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Tratamentos estatísticos com recurso ao programa SPSS 13 para Windows 1 Qualidade das variáveis e dimensões

O desenvolvimento das relações de vinculação na adolescência: Associações entre contextos relacionais com pais, pares e par

1. Tratamentos estatísticos

1.1. Tratamentos estatísticos com recurso ao programa SPSS 13 para Windows 1 Qualidade das variáveis e dimensões

No estudo da transferência das componentes de vinculação, a codificação das variáveis utilizadas foi inicialmente de carácter dicotómico (utilização ou não de determinada figura em determinada componente) contudo, para efeitos de realização de análises de variância estas foram transformadas em medidas contínuas, nomeadamente Número de

componentes de vinculação na relação com (Mãe, Pai, Par amigo, Par amiga96 e Par

Amoroso).

Como já extensamente referido, optou-se neste trabalho por observar a vinculação de dois pontos de vista teóricos complementares mas essencialmente diversos na sua natureza: a abordagem dimensional e a prototípica.

As dimensões97 foram construídas com base nas análises de validação dos

instrumentos, nomeadamente nas análises de consistência interna e análises factoriais confirmatórias de primeira ordem (vide Capítulo 4). Relativamente ao domínio relacional da vinculação a cada um dos elementos da parentalidade são três as dimensões trabalhadas, a relembrar, Qualidade do laço emocional, Ansiedade de separação (e dependência) e

Inibição da exploração e individualidade. Do mesmo modo são também três as dimensões

que avaliam a qualidade da vinculação aos pares, Confiança, Comunicação e Alienação. Por fim, as dimensões que permitem avaliar a qualidade da vinculação ao par amoroso são quatro e definem-se em Confiança, Dependência, Evitamento e Ambivalência. É a partir destas dimensões, e através do método combinatório da construção de clusters, que foram construídos os padrões de vinculação em cada um dos domínios relacionais, observando então este sistema de um ponto de vista prototípico. A partir das análises factoriais confirmatórias, foram construídas ainda dimensões totais relativas à Qualidade de vinculação aos pais, pares e par amoroso, isto é, tendo em conta os pesos relativos de cada dimensão para o factor maior. Assim, apenas serão utilizados estes scores98 a propósito da

96 O modo como se definiram os pares amigos mais íntimos do mesmo género ou de género oposto, teve em conta a hierarquia que era construída pelo sujeito relativamente às figuras que arrolou no ANQ (vide Capítulo 4), ou seja, considerou-se como os melhores amigos do adolescente os amigos referidos em primeiro lugar na hierarquia construída.

97 Os efectivos utilizados nas análises dimensionais para qualquer um dos contextos relacionais são os que foram apresentados nas análises factoriais de primeira e segunda ordens (vide Capítulo 4), não sendo por isso um número constante.

98 Relativamente ao QVPM o score total será construído de acordo com a fórmula [(Qualidade do laço emocional+Ansiedade de separação (e dependência)]-(Inibição da exploração e individualidade); quanto ao IPPA, a fórmula será [(Comunicação+Confiança)]-(Alienação)]; por fim o QVA seguirá a norma [(Confiança+Dependência)]-(Evitamento)].

testagem da qualidade mediacional da auto-estima na relação entre a qualidade de vinculação ao pai e à mãe e a qualidade relacional com pares e par amoroso (path analysis). A auto-estima bem como os acontecimentos de vida foram construídos num princípio de unidimensionalidade. Os acontecimentos de vida agrupam-se em dois tipos: por um lado duas variáveis que são somatórios simples do número de acontecimentos de vida positivos e dos negativos, por outro, a avaliação dos sujeitos acerca dos acontecimentos positivos ou negativos das suas vidas. Assim, cada acontecimento é avaliado numa escala em que ao menor valor corresponde a avaliação de maior intensidade discordante com o sentido da escala e ao valor mais elevado corresponde a avaliação mais intensa de sinal concordante. Por exemplo, se existir um valor de um na cotação de um acontecimento de vida positivo, tal é traduzido numa avaliação extremamente negativa de um acontecimento de vida positivo. Se pelo contrário a cotação é de 7, trata-se de avaliar de modo intensamente positivo aquele acontecimento de vida também ele positivo. Em suma são quatro as dimensões

acontecimentos de vida a estudar: Número de acontecimentos negativos e positivos relatados, Intensidade dos acontecimentos de vida negativos e positivos relatada.

Seguem-se alguns dados descritivos acerca destas variáveis (Figuras 14 e 15). Quando necessário, por questões de verificação de hipóteses colocadas foram utilizadas as escalas por área de acontecimento de vida (vide Figura 1499).

FIGURA 14.

Média da avaliação da intensidade de acontecimentos de vida positivos ou negativos, por área individual avaliada (N=380)

99 Note-se que não foi considerada a dimensão “Questões de Trabalho” dada a falta de expressividade de respostas. 5.25 2.65 5.61 2.35 5.51 2.57 5.90 2.88 5.59 2.02 5.57 3.15 5.40 4.44 2.02 2.77 1 2 3 4 5 6 7 In te n si d ad e ( M É D IA ) ESC OLA AM IZA DE AM OR SEX O FA MÍL IA PES SO AIS EST .GE RA L ÉTI CO S RE LIG IOSO S Acontecimentos POSITIVOS NEGATIVOS

FIGURA 15.

Média de acontecimentos negativos e positivos relatados (N=380)

Núm ero Acontecim entos POSITIVOS (M=28.55; DP=8.78) Número Acontecimentos NEGATIVOS (M=9.6; DP=4.49)

A variável Duração da relação amorosa e Tipo de formação frequentada são de

natureza categorial e apresentam-se em quatro e três classes, respectivamente: “Menos de um ano de duração”, “Um ano de duração”, “Entre um a dois anos de duração” e “Mais que dois anos de duração” (vide Figura 16 para actualização dos dados referentes ao tempo da relação amorosa). Quanto ao Tipo de formação frequentada a subdivisão é entre “Escolas regulares”, “Escolas profissionais” e “Pólos de aprendizagem”.

FIGURA 16.

Duração das relações amorosas relatadas enquanto significativas (N=548) Mais de dois anos n=79 15% Entre um a dois anos n=94 18% Um ano n=50 9% Menos de um ano n=310 58%

Nota: < 1 ano: Rapazes/Raparigas (53.2%/46.8%); 1 ano: Rapazes/Raparigas (44%/56%); entre1 e 2 anos: Rapazes/Raparigas (43.6%/56.4%); > 2 anos: Rapazes/Raparigas (35.4%/64.6%)

A idade dos adolescentes é contemplada enquanto variável contínua (entre os 13 e os

23 anos de idade) mas também enquanto categorial em quatro classes: “Dos 13 aos 14 anos de idade”, “Dos 15 aos 16 anos de idade”, “Dos 17 aos 18 anos de idade” e “dos 19 aos 23 anos de idade”.

1.1.2. Tratamentos estatísticos, critérios de significância e normalidade das distribuições

A natureza dos relacionamentos dos jovens com ambos os pais, amigos íntimos e par amoroso enquanto figuras que preenchem as funções de vinculação de Porto e Base

seguros, Procura de proximidade e Protesto de separação, foi pensada através de análises

correlacionais que observaram as associações entre o número de componentes de

vinculação a cada uma das figuras em estudo, género, idade e ainda as quatro variáveis relativas aos contextos de vida. Estudaram-se diferenças de médias e interacções através

de MANOVAs100 bifactoriais (com inclusão da idade e do género) e ainda eventuais

interacções trifactoriais (MANOVAs trifactoriais) entre a idade, género e padrões de

vinculação.

O teste de McNemar (McNemar, 1947; vide ainda Brace, Kemp & Snelgar, 2003) foi a opção considerada na observação do processo de recurso dos adolescentes a figuras significativas para funções de vinculação, tendo em conta a natureza dicotómica das variáveis em estudo e a organização do Attachment Network Questionnaire enquanto instrumento de medidas repetidas.

O teste de McNemar é uma estatística descritiva inferencial para medidas dicotómicas repetidas. Este teste utiliza a distribuição binomial e o valor p. obtido é exacto (para uma significância a 5% ou p≤.05). É um teste que se centra nas células opostas, ou de outro modo, nas células onde a resposta a uma primeira condição é contrária à da segunda condição em estudo. O teste não dá a possibilidade de realização de contrastes simultâneos entre todas as figuras em estudo e não permite a realização de comparações entre grupos. Deste modo, os resultados deverão ser entendidos de modo restrito, isto é, em cada um dos grupos etários e dentro de cada género considerado, não sendo possíveis extrapolações de resultados comparativos (entre géneros e idades, que aqui se apresentam enquanto estatísticas meramente descritivas). Embora sejam apresentados quadros completos de resultados, apenas serão explorados os totais do recurso a cada figura principal e os contrastes com a figura alternativa101 neles incluídos.

As análises de variância, quer multivariadas (MANOVAs) quer univariadas (ANOVAs) quer ainda as análises de variância a um factor (One-way ANOVAs) utilizaram um nível de significância de 5% (p≤.05). Nas MANOVAs os testes multivariados reportam os valores do teste de Pillai (Pillai, 1955; este teste é, segundo Tabachnick e Fidell (1996), de entre os disponíveis, o mais robusto) ao nível de significância de 5% ou p≤.05. Sempre que

100 No caso das MANOVAs, já que foram considerados apenas os adolescentes que relatam a existência de relações amorosas significativas, o efectivo é de 548.

101 Com figura alternativa referimo-nos não a aspectos qualitativos das figuras em estudo, mas antes a figuras contrastantes estatisticamente.

necessária a utilização de múltiplas comparações (testes post hoc) foi empregue o teste de Scheffé (Scheffé, 1953), dado ser um teste conservador (Tabachnick & Fidell, 1996) compensando eventuais resultados espúrios. As análises de interacções entre factores realizaram-se através de divisões da amostra (por categorias de um factor) e subsequentes análises de variância (One-way ou ANOVAs) para o segundo factor. Foram ainda reportados valores do Eta-quadrado nas MANOVAs e ANOVAs, já que permite avaliar do poder das associações entre as variáveis.

A construção dos padrões de vinculação nos diferentes contextos relacionais apoiou- se na análise de clusters, derivando teoricamente cada protótipo a partir dos resultados das médias dimensionais. Dentro das opções estatísticas disponíveis, elegeu-se o método combinatório102: os centróides são especificados a partir do método Hierárquico (Ward’s

method e Square Euclidean Distance) que posteriormente servem de base, através do

método Não-Hierárquico(K-Means Cluster Analysis), à criação dos clusters. Os padrões de

vinculação resultantes para cada contexto relacional foram então validados através de

ANOVAs (One-way). Posteriormente, agruparam-se os padrões em Seguros vs. Inseguros, tendo em conta análises de probabilidades (teste binomial, Siegel, 1956; vide para revisão Abdi, 2007a).

A magnitude e a direcção da associação entre as dimensões de vinculação e as restantes variáveis em estudo foram calculadas com recurso ao coeficiente de correlação de Pearson (r), com testes de significância bilaterais (two-tailed) aos níveis de 1% e 5% (p≤.05 e p≤.01).

A associação dos quatro padrões de vinculação (Seguro, Preocupado, Desinvestido e Amedrontado) ao género dos adolescentes, Tipo de formação frequentada e Duração

da relação amorosa, foi estudada com fundamento na natureza categorial destas variáveis,

através de tabelas de contingência utilizando como critério de significância estatística o teste de Qui-quadrado (ϰ2) a 5% (p≤.05).

Relativamente à idade e aos acontecimentos de vida elegeu-se como método de tratamento de dados as ANOVAs (One-way) considerando os padrões de vinculação como variável independente.

A existência de continuidade ou descontinuidade na classificação de vinculação por contextos diferenciados efectuou-se com recurso a testes de probabilidades binomiais, tendo em conta a proporção da distribuição do padrão Seguro e dos padrões Inseguros em cada contexto relacional, verificando se a proporção da segurança num dado contexto excedia a observada na amostra total se tratados apenas os sujeitos Seguros numa outra

102 Para uma análise mais detalhada consultar Hair, Anderson, Tatham e Black (1998). Vide ainda Leask e Parker (2004) para uma exemplificação.

relação (e vice versa para a insegurança). Assim, cada análise vê o teste de probabilidades ser alterado na razão da proporção de segurança na amostra total, ou por instrumento.

As variáveis utilizadas foram ainda objecto de avaliação da normalidade de distribuição, estando os valores de assimetria obtidos entre os limites de +1.96 e -1.96. Quanto à curtose os valores para as dimensões Qualidade do laço emocional (pai e mãe) e ainda Confiança na relação de pares exibiram valores que excediam os limites preconizados como aceitáveis (nomeadamente, 3.717, 4.178 e 2.046). Dado o efectivo da amostra ser considerado grande (N≥200) e os valores de curtose e assimetria poderem ser sensíveis justamente com amostras desta grandeza, recorreu-se à construção e análise de diagramas de dispersão (Normal Q-Q Plot) para as três variáveis onde se observou a existência de uma distribuição razoavelmente contígua à linha da distribuição normal, aceitando-se esta proximidade sem alteração, dada a natureza psicológica dos dados.