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24 Emmanuel Joseph Sieyès

3.8 A polícia no Portugal democrático

3.8.1 Guarda Nacional Republicana

A GNR é uma “força de segurança de natureza militar, constituída por militares organizados num corpo especial de tropas (…) tem por missão, no âmbito dos sistemas nacionais de segurança e protecção, assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, bem como colaborar na execução da política de defesa nacional, nos termos da Constituição e da lei” (art.º 1.º, da Lei n.º 63/07 – Lei Orgânica da GNR). A sua organização contempla uma estrutura que diferencia 4 escalões (1 + 3):

 o primeiro [comando e direcção] correspondente ao Comando Geral da Guarda, inclui os Comandos, Operacional (CO), da Administração de Recursos Internos (CARI) e de Doutrina e Formação (CDF) organizados em Divisões;  o segundo [Operacional] correspondente às Unidades Territoriais (Comandos

Territoriais de comando de Coronel nos distritos e Regiões Autónomas) em número de 20, que executa todas as tarefas necessárias de justiça, instrução, logístico-financeiras e operacionais na área à sua responsabilidade, constituindo a estrutura base do dispositivo da GNR para o cumprimento da missão geral onde se penduram os dois escalões seguintes e complementares:

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 o terceiro, correspondente aos Destacamentos Territoriais (antigas Secções) nos concelhos, de comando de oficial, em número de 87;  o quarto, correspondendo aos Postos (existentes nas localidades) de

comando de sargento ou cabo. Ver em Anexo IX o logotipo e lema identificadores da GNR e os Organigramas nas suas especificações. Em 1993 a GNR absorveu a Guarda Fiscal (que tinha sido criada para a fiscalização alfandegária por decreto de 17 de Setembro de 1885, pelo saber lúcido de Heintz Ribeiro) e em 2006 integrou o Corpo Nacional de Guarda Florestal (cuja actividade tinha sido regulamentada para controlo da actividade florestal, cinegética, aquícola e outros recursos silvestres), reforçando assim os seus meios e capacidades. Na sua organização e com os efectivos e equipamento próprios, a GNR actua em todo o território nacional (sendo responsável pelo policiamento de cerca de 92% do território, onde reside perto de 52% da população - cerca de 5.495.000 pessoas) com excepção das áreas da responsabilidade de policiamento da outra força de segurança (a PSP policia as zonas urbanas de concentração demográfica mais relevante).

3.8.1.1 Comando Territorial (CT) de Castelo Branco

O Comando Territorial de C. Branco distribui-se por cinco Destacamentos Territoriais (DTer) localizados em Castelo Branco (com sede em Alcains), Covilhã, Idanha-a-Nova, Sertã e Fundão, com uma área territorial e população que a tabela 10 documenta, em relação a cada Posto Territorial (PTer) instalado: são 17 no total. Existem ainda Postos de Atendimento (são 14). Tem ainda um destacamento de trânsito que cobre operacionalmente todo o distrito. O Comando dispõe de uma célula de Relações Públicas facilitadora das relações com os media que cumpre a Norma de Execução Permanente (NEP) enquadradora da acção em vigor para todo o país – ver o Anexo X. Além de dados específicos sobre esta estrutura, a tabela 10 dá ainda conta do número de jornais e rádios existentes na área de cada Posto.

Tabela 10 – CT da GNR de Castelo Branco

Destacamentos / nº Postos

C. Branco (8) Covilhã (7) Idanha (6) Sertã (5) Fundão (5)

PTer Branco PTer Covilhã PTer Idanha PTer Sertã PTer Fundão PTer Alcains PTer Teixoso PTer Zebreira PTer Oleiros PTer Silvares PTer VV Ródão PTer Tortosendo PTer Monfortinho PTer Proença PTer Penamacor PTer S. Vicente PTer Unhais PTer Ladoeiro PTer Vila Rei PTerAlpedrinha PTer Tinalhas PTer Paúl PTer Rosmaninhal PTer Cernache PTer Soalheira PTer Mata PTer Belmonte PTer Monsanto

PTer Malpica PTer Caria PTer Cebolais

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Zona de Acção de responsabilidade:

Área (Km2) Freguesias População Nº Jornais/Tv Nº Rádios

PTer C.Branco 443,37 06 4 662 (6+1) 3 PTer Alcains 93,46 03 6 921 PTer VV Ródão 310,00 04 3 204 PTer S. Vicente 195,07 04 2 162 PTer Tinalhas 105,07 06 2 639 PTer Mata 109,40 03 1 837 PTer Malpica 374,07 03 1 195 PTer Cebolais 106,89 05 2 906 PTer Covilhã 87,85 07 21 818 2 1 PTer Teixoso 106,10 05 7 097 PTer Tortosendo 38,40 04 8 154 PTer Unhais Serra 120,73 03 2 991 PTer Paúl 120,38 06 3 718 PTer Belmonte 75,43 05 5 082 PTer Caria 89,44 03 3 544 1 PTer Idanha 423,70 06 3 985 PTer Zebreira 205,90 04 1 456 PTer Monfortinho 53,20 01 536 PTer Ladoeiro 64,20 01 1 290 PTer Rosmaninhal 267,00 01 537 PTer Monsanto 312,30 04 1 912 1 PTer Sertã 315,40 10 10 739 PTer Oleiros 440,25 12 5 484 PTer Proença 394,94 06 8 314 PTer Vila Rei 191,28 03 3 452

PTer Cernache 131,10 05 5 141 1 PTer Fundão 358,22 18 21 264 1 2 PTer Silvares 120,88 07 2 311 PTer Penamacor 563,62 12 5 682 1 PTer Alpedrinha 143,88 04 3 153 PTer Soalheira 99,90 05 3 121

Fonte: SOTRP GNR C. Branco (2014); Google (2014). No relatório da Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI), de 2012, relativo às inspecções feitas sem aviso prévio às Forças de Segurança - Postos Territoriais da GNR e Esquadras da PSP, é referido que “o número de agentes da autoridade que integram as unidades policiais é fator determinante para o respetivo bom funcionamento e cabal cumprimento da missão policial” (p. 20). No relatório de 2010 da mesma Inspecção-geral já se considerava “existirem diferenças consideráveis de número de efectivos, entre as diversas unidades visitadas. Verificou-se, que os números de elementos policiais integrantes dos Postos da GNR variam entre um mínimo de 3 e (…) e um máximo de 86 (…). Já na PSP, estes valores situam-se entre os 36 elementos (…) e os 93 (p 58)”. Perante estes dados, um dirigente associativo da GNR refere que ter 3 elementos “é insuficiente para garantir a segurança às populações locais” apontando C. Branco como tendo Postos com esse efectivo – ver Anexo XI.

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Importa reter dessa notícia, a referência a fontes não oficiais (ver Crato, 1992), que trataremos no capítulo IV. Ainda em relação aos efectivos mínimos, isso acontece com os designados Postos de Atendimento que encerram às 17.00. Não deixa de ser curioso que mesmo assim e globalmente, as populações sejam contrárias à ideia de encerrar32 esses locais

e a concentrar meios em locais próximos que proporcionem mais e melhor segurança33. Não

existindo os efectivos necessários a dar a resposta que se precisa, isso, vai reflectir-se no ‘tempo de reacção/intervenção’ entendido por Branco (2010) como o tempo de demora a chegar ao local do incidente, sendo através dele que se mede a eficácia do sistema e se transmite segurança às populações (p. 306). Ou seja, não chegar em tempo útil à ocorrência reportada, provoca diminuição do sentimento de segurança, lesar da imagem da força de segurança e consequente diminuição no reconhecimento da legitimidade. Se na população o resultado é esse, no outro lado da barricada, como se sentirá o agente de autoridade que está colocado num desses lugares? Desolado por não poder exercer a sua função na plenitude? Defraudado por ter sido formado com custos significativos e vendo-se confinado a produzir insignificâncias? Deprimido por não se reconhecer como agente de segurança activo? Neste tocante e segundo as notícias publicadas, o Comando de Castelo Branco da GNR é uma Unidade que regista um número elevado de suicídios de militares nos últimos anos. Coincidência? Mera ocorrência factual? São perguntas que ficam, que não cabe neste estudo responder, mas conhecida que é a muito complicada a situação económico-financeira que o país atravessa, também por aí, esta é uma situação que a nível político certamente será merecedora de reflexão que propicie decisões promotoras de possíveis alterações. A situação é particularmente crítica nos casos em que as pessoas clamem por auxílio policial a viva voz (tendo o posto em frente) e em que a força policial não pode enviar ninguém, como é referido na notícia que constitui o Anexo XI, porque não existe efectivo nesse momento que permita tal. No considerado, como fazer entender essa situação ao cidadão (destinatário das acções securitárias) e por outro lado, o que resulta deste tipo de práticas/situações no reconhecimento da acção policial (principalmente ao nível da legitimação social)? Neste quadro fica ainda uma pergunta a propósito: que é dos media locais na sua função de vigilância que por essa via possam ser promotores da discussão necessária?