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AS RESTRIÇÕES AO ROUBO

No documento Coisas da Vida no Crime (páginas 152-161)

No mundo do crime algumas das trajetórias mais singulares são as dos ladrões, para quem não faltam narrativas de intensos tiroteios, fugas, assalto a personalidades famosas, latrocínios contra policiais, etc. Além disso, eles são os únicos capazes de burlar a hierarquia empresarial do tráfico, podendo ostentar carros, ouro e belas

142 mulheres sem que isso esteja atrelado a uma ascensão nas estruturas locais de poder. O roubo – principalmente a carros e pedestres – é uma das atividades mais relevantes para a composição do universo criminal, além de ser o principal “vilão” da “violência urbana”, contribuindo mais do que o tráfico para a produção da sensação de insegurança nas grandes cidades.

Os assaltantes que residem em favelas controladas por uma facção dependem de manter algum vínculo de trabalho ou, pelo menos, uma boa relação com a boca para poder portar ou possuir armas de fogo e para trazer bens roubados para dentro do morro.

O tráfico de drogas estabelece limites a esta atividade, se reservando o direito de cobrar os ladrões que não respeitarem as condições a eles impostas, como não roubar em área próxima à favela ou não guardar carros roubados em seu interior.

Foi-se o tempo em que roubar a rua – isto é, praticar assaltos à mão armada fora e longe da favela – era valorizado no mundo do crime. A intensificação da repressão policial experimentada desde o início dos anos 2000 produziu mudanças consideráveis nos arranjos locais que propiciam a reprodução da criminalidade, alterando a maneira como a firma do tráfico se relaciona com os ladrões que vivem em sua área de atuação.

De mais a mais, o próprio Crime vêm impondo cada vez mais restrições ao roubo. Em vez de exaltados, os bandidos que insistem em fazer do roubo o seu meio de vida passaram a ser mortos, expulsos da favela ou desencorajados a roubar.

Tradicionalmente, a prática do 157 – como é chamado o roubo em alusão ao artigo 157 do Código Penal Brasileiro – trazia mais prestígio entre os criminosos do que o envolvimento com o tráfico de drogas pois, como ressaltou Barbosa (1998), o tráfico depende do estabelecimento de relações de suborno/extorsão com a polícia para funcionar, ao passo que o roubo rompe em maior grau com tais dinâmicas de acordo.

Ao ir para a pista trabalhar, os ladrões assumem riscos imensamente maiores do que se apenas ficassem dentro do morro, tirando os seus plantões ou aproveitando as suas folgas sob a contenção dos amigos – isto é, a proteção armada ao território, que dificulta a ação da polícia. Assaltantes ultrapassam as barreiras tácitas que ordenam geograficamente a convivência mínima aceitável entre Lei e Crime e se lançam armados no território hostil da rua – onde não é “normal” andar armado. Como dizia um ladrão aos seus amigos traficantes: “Vocês se escondem da polícia. Eu vou na direção deles.”

Ao ir para a pista roubar, os assaltantes expõem-se ao perigo de serem presos ou mortos, seja por cruzarem com uma blitz da polícia ou por serem flagrados e perseguidos por policiais após roubo ou, ainda, por serem surpreendidos pela reação de

143 uma vítima armada. Enquanto trabalham na pista, caso os ladrões se deparem com uma dura – barreira policial –, apenas o piloto deve manter-se visível, ao passo que os seus parceiros abaixam-se, no intuito de evitar a suspeita policial que culmine em o carro ser solicitado a parar. Se, ainda assim, o policial mandar parar ou uma viatura da polícia encostar atrás do carro, os ladrões começam a atirar contra a guarnição, pois os policiais terão que se proteger dos tiros antes de responder à “injusta agressão”82. Ganham assim, o tempo de que precisam para fugir.

Durante o meu trabalho de campo, a maioria dos ladrões que eu conheci foi morta pela polícia (7) ou presa (4). A cada prisão ou morte que ocorria, alguns eram dissuadidos de continuarem roubando, mas outros ainda insistiam em roubar. Por fim, acabou que já não conheço mais ninguém que ainda continue praticando roubos.

É principalmente dessa enorme exposição ao risco que decorre o prestígio de que outrora gozavam os ladrões mais conhecidos entre os demais bandidos. Eles arriscam suas vidas e liberdade para reproduzir um estilo de vida e, conforme assinalado por Simmel (1971), quanto maior o sacrifício envolvido em um ato, maior o valor moral subjetivo do mesmo. Embora roubar seja aparentemente um meio “fácil” de se ganhar a vida, além de ser um ato incriminável e moralmente condenável pela maioria das pessoas, a gravidade dos perigos a que se sujeitam os ladrões para roubar lhes confere um mérito moral muito particular no Crime.

Em São Paulo, entre os membros do PCC, “ladrão” é a categoria nativa elogiosa para se referir a um bandido como um “cara de proceder” ou “sujeito homem”

(MARQUES, 2009). Independente de efetivamente praticarem, ou não, atos passíveis de enquadramento sob os artigos 155 (furto) ou 157 (roubo) do Código Penal Brasileiro, são chamados “ladrão” todos os sujeitos capazes de alinhar a sua caminhada com as expectativas do proceder. O PCC instituiu a “paz entre os ladrões”, não porque seja especificamente uma coletividade composta por praticantes de furtos e roubos, mas porque são assim também chamados os traficantes e demais presos encarcerados por motivos diversos, que se orientam pela ética peculiar a este coletivo.

“Ladrão” equivale, portanto, ao que, no Rio de Janeiro, está contido na acepção nativa da categoria “bandido”. Considerando a maneira como o tráfico de drogas

82 Esta é a categoria policial comumente empregada para designar os tiros efetuados por

“meliantes”, na descrição da “dinâmica do fato” apresentada nos registros de ocorrência dos “autos de resistência”. Os policiais alegam ter “revidado a injusta agressão”, o que, em casos de roubo, eu pude verificar que é, muitas vezes, verdadeiro. No entanto, os assaltantes alegam que, se capturados, são grandes as chances de serem sumariamente mortos e, por isso, eles preferem reagir violentamente à abordagem policial.

144 destacou-se como o centro de gravidade do mundo do crime carioca, “ser ladrão” não poderia carregar os mesmos sentidos positivos que em São Paulo, onde a prática de furtos e roubos é ainda valorizada entre os criminosos, talvez mais do que o tráfico. No Rio, embora os assaltantes possam ter a sua disposição reconhecida, o que lhes confere consideração, eles frequentemente trazem problemas para o morro, sendo, portanto, podados pelos patrões locais do tráfico instalado em suas áreas de moradia.

É terminantemente proibido cometer furtos ou roubos no interior da favela e os próprios ladrões consideram esta uma prática inaceitável. Tal recomendação difere, em seu fundamento, da que proíbe roubar em área próxima à favela. A primeira refere-se à proteção que o tráfico pretende oferecer aos moradores da sua área de atuação e à ojeriza ao roubo contra pessoas pobres, enquanto a segunda está relacionada à política de evitar problemas com a polícia, o que prejudicaria os negócios do tráfico. Os roubos cometidos em áreas distantes são mais difíceis de ter identificada a procedência dos autores, evitando assim que operações policiais sejam desencadeadas para a recuperação dos bens roubados e a captura dos assaltantes ou, mesmo, para tão simplesmente retaliar os bandidos locais.

Como é muito mais fácil roubar sem precisar se aventurar pelos perigosos caminhos da pista, alguns assaltantes arriscam roubar bem perto do morro e dizer que roubaram longe, contando com que a verdade não venha à tona, mas às vezes vem. É como a história de um ladrão que, ao sair da favela para roubar, deparou-se com o carro de que precisava, passando por uma rua deserta ao lado do morro. Vendo que a placa do veículo era de São Paulo, pensou “nunca vai babar!” e praticou o assalto. Para a sua infelicidade, o carro pertencia ao primo de um morador que viera ao Rio visitá-lo. Mas exceto pela humilhação, nada de grave aconteceu ao ladrão. Cinco rapazes também roubaram um homem a cerca de cem metros da favela. Não contavam com o infortúnio de a vítima ser um morador do morro e ir à boca reivindicar a devolução dos seus pertences que, a esta altura, já tinham sido lá apresentados à procura de um comprador.

Dos cinco ladrões, quatro receberam uma surra de madeiradas e apenas um foi poupado da agressão, pois era da boca, mas perdeu o seu cargo.

A cem metros da favela é evidentemente muito perto. Não resta dúvida de que se trata de uma mancada. O problema reside em definir até onde é considerado, ou não,

“perto”. Adriano, por exemplo, praticava muitos roubos no bairro em que está situada a sua favela de origem. Apesar de fazê-lo em área um pouco mais próxima à de outros morros, pertencentes à facção rival, ele sabia estar agindo errado. Não se trata

145 propriamente de uma mancada, mas sabe-se que isso não é certo. O certo é roubar em áreas a quilômetros de distância da favela e, de preferência, que não sejam próximas a outros morros aliados. Mas aí já é pedir demais. Ladrões não se furtam a salgar a pista nas áreas que circundam outras favelas controladas por sua facção. Entretanto, evitam frequentar os bailes realizados em regiões onde trabalham com muita frequência, já que sabem não serem muito bem quistos por lá.

O problema é quando precisam fugir da polícia e, impossibilitados de percorrer todo o trajeto até o seu morro de origem, optam por refugiar-se em um morro aliado, com a polícia em sua cola. Isso não é coisa que se faça, mas, às vezes, torna-se questão de vida ou morte. Um ladrão contou-me que, certa vez, teve que embicar às pressas para dentro de uma favela onde possuía amigos, cheio de mercadorias roubadas dentro do carro e com a lataria perfurada por tiros. Ele disse ter sido este um momento de grande tensão e contou ter entrado no morro já explicando a situação, antes de ser perguntado, distribuindo todos os frutos do roubo e evocando uma série de nomes de bandidos locais.

Segundo este assaltante: “Aqui no morro, quando uns caras lá do [nome de outra favela]

quiseram meter dessa e entrar no morro com a polícia atrás, furaram a mão dos quatro”.

Mesmo quando os ladrões fogem para dentro da própria favela em que vivem, eles devem precaver-se de não trazer a polícia em sua cola, pois, caso isso ocorra, serão, de algum modo, cobrados. Não há sanções especificadas para este tipo de ocorrência, pois como assinalei no capítulo anterior, a chamada lei do morro não consiste em um estatuto normativo claro com suas regras e previsões de pena. Durante o trabalho de campo, ocorreu de quatro assaltantes voltarem da pista com a polícia em seu rastro. Um deles morreu durante a perseguição e os demais ficaram proibidos de roubar pelo período mínimo de um mês, pois além da morte do amigo, faleceu também um morador, vítima de bala perdida. Se comparado ao dano causado por sua imprudência, pode-se dizer que os ladrões foram cobrados de maneira branda.

O tráfico também se esforça para ter algum controle sobre as motos e os carros roubados – os chamados bodes – trazidos para dentro da favela. O carro é um objeto muito grande para se esconder de modo eficaz, sendo não raro informada à polícia por delatores – os chamados X-9– a aparição de veículos suspeitos estacionados na favela.

Os ladrões precisam, portanto, da autorização do dono ou responsável do morro para guardar carros roubados em sua área, pois há sempre o risco de a polícia realizar operações para recuperá-los. Para obter esta autorização, o ladrão deve trabalhar para a

146 firma, manter uma relação de amizade com os bandidos mais influentes da favela e ter o hábito de trazer os carros que eles encomendam.

Alguns ladrões que atuam com grande frequência acabam desfrutando de maior tolerância para trazer bodes para o morro, sem dar satisfação. Só lhes chamam à atenção quando se percebe que eles estão exagerando na quantidade de carros roubados estacionados na favela, o que resultaria em operações policias para retirá-los. Caso o veículo esteja relacionado a algum crime de repercussão pública – como um latrocínio ou assalto a banco –, isso deve ser imediatamente relatado aos principais bandidos da área, para que eles autorizem ou não a permanência do carro, fiquem cientes do que está acontecendo e se preparem para uma possível incursão policial ao local.

O ato de guardar bodes no morro sem comunicar ao dono constitui um grave problema quando a situação é descoberta da pior maneira: quando baba. Adriano contou-me já ter sido acordado por rapazes da boca, cedo de manhã, solicitando que ele entregasse a chave do carro que havia roubado na noite anterior, pois este possuía um sistema de rastreamento por satélite e a polícia estava ao pé do morro aguardando pela chave para recuperá-lo. Enquanto isso, o alarme ressoava: “este veículo foi roubado!” O procedimento mais adequado consiste em deixar a chave dentro do carro para facilitar a sua retirada. Tal medida é também aplicada quando os veículos são dispensados em área próxima à favela, pois, segundo os ladrões, os policiais levam o carro embora, sem que isso chegue ao conhecimento do dono do morro e, por isso, não baba.

O ideal seria jogá-los fora o mais longe possível, o que é um tanto arriscado.

Carros são dispensados quando já tiveram muitas de suas peças arrancadas e suas rodas trocadas por outras, normalmente velhas, de ferro e com os pneus gastos. O problema é que chamam a atenção da polícia quando se encontram nesse estado. Entretanto, quando ainda estão em boas condições, em vez de descartá-los, os ladrões os trocam por outros.

“Trocar” é como se referem ao ato de buscar outro carro na rua – roubando-o de alguma vítima – e deixar o antigo no local do roubo. Ladrões consideram arriscado trabalhar com o mesmo carro durante muito tempo, pois temem que o veículo se torne visado pela polícia, e por isso, trocam os seus bodes com certa frequência. Abandonar carros no local do roubo evita o excesso de bodes no interior da favela, prevenindo contra problemas com a firma.

Propus anteriormente, com base nas formulações de Machado da Silva, que as condutas dos criminosos não devem ser conceituadas como adaptações individuais às metas culturalmente estabelecidas, tal qual na teoria da anomia de Merton (1968). A

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“ordem institucional-legal” não seria sequer uma referência relevante para a formação de suas condutas. No entanto, quando observamos as relações intra-Crime, torna-se novamente útil aplicar a noção de comportamento desviante para designar as condutas impróprias dos ladrões. Eles sistematicamente burlam as prescrições de comportamento consensuais do Crime – evidentemente marcadas por uma supremacia do tráfico sobre todas as outras práticas – e acionam estratégias para acobertar suas mancadas, manipulando a informação que os torna desacreditáveis junto a seus pares bandidos (GOFFMAN, 1988 [1963]).

À medida que os rapazes começam a praticar roubos, aprendem, ao longo da experiência em assaltos e do contato com ladrões experientes, técnicas para encobrir os seus comportamentos indevidos, conhecimento este que é fundamental para obterem sucesso em suas “carreiras desviantes” (BECKER, 1991 [1963]). Aprender a mentir sobre onde roubaram e a quem roubaram, a guardar carros no morro às escondidas, a omitir tiroteios com a polícia, etc. Tudo isso é essencial para que possam prosseguir em suas carreiras autônomas, distintas do assalariamento do tráfico (LYRA, 2013) e alcançar a mesma prosperidade simbólica e econômica desfrutada pelos que ascendem na estrutura hierárquica da firma, em correta observância aos meios institucionalizados.83

Diante dos desvios com relação às prescrições de conduta que regulam a prática do 157, costuma haver uma margem de negociação do que é considerado ou não uma mancada. A fala é determinante para que conflitos não resultem em cobranças, como nos demais desenrolos. Ao serem criticados por suas atitudes, ladrões oferecem

“accounts” para se saírem bem da situação. Este é o caso quando, por exemplo, o dono do morro reclama com um ladrão sobre ele estar com muitos bodes guardados no morro.

Ele pode atenuar a sua responsabilidade alegando que deixou um dos carros emprestado com outro bandido, que outro já foi vendido, mas o novo dono é que não o retirou de lá para ser cortado, ao passo que o bode que vem usando para trabalhar está estacionado fora da favela. Ainda que às vezes se fundamentem em mentiras, a formulação de

“accounts” plausíveis oferecidos no idioma do Crime é essencial para que apenas poucos dentre os inúmeros casos de desrespeito às recomendações obrigatórias resultem

83 Conforme assinalou um interlocutor de Neri (2009):

Sou Comando (Vermelho), mas não sou comandado. Não gosto de receber ordem: ‘Vai aqui e mata aquela pessoa, faz isso aqui...’ Não preciso ficar lá sentado esperando ordem de ninguém. (...) Se você tá no crime, já faz parte de uma facção. Não precisa traficar. (p.94-95)

148 em punições graves. Há sempre um desenrolo do qual é possível sair ileso se o acusado souber argumentar bem.

Mas as prescrições normativas que incidem sobre a prática do 157, não se originam apenas dos interesses comerciais de traficantes. A ética e a etiqueta criminal estabelecem diferenças entre o certo e o errado, o que pode e o que não pode, também com relação aos roubos. Ladrões que atuam no âmbito das facções criminosas compartilham dos mesmos ideais de respeito, consideração, humildade e disciplina, que se propagam junto com o discurso de existência da facção. Eles não são apenas coagidos por normas alheias, mas também internalizam uma série de prescrições de conduta e cobram de seus parceiros que também se comportem da maneira esperada. O domínio pleno do idioma criminal é o que permite aos ladrões relacionarem-se com traficantes, como eles próprios costumam ser; entre si, no que tange às divisões de roubo e demais problemáticas internas; com seus receptadores; etc.

Há uma série de recomendações de ordem moral que se impõem à prática dos assaltos, a começar pelas restrições aos tipos de vítima. Apesar dos ladrões se utilizarem de ameaças à integridade física das pessoas para tomar a sua propriedade – podendo, inclusive, levá-las a cabo, como em casos de reação da vítima – eles não podem fazer isso contra qualquer pessoa e nem em qualquer lugar. Assaltantes elaboram mapas e sistemas de reconhecimento para identificar os locais e os estereótipos de vítimas adequados para roubar. A desconsideração dos critérios compartilhados de seletividade pode trazer consequências ruins para o ladrão, desde a recusa de seus pares a roubar em sua companhia até a morte.

Consideremos a recomendação sobre não roubar idosos, mulheres grávidas, deficientes, pessoas acompanhadas de crianças e trabalhadores. Por “trabalhador”, entende-se taxistas em serviço, passageiros de ônibus e pessoas uniformizadas. Ao evitar certos perfis de vítimas, eles seguem alguns preceitos morais e acreditam não estar agindo “tão errado”. Lyra (2013) classifica estas restrições morais à prática de assaltos em duas categorias: “interdito por identidade”, que impede, por exemplo, de se roubar em ônibus; e “interdito por fragilidade”, que os impede de roubar não somente o indefeso (crianças, etc.) como também o “puro”, como os fiéis que saem de igrejas. A imoralidade do roubo lato sensu é mais facilmente contornada pelo abandono da

“ordem institucional-legal” como referencial de conduta e a adesão a uma ética criminal.

Entretanto, roubar trabalhadores ou pessoas fragilizadas constitui um “desvio” com relação ao próprio Crime.

149 A filha de um homem que fora ladrão, sequestrador e matara diversas pessoas contou-me: “Toda vez que alguma coisa dava errado, ele falava: – Ai, meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? Nunca fiz mal a ninguém. Nunca roubei velhinha, nunca matei criancinha... Por que isso está acontecendo comigo?”. Outro assaltante me disse que toda vez que ele se queixa de seus problemas ao dono do morro, que é seu amigo, este

149 A filha de um homem que fora ladrão, sequestrador e matara diversas pessoas contou-me: “Toda vez que alguma coisa dava errado, ele falava: – Ai, meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? Nunca fiz mal a ninguém. Nunca roubei velhinha, nunca matei criancinha... Por que isso está acontecendo comigo?”. Outro assaltante me disse que toda vez que ele se queixa de seus problemas ao dono do morro, que é seu amigo, este

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