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2 Objectivos e hipóteses

2.2. Hipóteses

Todas as hipóteses que a seguir se apresentam estão baseadas no conjunto de estudos empíricos apresentados ao longo do Capítulo 2. Definimo-las alicerçando-nos no pressuposto teórico que as relações de vinculação se estabelecem inicialmente com os pais, robustecendo as probabilidades de sobrevivência através do estabelecimento de uma rede hierárquica que inclui os progenitores, mas que não se limita a eles. Antes, e tal como já afirmámos anteriormente, é uma rede que prevê a aprendizagem de novas formas de ser do sistema de vinculação e que implica o desenvolvimento de estruturas físicas e psicológicas que permitam ao sujeito ser também ele um prestador de cuidados. Assim, é necessário que o sujeito se diferencie e construa a sua identidade através do contacto com pares, mas trazendo para estas relações muitos mecanismos representacionais inconscientes apreendidos nas relações com os pais/prestadores de cuidados iniciais. A fase do ciclo vital onde esta transformação vai sendo verificada é justamente a adolescência. Agora é necessário ser diferente dos pais e igual aos pares, e com Iguais podemos iniciar uma segunda diferenciação pessoal, uma que é construída através do aumento da significância dos pares e que se estrutura posteriormente nas relações de intimidade com o par amoroso.

2.2.1. Hipóteses: Modelo de transferência das componentes de vinculação

É a partir do início da adolescência que começa a existir um movimento de procura dos pares para apoio emocional, movimento agora bidireccional que segue segundo o modelo de Hazan e colaboradores (1987, 1994a, 1994b, 1997, 1999) um curso sequencial. Enquanto que nas relações com os pais na infância são visíveis os funcionamentos de

Procura de proximidade e Protesto de separação (bidireccionais) e Porto seguro e Base segura (unidireccionais), no início da adolescência começam a ser procurados os pares para

a Procura de proximidade, que permitirá eventuais oportunidades de procura e prestação de apoio (Porto seguro), que darão suporte à internalização e posterior representação desta díade enquanto Base segura. É a partir desta Base segura que é permitido ao jovem explorar-se e ao mundo, tornando-se posteriormente diferente de todos e igual a si mesmo (vide Figuras 1 e 2, p. 28 e 31). Obviamente que a partir do estabelecimento do outro enquanto Porto seguro começam a surgir os comportamentos de Protesto de separação.

Este processo culmina, segundo o modelo, numa construção hierárquica que na adultícia torna o par amoroso, que se constituiu entretanto em figura de vinculação, como o primeiro da rede, embora em ocasiões de perda relacional (efectiva ou simbólica), pais e pares amigos íntimos voltem a ser solicitados com maior intensidade, elevando-se de novo na hierarquia emocional. O modelo sugere ainda que é baixa a possibilidade de se encontrarem relações de pares/amizade na adolescência onde estejam presentes as quatro componentes, sobretudo porque as relações com o par amoroso (estáveis e duradouras) incluem, além do sistema afiliativo, o sexual e ainda o de prestação de cuidados. Este primeiro grupo de hipóteses associa-se aos objectivos específicos do grupo a., embora restrito ao modelo de transferência sendo a caracterização deste processo aos restantes níveis discutida, porém, não colocada enquanto hipótese60:

a.1. A transferência de componentes de vinculação de Pais a Pares espera-se ser observada na sequência: (a) Procura de proximidade; (b) Porto seguro; (c) Protesto

de separação e; (d) Base segura;

a.2. De acordo com o modelo aguarda-se que seja relatado para os pares amigos, em todas as idades em estudo (dos 13 aos 23 anos), as maiores frequências de Procura

de proximidade e de Porto seguro quando há comparação com os pais;

a.3. Espera-se também que o Protesto de separação e o relato de Base segura aumentem com a idade para os pares, existindo possibilidade de equivalência de relato com os pais apenas entre o final da adolescência em diante;

a.4. Espera-se que haja maior recurso ao par amoroso para exercício das funções de vinculação quando a relação é igual ou superior no tempo a dois anos de duração; a.5. Presume-se que a presença em simultâneo das quatro componentes de vinculação

numa mesma figura, aconteça essencialmente para os pais e ainda para o par amoroso; esta condição relativamente aos pares amigos será rara.

2.2.3. Hipóteses: Abordagens dimensionais e prototípicas

Uma abordagem às relações de vinculação na adolescência não estaria completa se não integrasse os pontos de vista complementares da dimensionalidade e da visão prototípica. A dimensão é mais sagaz, permite uma avaliação mais pormenorizada, porém, não é possível abarcar todas as dimensões que avaliam este constructo (ou qualquer outro da esfera do psicológico), pelo que faz sentido uma proposta analítica mais baseada num funcionamento ao nível dos padrões mais gerais de funcionamento, pese embora, tal como

60 Referimo-nos a interacções eventuais ao nível dos padrões de vinculação, que previsíveis teoricamente não estão incluídas nas análises do modelo de transferência tal como enunciado por Cindy Hazan e colaboradores.

já discutimos anteriormente, numa perspectiva de que estes modos mais gerais associam- se não a um estilo estático de funcionamento em todas as relações, mas antes a integrações e revisões sucessivas que definem, mas não determinam, um modo mais adaptativo de os adolescentes se relacionarem ao longo de diversas relações. Consideramos ainda que esta interpretação da adolescência deverá ser observada em referência às dimensões que lhe deram origem, sob pena de se perspectivarem os funcionamentos seguros ou inseguros como algo independente da Comunicação, Alienação, Evitamento, Confiança, ou todas as dimensões que possamos integrar na vinculação. É justamente este posicionamento que nos fez avançar com o segundo grupo de objectivos (b.) e de hipóteses associadas.

b.1. Aguarda-se que os dados dimensionais relativos à avaliação da vinculação nos quatro domínios relacionais sejam passíveis de ser lidos prototipicamente, à luz do modelo bidimensional de Kim Bartholomew;

b.2. Espera-se que a qualidade de vinculação seja diferenciada por género de pais e adolescentes, mormente que entre mãe e adolescentes seja mais elevada que entre os jovens e o pai e que existam valores dimensionais mais elevados entre mãe-filhas que entre mãe-filhos;

b.3. Aguarda-se que exista maior grau de Inibição de exploração e individualidade e de

Ansiedade de separação e dependência na relação com ambos os pais nas idades

mais baixas da amostra (13-16 anos) que nas mais elevadas (17-23 anos);

b.4. É esperado que as raparigas exibam maior qualidade relacional na relação com os pares que os rapazes, nomeadamente maiores índices de Comunicação e

Confiança;

b.5. Espera-se que a qualidade das relações amorosas seja mais elevada nas raparigas que nos rapazes, designadamente que as raparigas exibam maiores graus de

Confiança e Dependência e menores de Evitamento que os pares de género oposto;

b.6. Aguarda-se que não se verifiquem diferenças etárias no que diz respeito às dimensões de vinculação na relação com o par amoroso, antes espera-se que estas diferenças existam em função da duração da relação amorosa: as relações com duração maior deterão maiores índices de Confiança e Dependência e menores de

Evitamento e Ambivalência;

b.7. Espera-se que existam associações fortes a moderadas entre as dimensões de vinculação a mãe e pai;

b.8. Aguarda-se ainda que as associações entre dimensões de vinculação aos pais e o par amoroso sejam menos robustas que entre as dimensões de vinculação a pais e pares e entre os dois domínios relacionais de pares;

b.9. Assume-se a probabilidade da existência de associações entre a qualidade de vinculação aos pais, pares e par amoroso e auto-estima, e que a última seja mediadora nesta relação;

b.10. Aguarda-se que as dimensões de vinculação que avaliam os quatro domínios relacionais se associem com às variáveis número e intensidade de acontecimentos de vida negativos;

b.11. Não se aguardam diferenças etárias na qualidade de vinculação quer à mãe quer ao pai;

b.12. Espera-se que os padrões Seguro na relação com os pais sejam os grupos mais frequentes na população em estudo e ainda que, em ambos os contextos da relação parental, os jovens Preocupados estejam mais representados que os Desinvestidos; b.13. Aguarda-se que mais raparigas que rapazes exibam maior frequência no padrão

Seguro a pares e par amoroso;

b.14. Espera-se que a percentagem de Seguros ao par amoroso cresça à medida que aumenta a duração da relação amorosa;

b.15. Aguarda-se que exista maior número e uma avaliação mais negativa dos acontecimentos negativos nos três padrões Inseguros que no padrão Seguro, nos quatro contextos relacionais;

b.16. Espera-se que o funcionamento Seguro a cada um dos progenitores aumente a probabilidade de um funcionamento Seguro e faça diminuir a possibilidade de um funcionamento inseguro quer com pares quer com o par amoroso;

b.17. Aguarda-se que o funcionamento Seguro aos pares aumente a probabilidade de funcionamento Seguro e diminua a probabilidade de funcionamento inseguro na relação com o par amoroso.

2.2.3. Hipóteses: Modelos de equações estruturais

Quanto à construção de modelos explicativos das associações entre a qualidade de vinculação a cada um dos progenitores, número de componentes de vinculação presentes na relação com par do mesmo género e par amoroso e qualidade de vinculação aos pares e ao par amoroso, trata-se de apresentar propostas que se enquadrem dentro das associações previstas teoricamente ao mesmo tempo que se comprova da adequabilidade dos dados ao modelo. Deste modo serão tidos em linha de conta todas as hipóteses levantadas até este momento, bem como os resultados observados até aí. Assim é possível prever que (objectivo específico c.):

c.1. Esperam-se obter modelos diferenciados quer por género parental, quer por género dos adolescentes;

c.2. Aguarda-se que sejam mais robustos os valores beta de associação entre os caminhos da Qualidade de vinculação à mãe com as dimensões Qualidade de

vinculação a pares e par amoroso que os que associam a Qualidade de vinculação ao pai à Qualidade de vinculação nos domínios relacionais com ambos os pares;

c.3. Espera-se uma associação mais robusta entre Qualidade de vinculação à mãe e ao

pai na Qualidade de vinculação aos pares que ao par amoroso quer em rapazes quer

em raparigas;

c.4. Aguarda-se que a influência da Qualidade de vinculação aos pares na Qualidade de

vinculação ao par amoroso seja mais elevada nos modelos masculinos que nos

femininos;

c.5. Aguarda-se que os melhores preditores da Qualidade de vinculação aos pares e par

amoroso sejam, respectivamente, o número de componentes de vinculação

presentes na relação com o par do mesmo género e o número de componentes de vinculação presentes na relação com o par amoroso.

3. Amostra