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As Mulheres no Movimento de Jesus

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2 CONTEXTUALIZANDO O EVANGELHO

2.3 A VIDA DAS MULHERES

2.3.2 As Mulheres no Movimento de Jesus

No cristianismo primitivo, as mulheres participavam ativamente das assembleias do Reino e exerciam funções diversas, o que era bastante contracultural, considerando a consciência social patriarcal e androcêntrica daquela

situação vivencial. Por essa inclusão e pelo protagonismo feminino, o movimento cristão primitivo pode ser classificado como igualitário. Ao evocar essa participação e a liderança feminina sobre as comunidades, o cristianismo fundante era um dos movimentos judaicos que desafiava e se opunha ao sistema patriarcal dominante. Fazia isso através de uma prática diferenciada de ensino e convivência, um discipulado de iguais. Ali o papel de mulheres não é secundário ou periférico, mas é fundamental para o tipo de solidariedade e mutualidade propostas por Jesus (SCHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 177-189).

Schottroff (2008, p.165-169) afirma que, no cristianismo primitivo, havia uma vida social e comunitária de mulheres. As mulheres galileias do movimento de Jesus, seguindo seu discipulado, encontram-se na esteira de mulheres cuja tradição judaica vivencial era de comunhão solidária e de consciência feminina. Esta permitia a defesa pública dos interesses das mulheres e o desenvolvimento de ideias próprias a respeito da prática religiosa, aqui, a prática cristã comunitária. Havia uma relação solidária entre elas e isso se espalhava por diversos âmbitos da vida, desde o trabalho, a vida familiar e até nas liturgias cristãs e judaicas. Elas trabalhavam juntas, atuavam em público, viajavam. As mulheres tinham formas de organização que permitiam adotar a religião judaica e atuar politicamente por autoridade própria. Formavam também grupos para garantir sustento a outras mais fracas economicamente.

Porém, os relatores dessa história estavam parcialmente habilitados para retratar a realidade que observavam. Isso se explica porque a ideologia patriarcal e androcêntrica da divisão de espaços por gênero, baseada nos valores culturais de honra e vergonha, moldou a forma como os escritores cristãos viam e descreviam as atividades das mulheres. A práxis interna ao movimento de Jesus não era igual à teoria que permeava a mente dos homens que fixaram e transmitiram, principalmente por escrito, uma ética cristã para eles mesmos e as mulheres, crianças, escravos. Por isso, embora, desde o início do movimento cristão, as palavras e realizações de mulheres fizessem parte das comunidades cristãs, suas contribuições ao cristianismo formativo foram suprimidas ou ignoradas dos registros ou fontes cristãs vencidas pelas antigas formas de pensamento. Um exemplo claro é a exclusão do papel de Maria Madalena como discípula de Jesus31. As controvérsias

31 Sobre Maria Madalena, ver o fascículo Maria de Magdala: Apóstola dos Apóstolos, da Revista do

em relação ao papel das mulheres são crescentes conforme os ministérios da igreja em expansão se institucionalizam e o lugar de culto vai migrando do espaço doméstico para o espaço público (SCHOTTROFF,1995, p. 139-140; TORJENSEN,1993).

Para Richter Reimer (2013, p.51-52), textos de gêneros diferentes de épocas coincidentes tanto interditam como apresentam as funções socioeclesiais das mulheres. Assim, o conflito da inclusão-exclusão das mulheres existia desde o início do cristianismo juntamente com o ideal da construção dos novos paradigmas (veja Rm 16; 1Co 11-14). Ele se prolongou durante a composição dos demais textos neotestamentários na década de 80-90 (veja Lc 8,1-3; At 9;18 e 1Tm 2).

Somando-se a isso, o processo de canonização, que durou do segundo ao quarto século, deu-se em meio a disputas relacionadas à liderança feminina. Isso retirou da lista canônica muitos registros que celebravam ministérios apostólicos femininos, coleções de oráculos de profetizas cristãs e outras que continham os ensinamentos de mulheres (por exemplo os Atos de Paulo e Tecla, Pistis Sophia, o Evangelho de Maria). Estes textos, que alimentaram e direcionaram muitas comunidades cristãs, não fazem parte do cânon. Ainda assim, permanece no Novo Testamento uma heterogeneidade em relação à função da mulher, dois modelos de participação das mulheres, com uma corrente que as submete aos homens e outra que narra sua solidariedade com Jesus e os papéis importantes que assumiram durante a expansão cristã (veja Gl 3,28 e 1Tm 2,11-15). Além disso, a pesquisa arqueológica e documental conseguiu resgatar registros de atividades de mulheres durante o período formativo em tratados e inscrições, mostrando que elas foram apóstolas, profetizas e mestras; que exerceram diversas funções ministeriais como realizar o batismo, discipulado, presidência da eucaristia; e fizeram parte da igreja na forma de diversos cargos como bispas, presbíteras, diaconisas, viúvas e virgens. Um dos primeiros papéis das mulheres foi o de missionária-evangelista-apóstola, um papel que desafiava as normas de comportamento baseada nos conceitos de honra e vergonha e a reclusão da mulher no ambiente doméstico (SCHOTTROFF,1995, p. 139-140; TORJENSEN,1993; ALEXANDRE, 1990, p. 512).

Considerando essa característica da composição e seleção parciais, outra observação metodológica se faz necessária para o acesso de fontes como o Novo Testamento. Estas fontes são proclamações de fé, carecem de interpretação para serem utilizadas como fontes de reconstrução histórica. Principalmente os

Evangelhos são escritos usando jogos de memória e em meio a conflitos. Buscam contar a história de Jesus e ressignificar a história das comunidades cristãs, por isso, misturam fragmentos de ambas as histórias. Ainda assim, refletem realidades, percepções e concepções de comunidades cristãs e suas formas, construção de identidade e de organização (RICHTER REIMER, 2012a, p. 235-240).

Temos que perguntar primeiramente como os evangelistas imaginaram a história das mulheres no seguimento de Jesus, e só então podemos refletir em que medida esse quadro corresponde ao fato, até que ponto, pois, esse quadro é historicamente justo (SCHOTTROFF, 1995, p. 142).

Apesar de todo esse processo de silenciamento sobre as atividades das mulheres no movimento cristão, ao acessar os textos bíblicos é difícil negar a pertença e a participação ativa das mulheres nos grupos do cristianismo primitivo. Os quatro evangelhos canônicos registram que mulheres seguiam Jesus e foram as primeiras testemunhas da ressurreição. Nos evangelhos, Jesus é mostrado em ações de curas e ensinamentos direcionados a homens e mulheres, que são retirados de situações de opressão e exclusão, em favor de um novo tipo de comunidade, cujos valores são o serviço, o amor e a entrega de vida. Ali as relações familiares, étnicas, econômicas e sociais são transformadas através da inclusão ativa no seguimento, discipulado, ensino e uma práxis transformada e transformadora.

As epístolas paulinas e Atos dos Apóstolos trazem registros de atividades femininas como cooperadoras, evangelistas, apóstolas, líderes de comunidades cristãs e outras funções, registram que elas se deslocaram entre as cidades do Império Romano para propagar e ajudar no desenvolvimento do cristianismo nas comunidades em que se dividiam bens e vidas. Epístolas mais tardias já mostram o início da institucionalização das comunidades e um movimento de restrição à presença e às atividades femininas que eram comuns dentro dos grupos cristãos.

Percebe-se, em algumas partes dos textos neotestamentários, que as mulheres do movimento de Jesus poderiam ser ditas independentes e curadas. Mas o processo de silenciamento das atividades das mulheres não se restringiu à composição e ao processo de canonização, ele prossegue em traduções e na história interpretativa que insistem em imputar a elas as funções domésticas (HORSLEY, 2001, p. 206) e retirar delas o protagonismo das funções públicas do

cristianismo nascente. Com esse tipo de interpretação sobre as atividades femininas dentro do cristianismo, ainda que elas estivessem sob o cuidado comunitário, o foco de interpretação das narrativas canônicas sobre as ações de implantação e expansão do Reino de Deus fica sobre figuras masculinas como heróis da fé cristã. Nesse sentido, faltam interpretações que cedam às mulheres mais representatividade e exemplos de fé, o que colabora com a manutenção de sua condição social dominada ao longo da história.

Um exemplo de interpretação que não ajuda as mulheres é a fornecida por Joachim Jeremias (1993, p.494). Diante do quadro que ele mesmo traçou para a situação das mulheres palestinas, afirma que o fato de haverem mulheres seguindo a Jesus é

um fato sem precedente na história da época. [...] Jesus altera conscientemente os costumes deixando que algumas o sigam. Por assim proceder é que exige dos discípulos atitude de pureza que supera qualquer desejo. [...]Jesus não se contenta de levar a mulher acima do nível em que a tradição a mantinha; enquanto Salvador, enviado a todos [...], coloca-a em pé de igualdade com o homem.

Jeremias não desconsidera a evidência textual em torno da presença de mulheres entre os seguidores de Jesus, mas também não considera que tipo de igualdade seria essa, a de poder seguir um mestre por onde ele fosse ou a de ser um discípulo ativo. Além disso, essa afirmação não percebe a herança de correntes judaicas com uma visão mais igualitária das relações de gênero e a variedade social ocultada pelos quadros gerais traçados sobre fontes patriarcais. Jesus foi um carismático cheio de ações revolucionárias, mas muitas delas se baseavam em linhas da história traditiva de Israel. Em especial, o autor deixa de lado o fato de que as mulheres das classes mais baixas, principalmente artesãs e comerciantes, conseguiam ter certa liberdade de deslocamento e agrupamento. O ponto de vista de Jeremias também desconsidera o valor da comunidade na implantação do Reino de Deus, colocando em Jesus o foco principal das ações cristãs.

Segundo Schottroff (1995, p. 9-10), no estudo do Novo Testamento sob o aspecto da história das mulheres, não podemos nos apegar a embasamentos escolhidos ao acaso, determinados costumes rabínicos (por exemplo não ensinar a Torá às mulheres) ou textos específicos, como 1Tm 2,14-15, como normas gerais para o cristianismo e judaísmo, pois não podem dizer muito sobre a história das

mulheres. Também não se pode desvincular o grupo de mulheres que se uniu a Jesus na Galileia e as mulheres não-judaicas que praticavam o judaísmo em Filipos (At 16,13), pois vemos, nesse caso, que foi essa fé que possibilitou a união e o desenvolvimentos das forças.

Diante desse tipo de posição, expõem-se aqui alguns fatores que podem ter colaborado para uma pertença marcante de mulheres no movimento de Jesus. O primeiro é a própria existência do movimento inicial como um movimento de renovação interno ao judaísmo que resistia ao invasor romano, o que mostra um engajamento comunitário na continuidade da identidade cultural judaica e, com isso, a fidelidade das mulheres à tradição judaica que precisava ser recuperada. Por isso, essa pertença não pode ser entendida como uma forma de rebeldia ou fuga aos padrões judaicos, sendo esta uma posição que reverbera o antijudaísmo. Pois, como pudemos perceber no item anterior, apesar do ambiente patriarcal, sobreviveram experiências diversas de valorização do papel da mulher, em especial nas classes mais pobres. A pertença feminina precisa ser compreendida como uma experiência de fé interna ao judaísmo, uma fé no messias e na recuperação de valores tradicionais da Aliança mosaica.

Uma das características do movimento de Jesus era que ele não fazia acepção de pessoas, buscando inserir homens e mulheres de origens étnicas e sociais diversas na comunidade de discípulos. Era um agrupamento de pessoas formando um movimento carismático itinerante, com um tom profético-sapiencial que percorria as áreas campesinas e os vilarejos da Palestina e suas circunvizinhanças. Nesse meio popular, as experiências carismáticas eram frequentes com muitos profetas populares e oraculares e pretendentes messiânicos, todos buscando dar seguimento às suas tradições de raízes judaicas. Jesus era um taumaturgo carismático que, em seu caminho, curava e ensinava sobre a chegada do Reino de Deus. Sua ação era dirigida aos marginalizados, prostitutas, pobres, doentes, às mulheres, estrangeiras(os) ou não. Essas pessoas estavam socialmente localizadas no estrato inferior empobrecido da pirâmide social. Foi nesse meio que o movimento cooptou a maior parte dos seus adeptos, pois promovia a subversão da hierarquia tradicional em larga escala, sendo direcionado aos últimos nessa hierarquia e afirmava que estes chegariam antes ao Reino de Deus (HORSLEY e HANSON, 1995; ALEXANDRE, 1990, p. 524, 525; TEPEDINO, 1990, p. 69,78).

a sua comunidade, não apenas mulheres, mas mulheres pecadoras notórias e bem conhecidas. Pecadores, prostitutas, mendigos, coletores de taxas, impuros ritualmente, aleijados e os mendigos – em resumo, o refugo da sociedade Palestina – constituíam a maioria dos seguidores de Jesus. Estes são os últimos que tornaram primeiros, os famintos foram saciados, os não- convidados foram convidados. E muitos destes eram mulheres (SCHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 163)

Nesse estrato social eram encontradas muitas mulheres e, entre elas, uma quantidade considerável de mulheres não casadas que ficavam desamparadas ante o sistema legal patriarcal e o sistema religioso corrompido pela dominação romana. Viúvas, divorciadas ou sozinhas ficavam entregues à pobreza extrema. Tanto essas mulheres deslocadas socialmente, como outras que conseguiam condições um pouco melhores de sobrevivência, ou aquelas casadas que abandonaram suas famílias, ou que seguiram com as suas famílias o movimento de Jesus encontraram um ambiente que as recebeu. A vida feminina dentro do movimento do Jesus não se baseava no padrão patriarcal, da reclusão, do casamento e concepção obrigatórios e da administração da casa. A condição para o seguimento eram a fé, a negação de si e a tomada da cruz, ou seja, a negação da família em favor da vivência comunitária interna ao movimento e a aceitação da perseguição do quadro de autoridade vigente, um compromisso com o Reino de Deus (STEGEMANN e STEGEMANN, 2004, p. 421,429; DEWEY, 2001, p. 34-35; SCHOTTROFF, 1995, p. 24).

Outro aspecto que deve ser considerado no momento de avaliar a pertença das mulheres aos cristianismos fundantes, especialmente o movimento de Jesus, é que muitas tradições se relacionam com a vida das mulheres. Retratam o cotidiano das mulheres, especialmente das mulheres mais pobres. São imagens de mulheres servindo em espaços domésticos como metáforas do Reino, imagens de cuidado com o próximo, imagens de semeadura e alusões a casamentos. Essas imagens constantes nos ensinamentos de Jesus mostram que desde bem cedo o evangelho esteve próximo à vida das mulheres da época. As cenas de convívio de Jesus com Marta e Maria também testemunham que elas tanto ministravam quanto eram parte do público a quem Jesus ensinava e também se acham dignas de influenciar as decisões de Jesus.

Os valores do Reino adotados pela comunidade deixaram de lado a hierarquia das relações sociais de patronado e clientelismo. Com isso, deixam de

importar a posição social e as posses das pessoas. A relação estabelecida não mais se baseia em poder político e econômico. Agora a diaconia é que serve de modelo para o seguidor do Reino de Deus. Esse sentido da diaconia também colabora com a participação das mulheres, pois era a valorização justamente da atividade designada a mulheres e escravos, que tipicamente eram considerados os últimos na escala social. O movimento de Jesus promove aqui também essa inversão de valores que inclui as mulheres, pois aquelas suas tarefas diárias passaram a ser valores do Reino de Deus. Há uma representatividade e uma vivência religiosa nas ações cotidianas das mulheres. Essas experiências eram, pelas normas patriarcais, reservadas aos homens.

Também as muitas curas de mulheres (somente no Evangelho de Marcos são quatro mulheres curadas) mostram que, no caminho de Jesus, elas também foram atingidas pelas ações de implantação do Reino de Deus, responderam com fé e foram integradas ao movimento. Essa integração em uma nova forma de convívio e o restabelecimento da saúde “fazem das mulheres pessoas completas. O seu anúncio da ‘inversão escatológica’ – muitos dos que são primeiros serão últimos e os últimos serão os primeiros [...] – aplica-se também às mulheres e a sua diminuição por estruturas patriarcais” (SCHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 153).

Com relação ao sistema patriarcal, como mencionado acima, a casa também tem uma função importante na inserção das mulheres no movimento de Jesus. O movimento de Jesus transforma a casa no lugar de acolhida do movimento. Ela deixa de ser o lugar onde as mulheres ficavam reclusas para ser o ambiente onde podem ministrar, receber orientações do líder carismático, aprender, ensinar e ter uma vivência social e religiosa além das vivências domésticas de âmbito familiar e econômico. Ali no interior da casa, elas estabeleceram suas atividades de liderança em um ambiente seguro dentro da cultura patriarcal em que viviam, onde conseguiam aos poucos confrontar a norma patriarcal sem serem tão julgadas por ela, porque o ambiente da casa não conflitava com as definições culturais de honra e vergonha.

A fonte mais antiga existente sobre a questão da história das mulheres no seguimento de Jesus é o Evangelho de Marcos.

Marcos [...] insere a história das mulheres na história do seguimento de Jesus sem matizes especiais de um deslocamento de peso pelo que socialmente é determinado como sendo função de mulher. Ele escreve essa

história com a naturalidade [...] de relacionar-se com uma práxis autônoma das mulheres no seguimento de Jesus. Em nenhum lugar Marcos se sente forçado a esclarecer o fato de que as mulheres são agentes. [...] Marcos não deixa transparecer interesse algum em “dar mais valor” às mulheres. Justamente por isso é que podemos ver o reflexo de experiências históricas [...] que o grupo perseguido de discípulos tem com a capacidade de ação das mulheres entre eles (SCHOTTROFF,1995, p. 144-145).

O Evangelho de Marcos reflete essas condições femininas dentro do movimento de Jesus. O alcance de Jesus a elas através da libertação pelas curas e ensinamentos nas casas e no caminho para Jerusalém, o acolhimento que elas lhe proporcionaram, o seguimento das mulheres, a admiração de Jesus pelas ações femininas e sua capacidade argumentativa, a devoção de entregas de vida são todas situações que ocorrem ao longo do Evangelho.

Observamos, ao longo desse capítulo, que o Evangelho de Marcos tem uma localização temporal e espacial controversa, mas que, apesar disso, optamos por uma data durante a Guerra Judaico-romana, tem seu fechamento após a destruição do Templo de Jerusalém, numa região da Síria-Palestina. Seu contexto conta com a dominação romana, com todas as suas consequências: latifundialização, urbanização, endividamento, escravagismo, altas taxas tarifárias, empobrecimento da maior parte da população e desestruturação social. A elite judaica e seus líderes religiosos estavam associados ao Império Romano e contribuíam para a reprodução das estruturas opressoras. Esse quadro gera diversos movimentos de resistência. Entre eles, aparecem diversos movimentos de renovação religiosa, onde enquadramos o cristianismo.

As mulheres eram as maiores vítimas de toda a situação da região, pois sofriam igualmente das violências descritas e estavam expostas às violências sexuais e de gênero, relacionadas à invasão romana e à conjugação dos sistemas patriarcais romanos e judeu, este, ainda, em busca de preservação social. Mesmo assim, percebemos que o cristianismo, como herdeiro de tradições mais igualitárias advindas do judaísmo, tinha grande participação de mulheres desde o movimento de Jesus até comunidades cristãs um pouco mais tardias.

Com esse quadro em mente, podemos fazer uma aproximação literária ao Evangelho e perceber como ele reflete as condições sociais de sua origem, em especial, com relação às mulheres. Esse é o tema do próximo capítulo.

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