, sob pena de nulidade, os requisitos presentes no artigo 54, do Código Civil, este já mencionado em momentos anteriores.

Após o seu registo no Cartório de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoa Jurídica a entidade passa a ter plena capacidade de direito, podendo contratar empregados, firmar parceiras, alugar imóveis e etc. Mas, para que ocorra o exercício de suas atividades é necessário o seu registro junto ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, o CNPJ. Além, é claro, dos cadastros municipais e estaduais indispensáveis em cada estado.

Muito se discute sobre o animus de se associar como um quesito para a formação de uma associação, ou a sua entrada em uma, sendo basicamente a vontade de se ligar a um determinado grupo, identificando-se com ele e participando de suas atividades. Legalmente não há expresso essa necessidade, mas por entendimento dos tribunais superiores e da doutrina majoritária esta é uma condição essencial para a formação de uma associação, da mesma forma que a manutenção ou exclusão de um associado.

Em consonância com o entendimento alhures, o pensamento de Gilmar Mendes e Paulo Gonet se sobressaem, ao tratar associação como “ato de vontade”, pois se trata de um grupamento de pessoas que se unem voluntariamente, togados de animus associativo. Essa liberdade é garantida pela constituição e, por isso, a união entre as pessoas não deve ser forçosa, sob infração do princípio da liberdade fundamental.

Não foge disso as associações de proteção veicular, necessitando que preencha os requisitos impostos por lei, assim como o animus associativo, para a formação de uma associação, independentemente de sua finalidade. Somente após ao cumprimento destas exigências é que há a formação de uma entidade legalmente constituída.

A fim de demonstrar, na prática, se os requisitos para a constituição de uma associação lícita estavam sendo devidamente cumpridas, bem como analisar a constituição das associações deste ramo, tendo em vista as posições jurisprudências e a forte perseguição da SUSEP, colheu-se estatutos sociais das associações de proteção veicular com registro em Goiânia, nos cartórios do 1° Protesto, Registro de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas de Goiânia e no 2°

Tabelionato de Protesto e Registro de Pessoas Jurídicas, Títulos e Documentos de Goiânia195.