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AS MERCADORIAS E DÁDIVAS ROUBADAS

No documento Coisas da Vida no Crime (páginas 161-171)

151 Após serem roubados, os objetos subtraídos das vítimas passam por procedimentos de partilha entre os ladrões. Todos os proventos do roubo devem ser divididos em partes iguais entre os que tiverem participado da ação. O problema é que, na maioria das vezes, não há como se efetuar a partilha logo após o assalto, pois além de dinheiro, costuma haver objetos, cujo valor só será conhecido após a venda. Os ladrões ficam então incumbidos de vender cada artigo e pagar aos demais a parte devida.

Entretanto, como nenhum deles presa muito a honestidade, é comum que mintam sobre o valor obtido, informando um valor menor, de modo a lucrar também com a intermediação da venda. Isso, é claro, gera desentendimentos quando se é descoberto, levando os ladrões a não mais trabalhar juntos.

Outra fonte comum de desentendimentos relativos à partilha refere-se à prática indevida de se ocultar bens roubados, durante o assalto, e não informá-los aos parceiros, de modo a evitar a partilha. Isso ocorre com mais frequência em roubos a residências, estabelecimentos comerciais e empresas, pois pessoas que não participam diretamente da ação – tendo apenas cooperado com informações – podem ter direito a uma parte igual dos proventos. Os ladrões então dizem que veio menos do que de fato veio.

Também a possibilidade de se estar a sós em algum cômodo durante o assalto, oferece oportunidade para colocar alguns bens de valor nos bolsos.

Mas mesmo em roubos a carros e pedestres, não raro os ladrões desconfiam uns dos outros. Para se dissolver este tipo de tensão, pode-se solicitar a revista de todos os participantes, procedimento este que fere a etiqueta entre bandidos e só deve ser empregado nos casos em que se tem certeza de estar sendo enganado. Considerando a possibilidade de uma eventual revista, ladrões avisam aos parceiros, antes do assalto, se estiverem com uma quantia alta de dinheiro nos bolsos, resguardando-se contra acusações futuras.

Fiquei a par de um caso em que, na hora da partilha, faltava um cordão de ouro que todos teriam visto ser arrancado do pescoço da vítima. O ladrão que o teria pego foi então questionado por seus parceiros e alegou tê-lo deixado cair no chão durante a ação.

Os demais assaltantes duvidaram que o cordão tivesse de fato caído, o que ocasionou uma breve discussão. No entanto, ninguém revistou ninguém e o desfecho da história foi pacífico, mediante um pedido de desculpas pelo descuido de ter perdido o produto do roubo.

Numa situação de partilha, os itens roubados são conceituados como o produto do trabalho conjunto de assaltantes para subtrair bens de suas vítimas. As associações

152 para o cometimento de roubos, ao contrário do tráfico, são inteiramente horizontais, sendo a única verticalidade aceitável, aquela que se produz com relação à vítima no momento do assalto. O ideal de justiça na partilha é, portanto, a divisão em partes iguais, independente da qualidade da participação de cada um. É vedada a exploração de um pelo outro numa sociedade entre ladrões, embora isso aconteça de modo oculto, quando um dos parceiros emprega algum dos estratagemas supracitados.

Os produtos do roubo logo assumem a forma de mercadoria ou de dádiva. A conversão dos artigos roubados em mercadoria é, sem dúvida, a razão de ser do assalto.

No entanto, demonstrarei também que a conversão dos mesmos em dádivas é uma importante estratégia acionada pelos ladrões para conquistarem uma margem de tolerância para com suas práticas, dentro da comunidade e, principalmente, em relação aos traficantes que os censuram. Mas também, a própria circulação de mercadorias roubadas dentro da favela constitui uma das razões pelas quais a prática do 157 é, até certo ponto, aceita por traficantes.

Por um lado, a atuação dos assaltantes prejudica as relações entre o tráfico e a polícia, sobretudo por causa dos bodes guardados no morro; por outro lado, os traficantes dependem dos ladrões para que lhes consigam os veículos roubados a serem utilizados em missões, na desova dos corpos de vítimas de homicídio, para a montagem de carros batidos, para a utilização dentro do morro, etc. Além dos carros, bandidos, de um modo geral, precisam também de outros objetos que eles não possuiriam se não os pudessem comprar dos ladrões a um preço inferior. Refiro-me às joias de ouro de que eles tanto gostam, aos relógios de marca, notebooks, tablets, telefones celulares, etc. As joias são compradas em função de seu peso, sendo cobrado, à época da pesquisa, R$50,00 por grama de ouro. Já os demais bens, quando vendidos por unidade, custam, em média, a metade do preço de loja.

Os carros costumam ser roubados sob encomenda, seja para os bandidos de maior status circularem com eles no interior da favela; seja para os compradores utilizarem as suas peças em outros carros, cuja documentação é regular, ou seja, para montarem carros quentes. Estes últimos podem pertencer a alguém que queira apenas trocar peças de seu próprio automóvel ou podem ter sido comprados em um leilão de carros com “perda total” declarada. Após o valor combinado ser pago ao ladrão, o comprador do bode é quem vai se responsabilizar por cortá-lo em uma oficina. A não ser que o carro seja vendido para fora do morro ou fique integralmente desmontado, o próprio ladrão que o vendeu deverá dispensá-lo depois que já estiver parcialmente

153 depenado. Se quiserem, os próprios assaltantes podem também cortar e montar seus carros, subcontratando mecânicos, eletricistas e lanterneiros, mas isso não é muito comum.

O corte e montagem de carros é uma prática bastante difundida, cuja existência eu desconhecia completamente antes de entrar em campo. A intensa fiscalização policial sobre ferros-velhos e revendas de autopeças usadas teria reservado a policiais corruptos o controle dos chamados desmontes de carros roubados, tornando muito difícil aos ladrões beneficiarem-se deste mercado. Segundo me foi dito por assaltantes e confirmado [criticamente] por um policial, seriam os próprios agentes da lei que, ao apreenderem veículos roubados e abandonados por bandidos em bom estado, levá-los-iam para os desmontes, onde serlevá-los-iam depenados. Desta forma, para beneficiarem-se do roubo de carros, os ladrões vendem apenas para os seus conhecidos algumas peças mais fáceis de retirar, como aparelhos de som, rodas, bancos de couro e kit-gás, ou vendem-nos integralmente a quem os tiver encomendado para montar sobre um carro em más condições.

Há também a possibilidade de se mandar carros de luxo importados para serem comercializados no Paraguai. Conheci gente que outrora – cerca de dez anos atrás – muito lucrara com esse tipo de transação, vendendo os veículos, sobretudo da marca Mercedes-Benz, por até dez vezes mais do que cobram em carros comuns para corte.

Estes carros são mais difíceis de roubar, pois costumam ter rastreadores por satélite e, além disso, anos atrás, não era tão comum encontrá-los pelas ruas. Entretanto, os ladrões envolvidos com este esquema já não possuíam mais os contatos necessários para transpor tantas fronteiras.

Vale ressaltar que o roubo é uma prática aquisitiva quase autônoma ou, no mínimo, pouco associativa. Não é fácil articular empreendimentos estáveis que atravessem longas distâncias e envolvam diversos atores que desempenhem funções específicas. Eles não dispõem do mesmo nível de organização que o narcotráfico, este sim configurado em redes transnacionais capazes de substituir conexões interrompidas com novas conexões entre seus pontos, cujo aspecto “rizomático” foi assinalado por Barbosa (2005). Tal como os traficantes de classe média que eu pesquisei anteriormente – também predominantemente autônomos – assaltantes são amadores em sua participação nas redes internacionais. A prisão de um único membro intermediário de uma cadeia de contatos ou a interrupção do fluxo comercial por falta de pagamento pode bastar para encerrar por completo um esquema internacional.

154 Não há propriamente um “mercado de bens roubados” de que os ladrões pesquisados participem. As trocas comerciais em que eles se engajam não se concentram em canais específicos de escoamento das mercadorias e tampouco em espaços físicos determinados. Ladrões se viram como podem para vender cada bem (com valor de troca) que conseguem subtrair de suas vítimas, pois é baixo o grau de especialização dos receptadores a que tem acesso. Devido à ausência de nota fiscal, a alienação dos objetos por roubo tende a ser incompleta, o que dificulta transformação dos itens roubados em mercadorias passíveis de comercialização em larga escala. O mercado de bens roubados é, portanto, fragmentado e evolve a participação de atores diversos, em sua maioria, não especializados.

Vejamos o caso dos carros. Dada a dificuldade de se articular esquemas estáveis de desmonte e revenda de autopeças usadas ou de exportação para fora do país, a opção mais lucrativa para os ladrões acaba sendo vender carros inteiros por valores irrisórios.

Na época, qualquer carro roubado custava R$1.000,00, exceto pelos carros a diesel, que variavam em torno de R$3.000,00. No final do trabalho de campo, o “efeito-UPP” já começava a inflacionar este mercado, pois havia menos ladrões daquela região saindo para roubar e, portanto, menos oferta. Mas a maioria dos relatos sobre roubo, obtidos em campo, se passa antes da instalação de UPPs nas áreas pesquisadas. Numa época em que o domínio territorial do tráfico, sempre ostensivamente armado, possibilitava aos ladrões esconderem seus bodes no interior do morro, com chances menores de tê-los prontamente recuperados pela polícia.85

O motivo pelo qual os carros são vendidos a um valor até cinquenta vezes mais baixo do que o valor de mercado [lícito] é porque eles apresentam uma numeração de chassi que remete ao vínculo formal com o seu legítimo proprietário. Carros não são passíveis de alienação total através do roubo. O Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) licencia todos os veículos autorizados a circular pela rua e – mesmo que sejam trocadas as placas e os vidros numerados e que se pague a um estelionatário/funcionário do DETRAN para bater um documento quente – pelo número do chassi é possível identificar o proprietário e averiguar a situação regular ou irregular do veículo. Caso ele conste como roubado, o seu condutor será imediatamente preso [ou morto], a não ser que negocie a sua liberdade com o policial.

85 Se colocarmos entre aspas o controle que a firma tenta estabelecer sobre os carros e motos roubados guardados no interior da comunidade, como explicado no início deste capítulo.

155 Deste modo, para que um carro possa ser reintroduzido no mercado formal de automóveis, é preciso eliminar qualquer traço que o vincule ao seu passado, ou seja, apagar todas as numerações – chassi, vidros, placa e motor – que o impulsionem de volta ao seu proprietário original, conforme autenticado pela Lei. Existem especialistas na adulteração dos números de chassi. Pode-se adulterar o próprio número com o uso de martelos especiais ou cortar fora a parte em que ele se encontra gravado, substituindo-a por outra numeração soldada ao chassi. No entanto, um olhar atento é capaz de desconfiar que houve adulteração e uma perícia técnica é capaz de confirmá-la.

Como o chassi é a carcaça do carro sobre a qual são montadas todas as peças, ele acaba não podendo ser aproveitado. Para desvincular o carro de seu dono e do roubo praticado, é preciso desmontá-lo por completo e remontá-lo novamente sobre um chassi regular. Isso é pré-requisito para que o carro possa ser revendido. Segundo Callon (1998a):

Para construir uma transação de mercado, o que quer dizer, para transformar algo em commodity, e dois agentes em vendedor e consumidor, é necessário cortar as amarras entre as coisas e outros objetos ou seres humanos, um a um.

Ela deve ser descontextualizada, dissociada e destacada. (p.19, tradução nossa)

Isso quer dizer que o objeto precisa ser “desenredado”, do original, em inglês, disentangled. Tais proposições do autor se baseiam nas ideias desenvolvidas por Thomas (1991), na obra intitulada Entangled Objects. No entanto, a noção de

“desenredamento” (ou “disentanglement”) não é conceituada claramente por Thomas e aparece de maneira espalhada ao longo de todo o seu livro. Um dos poucos trechos concisos que nos permite intuir esta ideia foi também citado por Callon:

Commodities são aqui entendidas como objetos, pessoas ou elementos de pessoas, que são colocados em um contexto no qual eles possuem valor de troca e podem ser alienados. A alienação de uma coisa é a sua dissociação dos produtores, antigos usuários ou contextos anteriores. (Thomas, 1991, p.39, tradução nossa)

Thomas prossegue, ainda no mesmo parágrafo e página, explicando que “ambas a inalienabilidade e a alienabilidade devem ser termos imprecisos que podem se referir a vínculos variados entre pessoas e objetos, ou ao apagamento de tais vínculos.” Ou seja, embora este autor não cunhe, propriamente, as noções de “entanglement” e

“disentanglement” – subentendidas em seu livro e apropriadas por Callon –, como conceitos substitutivos para, respectivamente, a inalienabilidade e alienabilidade (com o acréscimo de uma dimensão circunstancial), tal proposta encontra-se, de algum modo, implícita. Esta leitura das proposições teóricas de Thomas me permite empregar uma

156 terminologia mais adequada para discorrer sobre o problema da alienação nos tipos de caso em análise.

Melhor do que constatar a inalienabilidade do veículo roubado com relação ao seu dono original, em vista da existência de números que autentiquem formalmente a sua propriedade sobre o carro; é constatar o enredamento entre o proprietário e seu veículo, através das numerações que os mantém vinculados, por intermédio da regulamentação estatal. A alienabilidade formal de um automóvel depende de procedimentos de transferência de posse, documentados e autenticados em cartório, que envolvem também a quitação das possíveis dívidas anteriores, como multas e licenciamento anual, que vinculam o carro ao seu proprietário antigo, e a notificação ao DETRAN para fins de responsabilização futura do novo proprietário. Deste modo, um veículo é certamente alienável, contanto que se efetue o seu devido desenredamento com relação ao seu dono.

Mas nada disso impede, por completo, que se contornem ilicitamente os vínculos que ligam um veículo ao seu legítimo proprietário, produzindo-se uma alienação por roubo. Entretanto, esta alienação não se completa na ocasião em que o proprietário é fisicamente separado de seu bem, mas apenas após o devido apagamento dos vestígios que impulsionam o veículo de volta ao dono. Se comparadas com o universo total de veículos furtados ou roubados, são raras as vezes em que tais técnicas de desenredamento são empregadas para se aproveitar um veículo em sua quase totalidade.

Temos, portanto, que a grande maioria deles é recuperada pela polícia e devolvida aos proprietários, porém, normalmente, com uma série de peças faltando.

Rodas, aparelhos de som, bancos, volantes, etc. se separam mais facilmente de seus proprietários originais, contudo, tais peças avulsas costumam ser vendidas apenas aos compradores conhecidos que pretendam colocá-las em seus próprios carros. Elas não se desenredam suficientemente da sua situação de “provento de roubo” ao ponto de poderem ser comercializadas em lojas de autopeças usadas, pois não há notas fiscais referentes à sua aquisição. O desenredamento se completa de maneira eficiente quando o comprador da peça, ciente de sua origem, a instala em seu próprio veículo e ela passa a o compor.

A receptação de mercadorias roubadas para consumo individual é bem aceita entre pessoas que se percebem e são percebidas como honestas, mas que se relacionam continuamente com ladrões e traficantes. Eu pude observar que alguns moradores de favelas, embora fossem trabalhadores e condenassem a prática de crimes, não hesitavam

157 em comprar dos ladrões celulares, computadores, joias e demais artigos de consumo.

Havia ainda aqueles que se especializavam em mediar as vendas, lucrando sobre o valor de cada artigo, sem que isso implicasse em uma transformação das suas identidades pública e privada. Eram trabalhadores que faziam uma ou outra correria do tipo, apenas para complementar a sua renda.

Outro aspecto controverso da moral local86 era a aceitação dos presentes. Alguns ladrões são muito galanteadores com as pessoas que o cercam, comprando a sua aquiescência com regalos dos mais variados. Sendo as suas principais vítimas mulheres, eles presenteavam suas mães, irmãs, amigas, esposas, namoradas e amantes com joias, bijuterias, bolsas, carteiras, celulares, maquiagem, óculos escuros, relógios, perfumes e tudo o mais que pudesse vir dentro de uma bolsa feminina. Normalmente, todas aceitavam. Mas uma amiga minha comentou pejorativamente a respeito da mãe de um ladrão: “Ela aceita presente roubado do próprio filho? É uma piranha mesmo. Eu aceito de qualquer um, mas do meu filho, nunca!”

Uma parte significativa dos bens roubados ingressa em sistemas de trocas não mercantis, configurando uma economia de dádivas roubadas. Os objetos doados por ladrões podem ser joias, relógios e celulares caros, mas tendem a ser principalmente aqueles com baixo ou nenhum valor de troca mercantil – se consideradas as possibilidades de que dispõem para escoar as mercadorias –, como as bolsas femininas, carteiras, maquiagem e óculos escuros. Seria mais prático para os ladrões jogar estes artigos fora após revistarem as bolsas e carteiras em busca de dinheiro e bens valiosos.

É o que alguns fazem, evitando, assim, segurar flagrantes desnecessários. Outros, contudo, guardam esses bens para fazê-los ingressar nas trocas de dádivas. Tendo em vista a fragilidade objetiva e existencial dos ladrões, sempre sujeitos à reprovação moral, humilhação, morte e prisão, oferecer dádivas é um meio para receber em troca a complacência e proteção das pessoas que o cercam ou, mesmo, das entidades espirituais em que acreditam.

Havia, por exemplo, um ladrão que, sendo praticante do Candomblé, oferecia muitos presentes à sua Maria Padilha, travando com esta entidade uma relação especialmente íntima. Ele dizia saber que não podia pedir proteção a Deus ou aos demais orixás para fazer as suas coisas erradas, mas sendo a Maria Padilha um Exú, ela

86 É preciso assinalar que “aspectos controversos da moral local” não são uma especificidade das favelas, mas atravessam toda a estrutura de classe. Uma série de ilicitudes como sonegar impostos, subornar autoridades, consumir bens pirateados, contrabandeados, drogas ilícitas, etc. é praticada por pessoas de todas as classes que se percebem e são percebidas como honestas e trabalhadoras.

158 podia ajudá-lo sem qualquer impedimento moral. Esta pomba-gira também não se incomodava em ganhar presentes roubados, de modo que além das oferendas mais tradicionais, como alimentos, cigarros, bebidas alcoólicas e objetos rituais, ele também lhe dava todos os batons vermelhos que vinham nos roubos e ainda pentes, pulseiras e demais adereços femininos que lhe parecessem atender ao gosto peculiar da entidade.

Ele dizia: “Isso aqui é da Padilha. É a cara dela.”

Em especial, ladrões gostam de presentear as crianças. Ouvi isso várias vezes, sempre articulado a alguma explicação mística. Um deles, por exemplo, dizia que era para agradar a São Cosme e Damião. Sempre que vinha algum brinquedo nos carros que roubava, ele dava ao filho de algum conhecido, mas gostava também de comprar balas para distribuir e, ocasionalmente, pagar lanches às crianças que brincavam na rua. O próprio tráfico também promove a distribuição de doces no dia de São Cosme Damião e brinquedos no dia das crianças e no natal, podendo, esporadicamente, distribuir outros agrados, como eu já os vi oferecendo sorvetes.

Certa vez, eu estava no morro com algumas amigas, assistindo à minha filha que brincava com outras crianças. Quatro assaltantes chegaram da pista e estacionaram na rótula da rua sem saída – conhecida como pracinha – onde estávamos. Eles despejaram no chão, o conteúdo de várias bolsas femininas e começaram a revistá-las, separando o que iam guardar e o que iam jogar fora. Uma das minhas amigas chamou um deles pelo nome e, de longe, pediu que lhe desse algum batom. Ao final da revista, ele entregou-lhe um belíssimo batom vermelho de marca importada, ao que ela agradeceu. Antes de

Certa vez, eu estava no morro com algumas amigas, assistindo à minha filha que brincava com outras crianças. Quatro assaltantes chegaram da pista e estacionaram na rótula da rua sem saída – conhecida como pracinha – onde estávamos. Eles despejaram no chão, o conteúdo de várias bolsas femininas e começaram a revistá-las, separando o que iam guardar e o que iam jogar fora. Uma das minhas amigas chamou um deles pelo nome e, de longe, pediu que lhe desse algum batom. Ao final da revista, ele entregou-lhe um belíssimo batom vermelho de marca importada, ao que ela agradeceu. Antes de

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