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3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE

3.5 POLÍTICA PÚBLICA DE INFORMAÇÃO

3.5.1 As políticas públicas para Inserção do Brasil na sociedade da informação

No Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1996, iniciou estudos para a implantação do Programa Brasileiro para a sociedade da Informação. Um ponto essencial desta questão seria propor soluções para a inclusão digital de diferentes segmentos sociais e regiões que até então não tinham qualquer acesso à internet combatendo o que se passou a chamar de infoexclusão.77

De acordo com Amaral (1991), anteriormente o Brasil havia elaborado planos que tratam da política Nacional de Informação Científica e Tecnológica (PNDs I, II, III), que recomendavam a articulação entre o sistema científico tecnológico e o sistema de produção. Aponta que, ao invés dos programas fomentarem o intercâmbio de informações, havia um círculo vicioso que tolhia se desenvolvimento decorrente da falta de integração entre as instituições, os setores de pesquisa e a área produtiva, sem a percepção do seu valor econômico, político e social, e principalmente com uma conexão política ideológica.

Em 1997, foi aprovado o documento intitulado Livro Verde da Sociedade da

Informação. O Livro Verde propõe a execução do Programa Sociedade da Informação, cujo

objetivo é integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologias de informação e comunicação, de forma a contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia tenha condições de competir no mercado global. São sete linhas de ação que se desdobram em ações de planejamento, orçamento, execução e acompanhamento específico, como: a) mercado trabalho e oportunidades; b) universalização de serviços para a cidadania; c) educação na sociedade da informação; d) conteúdos e identidade cultural; e) governo ao alcance de todos; f) tecnologias chaves e aplicações; g) infraestrutura avançada e novos serviços (Sociedade da Informação, 2000, p.12).

No campo do mercado de trabalho, o programa pretendia incentivar a utilização das tecnologias disponíveis pelas empresas brasileiras para melhorar seus processos produtivos e

77 De acordo com o texto do Livro Verde (BRASIL, 2000), “o conceito de universalização do acesso deve abranger também o de democratização, pois não se trata tão somente de tornar disponíveis os meios de acesso e de capacitar os indivíduos para tornarem-se usuários dos serviços da Internet. Trata-se sobretudo, de permitir que as pessoas atuem como provedores ativos dos conteúdos que circulam na rede. Neste sentido, é imprescindível promover a alfabetização digital, que proporcione a aquisição de habilidades básicas para o uso de computadores e da internet, mas também que capacite as pessoas para a utilização dessas mídias em favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania.”

criar novas oportunidades de negócios. Neste campo, surgiram os programas Brasil empreendedor78 e, posteriormente, os Telecentros de desenvolvimento.79

Essas políticas ainda são objeto de avaliação e discussão sobre aprimoramento, uma vez que observa-se que as iniciativas ainda estão ligadas a uma perspectiva distributiva construída historicamente de cima para baixo e que não levam em consideração as articulações necessárias entre cidadania, informação e democracia.80 Há uma predominância na transmissão de dados sem preocupação com a partilha de significados (FERREIRA; ROCHA, 2011).

De fato, os Telecentros trazem benefícios a seus usuários, fortalecendo a formação de redes sociais entre amigos e parentes e o compartilhamento de informações, facilitando trabalhos escolares, cadastros para busca de empregos, e até mesmo na descoberta da cidade, pois é possível visualizar a cidade de forma mais ampla pela internet, descobrindo a forma mais fácil de se deslocar de um lugar a outro (Becker, 2009).

Na área de serviços para a cidadania, foram implementados projetos de inclusão digital com vistas a criar condições para populações com baixo poder aquisitivo de acessar as redes digitais através de telefones e computadores, com preocupações sobre os custos de conexão e financiamentos.

Na área de educação, as políticas públicas voltaram-se para investimentos em infraestrutura que possibilitassem a criação de cursos de educação à distância, aumento da capacitação de pessoal em tecnologias de informação e comunicação, e ligação de todas as escolas à internet.

No que respeita aos conteúdos, houve esforço para aumentar os conteúdos em língua portuguesa e os voltados para divulgação cultural.81

Em 2002, foi lançado o Livro Branco, que aponta o papel da ciência e da tecnologia como essenciais para fomentar a capacidade de inovar no âmbito do mercado na sociedade da informação. Neste campo, foram lançados diversos Planos Nacionais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, todos com enfoque na conexão entre governo, sociedade e sistema produtivo, todavia, esta interação ainda sofre entraves de ordem econômica e política.

78 Disponível em: http://www.brasilmaisempreendedor.com.br/

79 Disponível em: http://www2.mcti.gov.br/index.php/2016-11-29-22-24-23/telecentros e Telecentros para navegar da

CELEPAR no Paraná. Disponível em:

http://www.celepar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=504

80 Um projeto que se destaca na visão contrária a esta é o da Metareciclagem, que compreende a recuperação de equipamentos sucateados e a disseminação sobre o funcionamento destas máquinas o que permite ao público atendido apropriar-se do aparato técnico e produzir representações que se contrapõe ao divulgado na grande mídia.

81 Pode-se citar o Projeto Portinari, que possibilitou a digitalização e disponibilização da obra do artista, bem como o incremento da Plataforma Lattes, da Biblioteca virtual Scielo, que disponibilizam trabalhos científicos brasileiros.

Especificamente em relação ao item Governo ao alcance de todos, em 2001 foi lançada a política de Governo Eletrônico no Brasil, cuja linha de ação é a promoção da universalização do acesso aos serviços; a transparência das ações do poder público; o fomento da participação cidadã (BRASIL, 2000). São propostas desdobradas em diversas linhas de ação e que, ao longo do tempo, devem repercutir no aumento do número de pessoas com acesso à internet, aumento de cursos de formação à distância, fomento de incentivos na área de tecnologia, melhoria da rede de infraestrutura de comunicação.

No ano de 2000, o Portal Rede Governo, surge como o objetivo de disponibilizar informações de todos os entes do Governo, sendo um facilitador de busca. Em 2004, foi criado o Portal da Transparência, que visa o acompanhamento do uso dos recursos públicos. O Portal Brasil foi criado em 2005 e serve para concentrar a prestação de serviços eletrônicos do Governo Federal.

Por força do mandamento legal, diversos órgãos públicos passaram a ter portais para divulgação dos elementos exigidos pelas Leis 8.666/93 (Lei de Licitações e contratos); Lei Complementar 101-2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) e Lei complementar 131-2008 (Lei da Transparência), contudo, a linguagem excessivamente técnica, o formato contábil fechado das informações, as dificuldades na reutilização das informações para confecção de comparativos não provocaram interesse da sociedade e até dos meios de comunicação na apropriação dos elementos divulgados.

Alguns institutos, com pessoal especializado, passaram a estudar tais informações, trazendo importantes contribuições para o controle social, na medida em que divulgavam o mau uso dos recursos públicos.82 O próprio Governo Federal, através da Controladoria Geral da União, criou a Escala Brasil Transparente, trabalho que é realizado periodicamente analisando o cumprimento da lei de transparência em diversos órgãos públicos estaduais e municipais.

Em 2011, o Governo Brasileiro aderiu à Parceria de Governo Aberto (OGP), reconhecendo a importância das novas tecnologias no fomento à inovação e à participação social. Para que governo ser considerado aberto, ele deve buscar alcançar quatro objetivos:

- Aumentar a disponibilidade de informações sobre atividades Governamentais; - Apoiar a participação social;

- Implementar padrões mais altos de integridade profissional na administração pública;

- Ampliar o acesso a novas tecnologias para fins de abertura e prestação de contas. (BRASIL. OGP, 2018).

A adesão ao regime de acesso à informação pública, implicou na edição da Lei 12.527- 2011, resultado de um longo processo que tramitou durante nove anos no Congresso Nacional, sendo uma construção da sociedade brasileira em resposta à pressão de movimentos da sociedade civil83 e a uma sequência de decisões e políticas de Estado.

Esses portais de acesso à informação governamental devem se apresentar como repositórios de informação que podem ser acessados pelo público em geral, o que potencialmente pode elevar o grau de participação.

Ocorre que, quando se observa o conteúdo dos programas que visam a inclusão digital, é visível que o foco em relação ao setor privado, visa capacitar empresários e trabalhadores para o uso de ferramentas da internet, o incremento da economia, da escolaridade; contudo, quando se volta para o setor público, a ênfase está nas facilidades de se obterem certidões e se fazerem pagamentos ou fiscalizar o poder público, confundindo-se participação com controle social.

Nesse sentido pertinente as conclusões do trabalho apresentado na tese de doutorado de Maria Lúcia Becker (2009, 190)84, onde o estudo conclui que uso da Internet pode alçar os indivíduos à condição de cidadãos (simples) da sociedade tecnológica; mas, exclusivamente pelo uso da rede, estes mesmos indivíduos não se tornam cidadãos ativos. Para a autora “o acesso à rede mundial de computadores pode driblar ou compensar algumas modalidades de não acesso que tornavam uns menos cidadãos que outros[...] mas o aspecto negativo se apresenta no fato de que “embora interconectados, pouco se comunicam e nunca se unificam dificultando a realização das sínteses que viabilizariam a chegada a entendimentos sobre o bem comum”.

É relevante pontuar que ao mesmo tempo que os avanços tecnológicos podem permitir disseminar as informações e facilitar serviços, estes devem também ser organizados no sentido de colher posicionamentos da sociedade.

83 Dentre os movimentos da sociedade civil atuantes, identificam-se: Transparência Brasil – fundado em 2000, por organizações não-governamentais e entidades empresarias com foco no combate à corrupção; Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas − fundado em 2003, por cerca de 20 organizações sem vínculo partidário; Contas Abertas − fundado em 2005, como entidade da sociedade civil, com foco no monitoramento da execução orçamentária da União; Movimento Brasil Aberto – criado em 2011, em São Paulo, visando pressionar o andamento do projeto da lei, então parado no Senado; ARTIGO 19 – Organização voltada à promoção da liberdade de expressão e informação.

84 O estudo tem como objeto os padrões de percepção dos moradores dos bairros de periferia das cidades de Curitiba e São Paulo, que utilizam a Internet nos postos de acesso público implantados pelas prefeituras locais, seu relacionamento com a rede e a (re)estruturação de valores, saberes, concepções e perspectivas no que se refere à informação e à comunicação como pressupostos da cidadania ativa. Buscou verificar de que forma a Internet é efetivamente acolhida por estes usuários e quais as implicações culturais desta relação, tendo como meta fornecer elementos para uma apreciação criteriosa das possibilidades e limites do uso da Internet no que diz respeito à promoção do exercício da cidadania.