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Capítulo III – Estado de direito como valor referencial

POLÍCIAS

1.5 A notícia como base de relacionamento

1.5.2 As fontes de informação/notícia

1.5.2.1 As fontes policiais

As fontes policiais são importantes para os media porquanto sendo especialistas, aquelas são possuidoras de ‘credibilidade’ no âmbito do tema ‘criminalidade’. Em Hall et al. (1999), considerando as regras da profissão jornalística e destacando a imparcialidade e a separação entre factos e opinião, defende-se que as afirmações dos media devem ser fundamentadas em opiniões “objectivas” e “autorizadas” de fontes “dignas de crédito” (p.229). A polícia é detentora desse crédito, quando se fala de notícias relativas ao crime e à delinquência que de resto são aquelas que mais chamam a atenção do público (as ‘tragédias’, as ‘desgraças’) e em que os jornalistas apostam enquanto mediadores, seja por critérios que promovam a afirmação do campo, seja por outros critérios no que o ‘nomear’ possa significar em termos de interesses que podem não ter nada de jornalísticos. Resultante disso, a nomeação de alguém que praticou uma acção de âmbito supostamente criminal, vai provocar a essa pessoa, a sujeição a uma avaliação a partir da reacção pública, segundo os valores padrão em vigor na sociedade, traduzida na percepção da acção, ofensiva ou não, desses valores. À representação da acção aplica-se um ‘rótulo’, numa padronização dos comportamentos estruturados em relação às definições de crime, isto porque, como sustenta Quinney (1975) “as pessoas se comportam, em referência aos significados sociais que atribuem às suas experiências” (idem, p. 68). Na configuração deste ‘puzzle’ surge, entretanto, uma questão melindrosa, que se prende com o facto de tanto as acções de investigação criminal levadas a efeito pelas polícias, como a aplicação da lei da competência dos tribunais, serem por regra vedadas ao conhecimento público, configurando o segredo de justiça. Sendo tão relevante (e eivado de polémica), a discussão deste assunto não devia esperar tempos oportunos de agenda política pois estão em causa as pessoas, as suas vidas - pela admissível reserva que lhes assiste, em paralelo com o dever de informação, num círculo que contempla uma desassociação que não se antevê de fácil resolução (social, política ou matemática). E isso acontece porque os media trabalham em cima do ‘já’ e a justiça trabalha ‘para depois’. Os media necessitam informar com oportunidade (no interesse público) e a justiça precisa de tempo para ponderar de forma a bem sustentar uma acusação (no mesmo interesse público). No que se tornou já um hábito, acontecem, no desenvolver de cada caso que ganha notoriedade, acusações entre as partes (o mais recente, o caso ‘Sócrates’, já aqui salientado por outros motivos). Ao descrever sensacionalista (que tem o poder de nomear e promover o julgamento e a condenação, quando ‘no processo’ isso só acontece quando a sentença transita em julgado e em que até à condenação se presume a inocência) é contraposto o défice de informação e é neste quadro em que as referidas fugas de informação acontecem. E acontecem cada vez mais. No interesse público, a relação entre polícia/justiça e os media não pode ter por base o desrespeito pela proporcionalidade, considerando a desadequação, ‘estados de alma’, ‘faz de conta’ ou as ‘práticas indecorosas’ que firam os princípios base do ordenamento de cada campo. De um lado existe todo um edifício que constitui o processo penal no qual é inadmissível a derrogação do princípio do carácter

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secreto das actividades vertidas em processo atendendo aos interesses da investigação. Do outro lado, toda uma necessidade de informar própria dos jornalistas e que a sociedade reclama. A solução não se afigura fácil, mas exige-se resolução pois a suspeição permanente a ninguém favorece – e indigna. Salvaguardadas as diferenças nas posições, é incontornável que o conhecimento público do crime e da justiça é em grande parte derivado da acção dos media (Surette, 1998; Roberts e Doob, 1986), advindo daí que a relação com as fontes que detêm a informação (que são especialistas nela) seja fundamental. A área criminal segundo Hall et al. (1999) é aquela em que “os media parecem estar mais fortemente dependentes das instituições de controlo de crime para as suas “estórias” do que praticamente em qualquer outra área. A polícia, os porta-vozes do Ministério do Interior e os tribunais constituem um quase monopólio como fontes de notícias de crime nos media” (p. 239). Contudo, os media, ao não agirem de forma passiva na recepção (por mais avalisada que seja a informação da polícia/instituições governamentais, uma vez que os conteúdos são adaptados para o consumo do público no exercício da mediação), isso pode levar a distorções (Sacco, 1995, p. 146). Vimos isso relativamente à afirmação dos campos na sua abrangência e voltaremos a falar disso quando nos debruçarmos sobre as estratégias que são usadas por cada parte.

Os estudos sobre a temática das relações entre media e polícia nos Estados Unidos da América (ver Lee e McGovern, 2006) demonstram que a grande maioria dos contactos acontecem por acção da polícia no envio de informações/“press release”. Ainda na realidade americana e sobre este assunto da informação recebida pelos media, Fishman (1981) salienta que as organizações noticiosas escolhem o tipo de crimes que se vão transformar em informação [de acordo com a valor-notícia], mas o conjunto de ocorrências que a sustentam são pré-seleccionadas e executadas (trabalhadas) dentro dos departamentos da polícia (p. 372) e em que os media se limitam a publicitar aquilo que é valorizado pela polícia, que assim funciona como ‘retransmissora’ do que aquela considera importante nos seus interesses. Acontece isso localmente em Portugal na relação entre polícia e jornalistas?

Na relação mantida, as práticas implementadas por cada campo indiciam interesses diferentes. O que se afigura ser natural. O posicionamento das partes é distinto, porquanto distintas são também as motivações de cada campo. A polícia considera a necessidade de intervenção em áreas específicas de incidência do crime (e para isso reserva os seus meios sempre escassos, em comparação com as capacidades do adversário-criminoso) que no âmbito da sua função possam dar mais garantias de controlo da criminalidade, nomeadamente ameaças à ordem pública (problemas no espaço público), brigas, assaltos/roubos, acidentes. A ‘informação’ que vai transmitir tem subjacente (por um lado) o interesse de projecção da acção tida, que adicionalmente (e por outro lado) se pretende que funcione como sentimento de segurança (prevenindo as ocorrências, ou ‘apanhando’ os responsáveis de modo a serem presentes a juízo). Já ao nível das redacções noticiosas (e dos media no seu todo), são mais chamativas as situações que envolvam manifestações, motins, desastres, catástrofes, violações (estupros), homicídios, ataques com explosivos (atentados) ou existência de reféns,

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nomeadamente quando se considera o número e o tipo de pessoas envolvidas, a proximidade, a relevância social, como é tratado em Traquina (2004) pela sistematização de Galtung e Ruge, ou os ataques à polícia (nas confrontações acontecidas). Igualmente são referência obrigatória as situações em que a polícia age com violência ou quando os seus profissionais estão envolvidos em actos de corrupção, já que (primeiramente), essas situações, constituem valor-notícia reforçado e (concomitantemente), através delas, se manifesta a representação social (função de mediação) e ainda em paralelo, de vigilância, que assiste aos media.

Dependendo do ‘dia noticioso’ (quantidade de ocorrências candidatas a serem notícia) os primeiros passarão a ser igualmente considerados pela sua repetição/manutenção, prolongar no tempo sem resolução ou multiplicação de ocorrências sem resposta policial e consequente aumento da preocupação social (sentimento de insegurança das pessoas). No fundo está em causa o incomum (noticiável – na incessante procura do furo) face ao comum (noticiável apenas na multiplicação do ocorrido). Na procura da informação (particularmente nas situações incomuns, como seja o caso de uma agressão praticada por um elemento da polícia), a norma seguida pelo jornalista é contactar a sua fonte dentro da polícia (habitualmente o Oficial de Relações Públicas de determinada Unidade/Comando). Procuraremos identificar se essa norma é seguida igualmente a nível local, na relação existente entre os campos. Nos contactos entre as partes, sendo a instituição polícia estruturada hierarquicamente, será esse o início para depois se darem outros passos, no descendente da cadeia de comando (até chegar ao executante, se ainda não se está de posse da informação requerida), como sugere Fishman (1981):

“O repórter chamaria o Gabinete de Relações Públicas para lhe colocar as suas perguntas. Se este escritório não sabia ainda nada do incidente, o Oficial de Informação contactaria a Seção de Operações. Se aquele nível não tivesse o conhecimento do evento, seria contactado o Comandante da área territorial respectiva, que por sua vez chamaria o Comandante da delegacia [posto/esquadra], que depois entraria em contacto com o sargento responsável pela patrulha, que finalmente iria conversar com o agressor patrulheiro” (p. 380).

Em situações difíceis (embaraçosas) costuma ser mais fácil justificar uma acção quando a Instituição avança, antecipadamente, uma justificação da ocorrência, em vez de ficar ‘entre muros à espera de conseguir resguardar-se das balas que sobre si vão ser disparadas’ aquando da descoberta pública de algo menos positivo. Lidando com a situação social (onde as situações de stress e as acções de más práticas de maus agentes, ocorrem com alguma frequência como visto) a polícia, ao antecipar as ocorrências, pode, por um lado ganhar tempo que lhe “permita estar preparada para dar outras explicações subsequentes em incidentes potencialmente embaraçosos” (idem, p. 381), ao mesmo tempo que, e por outro lado, “consegue controlar a sua imagem na imprensa” (idem), reforçando a relação.

Quer existam condições criadas dentro dos estabelecimentos policiais (onde trabalhem os jornalistas do designado ‘círculo interior’ de que falam Ericson et al., 1989, p. 121), quer os jornalistas constituam o designado ‘círculo exterior’ (trabalham a partir das

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suas redacções), quando ocorrem desvios por parte da polícia, a pressão jornalística sobre os responsáveis policiais é grande e vai implicar o justificar das actuações. Se são conhecidos desvios na acção policial existe todo um sentido que convida a que se procurem as razões dessa actuação. Aquando do conhecimento de determinado acontecimento e procurada a polícia enquanto fonte para comentar, podem ser obtidas respostas do tipo de “não há comentários a fazer” ou “não estamos ainda ao corrente do caso” e/ou também “não vamos falar desse caso”. Essas respostas “não vão servir de nada para reduzir a sensação jornalística de que algo está a ser escondido” (idem, p. 128) e isso vai levar a uma insistência na procura de tratar estes casos de abuso de poder estatal-legal, através da denúncia pública que assim funciona como antídoto e materializa o poder detido de dar publicidade aos factos. Existem ainda situações que devem merecer especial atenção “na defesa da sensibilidade dos envolvidos (…) enquanto vítimas, especialmente os considerados mais vulneráveis (jovens) ou aqueles que se vêm envolvidos em matérias sensíveis” (idem). Nos casos sexuais com menores, a publicidade nunca é aconselhável e é mesmo indevida, sendo o próprio código deontológico dos jornalistas que prevê a interdição da nomeação deste tipo de vítimas. Como ideia geral, verifica-se que acontece todo um jogo, que é jogado mediante condicionantes, e em que, quer jornalistas, quer polícias, se vinculam a um posicionamento que vai de encontro às suas estratégias de acção, sabendo-se que “tanto os jornalistas como as suas fontes podem manipular valores-notícia para justificar as suas construções particulares de conhecimento” (idem, p. 15). No final, a notícia (essa particularidade, que entre outras funções, faz com que cada grupo se evidencie na evidência da sua acção/mediação) constitui “uma visão autoritária da ordem social através das fontes que são citadas” (idem, p.3) e materializa “uma representação de autoridade (…) [em que], na sociedade do conhecimento contemporânea, representa quem são os conhecedores autorizados e quais são as versões autorizadas sobre a realidade” (idem).

Articulando a construção teórica nos desenvolvimentos que nos trouxeram até aqui subscrevemos a ideia de Oliveira (1996) quando considera existirem três instâncias essenciais no jornalismo contribuintes para que a informação chegue à esfera pública: as fontes, os jornalistas (as notícias) e o público que interagem de diferentes maneiras, indiciando a existência de um jogo de forças estratégicas que patenteiam filtros, censuras e publicidade, dos factos (p. 25). Atendendo a que estamos focados nas relações entre os campos em estudo a nível local, faltando-nos ainda contextualizar esse nível territorial na importância que se lhe reconhece, exige-se que o façamos, de modo a conhecer o que representa ‘ser próximo’.

1.5.3 O local

Não há muito tempo que os media do interior (nomeadamente os jornais) eram frequentemente considerados pelos profissionais da imprensa, de segunda categoria, em decorrência de preconceitos com a realidade de pequenas comunidades, como salienta

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Dornelles (2010, p.238). Isso levava a que a nível local, o pensamento geral fosse de auto- exclusão das grandes empresas de media. Era habitual ser assim.

Essa realidade está hoje em mudança. Por um lado, devido ao trabalho profissional de quem a nível local produz notícias (a aposta na formação e a descentralização dos serviços são razões). Esta menção tem a ver com um facto que preocupa os grupos de media, resultante da radicalização da concorrência que é trazida a primeiro plano na multiplicação desse tipo de empresas. Faz-se tudo, de modo a poder chegar primeiro e ‘local’ é sinónimo de proximidade. Isto provoca a alteração do paradigma por parte da imprensa que leva os jornais das grandes metrópoles a “ampliarem a divulgação de fatos locais, até então ocupando um espaço periférico na pauta [agenda] das grandes redações jornalísticas” (idem).

Concorrendo para essa alteração de paradigma é defendida uma outra ordem de razões que passam pela massificação da internet e funcionamento desta “como ferramenta de divulgação de informações e, portanto, de notícias” (idem) - na perspectiva de Canavilhas pode ainda funcionar como um espaço aberto de discussão, uma espécie de Ágora dos tempos modernos, como salienta numa entrevista ao Jornal do Fundão (13 de Novembro de 2014). Na evolução acontecida com a imprensa e a tinta a óleo, passando pelo telégrafo e telefone, posteriormente as imagens fotográficas, os sons e os filmes e mais tarde a rádio e a TV não era permitida a participação; a comunicação acontecia unicamente na direcção emissor/receptor. Como a internet integra todos os meios que apresentam diferentes estruturas e além disso as pessoas passam num ápice de consumidores a produtores, isso foi ultrapassado e a informação circula com rapidez. Relativamente às fontes, a internet pode funcionar mesmo como multiplicadora das mesmas, como salienta Jerónimo (2013):

“Nesta realidade nova as fontes jornalísticas passam a ser aos milhões, na medida em que a qualquer momento, qualquer pessoa em qualquer lugar pode ser a testemunha privilegiada de um qualquer acontecimento noticiável. Uma simples fotografia ou vídeo registados com um telemóvel e partilhados no Facebook ou Twitter, são conteúdos privilegiados para o jornalista verificar, contextualizar e divulgar. E essa divulgação, a título profissional, individual ou coletiva (média), dar-lhe-á o selo de credibilidade que o público precisa (p. 365).

Sem mergulhar nos argumentos que podem promover a discussão acerca desta nova forma de ser jornalista, mas avançando na identificação do universo salientado, o que caracteriza sumariamente o nível local? Dornelles (2010) aponta como particularidades da ‘comunicação local’ as seguintes: “diz respeito à maioria das pessoas e membros integrados em determinado sistema local, ocorrendo de forma constante. Entende-se por ‘local’ a informação relativa a um bairro urbano ou a uma pequena comunidade ou a cidades de pequeno porte (p. 238). Segundo Camponez (2002) a questão do local torna-se essencial ao afirmar que a “complexificação da administração pública vai acabar por exigir uma maior localização das decisões e, consequentemente reforçar o papel da informação local (p.115). O autor utiliza depois as palavras de Helena V. Silva numa entrevista ao Jornal de Leiria onde

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salienta que é reconhecido um papel fulcral à informação local, na medida em que, a imprensa e a rádio regional e local além de fornecerem informação credível podem e devem funcionar como referência e motor de mudança na sociedade em que se inserem (idem). À imprensa local é reconhecida a função de “manter e promover uma saudável vida democrática, permitindo a troca de ideias, favorecendo o debate e procurando fazer com que os seus leitores se interessem pelo ambiente que os rodeia, de forma a levá-los a assumir uma atitude participativa do ponto de vista social” (Dornelles, 2010, p. 241). Local como já foi salientado é sinónimo de próximo. Conforme Camponez (2002) a proximidade define-se pelas vertentes temporal, geográfica, social e a psicoafectiva. A vertente temporal marca a distância do leitor face ao momento em que se deram os acontecimentos, mediante a aproximação do tempo. A geográfica está relacionada com a delimitação territorial, começando no acontecimento da nossa rua, do bairro e alargando-se à região, ao país. O aspecto social é também relevante, tendo a ver com a sociedade/comunidade ou temáticas relacionadas coma a família, a profissão, a classe social, a religião, a ideologia ou a política. A proximidade pode ser determinada pela componente psico-afectiva que integra valores como o sexo, a vida e a morte, a segurança, o dinheiro e o destino. É a proximidade que permite à imprensa perceber os contextos que determinam os valores-notícia e a partir daí, organizar os restantes elementos de valorização como a novidade, a actualidade, a relevância, a consonância, o desvio e a negatividade (Teun v. Dijk, 1996). Beatriz Dornelles (2010) afirma que é na “questão de territórios, de regiões e de lugares que encontramos a formação da noção de proximidade. No jornalismo, a proximidade trata de comunicar conteúdos considerados pertinentes aos seus leitores com o objetivo de conseguir a fidelização dos públicos” (p. 239).

Feita esta caracterização relativa à informação local, é sabido que local se refere ao ‘país profundo’ e que este apresenta características específicas que assentam numa população pouco escolarizada e “com tardia e deficiente interiorização dos direitos democráticos” (Cabral, 1997, p. 10). Se a nível nacional (grande escala) defendemos a ideia do poder dos media na sua capacidade de condicionamento da política podendo impor-lhe ritmos próprios, a nível local, a manifestação desse poder acontece da mesma forma?

Carvalheiro (2005; 2014), na linha Traquiniana e ancorado nos vértices do triângulo democrático, ajuda a responder considerando que este se encontra bloqueado. De forma objectiva, defende que o poder político local, mediante circunstancialismos específicos se impõe aos media locais, os quais, igualmente, por especificidades próprias do campo a esse nível local, não se tornam visíveis na mediação através da forma mediatizada, o que não lhes permite serem vigilantes nem ‘espelho’ da sociedade, antes serem conformistas com o poder e conclui que “o facto das notícias de política local serem conformistas com as instituições e o poder, parece resultar, para os cidadãos, em informação que pouco acrescenta ao que pode

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ser directamente observável, o que limitará a avaliação dos representantes através dos media” (idem, p. 14).

Reflectindo sobre a argumentação apresentada será que o sistema democrático moderno é tão-somente “um produto histórico idealizado em contextos de grande escala” (idem, p. 2) ou serão antes os media que nem sempre utilizam a nível local o poder do campo: por debilidade formativa, pouca experiência dos profissionais inibidora da aprendizagem técnica (e daí) deontológica, influência de organizações formais de interesses, e/ou incapacidade de gestão estratégica do problema que se coloca? A questão torna-se pertinente porquanto há exemplos da acção dos media locais que se evidenciam por actuação vigilante e mais que isso de verdadeira acção política que só pode ser demonstrativa do poder detido. Não é apenas a nível nacional no funcionamento da “informational politics” (Castells, 1997, p. 375), que isso acontece. Exemplo disso é a referência de Camponez (2002) no caso de ‘Maceira’, em que o jornal ‘Diário de Leiria’ toma publicamente partido das posições da população local, assumindo a causa da co-incineração e transformando-a em acontecimento ao ponto de merecer destaque na sua primeira página, durante 14 edições consecutivas - jornalismo de causas, onde a agenda local se afirma como intervenção de cidadania a nível nacional.Esse jornalismo interventivo afirma determinado poder, concretizando os interesses dos cidadãos de vigilância que potenciam a denúncia e a desocultação através da publicitação (na defesa do interesse público), de que fala McQuail (1994). Não cabe aqui discutir se houve ou não aproveitamento do espectáculo ou da emoção associada à causa, importando antes salientar a defesa da posição, pela repetição das notícias (epicentro do não deixar esquecer), mais ainda, quando tinha a ver com uma ‘ordem’ estatal e não assentava na mera vontade política local (que mesmo cabendo ambos os escalões no mesmo ‘saco’, não estão no mesmo patamar). Se, e considerando a proposta de Carvalheiro relativamente aquilo que na sua análise acontece a nível local e que traduz uma posição de subalternidade dos media face ao poder político, a relação dos mesmos com a polícia (ao fazerem parte do campo político), acontece nessas bases? Tem a polícia um poder que limita os media na sua acção de divulgação de notícias?

Perante a multiplicação de factores que dão conta da importância crescente da informação local e considerada a oposição de argumentos, parece estar justificada a aposta feita neste nível para levar por diante um estudo académico, estando abertas, pela contextualização feita, diferentes linhas que podem nortear as relações entre os campos em