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A vinculação na adolescência

2. Relações de vinculação aos pais, pares e par amoroso na adolescência

2.7. Auto-estima e vinculação

“(…) subsequentemente o modelo construído de si próprio reflecte também as imagens que os seus pais têm dela, imagens que são comunicadas não só pelas formas como cada um dos pais a trata mas também como falam com ela. Estes modelos governam então o modo como a criança se sente relativamente aos pais e a si própria, como espera que os pais a tratem, e como planeia o seu próprio comportamento para com eles. Eles governam também tanto os medos quanto os desejos expressos nos sonhos.” (Bowlby, 1988, p. 130).

A auto-estima é um dos constructos que manifestamente se liga ao da vinculação (para uma revisão vide Trzesniewski, Robins, Roberts & Caspi, 2004). É considerada, em parte, um subproduto da vinculação ao permitir que na sua construção estejam inclusos os modelos de si (essência da auto-estima) e os modelos dos outros (para a comparação consigo mesmo). Iremos debruçarmo-nos genericamente nos resultados que a investigação tem vindo a oferecer acerca desta associação, bem como na contribuição de cada um dos contextos relacionais em estudo para a sua construção. Assim, a revisão deste constructo associado ao da vinculação, aparece nesta tese com um lugar próprio, não se mantendo a opção de apresentar os estudos de acordo com os seus respectivos desenhos metodológicos (longitudinais ou transversais).

Pinheiro e Ferreira (2001), numa investigação realizada numa amostra portuguesa de adultos (médias etárias entre os 20.63 e os 20.94 anos de idade), encontraram fortes associações entre auto-estima e a percepção da aceitação dos amigos e da família, ou seja, quanto maior a percepção da aceitação dos outros significativos, maior a auto-estima. Mais ainda, numa escala específica de vinculação (Sentido de proximidade emocional e

Segurança dada pelas relações interpessoais) os valores r de Pearson de associação com a

auto-estima variaram entre .332 e .389. Já Moreira, Carolas e Hagá (1999) num estudo que recorreu a universitários também portugueses (média de idade de 20 anos), encontraram associações entre níveis baixos de auto-estima e a vinculação, sendo que a baixa auto- estima associava-se aos protótipos Preocupado e Amedrontado (embora este último não com índices de auto-estima tão baixos quanto o primeiro).

Rice e Delwo (2002) encontraram também evidência de associações entre a qualidade das relações parentais e variáveis de auto-estima. Observaram que pessoas avaliadas como perfeccionistas (entre os 17 e os 55 anos), cujos pais tinham elevados graus de criticismo e elevadas expectativas, tinham níveis de auto-estima mais baixos que aqueles

que embora perfeccionistas, tinham pais mais apoiantes e menos críticos. Ashby e Rice (2002) por seu turno, testaram um modelo estrutural (também em idades entre a adolescência e a adultícia plena) em que os preditores da auto-estima eram a Autocrítica/perfeccionismo, a Organização e necessidade de ordem, o Grau de exigência pessoal e ainda a Discrepância entre o grau de exigência pessoal e a realização das tarefas. Os resultados enquadraram-se num modelo em que, à excepção da dimensão Organização e necessidade de ordem, as dimensões revelaram-se preditoras da auto-estima (o modelo global explicava 44% da variância), negativamente a Discrepância e a Autocrítica e, positivamente, o Grau de exigência pessoal.

De outro modo, se tivermos em conta que o protótipo Desinvestido é aquele que, potencialmente, detém expectativas pessoais mais elevadas, poder-se-á inferir que este seria um funcionamento que eleva a auto-estima global; por seu turno, os modelos Preocupado e Amedrontado, onde a autocrítica é constante devido ao modelo negativo do

self, seriam protótipos onde seria de aguardar níveis de auto-estima mais baixos. Estas

inferências têm eco no trabalho de Bartholomew e Horowitz (1991), que na sua amostra de jovens adultos, encontraram resultados em que a níveis mais elevados de autoconfiança se associava o protótipo55 Desinvestido, sendo negativa a associação encontrada com o grupo

Preocupado, e ainda, que ao protótipo Amedrontado se associavam os resultados mais baixos de autoconfiança (vide ainda para conclusões similares Griffin & Bartholomew, 1994a e b e, Huntsinger & Luecken, 2004).

Roberts, Gotlib e Kassel (1996) analisaram as relações entre a segurança de vinculação na adultícia (em três amostras de jovens universitários) e a sintomatologia da depressão, tendo em conta a auto-estima e as atitudes disfuncionais. Os resultados deram conta que os estilos de vinculação adultos inseguros (Evitante e Ambivalente) se associavam fortemente a todas as dimensões em estudo, e mais ainda, que a vinculação adulta insegura associava-se à depressão, numa relação mediada pelas atitudes disfuncionais e pela baixa auto-estima.

Já diferentes resultados obtiveram Pietromonaco e Barrett (1997) ao estudarem, numa amostra de universitários, as relações entre os modelos internos de funcionamento de si e dos outros e as interacções sociais quotidianas. Os jovens classificados (em termos amorosos) como Preocupados tinham uma auto-estima mais baixa que os Seguros, mas não foram encontradas mais diferenças entre os grupos o que infirma o que foi dito anteriormente acerca da auto-estima e do modelo do self.

Embora numa amostra não de adolescentes mas de casais adultos (média etária de 34.4 anos), com uma média de duração relacional amorosa de 7.6 anos, Murray, Griffin,

55 Os protótipos foram derivados das respostas a uma entrevista semi-estruturada relativa às relações de proximidade com amigos e pares amorosos.

Rose e Bellavia (2003) confirmaram a sua hipótese de que a procura de consolo no parceiro amoroso protege e escuda a auto-estima pessoal. Assim, quando um sujeito se sente avaliado de modo mais positivo, e simultaneamente percepciona que os seus objectivos de segurança (de Base segura) estão assegurados, a sua auto-estima é mais elevada (as suas dúvidas acerca de si eram atenuadas pela certeza do afecto do parceiro).

Utilizando o mesmo tipo de enquadramento teórico do anterior estudo (a perspectiva sociométrica), Srivastava e Beer (2005) quiseram saber até que ponto as autoavaliações pessoais (numa amostra com média etária de 19 anos de idade) se associavam ao ser-se apreciado ao longo de uma semana por estranhos (à partida). Assim, e tendo em conta as relações de vinculação nesta faixa etária (usando o Relationship Questionnaire), encontrou- se evidência de que o ser apreciado pelos outros conduz a autoavaliações mais positivas. Os resultados apontaram ainda para a associação entre Ansiedade e o Evitamento e autoavaliações pessoais mais negativas, embora para com a Ansiedade o efeito fosse encontrado apenas no género feminino.

Peixoto (2004) numa amostra portuguesa com idades entre os 11 e os 19 anos, quis estudar a relação entre a qualidade das relações familiares, a auto-estima, auto-conceito e o rendimento académico. A qualidade das relações familiares foi avaliada tendo em conta as dimensões Suporte afectivo, Suporte nas tarefas Escolares, Autonomia, Expectativas e

Aceitação, pelo que esta análise pode incluir-se, por extrapolação, na perspectiva da

vinculação. Os resultados obtidos apoiam a óptica de que a qualidade das relações familiares se associa quer com a auto-estima, quer com as restantes dimensões que estavam em estudo. Existiram também diferenças que permitiram verificar que a relação entre qualidade relacional com a família e representações de si próprio eram mais robustas nos extremos etários da amostra (alunos dos 7º e 11º anos), quando comparados aos resultados dos jovens que estavam na altura a frequentar o 9º ano de escolaridade. Curiosamente, os resultados relativos à auto-estima em função do sucesso escolar dos adolescentes eram diferenciados, isto é, a auto-estima parece protegida dos efeitos da reprovação, já que os jovens com e sem história de reprovações escolares não se diferenciavam entre si a este nível.

Armsden e Greenberg (1987) a partir dos resultados relativos da validação do IPPA (numa amostra entre os 16 e os 20 anos de idade), corroboram a existência da relação entre qualidade de vinculação aos pais (mas não aos pares) e a auto-estima na adolescência, enquanto que Diener e Diener (1995) num estudo transcultural que recorreu a jovens entre os 17 e os 25 anos, observaram que a satisfação com a amizade e com a família eram os melhores preditores da auto-estima (embora a amizade fosse de facto o melhor).

Laible, Carlo e Roesch (2004) quiseram analisar as eventuais ligações directas e indirectas das relações de vinculação aos pais e aos pares na auto-estima de adolescentes

(média etária de 18.6 anos de idade). Encontraram também correlações positivas e significativas entre a qualidade da vinculação a pais e pares e à auto-estima. Testaram então um modelo onde previam que a qualidade de vinculação aos pares e pais (variáveis exógenas) teriam um efeito directo na auto-estima, porém, previam ainda que esta relação existia também mediada, a um primeiro nível, pela empatia, que por sua vez teria os seus efeitos aos níveis do comportamento pró-social e do comportamento agressivo (2º nível de variáveis endógenas). Os resultados encontrados suportaram a hipótese, embora com particularidades interessantes. A influência da vinculação aos pais na auto-estima dos adolescentes era quase na totalidade directa. Aqueles cuja segurança era mais elevada, apresentavam maiores níveis de auto-estima, e curiosamente esta associação foi mais robusta no género masculino que no feminino. Também a vinculação aos pares influenciava significativamente a auto-estima, contudo esta influência era totalmente mediada pela empatia e pelo comportamento pró-social dos jovens.

Numa outra amostra de adolescentes a frequentarem os 7º e 8º anos de escolaridade, Ryan, Stiller e Lynch (1994) quiseram ver até que ponto as representações das relações com professores, pais e amigos eram preditoras da auto-estima e da motivação académica. Os resultados apontaram para uma forte associação entre as dimensões Sentimento de

segurança, Utilização emocional, Utilização em assuntos escolares e Identificação com a figura na relação com os pais e a auto-estima, enquanto que na relação com os professores

apenas as três primeiras dimensões se associavam com a auto-estima. Na relação com os amigos, a auto-estima apenas se associou à Segurança e a Utilização emocional, desde logo com valores inferiores aos verificados para com os pais. Confirmaram-se desta forma as expectativas teóricas de que são estes são contextos que contribuem de facto para a adaptação pessoal, embora com níveis diferenciados dependendo do tipo de contexto considerado.

Num outro estudo (Way & Robinson, 2003) que abordava também os efeitos da família, amigos e o clima escolar percebido (relações entre estudantes e professores, e estudantes e ordem geral) na adaptação psicológica de adolescentes. Encontrada evidência que o apoio da família se associava à magnitude da mudança na auto-estima ao longo de dois anos (entre o início e o final do estudo), acima aliás dos valores obtidos no que respeita ao apoio dos amigos. Curiosamente, o apoio inicial da amizade não predizia a magnitude das mudanças na auto-estima no final do estudo.

Finalmente, Wilkinson tem sido um autor com importantes contributos no âmbito da investigação das associações entre a auto-estima e a vinculação na adolescência. Em 2003 apresenta os resultados de três estudos em adolescentes onde quis investigar o papel da vinculação aos pares na saúde psicológica e na auto-estima. No primeiro estudo, e com adolescentes noruegueses entre os 11.8 e os 19.6 anos de idade (M=15.27), o autor

verificou que os níveis de auto-estima eram significativamente mais elevados nos rapazes que nas raparigas, porém, que os níveis de qualidade relacional com pais e pares eram significativamente mais elevados nas raparigas que nos rapazes. A qualidade de vinculação nos dois contextos relacionais associava-se positivamente com a auto-estima (em valores r de Pearson muito aproximados). No modelo final testado, segundo a metodologia das Equações Estruturais, verificou que a vinculação aos pais e a vinculação aos pares têm ambas uma influência significativa (embora ligeiramente menor da vinculação aos pais) na auto-estima. No segundo estudo Wilkinson utilizou uma amostra australiana entre os 15.8 e os 18.3 anos de idade (M=16.84). Mantinham-se as diferenças de género quanto à qualidade relacional com pares e pais, porém, não existiram diferenças relativas à auto- estima. Os valores r de Pearson entre auto-estima e vinculação aos pais foram menores que com a vinculação aos pares (respectivamente .211 e .380). Em termos gerais o modelo do primeiro estudo replicou-se na amostra australiana. No terceiro estudo recorreu-se a uma amostra também australiana, porém com uma média etária de 17.14 (idades entre os 15.7 e os 19.8 anos). Em termos de género apenas se encontraram diferenças significativas na vinculação aos pares, de novo com valores femininos mais elevados que os dos rapazes. As correlações entre a qualidade de vinculação aos pais e pares e auto-estima foram mais elevadas que nos outros estudos (nomeadamente de. 467 e .488) embora com supremacia na associação à qualidade relacional com os pares. Quanto ao modelo final, mantiveram-se os resultados relativos dos estudos anteriores. Resultados similares foram encontrados com Kraljevic (Wilkinson & Kraljevic, 2004), verificando-se que a auto-estima pessoal se associava na adolescência com a vinculação aos pares e aos pais, mas não com a vinculação ao melhor amigo/amigo mais íntimo.

Ainda em 2004, desta feita em parceria com Parry (Wilkinson & Parry, 2004) com adolescentes entre os 13 e os 19 anos de idade, realiza um estudo onde se pretendia aceder às associações entre protótipos de vinculação (a partir das dimensões self e do outro nas relações de proximidade avaliadas pelo Relationship Questionnaire), qualidade de vinculação com pais e pares e auto-estima. Os resultados foram concordantes com os posicionamentos que já referimos acerca dos protótipos de vinculação e sua relação com a auto-estima (vide Bartholomew e colaboradores, 1991, 1994a e b e Huntsinger & Luecken, 2004), ou seja, que os protótipos Desinvestido e Seguro detiveram níveis elevados similares de auto-estima, enquanto que os jovens Preocupados e Amedrontados detiveram níveis também equivalentes entre si, mas significativamente mais baixos que Desinvestidos e Seguros. Em termos de modelos de regressão verificou-se que o melhor preditor da auto- estima era o género, seguido pelos protótipos Seguro, Desinvestido, Amedrontado e Preocupado e por último, da qualidade de vinculação à mãe e aos pares (a vinculação ao Pai não predizia a auto-estima). Em conjunto, os preditores significativos explicavam 36% da

variância na auto-estima. Numa amostra muito similar a esta McMahon e Wilkinson (2005) quiseram verificar até que ponto o ter uma relação amorosa alterava as influências da vinculação aos pais e aos pares na auto-estima, tendo-se verificado que, embora o estar numa relação amorosa fizesse decrescer a influência da vinculação aos pares na estima pessoal, não existia decréscimo da influência quer da vinculação parental quer da vinculação a amigos íntimos.

Em 2006 Wilkinson apresenta resultados interessantíssimos a partir de uma amostra de 615 adolescentes entre os 14 e os 18.5 anos de idade. Neste estudo verificou-se que a influência da vinculação aos pares na auto-estima não variava em função da idade, mas que a influência das relações de vinculação com a mãe na auto-estima decrescia com a idade dos adolescentes, sendo mais importante nos mais novos. Quanto à influência da vinculação ao pai, verificou-se que apenas nos adolescentes mais novos era preditora da auto-estima.

Através do trilho da vinculação e sua influência na auto-estima, verifica-se,

genericamente, que a qualidade das relações significativas contribuem de facto para um sentido mais ou menos positivo do self, e ainda, que as estruturações internalizadas dessas relações, os protótipos ou estilos de vinculação, parecem oferecer um contributo ainda maior para a auto-estima a partir da adolescência. São contributos que se aguardariam já que os modelos de funcionamento interno ao se autonomizarem, tenderão a manter-se na ausência de alterações no meio relacional. Deste modo, um modelo mais ou menos positivo de si próprio parece iniciar-se nas relações significativas e funcionar, posteriormente, ao nível mais inconsciente das estruturas pessoais de avaliação do self e dos outros.

Resta-nos salientar que a auto-estima está neste momento a ser objecto de revisão teórica e empírica, nomeadamente sendo levantadas questões acerca da genuinidade por oposição à defensibilidade na avaliação do constructo, viés positivo na avaliação pessoal (Baumeister, Campbell, Krueger & Vohs, 2003) e até importância relativa do próprio constructo (Crocker & Nuer, 2004), contudo, existem estudos paralelos que visam encontrar formas de controlo da sua avaliação (Paulhus, 1984, 1991, 1998, 2002, Paulhus & Reid, 1991). Não entraremos contudo nessa discussão. O que nos importa neste trabalho é a perspectiva da auto-estima sob o olhar da vinculação.

2.8. Síntese

A revisão que efectuámos acerca das relações de vinculação com pais, pares e par amoroso, é sintomática da complexidade de que se reveste a abordagem ao constructo. Esta complexidade tem a ver quer com a definição da própria vinculação, sujeita que é a algumas imprecisões na formulação de conceitos que lhe são adjacentes. Tal como já afirmámos, existe de facto a necessidade de delimitar e formular correctamente as noções

da vinculação, que pese embora algumas sejam adjacentes, não são contudo equivalentes; um bom exemplo encontra-se nas noções de laço, de vinculação e comportamento de vinculação que muitas vezes aparecem como sinónimos, não sendo contudo essa a realidade do enquadramento teórico de base. Acrescido a este inconveniente, observa-se ainda que, fruto da ampliação dos estudos para além da infância, se encontram modelos teóricos que privilegiam a interpretação categorial da vinculação do ponto de vista da segurança versus insegurança, de modelos de uma concepção tripartida em Seguros, Resistentes e Ambivalente/Resistentes (de Mary Ainsworth), taxonomia esta que é aliás acrescida com mais uma classe com Mary Main, a de estrutura desorganizada. Tendo em conta esta última categorização, Mary Main concretizou a sua transposição para a idade adulta (ou correspondência nas mães), contudo, é com Hazan e Shaver que a vinculação na adultícia tem uma dimensão amorosa, retratando-se esta em três categorias: Seguros, Ambivalentes e Evitantes; finalmente, e encarando a vinculação adulta do ponto de vista genérico dos pares, Bartholomew apresenta quatro protótipos de vinculação, baseados em dois eixos perpendiculares, um representando a imagem de si e o outro, a imagem dos outros: Seguro, Preocupado, Desinvestido e Amedrontado. De novo vamos encontrando nos diferentes estudos nomenclaturas que integram as várias categorizações que, embora contíguas do ponto de vista conceptual, têm contudo diferenças que importa ressalvar.

Nas associações entre contextos relacionais significativos, e porque a vinculação é um conceito que tem claramente características construtivistas, o sistema não funciona do mesmo modo na infância, adolescência e adultícia. A integração de realidades sociais na vida emocional de cada sujeito psicológico, e a diferenciação do sistema em termos de relações complementares para relações paralelas, implica quer a reestruturação do próprio sistema, quer a observação teórica e empírica do sistema de sobrevivência de acordo com as novas competências cognitivas e relacionais proporcionadas pela adolescência. Estas competências desenvolvem-se de acordo com a constância dos ambientes, oportunidades de contacto com contextos alternativos de segurança pessoal e obviamente tendo em conta a história emocional. Trata-se da dicotomia entre vinculação e exploração que em última instância funciona a favor ou desfavor da primeira.

Estudos há que indicam o sentido da continuidade de vinculação desde o estabelecimento inicial do sistema, como que num determinismo em que o desenvolvimento e as experiências de vida posteriores à infância pouco têm a dizer na alteração do funcionamento pessoal futuro dos sujeitos. Estas perspectivas tornam inócua a intervenção psicológica, porque impossível de trabalhar com o sujeito modos alternativos de observar a sua realidade, alterando o seu funcionamento psicológico. Outros observam que a probabilidade da continuidade da segurança é maior que a de insegurança. Aqui encontramos também os estudos que apontam algumas experiências de vida como

passíveis da alteração do funcionamento de vinculação, nomeadamente o divórcio parental com conflito, as perdas reais ou emocionais, doenças graves experienciadas pelo sujeito, etc., e a estabilidade do meio circundante para a manutenção ou alteração de determinado modo de integração do real. Evidentemente que alguns estudos definem também que esse meio é determinado exactamente pelo próprio funcionamento do sujeito, observando-se que os sujeitos Seguros procuram significativamente mais outros sujeitos Seguros para estabelecerem as suas relações, diminuindo por isso a possibilidade de alteração para um funcionamento Inseguro através do contacto alternativo com os modos de funcionamento Seguros.

Alguns investigadores preferem uma abordagem à vinculação ao nível dimensional, que embora passível de poder ser “encastoada” em determinado padrão funcional, permite observar funcionamentos seguros e inseguros em coexistência num mesmo sujeito, num mesmo relacionamento (em tempos diferentes) ou em diferentes relacionamentos… Deste modo, os processos compreensivos do desenvolvimento pessoal passam necessariamente pelo entendimento do funcionamento dimensional pessoal dos sujeitos. Como Bowlby metaforicamente referiu, a vida acontece à imagem das linhas de um comboio que, fruto de “agulhas” nas encruzilhadas vivenciais, é permitido a alteração do caminho inicial através de “atalhos” ou caminhos secundários.

Cremos que o estabelecimento inicial do sistema é de facto poderoso no enquadramento interno do real, permitindo que a segurança de vinculação, inicialmente estabelecida, surja como factor que direcciona o funcionamento do sujeito em termos futuros, ao nível dos diferentes contextos emocionais, porém, acreditamos também que este