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A vinculação na adolescência

2. Relações de vinculação aos pais, pares e par amoroso na adolescência

2.4. Exploração e vinculação aos pares e par amoroso

“(…) ao contrário a capacidade de construir laços emocionais íntimos com outros indivíduos, por vezes no papel de quem procura cuidados e outras no papel de quem os presta, é encarado como a principal característica quer do funcionamento eficaz da personalidade, quer de saúde mental.” (Bowlby, 1988, p. 121).

Como vimos até aqui, na adolescência encontra-se evidência da influência das relações de vinculação aos pais nas relações com pares e par amoroso, porém, é entre os dois últimos que parece existir, nesta faixa etária, maior robustez de associações.

Faz todo o sentido que assim aconteça já que teoricamente se sugere que é na adolescência que as funções de vinculação começam a ser desempenhadas por outros significativos além dos pais (consulte-se o ponto 1. deste capítulo). Começa a existir investigação acerca da sequência que leva ao aparecimento das relações amorosas a partir das relações com pares na adolescência, parecendo que esta continuidade progride das relações com pares do mesmo género, passa pelo relacionamento afiliativo em grupos mistos de pares, para posteriormente se começar a estruturar em relações diádicas com actividades de namoro incluídas (vide Connolly, Craig, Goldberg & Pepler, 2004).

Não queremos com isto sugerir que a influência relacional dos pais se deixa de sentir relativamente aos pares amorosos, mas apenas que estará possivelmente mais saliente na adultícia que na adolescência (sobretudo a inicial e média), posição aliás sugerida por diversos investigadores (Crowell, Fraley & Shaver, 1999; Furman & Wehner, 1997; van IJzendoorm & Bakermans-Kranenburg, 1996 a e b, 1997).

O trabalho de Furman e colaboradores é, com já anteriormente verificámos, no sentido de uma associação mais consistente entre os domínios relacionais dos pares e par amoroso na adolescência (vide ainda Bouchey & Furman, 2003; Connolly, Furman & Konarski, 2002; Simon, Bouchey & Furman, 2000).

Connolly e Johnson (1996), dois colaboradores de Furman, estudaram uma amostra de 1409 adolescentes entre os 13 e os 19 anos de idade que frequentavam o ensino secundário43. Quiseram estudar até que ponto as relações amorosas se associavam, na adolescência, a outras relações significativas. Desde logo verificaram que as redes de pares eram maiores no sexo feminino que no masculino, e que as adolescentes percepcionavam maior apoio social por parte do melhor amigo que os seus pares de género masculino. A qualidade relacional era também cotada de forma mais elevada por raparigas que por rapazes. Por seu turno, os adolescentes mais velhos da amostra cotavam a qualidade da relação amorosa de forma mais elevada que a relação de amizade e a relação com os pais, enquanto que os mais novos não relataram diferenças significativas entre relações. Os resultados indicaram ainda existir uma continuidade considerável entre a qualidade das relações com os pais e com os pares e a relação amorosa, e mais ainda, que à medida que a relação amorosa tinha maior duração no tempo, a associação entre o apoio social percebido por parte dos pais ia diminuindo até não mais se verificar quando a relação era

43 Os autores acederam à estrutura da rede de pares através de um questionário construído para o efeito, tendo sido também requisitado que os adolescentes nomeassem o seu melhor, segundo melhor e terceiro melhor amigo, bem como o seu/sua namorado(a) e a duração de cada um destes relacionamentos. Foi ainda utilizado o Network of Relationships Inventory (Furman & Buhrmester, 1985)

mais extensa que 11 meses, no entanto a associação com os pares ainda se mantinha nessa ocasião. Salienta-se que até desaparecer a associação entre o apoio percebido pais- par amoroso, as associações mais robustas encontravam-se com o domínio parental e não com o dos pares.

Shulman e colaboradores (1997) referiram existir evidência de que as relações de amizade com pares do mesmo género, são um importante moderador da intimidade nas relações amorosas no sentido negativo, isto é, quanto maior a proximidade emocional com o amigo menor a proximidade e o respeito pela individualidade da namorada. Quanto às raparigas, parece existir uma especificidade relacional na relação amorosa que faz com que apenas a intimidade na própria relação e o grau de intimidade com o par amoroso explicassem o nível de intimidade.

Shulman, desta feita com Miri Scharf (2000) estudaram uma amostra de 168 adolescentes (54 a frequentarem o 9º ano, 53 a frequentarem o 11º ano e 61 que se encontravam no 13º ano; as médias etárias variaram entre os 14.11, 16.26 e 19.18 anos de idade). Os adolescentes e jovens foram solicitados a responder a uma entrevista e a uma bateria de questionários. Avaliaram assim a natureza dos comportamentos amorosos, as percepções românticas e as relações com o par amoroso, pais e amigo íntimo do mesmo género44. Neste estudo, tanto para rapazes quanto para raparigas, a intensidade dos afectos com os amigos próximos do mesmo género associava-se à mesma dimensão nas relações com o par amoroso, enquanto que a intensidade afectiva na relação com pais e relação amorosa, não se associava de todo.

Assim, em termos gerais a teoria e a prática empírica parecem concordar que as associações entre domínios relacionais significativos na adolescência, observam maior robustez entre os contextos de pares que entre os de pais e par amoroso, pese embora se verifique também que nas idades já mais próximas à adultícia, essencialmente porque as tarefas desenvolvimentais já não exigem uma exploração tão fora da proximidade parental, as associações entre a qualidade da relação com os pais ao par amoroso (quer se trate de representações actuais quer das relações na infância) parecem robustecer-se de novo. Porém, e tal como referido por Bowlby, não poderemos esquecer também questões diferenciais, de género e idade, condicionam, além das relações iniciais também o modo como cada um de nós se relaciona com os pares.

44 As medidas utilizadas foram o Índex of Affective Relationships (IAR, Takahashi & Nagima, 1994) e o Love Attitudes Scale (LAS, Hendrick & Hendrick, 1986). A entrevista teve por base a versão revista do Relationship Closeness Inventory (RCI, Berscheid et al., 1989).

2.5. Funcionamento reflexivo e transmissão intergeracional da segurança de