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3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE

3.5 POLÍTICA PÚBLICA DE INFORMAÇÃO

3.5.3 Governo Eletrônico no Brasil

A ideia de governo eletrônico está relacionada com a adoção das tecnologias de informação, que tem por objetivo tornar o governo mais próximo do cidadão.88 Esse uso intensivo das novas tecnologias pelos governos ora é vista como benéfica, sob o ponto de vista da eficiência dos serviços, o que ainda retrata uma visão do cidadão apenas como cliente da administração pública, como também como instrumento para revitalizar o interesse pela política, desde que exista interesse na aproximação do cidadão com o Estado.

Para Levy (1999, p.367), “a passagem para o governo eletrônico visa reforçar as capacidades de ação das populações administradas, mais do que as sujeitar a um poder”.

Ruediger (2002, p. 30), por sua vez, aponta o governo eletrônico como um potencializador de boas práticas de governança e catalisador de uma mudança profunda nas estruturas de governo, proporcionando mais eficiência, transparência e desenvolvimento, além do provimento democrático de informações para decisão, o que proporcionaria uma capacitação política para a sociedade.

87 Durante o período eleitoral - abril a novembro de 2016 - boa parte do conteúdo dos portais das prefeituras Municipais desapareceu. Em muitos casos, constava ainda a observação de que a desativação da página se dava por determinação do artigo 73 da lei 9.504/97, que, de fato, veda a propaganda pessoal do chefe do executivo durante o período das eleições. Dentro deste raciocínio, a falta das informações leva a crer que não havia informação governamental no local, mas apenas promoção pessoal do governante.

88 Para Rover (2008), “em termos gerais o governo eletrônico tem se constituído em uma infraestrutura de rede compartilhada por diferentes órgãos públicos a partir da qual a gestão dos serviços públicos é realizada. A partir da otimização destes serviços, o atendimento ao cidadão é realizado, visando atingir sua universalidade, bem como ampliando a transparência das suas ações.”.

Nesse sentido, Pinho (2008, p.475) aponta o grande potencial democrático dos portais desde que exista efetivo interesse na visibilidade das ações do governante.89 Assim, o Governo eletrônico pode ser visualizado tanto do ponto de vista da eficiência – melhora da organização dos recursos e serviços, como do ponto de vista da participação – na melhoria da governabilidade, na melhoria das relações com os cidadãos.

As interações, relativas às práticas de governo eletrônico, de forma geral, com o uso das tecnologias de informação, se apresentam da seguinte forma:

− G2G (Government to Government) - integração de ações horizontais do governo − G2B e B2G (Bussiness to Government) - interações com atores externos: compras,

licitações, utilizando os meios eletrônicos.

− G2C e C2G (Citizen to Government) - relativas a ações do governo na prestação de serviços ou de informações aos cidadãos.

Grande parte dos governos demonstra a preocupação de virtualizar sua existência através das redes, disponibilizando serviços públicos, pagamento de tributos e promovendo a interação com a sociedade. Ao mesmo tempo que existem facilidades, é necessário cuidar para que as dificuldades de relacionamento entre o cidadão e o governo no mundo físico não se transportem para o mundo virtual, como a burocracia e a morosidade.

A proposta de Governo Eletrônico no Brasil90 surge no ano de 2000, com a criação de um Grupo de Trabalho em tecnologia da informação (GTTI). Logo em seguida, em 18 de outubro de 2000, foi criado o Comitê executivo do Governo eletrônico, com o objetivo de formular políticas, estabelecer diretrizes e articular as ações necessárias à sua implantação.

Em 2004, o Governo cria o Departamento de Governo eletrônico (Decreto 5.134-2004), que fica encarregado da coordenação, articulação e implantação de ações integradas de governo eletrônico e de normatizar e disseminar ações e informações de governo eletrônico na administração federal. Dentre as ações realizadas, estão a edição de guias e cartilhas que regulamentam o tipo de serviços e os padrões de interoperabilidade em Governo Eletrônico (e- PING) e Modelo de Acessibilidade de Governo eletrônico (e-MAG), tais como:

89 Para Pinho (2008, p.475), “Dado o avanço da tecnologia, entendemos que o governo eletrônico não deve ser visto apenas por meio da disponibilização de serviços on line, mas, também, pela vasta gama de possibilidades de interação e participação entre governo e sociedade e pelo compromisso de transparência por parte dos governos. As TICS contêm um enorme potencial democrático, desde que haja definição política no sentido da participação popular e da transparência, pois o governo pode deixar de oferecer o que não quer mostrar, para nem mencionar o que quer esconder.”

90 Ao mesmo tempo, na América Latina, outros países como Chile, Venezuela, Uruguai também iniciaram estratégias de e-Gov como uma agenda de governo dentro de um movimento de modernização da gestão pública e o aumento da competitividade internacional. Essas estratégias não somente facilitam os processos administrativos como também têm o potencial de atingir outros atores sociais (REILLY, 2004, p. 71-110).

a) Cartilha de Codificação – detalha boas práticas em codificação para o desenvolvimento de sítios, portais e serviços de governo eletrônico com o propósito de torná-los identificáveis, portáveis, relevantes, acessíveis à população.

b) Guia de Administração – oferece subsídios para a concepção, desenvolvimento, administração e manutenção de sítios de governo eletrônico na esfera federal em termos de evolução, comunicação, divulgação, monitoramento do sítio.

c) Cartilha de Usabilidade – detalha as recomendações de boas práticas que envolvem usabilidade a partir de critérios de acessibilidade, navegabilidade e padronização visual.

d) Cartilha de redação web − oferece subsídios para elaboração de informação clara, estruturada e eficaz no meio digital.

O Governo Federal vem se dedicando ao aprimoramento dos sistemas de governança pela via eletrônica, tendo iniciado o desenvolvimento da tecnologia da informação e aplicado nos serviços básicos, a exemplo de: digitalização de correspondência, registros de informações, gerenciamento de compras, arrecadação de tributos. Isso implica em melhoria nos processos já existentes.

O portal governo eletrônico, desde 2003,91 já disponibilizava consultas públicas com vistas a promover a interação entre a sociedade civil e o governo. Em 2015, foi lançado o portal Participa.br, que é uma plataforma digital de participação social, disponibilizado gratuitamente pelo Governo Federal a qualquer ente que deseje colocar uma dada norma ou política pública aberta à participação da sociedade. Esta plataforma permite a realização de fóruns de debate, salas de bate papo, vídeos, mapas e diversos mecanismos de consulta.

Essa forma de participação da sociedade, seja colocando sua contribuição, seja efetuando apontamentos nas demais contribuições ou apenas acompanhando a consulta on line,

91 Rothberg (2010, p. 69-87), em artigo intitulado “Contribuições a uma teoria da democracia digital como suporte à formulação de políticas públicas”, analisou a prática das consultas públicas realizadas pelo governo federal entre os anos de 2003 e 2009 e concluiu que “Na maioria dos casos, até agora, propostas de diretrizes de políticas públicas e projetos de lei formulados pelo Executivo foram submetidos a escrutínio por sítios oficiais, e contribuições de setores diversos foram expressas através de um básico sistema informatizado de recebimento de comentários a determinados pontos do texto em apreciação. Os apontamentos foram tornados públicos pelo mesmo sistema, de forma que algum diálogo pôde ser construído entre setores relevantes para a questão em exame. Em alguns casos, houve documentos que poderiam ser usados para embasar uma linha de avaliação. Mas eles não foram produzidos exclusivamente para orientar a consulta; muitas vezes, tinham finalidades diversas e poderiam até tornar a participação mais complexa e difícil. E, o que é mais grave, não houve formas claras de retorno (feedback) dos gestores das consultas. Se as contribuições foram efetivamente aproveitadas (e como), se o projeto de lei foi depois aprovado pelos parlamentares, qual foi o resultado de todo o processo etc. são questões em aberto”.

mediante a simples leitura dos fóruns editados, já representa o exercício de um engajamento político salutar na opinião de Rothberg (2010, p.79). Contudo, não há informação posterior sobre o aproveitamento das contribuições.

As reformas administrativas e os investimentos em tecnologias nas demais esferas públicas ainda se focam na racionalidade técnica ou instrumental, ou seja, visam a melhoria da gestão – mais rapidez, maior eficiência, menores custos administrativos. A ideia da facilitação da cobrança de tributos, simplificação dos processos e prestações de serviços é mais atrativa e pode ser delegada a entes externos à administração, que promovem a criação de plataformas passíveis de serem aplicadas indistintamente a diversos órgãos públicos. Assim, basta aos gestores adaptarem seus processos e serviços para o meio virtual com ganhos em velocidade e economia.

Também as chamadas cidades inteligentes92 avançam no país, interligando os habitantes e fornecendo informações sobre mobilidade, serviços, lazer, notícias por meio de aplicativos móveis. Contudo, cabe, neste caso, pensar se o viver na cidade passará a ser um ato de adesão a um sistema e suas regras ou se haverá espaço para participação. Todos, de fato, estarão incluídos na melhoria de qualidade de vida ou somente os “habilitados” no sistema? Quem definirá o que é qualidade de vida? Quem, de fato administrará a cidade? Haverá espaço para participação e discussão? O morador será um cidadão ou um cliente?

Entende-se que, em face da evolução tecnológica, os governos não podem se afastar da governança eletrônica, mas se deve cuidar para que a vida em sociedade não se padronize, se desumanize e despolitize. Para que se possa pensar em espaços governamentais compartilhados com o cidadão, é necessário pensar além das plataformas automáticas para investir em pesquisa social, capacitação profissional para a formação de capital social, em compreender o público local, em pensar nas identidades dos usuários.

Importante, neste momento, é promover a aproximação do cidadão com o Governo, tornando o acesso às informações mais facilitado, de forma que organizações, imprensa, pesquisadores e até o indivíduo possa conhecer o funcionamento da gestão. A participação exige diálogo, argumentação, convencimento, e, tem por base os processos comunicativos, como será abordado no próximo capítulo.

92 Segundo a união Europeia, Smart Cities são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. Esses fluxos de interação são considerados inteligentes por fazerem uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana, para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade. (Disponível em: https://fgvprojetos.fgv.br/noticias/o-que-e-uma-cidade-inteligente)

4 COMUNICAÇÃO PÚBLICA – ENTRE O ACESSO À INFORMAÇÃO, A