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4 COMUNICAÇÃO PÚBLICA – ENTRE O ACESSO À INFORMAÇÃO, A

4.2 DESDOBRAMENTOS DA COMUNICAÇÃO PÚBLICA

A Comunicação pública se apresenta dividida em áreas específicas, a depender da abordagem utilizada para expressar questões de interesse geral.

Para Grandi (2014, p.12), a comunicação pública se subdivide em: comunicação de solidariedade social, comunicação política e comunicação institucional, sendo que a comunicação institucional seria a realizada pela administração pública, que utilizando todos os meios à sua disposição, dá publicidade a diversos seguimentos, seja seu público interno ou externo de sua produção normativa, sua atividade, suas funções, sua identidade.

Para o autor, o objeto desta comunicação institucional implica em a) garantir ao cidadão o pleno direito à informação; b) construir e reforçar a imagem do ente público; c) oferecer aos cidadãos a possibilidade de participar da administração; d) produzir uma mudança na cultura da administração pública (GRANDI, 2014, 12).

Faccioli (2000, p. 24) assenta a comunicação institucional como o eixo central da comunicação pública, na medida em que promove responsabilidade e consciência. Trata-se, segundo a autora, de uma atividade prevalentemente informativa, com o objetivo de ajudar o interessado a encontrar-se no meio burocrático.106 Para a autora, essa comunicação institucional serve a informar os próprios servidores, a reforçar as relações sociais, valorizar o cidadão como ator do processo de mudanças. (58)

De fato, na medida em que informações sobre as normas, o funcionamento do órgão, os procedimentos para obtenção de informação e aquisição de direitos ou cumprimento de obrigações são bem compreendidos, pelo esforço de uma comunicação inclusiva, maior a contribuição para engajamento da sociedade.

Todavia, quando a comunicação se mostra enganosa, garantindo benesses que, na realidade, ou não existem ou dependem do cumprimento de uma série de requisitos não informados, aumenta o sentimento de descrédito da sociedade com o ente público.

Anúncios de implementação de uma determinada política pública, como por exemplo, o ensino integral, ou campanhas de vacinação devem ter o cuidado de informar como será realizado o atendimento, os requisitos para obtenção, de modo a evitar desgastes da imagem do órgão em face da formação de filas desnecessárias, frustrações com o resultado, entre outros.

4.2.2 Comunicação normativa

Esta espécie de comunicação refere-se à divulgação dos atos normativos formais da instituição: leis, decretos, portarias. Essa comunicação é normalmente complexa, com linguagem técnica, sendo um desafio anexar elementos que possibilitem sua assimilação pela

106 “[...] la comunicazione istituzionale assume l'aspetto di um attivita prevalentemente infomativa, limitata ad agevolare l utente a muoversi nel labirinto della burocazia” (FACCIOLI, 2000, p.24).

sociedade.107 Além disso, sua circulação até algum tempo era bastante limitada, pois os Diários Oficiais que publicavam os atos normativos tinham circulação restrita e tiragem escassa em relação ao total da população. Atualmente, boa parte dos diários oficiais está disponível na internet, contudo, seu extenso conteúdo normalmente implica em redução da visualização e ainda mantém redação complexa.

Desse modo, além do texto legislativo, é importante que se apresente um resumo com linguagem mais simplificada abordando os efeitos das normas editadas.

4.2.3 Comunicação da atividade institucional

Refere-se aos atos de comunicação que visam informar os cidadãos sobre a forma de funcionamento dos órgãos públicos, das políticas públicas existentes e seu acesso, bem como dos serviços disponíveis ao cidadão.

Utilizando a formulação proposta por H. Laswell (Who says what in what channel to whom with what effect?),108 Grandi (2016, p.77-78) explica que a comunicação institucional é a realizada pela administração pública central ou periférica dentro das suas competências. Serve a dizer sobre sua produção normativa, sua atividade, sua identidade e os objetivos e pontos de vista; se dirigindo aos cidadãos e às organizações, com o objetivo de garantir a todos o direito à informação, construir e promover a identidade do órgão público, reforçar as relações entre o ente público e os cidadãos especialmente no que diz respeito à solução de problemas de interesse público; e promover uma mudança na mentalidade administrativa tornando-a mais permeável a participação.

Considerando que no Brasil a construção das políticas sociais é feita em grande parte pelo Governo Federal, cabendo aos Estados e Municípios a sua execução, é muito importante a divulgação ampla sobre a forma de obtenção dos benefícios, o tratamento que será dispensado, de forma que o cidadão e também os movimentos sociais possam se manifestar sobre a adequação da política e de sua extensão.

Faccioli afirma que os atores desta forma de comunicação são os políticos no papel de representantes do povo, todavia, antes de mostrar como bem governam, sua tarefa é explicar ao povo as escolhas que orientam as políticas públicas e os reflexos que produzem na vida da comunidade. Não deve, pois, resvalar para a propaganda política. Encaminhada a mensagem à

107 Faccioli (2000) aponta que esta estratégia se evidencia na Itália a partir da constituição de uma comissão para revisão dos textos normativos, com o objetivo de tornar a linguagem mais compreensível, bem como com a edição do Manual de Estilo, com vistas a simplificar a linguagem dos textos administrativos.

mídia, deve o governante deve “organizar a escuta para conhecer as impressões e avaliações.” (FACCIOLI, 2000, p.48).

A partir deste retorno de falas dos movimentos sociais e dos cidadãos é que se poderá verificar se objetivo pretendido foi atingido e em que medida.

Haswanni (2013) completa no sentido de que o atendimento telefônico, o balcão de informações e o comportamento dos servidores públicos são instrumentos da comunicação de serviços. É importante cuidar para que esta forma de comunicação não se assemelhe à propaganda comercial, mas que seja consistente a ponto de possibilitar às pessoas o conhecimento de como devem ser atendidas e que direitos podem obter e com quais requisitos.

4.2.4 Comunicação de utilidade pública

É a comunicação voltada a um determinado serviço, com vistas a facilitar as relações do cidadão com o ente público em face da burocracia. Deve referir-se ao horário de funcionamento, modo de execução, requisitos para obtenção dos serviços, qualidade desejada de forma a instruir os cidadãos sobre a forma como serão atendidos.

Esse forma de comunicação está inserida no dever prescrito pelo princípio da publicidade, permitindo ao cidadão o acesso a todas as informações que lhe digam respeito e propiciem o acesso a bens e direitos que lhe cabem. A linguagem deve ser adequada de forma a atingir o maior número de pessoas. Gregório Arena aponta que a forma pela qual as administrações divulgam os seus serviços relaciona-se com a atenção que destinam aos interesses do cidadão.109

4.2.5 Comunicação para a promoção da imagem

Esta comunicação visa obter uma identificação em face dos cidadãos, de modo a angariar confiança e colaboração. De acordo com Haswanni (2013), esta prática utiliza técnicas persuasivas com o intuito de envolver o público.110 Sua utilização pode servir à fixação da imagem de um determinado serviço público, a exemplo da utilizada pelos Correios no Brasil, da Petrobrás ou do Governo como um todo.

109 São frequentes as queixas das pessoas que percorrem vários guichês de repartições públicas em busca de serviços, não conhecendo os serviços oferecidos e nem os requisitos necessários à sua obtenção, o que determina muitas vezes diversos retornos até a obtenção do pretendido.

110 Exemplos deste tipo de propaganda podem ser acessados nas páginas da Secretaria de Comunicação do Governo Federal – SECOM, que relaciona todos os filmes produzidos desde 2003.

Para Faccioli (2000, p.54), deve guardar estreita relação com a verdade – ou seja, o que o” ente governamental diz fazer, deve ser o que, de fato, faz”. Alerta ainda que não deve resvalar para uma autopromoção do gestor, devendo prevalecer a dimensão informativa.

A manipulação da propaganda pelo governo fere os princípios democrático republicanos, especialmente quando pretende conduzir o interesse do público aos interesses do governante por meio do escamoteamento de informações ou de frases de efeito.

4.2.6 Comunicação política

É a comunicação pertinente ao mundo político e as estratégias eleitorais. Esse tipo de comunicação interfere no fornecimento de informação quando o interesse político impõe um mascaramento de conflito para evitar o aparecimento de questões controversas. É aquela que tem por objetivo angariar estima e adesão dos eleitores. É permitida em ocasiões específicas e desde que identificada, de forma a não confundir o público.

Não pode ser utilizada nos portais, posto que estes representam repositório de informações do governo e não de seu governante ou da gestão. O desvio de finalidade fere o princípio da moralidade em face da promoção pessoal dos gestores, em detrimento do uso correto, que seria a divulgação de informações de interesse público, com fim educativo e informativo.

Todas estas espécies de comunicação pública estão presentes no dia a dia, algumas de forma mais expressiva que outras, e nem sempre o cidadão consegue identificar a diferença entre a propaganda institucional com efeito educativo e informativo e a propaganda política ideológica.