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2 Objectivos e hipóteses

4. Instrumentos de avaliação: Vinculação, acontecimentos de vida, auto-estima e dados demográficos

4.1. Instrumentos de avaliação da vinculação

4.1.1. As hierarquias de vinculação

4.1.1.2. Attachment Network Questionnaire: ANQ

O Attachment Network Questionnaire (ANQ, Trinke & Bartholomew, 1997) é um

questionário de auto-relato (Anexo 1a) onde, por um lado, se acede às características das hierarquias de vinculação em jovens adultos (número e posição relativa das figuras consideradas de vinculação, independentemente da segurança do laço) e, por outro lado, são avaliadas as múltiplas relações de vinculação no período etário actual relativamente às dimensões Desejo e Utilização de base e porto seguros, Procura de proximidade, Impacto

de morte, Conexão/Ligação emocional e Emoção conflitual.

É requisitado aos adolescentes que preencham um primeiro quadro (dupla entrada) com as pessoas com as quais sentem, no momento actual, terem estabelecido uma ligação afectiva forte (independentemente da direcção positiva ou negativa da mesma), referenciando o tipo de relação (amizade, filial, parental, etc.), o género e idade, a frequência de contacto e a duração temporal da relação. Aos jovens é ainda referido que não existe limite para a construção desta lista, embora o quadro em branco tenha quinze linhas para resposta. Num segundo momento é pedido aos sujeitos que preencham um novo quadro de dupla entrada, acedendo deste modo às representações dos sujeitos sobre quais as funções de vinculação (desejadas ou efectivas) que cada uma das pessoas listadas preenche.

As idades utilizadas na validação deste instrumento variaram entre os 17 e os 45 anos de idade, adequando-se por isso ao objectivo de avaliação das características das hierarquias e das transferências de vinculação no jovem adulto. Em idades mais novas o

instrumento não tinha sido ainda utilizado, e dada a complexidade do mesmo, neste estudo efectuou-se uma primeira administração com o instrumento original a um grupo de 12 adolescentes com idades entre os 13 e os 15 anos. Dadas as dificuldades sentidas no preenchimento e compreensão do questionário, optou-se por recorrer à transformação das respostas em Likert (originais) em respostas dicotómicas, adaptando também desta forma o instrumento às idades entre os 13 e os 16 anos. A Figura 4. exemplifica o preenchimento de ambos os quadros de dupla entrada referentes ao ANQ.

FIGURA 4.

Exemplificação de preenchimento de quadros de dupla entrada (1. e 2.) do ANQ

Nome/Iniciais da pessoa e ordem da ligação emocional (1. é a pessoa emocionalmente mais próxima de si)

Tipo de relação (isto é, irmão, amigo, colega da escola, etc.) Sexo coloque uma das letras (M/F) Idade (anos) Frequência de contacto: visita, telefone, escrita, etc.

(use os números abaixo para responder)

1=Todos os dias/quase

todos os dias

2=Pelo menos uma vez

por semana

3=Pelo menos uma vez

por mês

4=Três a quatro vezes

por ano

5=Aproximadamente

uma vez por ano

6=Menos de uma vez

por ano Há quanto tempo se conhecem (anos) 1. AA Irmã F 14 1 13 1. Nome iniciais A. gostaria de procurar B. de facto procura C. gostaria sempre de contar D. de facto sempre conta E. ver/falar F. impacto de morte G. transtorna- -o(a) 1. AA X X X X 2.

O instrumento recorre teoricamente ao trabalho de Hazan e Zeifman (1994; 1999) acerca das relações que são de vinculação, e da rede social dos sujeitos adultos com quem essas relações são estabelecidas. As autoras preconizaram que as relações de vinculação na adultícia seguem as quatro componentes de vinculação definidas por Bowlby (1973/1998a, 1977a e b, 1988) e Ainsworth (1967, 1969, 1978, 1988, 1989) nomeadamente a Procura de proximidade, o uso da figura enquanto Base segura onde inicia comportamentos de Exploração e de Porto seguro, requisitada para conforto e apoio e o

Protesto de separação, que se observa através dos comportamentos de reclamação,

resistência e ansiedade de separação. Mas o trabalho dos fundadores da teoria da vinculação reflectido neste instrumento encontra-se não só na identificação dos componentes de vinculação, mas nos enunciados que realizaram acerca das figuras de vinculação na adultícia, considerando a hipótese que existe uma multiplicidade de laços de vinculação a diversos actores relacionais que não só aos pais e ao par amoroso (vide Capítulos 1 e 2).

O instrumento pretende avaliar não só os laços de vinculação seguros mas abranger as vinculações inseguras (avaliando também sujeitos que não procurando proximidade com o outro significativo, são claramente vinculados a ele usando para tal a diferenciação entre desejo e utilização efectiva do Base e Porto Seguros), organizando os respondentes segundo o modelo bidimensional de Kim Bartholomew; a ideia é justamente conseguir apreender as respostas dos sujeitos que apesar de desejarem utilizar determinadas figuras de vinculação como Base ou Porto Seguro na realidade não o fazem, como são os casos na adolescência dos padrões Desinvestido e Amedrontado.

No estudo das autoras (Trinke & Bartholomew, 1997) a consistência interna foi avaliada tendo em conta os sete itens da escala e as cinco relações mais nomeadas (mãe, pai, par romântico, melhor amigo e irmão(ã)). Os coeficientes obtidos (alpha de Cronbach) variaram entre .70 (relação com o melhor amigo) e .90 (relação com o par romântico). Recorrendo a verificações de correlações entre os itens que compõem a escala (exceptuando o item escolhido) e destes com a escala global, foram obtidos resultados considerados satisfatórios (de .26 a .78 entre itens e escala total), à excepção da tendência para os sujeitos se sentirem Transtornados com o melhor amigo (.12). Os valores da média composta dentro das relações foram calculados com e sem um item relativo à Emoção

conflitual e os dois conjuntos de valores resultantes desse cálculo obtiveram resultados de

correlação entre .93 e .99. Relativamente a esta escala não serão dadas informações adicionais dado que os dados não foram trabalhados neste estudo (para informações adicionais ver Trinke e Bartholomew, 1997). O instrumento foi submetido a procedimentos de teste-reteste no intervalo de um mês, cujos resultados indicavam um número de laços similar em ambas as ocasiões (rs=.60), e ainda um recurso às mesmas figuras, na mesma ordem, nos dois tempos considerados (Parceiro(a) romântico, rs=.93; Mãe, rs=.74; Pai,

rs=.75; Irmão/irmã, rs=.79; e Melhor amigo(a), rs=.86).

Relativamente à validade discriminante as autoras construíram este questionário de modo a que cada item descrevesse “clara e directamente” (Trinke & Bartholomew, 1997, p. 618) cada Componente da vinculação em termos teóricos, tendo existido resultados correlacionais moderados entre o Estatuto de vinculação (tal como medido pelo ANQ) e

medida de Saranson, Saranson, Shearin & Pierce, 1987). Entre o Estatuto de vinculação e

Segurança de vinculação (utilizando o Relationship Questionnaire, RQ, Bartholomew &

Horowitz, 1991), os resultados foram indicadores de que com as mães, pais e parceiros românticos (mas não com o melhor amigo), existe uma correlação positiva entre o grau de

Segurança de vinculação e o recurso a essa pessoa para satisfação das funções de Porto e Base segura de vinculação (desejadas e efectivas). Os relatos de segurança estavam

correlacionados de forma mais elevada com o uso efectivo de ambos os pais e os parceiros amorosos que com o desejo de os utilizar enquanto Bases seguras de exploração e como

Porto seguro. A Disponibilidade percebida e a Satisfação com o apoio social foram

comparados com a orientação a determinadas sujeitos como figuras de vinculação e a relação entre o número de figuras de vinculação e o número de apoios sociais era apenas moderado, indicando, tal como esperado, que Apoio social e Vinculação são constructos diversos.

Mais ainda, as autoras recorreram ao julgamento de dois juízes com treino exaustivo quer na teoria da vinculação, quer na cotação de entrevistas, de modo a observarem se as relações relatadas no ANQ eram na realidade relações de vinculação. Foram obtidos resultados elevados64 em termos de concordância inter-classificações entre os dados

obtidos através do ANQ (tendo em conta que uma relação de vinculação teria que deter uma das componentes de Base segura e outra de Porto seguro e as componentes Luto hipotético e Conexão emocional) e a cotação efectuada pelos juízes. Existiu um paralelismo dos resultados empíricos com os derivados teoricamente através dos juízes, sendo demonstrada coerentemente a validade convergente do questionário.