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O Contexto das Mulheres na Palestina e Mediterrâneo do Séc I

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2 CONTEXTUALIZANDO O EVANGELHO

2.3 A VIDA DAS MULHERES

2.3.1 O Contexto das Mulheres na Palestina e Mediterrâneo do Séc I

Um quadro geral da situação da mulher mediterrânea do primeiro século é traçado por Hanson e Oakman (1998, p. 24-26). Segundo os autores, os papéis de gênero na Palestina e no Mediterrâneo do primeiro século se baseiam na visão de mundo patriarcal que essa sociedade tinha. Os aspectos públicos da sociedade eram controlados por homens, os homens mais velhos em superioridade hierárquica aos mais novos, enquanto às mulheres cabia o cuidado com a casa. Isso seria tão profundo que o filósofo Filo, refletindo outros filósofos gregos, teria afirmado no primeiro século que as mulheres e homens teriam dois tipos diferentes de alma, a masculina era devotada a Deus enquanto a feminina era vacilante e variável. Segundo os autores a divisão de gênero também se baseava na caracterização feminina como potencialmente perigosa e pecadora.

A divisão de gênero é clara nos valores mediterrâneos fundamentais de honra e vergonha. A honra é relacionada ao homem na sua virilidade, agressividade

sexual, coragem e proteção da família. Das mulheres era esperado que protegessem a família da vergonha com a sua castidade, modéstia, limitações, exclusividade sexual e na submissão à autoridade masculina. A castidade feminina seria o ponto mais frágil da vergonha da família. Somente as mulheres casadas eram distintas e as mães eram dignas de respeito, honra e atenção de seus filhos, mas precisam se manter nos parâmetros determinados pelos homens e sob o controle de homens adultos da família. Esse controle é acentuado pela proibição de mulheres entrarem nos ambientes mais internos do Templo e em lugares como onde se realizavam jogos de atletismo. E pela divisão de tarefas, por exemplo, só homens eram sacerdotes e só mulheres eram parteiras. O domínio sobre as mulheres também é incrementado e se torna mais difícil de dissolver pelo fato que a educação era restrita aos homens da elite, enquanto mulheres e os camponeses não tinham tempo ou necessidade dela.

Malina se apoia na antropologia para analisar um ponto fundamental para a compreensão das relações de gênero no Mediterrâneo do primeiro século. Para as pessoas daquele tempo, a mais elementar unidade de análise social era a pessoa diádica, ou seja, as pessoas se definiam exclusivamente em termos dos grupos em que estavam inseridas, de quem dependia sua total autoconsciência. As pessoas conheciam as outras socialmente e não individualmente, mas em termos do grupo familiar ou local a que pertenciam, também a partir dos papéis baseados no gênero, e tinham uma preocupação constante com a estima pública e as demonstrações de honra e respeito para mantê-la. Esses grupos usualmente eram de parentesco, mas iam se expandindo em esferas maiores. A família, a vila ou bairro e o grupo de trabalho facilitavam as relações, que geralmente eram confinadas aos membros do grupo em uma organização social de intensa interação (MALINA,1996, p. 38-51).

O parentesco era a principal preocupação dos indivíduos daquelas sociedades, pois é a partir dele que se forma a arena política. Apesar de se apresentar diferente para os greco-romanos e os semitas, o parentesco e a descendência mantêm a existência social, a religião e a economia domésticas. A família é o foco principal da lealdade pessoal e tem domínio supremo sobre a vida individual. Ela é patrilinear, a herança passa pela linha masculina e a instituição de descendência é tratada como primária e focal no mundo mediterrâneo. Mediterrâneos tradicionalmente acreditavam que um homem não poderia suprimir sua pulsão ao estar a sós com uma mulher e que as mulheres são incapazes de

resistir aos homens. Consequentemente, estar fortemente integrado em um grupo impõe a inibição social. Essa é a razão para a tradicional ênfase na prevenção da transgressão sexual como base de todas as estratégias nos domínios econômicos e políticos (MALINA, 1996, p. 38-51; MALINA, 2004, p. 28-32).

Essa prevenção se cristaliza dentro das famílias e em toda a sociedade na forma de ensinar as meninas e meninos e nas divisões de espaço. No mundo mediterrâneo, o menino é considerado mais valioso que a menina, os meninos são tratados com indulgência enquanto as meninas são tratadas estritamente. As meninas são ensinadas a acreditar que o ser humano central é o homem, cuja honra é replicada simbolicamente no ato sexual e que somente uma circunstância externa e social pode prevenir que um homem tenha relações sexuais com ela. Além disso, a família é enraizada numa forte divisão de trabalho, os homens representam a família ao exterior, enquanto espera-se que as mulheres a mantenham internamente. Os papéis de pais e mães, assim como os maridos e esposas que atuam neles, raramente se tocam. O que se relaciona à família vindo de fora é controlado pelo pai e é masculino: herança, terras ao redor, relações do lado do pai, animais de fazenda e implementos, filhos adultos. Tudo que mantém a família internamente, sob os olhos da mãe é geralmente feminino: cozinha, relações do lado da mãe, cabras e outros animais domésticos, galinhas, filhas não casadas, noras residentes, meninos até a idade de ficarem com o pai (MALINA, 1996, p. 42-66).

MacDonald (2004) também trata da divisão de espaço e da questão da honra e vergonha sob esse viés antropológico. Segundo a autora, honra e vergonha eram valores morais recíprocos que refletiam a forma como a estima pública era conferida a uma pessoa e a sensibilidade dessa estima ante a opinião pública. São valores que expressavam a integração pessoal em um grupo.

Nas sociedades mediterrâneas, a relação desses valores com a sexualidade e com as distinções de gênero é muito forte. A honra é interpretada como um valor vinculado aos homens e a vergonha – entendida aqui em um sentido positivo, a modo de cuidado pela própria reputação – como um conceito vinculado às mulheres. A honra masculina estava relacionada com o esforço para conservar a vergonha das mulheres do grupo. A incapacidade em assegurar que as mulheres mantivessem um comportamento dentro das exigências próprias da vergonha desafiava a identidade masculina. Esta também era posta em dúvida se houvesse vinculação íntima com os assuntos domésticos. À diferença de outras sociedades em que se realçava o

controle e trabalho que exercem as mulheres, nas regiões mediterrâneas elas eram valoradas pela castidade, que é um recurso imaterial (MACDONALD, 2004, p.41- 48).

Dessa maneira, havia a tendência de proteger as mulheres através de uma divisão sexuada dos espaços comunitários, separando a esfera pública e privada e introduzindo uma série de barreiras físicas como o véu. Essa divisão era um meio importante de manutenção do status em relação aos valores de honra e vergonha, pois guardava a pureza sexual e a demonstrava diante da sociedade. As mulheres da sociedade greco-romana estavam associadas com o domínio da casa tanto em nível simbólico como prático, isso explica a preocupação com as normas e os modelos de comportamento das mulheres no lar. Os homens, ao contrário, estão associados à esfera pública (comércio, política, praças de mercado, campos, lugares de reunião, etc.) (MACDONALD, 2004, p.41-48).

É importante verificar as situações das mulheres gregas, romanas e judias para passar à compreensão da vida das mulheres cristãs, uma vez que as três culturas convivem na região mediterrânea e o desenvolvimento do cristianismo se dá meio à dominação romana. Das personagens que estudaremos no capítulo seguinte, temos uma de cultura grega, a mulher siro-fenícia, e as demais são oriundas da Galileia.

O modelo da mulher grega era a mulher passiva, ou, na melhor situação, inferior em relação ao homem, que era o padrão anatômico, fisiológico e psicológico. A esposa era dada em casamento após a puberdade entre 16 e 18 anos e devia adequar-se sistematicamente ao modo de vida do marido. Ela renunciava a tudo que fosse pessoal: deuses, amigos, ocupações, bens, em favor da adaptação à vida religiosa, econômica e social do esposo. A casa definia o espaço de atuação das mulheres gregas. Ali, elas tinham certa autonomia, pois assumiam papéis importantes na vida ritual doméstica, mas tinham um acesso muito restrito às vivências sociais. Os gregos achavam que tudo que as mulheres tentassem fazer seria menos bem-feito, por isso, são raros os trabalhos atribuídos às mulheres que são valorizados, exigindo competência e habilidade: a tecelagem, a gestão da casa, o cuidado com os filhos (STRÖHER, 1998, p. 39; SISSA, 1990, p. 79-86).

Para Platão, a mulher é simultaneamente uma parte do gênero humano e uma forma oposta à forma masculina. Segundo Sócrates, mulheres e homens são indistintamente aptos para tudo, com a diferença que o gênero dos machos

prevalece sempre. Ele situa o aparecimento da diferença sexual no momento em que, na história do homem, se quebra uma perfeição original. Miticamente, desenha- se, dessa forma, um esquema em que as mulheres assumem o papel de um suplemento do grupo social que, antes, era perfeito e feliz; formam um gênero que introduz a angústia humana. Ainda assim, elas assumiram um importante papel como sacerdotisas em cultos ligados a algumas deusas, e foi na realização de determinados rituais religiosos que elas conseguiam certa cidadania. O que parece ser uma função primordialmente feminina é a função de profeta no contexto grego. No entanto, isso não suprimia a desigualdade, pois as mulheres não tinham autonomia religiosa e, consequentemente, também não tinham autoridade jurídica (STRÖHER, 1998, p. 40; SISSA, 1990, p. 92-118).

Para Richter Reimer (2006a), o modelo da família estruturada sobre a casa patriarcal elitista romana é a célula básica da sua economia e sociedade. O Estado Romano desenvolveu-se para garantir os interesses desses patriarcas. A liberdade e igualdade entre todas as pessoas era entendida como geradora de caos, uma das razões de se ter como exigência a subordinação e dominação sobre as mulheres, filhos e estrangeiros. Essa dominação necessita de uma base ideológica, sustentada pelo ensino, e econômica, baseada na exploração da posse da terra.

As mulheres romanas eram mais visíveis em público do que as gregas, mas isso não significava que não havia separação entre a esfera pública exterior do homem e a esfera privada e interior da mulher. As atividades em que mulheres eram encontradas eram mais formais que reais, sua influência pública era exercida sobre bases pessoais em ocasiões particulares e em casas privadas. Ainda que fatores como o status social e o próprio talento capacitassem as mulheres da sociedade greco-romana a adotar funções de liderança, elas seguiam sendo vulneráveis e podiam ser atacadas por abandonar o espaço social das mulheres e esquecer a virtude feminina da castidade. A participação na vida pública no período helenístico e romano deve ser compreendida dentro de uma ideologia que minimiza a natureza pública desta conduta, considerando a cidade como uma família extensa. Assim, as mulheres ricas e visíveis não implicavam em ameaça para a ideologia tradicional da diferença de gênero. A esfera doméstica capacitava a mulher ao contato com a vida dos homens da família com um exemplo piedoso e palavra inspirada, a casa extensa a coloca em contato com clientes e associados trabalhistas (MACDONALD, 2004, p.49-61).

Na tradição jurídica romana, a divisão dos sexos é uma norma que dá fundamento à reprodução indefinida da sociedade, pois reitera a cada nova geração essa organização da vida. A mulheres romanas não eram consideradas cidadãs plenas e eram incapazes juridicamente, a esfera de sua ação jurídica pouco se estendia para além de si, e não tinham poder sobre seus filhos. Essa organização social e jurídica não oferecia escolhas às mulheres: não escolhiam o celibato, ou o casamento (nem a idade com que ele se realizava, que era fixada em doze anos por lei) e nem sempre podiam escolher o recasamento, depois de viúva. Nem mesmo seu nome aparecia necessariamente nos contratos de casamento, que eram fixados entre pai e marido (THOMAS, 1990, p. 127-128; STRÖHER, 1998, p.35; ROUSSELLE, 1990, p. 352-358).

Elas estavam submetidas à autoridade do pater familias, o poder do pai ou de outro membro masculino da família – chamado agnado – ou do marido, ou de algum tutor legal na falta de um da família. O pater familias era o cidadão que deixou de estar sob o poder paternal de qualquer ascendente em linha masculina. As mulheres e crianças sem o pater familias do seu núcleo familiar, como as viúvas e órfãs, oficialmente e juridicamente ficavam sob tutela do pater familias de outra família, mas o que acontecia de fato é que estavam sozinhas com seus filhos. Somente os filhos poderiam se emancipar desse domínio, pois, no casamento, as mulheres apenas trocavam de pater famílias (THOMAS, 1990, p. 136; STRÖHER, 1998, p.35).

O processo de reprodução de estrutura social romana começa com o casamento, cuja fórmula jurídica definia ter por finalidade a procriação. As mulheres eram responsáveis pela reprodução do grupo, tinham um destino fixado pela maternidade. As esposas que conseguissem dar três a quatro filhos e filhas ao marido tinham uma dispensa de tutela e eram reconhecidas como mater familias (título que perdiam com a morte do marido) e ganhavam a partir daí honorabilidade, dignidade e até certa majestade, mas a importância conferida à mulher era cívica, eram fundamentais para a reprodução social, e não política, pois não participavam das decisões da sociedade (THOMAS, 1990, p. 130; STRÖHER, 1998, p.35; ROUSSELLE, 1990, p. 357).

Estas sociedades baseavam as diferenças sociais no estatuto das pessoas e as mulheres eram integradas nesta hierarquia de estatutos. Aquelas livres e proprietárias de escravos preocupavam-se com a reprodução dos seus bens servis e

tinham a missão de transmitir o valor cívico ou étnico, enquanto algumas escravas serviam à reprodução da massa servil e outras para o prazer dos amos (ROUSSELLE, 1990, p. 368-370).

Se pertencessem às classes mais elevadas, as mulheres acompanhavam seus maridos em ocasiões oficiais, mas participavam apenas da primeira parte dos banquetes formais. Já as mulheres comuns estavam menos ligadas a fortes padrões de moralidade e de comportamento, tinham mais participação social, pois eram obrigadas a trabalhar para melhorar a renda da família. Apesar das limitações das normas de convivência social, as mulheres romanas exerceram diversas atividades profissionais. Elas tratavam de negócios e algumas profissões eram tipicamente femininas: parteiras, costureiras, atrizes, lavadeiras, terapeutas, massagistas, copistas, cabeleireiras, comerciantes, etc. (STRÖHER, 1998, p.32-35).

Muitas romanas do primeiro século eram educadas e tinham influência e grande liberdade na vida pública. Mesmo subordinadas aos homens, muitas conseguiram considerável poder sobre propriedades. Legalmente podiam ser herdeiras, parceiras de contrato, fazer testamentos e iniciar divórcio, mas nunca tiveram direito de voto. A tendência de emancipação das mulheres era severamente criticada pelos escritores mais populares até o início do segundo século (PARVEY, 1998, p. 118-119).

Os papéis religiosos das mulheres romanas são corolários da sua situação social e jurídica. O poder religioso oficial estava destinado aos homens e as mulheres romanas tinham possibilidades religiosas muito limitadas, devendo seguir a religião do marido. O modelo religioso das mulheres era o dos homens. A crença era que, se a mulher assumisse o poder religioso, o desvio levaria a grandes catástrofes e a um mundo invertido. Elas eram atrizes encarregadas da celebração de grandes rituais públicos especificamente destinados a celebrar coisas que lhes dissessem respeito, como a sexualidade do corpo, a fecundidade feminina, deusa parteira etc., mas sem sacrifício sangrento. A mulher religiosa romana era a matrona, a mãe da celebração doméstica. E quanto menos uma mulher fosse matrona, menos ela ocupava também papéis religiosos de valor. Ainda que valorizada, a matrona era incapaz de representar outrem, ficando em segundo plano também no aspecto religioso, já que não podia assumir o papel do sacrificante (SCHEID, 1990, p. 501-506; STRÖHER, 1998, p. 43).

Para Parvey (1998, p. 121), em contraste com o judaísmo, as religiões greco-romanas eram mais abertas à participação feminina. Além da proeminência das virgens vestais de Roma na vida cultual nacional, havia uma série de religiões específicas que iniciavam muitas mulheres. Sua influência era ainda mais notada nas religiões gnósticas.

Para descrever a situação da mulher na Palestina no primeiro século, depois dessa descrição da situação da mulher greco-romana, precisa-se entender que várias etapas contribuíram para a formação daquela sociedade. Em especial, a sedentarização faz desaparecer um tipo de civilização agrária na qual a mulher gozava de certa liberdade e o homem vai assumindo mais e mais instrumentos de poder social, o que torna a situação da mulher ainda pior. Isso aconteceu também com o povo judeu. A cada embate do povo de Israel com as culturas estrangeiras, há uma reação de endurecimento das prescrições nas tradições literárias com preocupações moralizantes e com a ordem de Israel. É uma forma de resistência cultural, mas as mulheres são atingidas diretamente por isso (TEPEDINO, 1990, p. 77).

O preconceito contra a mulher aparece de várias formas ao longo da sua história e cultura: na projeção do gênero masculino em Deus, no considerar o papel da mulher secundário na concepção de filhos, na circuncisão masculina entendida como sinal de justiça da fé, na leitura preconceituosa dos textos da criação, na falta de direitos legais das mulheres, na exclusão dos ministérios cultuais e nas difíceis prescrições de pureza, nas leis de casamento e levirato. De modo geral, a mulher em Israel era considerada inferior ao homem, a ponto de não ser contada como pessoa seja legalmente, socialmente ou religiosamente, a não ser como mãe e/ou ajudante do homem. Apesar desses aspectos negativos, ao longo da história de Israel sobressaem-se mulheres líderes, inclusive politicamente, que agiram em benefício da comunidade ou que foram corajosas como Mirian, Débora, Hulda, Atalia, Vasti, Ester, Rute, mostrando linhas traditivas em que o papel da mulher não era tão menosprezado. Uma leitura bíblica mais consciente das diversas tradições, com retratos positivos e negativos das mulheres, e do meio androcêntrico e patriarcal onde o texto foi concebido, pode ser feita percebendo e recuperando aspectos positivos em relação às mulheres nas diversas tradições bíblicas veterotestamentárias, desde os relatos da criação, passando pelos escritos históricos, pelo profetismo, pelos livros sapienciais, como Provérbios. Porém, é a

literatura rabínica que mostra com mais força essa ideologia da mulher como inferior e desprezível. Um exemplo claro do antifeminismo crescente é que nos Templos antigos não havia separação entre homens e mulheres, mas no reconstruído por Herodes elas eram relegadas ao exterior do átrio dos homens (TEPEDINO, 1990, p. 67-77).

Para Kochmann (2005), a literatura do Antigo Testamento retrata que as mulheres dos Patriarcas eram consideradas Matriarcas, tinham respeito, admiração e eram ouvidas. Mulheres assumiam tarefas religiosas e políticas, pois algumas foram profetisas e juízas. Elas estavam presentes nos momentos marcantes da história de Israel.

As mulheres estavam presentes no Monte Sinai no momento em que Deus firmou o Seu Pacto com o povo de Israel. Participavam ativamente das celebrações religiosas e sociais, dos atos políticos. Atuavam no plano econômico. Tinham voz, tanto no campo privado como no público. Com o decorrer do tempo e por força das influências estrangeiras, especialmente a grega, foram excluídas de toda atividade pública e passaram a ficar relegadas ao lar. Essa situação das práticas cotidianas daquela época foi expressa nas leis judaicas então estabelecidas e permanece a mesma até hoje. [...] Apesar de, na época bíblica, a mulher participar ativamente de todas as manifestações da vida social, política, econômica e religiosa, ela desaparece do cenário público no período talmúdico (século III a século VI da Era Comum) (KOCHMANN, 2005, s.p.)

Para a autora, um exemplo claro dessa influência grega são as bênçãos matinais diárias constantes no Talmud de Babilônia, nas quais o homem deveria agradecer a Deus por tê-lo feito (do povo de) Israel, por não ser mulher e não ser ignorante, que surgiram de um dito helenístico popular, citado por Platão e Sócrates, no qual se agradece ao destino por nascer ser humano e não animal, nascer homem e não mulher, nascer grego e não bárbaro. A ordem não é exatamente a mesma, os gregos agradeciam ao destino enquanto os judeus o faziam a Deus, mas a semelhança é inegável.

Mesmo com o desenvolvimento da pesquisa bíblica feminista, Joachim Jeremias (1993, p.473-494) aparece ainda como referência para falar da vida das mulheres na Palestina no tempo de Jesus. Ele traz um retrato de uma vida dura para as mulheres judias no primeiro século. Segundo o autor, mulheres não participam da vida pública no oriente e isso também é verdade no judaísmo do tempo de Jesus. Elas estariam confinadas a aposentos particulares, com exceção de alguns momentos de festas religiosas tradicionais. Também condenadas a esconder seus

rostos e cabelos sob véus, condenadas ao silêncio com relação aos homens fora do círculo familiar íntimo e ao serviço doméstico, com a produção de vestimentas e cobertas para compensar seus custos. Viviam até os 12 anos e meio sob a autoridade paterna em todos os âmbitos e, desde o acordo de noivado tratado com o

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