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3. ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DA CRIAÇÃO E FORMAÇÃO DAS

3.1. As Associações de Proteção Veicular

3.1.5. Estatuto social

O estatuto social é um documento obrigatório para a constituição de uma empresa, sendo necessário para as cooperativas, sociedades anônimas e entidades sem fins lucrativos. Este é produzido por meio de uma assembleia de constituição na qual os participantes, após convocação, debatem e determinam diretrizes, regras, objetivos sociais e regulamentos a serem seguidos pela instituição.

Nos casos de associações, por força do artigo 54 do Código Civil, o estatuto deverá conter a denominação e a finalidade da instituição, a sua sede, os requisitos

SABEMI, 7.00% SEG. LÍDER, 16.10% PORTO SEGURO; 13,2% ITAU, 3.30% SUL AMÉRICA, 3.40% MAPFRE, 4.60% BRADESCO, 12.00% CAIXA, 4.20% GRUPO BRASIL, 4.60% OUTROS; 31,7%

PERCENTUAL DE RECLAMAÇÕES

para a admissão de novos associados, além de sua demissão ou exclusão, os direitos e deveres dos associados, o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos e como será procedido a sua manutenção e captação de recursos.

Na assembleia de constituição, onde estará presente os futuros associados, será redigido uma ata desta reunião, bem como uma lista de qualificação com o nome, estado civil, profissão, nacionalidade, documento de identificação, em caso de pessoas jurídicas deverá conter o CNPJ, e a assinatura destas pessoas aprovando o estatuto social.

Posteriormente o estatuto será levado para o registro público em um Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas assinado pelo representante da associação, geralmente o presidente, e um advogado regularmente inscrito na Organização dos Advogados do Brasil – OAB.

O passo seguinte é o cadastro junto à Receita Federal, criando, assim, o seu CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), o que permitirá à associação realizar empréstimos, transações, contratos e convênios.

Somente após o registro público e o cadastro junto a Receita Federal que a associação passará a ser uma pessoa jurídica de direito privado com personalidade autônoma.

Basicamente, e de uma forma generalizada, a “abertura” de uma associação não possui grandes embaraços burocráticos, apresentando apenas solenidades necessárias para a publicidade do ato jurídico.

A partir dessa premissa foi realizada uma pesquisa de campo solicitando aos cartórios de registro de pessoa jurídica alguns estatutos sociais de associações de proteção veicular sediados em Goiânia - GO, ou com outras denominações, mas com a mesma finalidade, a fim de se observar as semelhanças e diferenças entre eles, bem como verificar a sua constituição.

Em um primeiro momento cabe ressaltar que todas as associações buscaram apresentar, como objeto social, a ideia de mutualismo reconhecido no Enunciado 185 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, o intuito em princípio é se distanciar da caraterização de seguro, evitando qualquer conflito judicial com a Superintendência de Seguros Gerais. Podemos analisar tal questão usando como exemplo o Estatuto Social da Movimento de Apoio, Socorro Mútuo e

de Inclusão Social do Brasil – Mais Brasil que, em seu artigo 2º apresentou a seguinte redação:

Art. 2º O Movimento Mais Brasil tem por objeto social a reunião de pessoas físicas e jurídicas visando a defesa de interesses comuns aos associados, a prática e promoção de mutualismo através do socorro mútuo com a divisão das despesas entre seus associados e o desenvolvimento de programas de participação voluntária para a contratação de serviços e aquisição coletiva de bens e produtos, com a finalidade de:

VI. Promover colaboração solidária entre os Associados, quando da existência de prejuízo material, que envolva qualquer dos associados.

Com o objetivo de evadir-se de qualquer responsabilidade que a SUSEP possa impor a procura por colocar de forma mais clara possível às intenções da associação esteve presente em todos os Estatutos analisados, muitos de forma impessoal, direcionavam a sua atuação para a “colaboração solidária entre os associados”, possibilitando a interpretação de que haveria a cobertura, por meio do mutualismo, de qualquer dano material que envolva o associado. Este é o mesmo caso da Associação de Benefícios e Socorro Mútuo- Mania Club.

Art. 2º A Mania Club tem por objeto social a reunião de pessoas físicas e jurídicas visando a defesa de interesses comuns aos associados, a promoção do mutualismo e o desenvolvimento de programas de participação voluntária para a contratação de serviços e aquisição coletiva de bens e produtos, com a finalidade de:

I. Promover, organizar, intermediar, realizar e gerir benefícios visando à preservação dos interesses e obtenção de vantagens coletivas em prol dos seus associados;

Divergindo da posição adotada pela Toor- Associação Toor de Proteção e Assistência Veicular que, diretamente, apontou como atuação a reparação de prejuízos matérias aos veículos de seus associados, vejamos:

Art.1º A TOOR- Associação TOOR de Proteção e Assistência Veicular..., tem por finalidade de proporcionar a seus associados à reparação de eventuais prejuízos materiais ocorridos com seus veículos, sejam eles causados por furto qualificado, roubo, colisão nos casos de acidente, incêndio, pane mecânica e avarias elétricas e mecânicas, através do PPAV- Programa de Proteção e Assistência Veicular, desenvolvido pelo sistema de proteção de fundo de reserva com a realização de rateio mensal entre os associados, de acordo com as normas estabelecidas neste Estatuto, não se confundindo com o sistema de seguro, com o devido registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda, e com o devido registro no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas de Goiânia-Goiás, conforme Assembleia Geral.

Apesar de estabelecer claramente a proteção veicular à associação TORR registra que tal garantia se dará mediante um “fundo reserva” e “rateio mensal entre os associados”, evidenciando novamente a ideia do mutualismo, além de transcrever em seu corpo textual que a associação de proteção veicular não se confunde com o sistema de seguros, mostrando a preocupação de se afastar deste mercado regular.

A Superintendência de Seguros Privados tem questionado a possibilidade de responsabilização dos associados pelas dívidas e obrigações contraídas pelas associações, visto que muitos desconhecem este cenário. Nos casos analisados, todas apresentaram cláusulas em seus estatutos que afastaram essa ideia, usaremos como exemplo a cláusula da Mania Club, que se repetiu quase sem alterações nos demais estatutos, vejamos: “Art. 1º(...) Parágrafo 2º: Os associados não respondem quer ativa, passiva, subsidiária ou solidariamente por obrigações sociais contraídas pela Mania Club”.

Apesar da suma importância da incidência está cláusula nos estatutos das associações afastando qualquer responsabilidade dos associados com a associação no caso de obrigações contraídas por ela, o Superior Tribunal de Justiça já havia firmado o entendimento de que não há imputação de responsabilidade subsidiária nos casos de associação civil sem fins lucrativos, com isso o artigo 1.023 do Código Civil199se aplica somente às sociedades empresarias.

De acordo com o artigo 55 do Código Civil os associados possuem os mesmos direitos, mas no estatuto poderá haver instituição de categorias com vantagens especiais. Tal especialidade pode ser notada em todos os estatutos, existindo uma variação de benefícios significante em relação aos demais. Um bom exemplo é a divisão efetuada pela Mais Brasil, que formou 3 (três) categorias distintas, vejamos:

Art. 3º O Movimento Mais Brasil é composto das seguintes categorias de associados:

a) Associado Fundador: são fundadores todos aqueles que deliberam e promovem a criação do Movimento Mais Brasil, tendo direito a voto e ser votado;

b) Associados Efetivos: são considerados efetivos todos os membros da Diretoria Executiva e todos que associarem por indicação dos membros da Diretoria Executiva, aprovados em assembleia geral e que preencherem os requisitos no art. 4º200, tendo direito de votar e ser votado;

199 Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo,

na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.

200 O art. 4º se refere a admissão no quadro social da instituição, apresentando os documentos

c) Associados Beneficiários; são considerados beneficiários todos os que recebem benefícios do Movimento Mais Brasil desde que cumprem com suas obrigações mensais, não tendo direito de votar e nem ser votado.

Como é possível observar, as vantagens intituladas pelo Código Civil, no caso da Movimento Mais Brasil, estão intimamente ligadas ao direito de eleição do corpo diretivo, direito de votar e ser votado. O que não apresentou grandes mudanças nos outros casos, havendo apenas um sistema de progressão de tempo para permitir o direito de se candidatar e votar nos cargos da associação.

Entrando na questão da eleição, a maioria das associações apresentaram o mesmo período de duração de mandato, 6 (seis) anos, além de regras semelhantes para a realização de eleições, ser efetuada no mês de vencimento dos mandatos, o procedimento ser feito em assembleia e o voto ser secreto.

Por fim, como último ponto analisado, será observado o orçamento e as finanças destas instituições, bem como a constituição de seu patrimônio, buscando apontar a fonte de manutenção de suas atividades.

Utilizando o Movimento Mais Brasil como exemplo podemos constatar que a receita orçamentaria é constituída pelas taxas e contribuições dos associados, de donativos de quaisquer espécies e de proventos lícitos obtidos, como é o caso de doações, investimentos e etc. Assim como o seu patrimônio é formado por bens móveis, imóveis e direitos que venham a adquirir, os utensílios, instalações e equipamentos, bem como as subvenções que lhe sejam concedidos por terceiros.

O estatuto da Mais Brasil também apresentou que no caso de dissolução da unidade o seu patrimônio não poderá ser partilhado entre os seus associados, devendo o mesmo ser destinado à uma entidade congênere ou entidade social, sem fins econômicos, visto à impossibilidade de angariação de lucros por parte de seus diretores e associados.

Todas as demais associações apresentaram cláusulas semelhantes, evidenciando uma padronização nos estatutos, visto que não há grandes discrepâncias entre si, trazendo a mesma finalidade, assim como a mesma gama de direitos e obrigações.