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2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO, CIDADANIA E BOM GOVERNO

2.5 A BOA GOVERNANÇA

Para alcançar resultados positivos na melhor qualidade de vida da população, os governantes eleitos têm que responder de forma adequada aos anseios daqueles que lhes delegaram o poder, ou seja, há que se demonstrar boa governança pública.24 Governança pública pode ser entendida como a capacidade que os governos têm de avaliar, direcionar e

24 Para o TCU (Tribunal de Contas da União), em trabalho intitulado Governança pública: referencial básico de

governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública e indutoras de melhorias, encontra-se

que a “Governança pública pode ser entendida como o sistema que determina o equilíbrio de poder entre os envolvidos – cidadãos, representantes eleitos (governantes), alta administração, gestores e colaboradores – com vistas a permitir que o bem comum prevaleça sobre os interesses de pessoas e grupos (BRASIL, Tribunal de Contas da União, 2014,p. 20-21).

monitorar a gestão das políticas e serviços públicos para atender de forma efetiva as necessidades e demandas da população (NARDES, 2016, p.153).

A Governança compreende um conjunto de medidas que resultam no alinhamento entre as expectativas do eleitor e os resultados esperados da administração do eleito. Para tanto, é necessário que haja uma definição do que será feito, os riscos relativos à ação, o estabelecimento de metas prazos e as formas de avaliação e controle.

Não se pode confundir governança com governabilidade. Governabilidade se refere, em princípio, às condições sistêmicas relacionadas com o exercício do poder numa sociedade, tais como as características do regime político (democrático ou autoritário), a forma de governo (parlamentarismo ou presidencialismo), as relações entre os poderes, os sistemas partidários (pluripartidarismo ou bipartidarismo), o sistema de intermediação de interesses (corporativista ou pluralista).

Governança, por outro lado, diz respeito à capacidade governativa em sentido amplo, isto é, capacidade de ação estatal na implementação das políticas e na consecução das metas coletivas. Refere-se ao conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural da sociedade.

O resgate da legitimidade do Estado passa, certamente, pelo aperfeiçoamento dos instrumentos de governabilidade, segundo as condições históricas e culturais de cada país. Contudo, o aprofundamento do conceito de governança é que repercute nas questões confiança e legitimidade das decisões. A ação estatal desvinculada das noções de interesse público, bem comum, responsabilidade pública, perde legitimidade.

Somente a participação da cidadania nos moldes de uma democracia associativa pode contrapor-se às características negativas do modelo representativo, como, por exemplo, fragilidade das instituições, dos partidos, do sistema eleitoral, do Legislativo, ao lado da hipertrofia da autoridade pessoal do Presidente. Verifica-se hoje o esvaziamento do poder público, inércia na prestação de serviços, ausência de canais para a expressão de direitos, enfim, omissão do Estado no atendimento de necessidades fundamentais mediante políticas sociais efetivas.

Aumentar a eficácia do Estado não significa apenas aumentar a eficiência da máquina burocrática e aperfeiçoar os mecanismos técnicos de governabilidade. É necessário melhorar as condições de governança do sistema estatal, aperfeiçoando as capacidades de comando e coordenação, mas principalmente redefinindo as relações com a sociedade civil mediante a criação e articulação de canais de negociação entre a sociedade e o Estado. É preciso pensar em institucionalizar, de fato, a participação da cidadania nas decisões governamentais.

As ações públicas não são simples e os recursos não são ilimitados, o que impõe a criação de um modelo de ação que conjugue a burocracia, a eficácia no uso dos recursos. Os eleitores desejam resultados que sejam compatíveis com os tributos pagos, serviços de qualidade, ausência de corrupção e prestação de contas regulares, contudo, os noticiários não se cansam de apontar que os eleitos muitas vezes se quedam aos interesses do jogo político- partidário, acabando do atender interesses pessoais ou indicações políticas para preenchimento dos cargos, que utilizam o aumento da carga tributária para compensar as falhas na alocação de recursos, entre outros.

O Referencial Básico de Governança elaborado pelo Tribunal de Contas da União (2014) elenca os princípios da boa governança, quais sejam:

a) Legitimidade – que vai além da verificação do cumprimento estrito dos termos da lei para alcançar a verificação de que o interesse público foi alcançado.

b) Equidade – a garantia de que todos tenham acesso aos direitos civil, políticos e sociais;

c) Responsabilidade – que implica no cuidado que os administradores devem ter com a coisa pública;

d) Eficiência – que implica no dever de realizar o que deve ser feito com a qualidade adequada e de buscar a melhor relação desta com o custo.

e) Probidade- implica em uma conduta compatível com o zelo, e com a confiança que a sociedade deposita no gestor;

f) Transparência – possibilidade de acesso as informações relativas à gestão pública; g) Accountability – a assunção das responsabilidades que lhe foram conferidas e de prestar contas de sua gestão.

Do ponto de vista legal, o Brasil possui um conjunto normativo favorável a implantação da boa governança, a iniciar-se pela Constituição Brasileira que aponta os princípios que devem reger a atuação da administração pública, bem como uma sequência de leis que orientam a atuação dos gestores, todas mencionando a necessidade de divulgação das ações para conhecimento da população, a saber:

a) O plano plurianual - é um instrumento previsto no art. 165 da Constituição Federal destinado a organizar e viabilizar a ação pública, com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da República. Por meio dele, é declarado o conjunto das políticas públicas do governo para um período de 4 anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas (BRASIL, 2017).

b) A lei de diretrizes orçamentárias- estabelece as metas e prioridades para o exercício financeiro seguinte; orienta a elaboração do Orçamento; dispõe sobre alteração na legislação tributária; estabelece a política de aplicação das agências financeiras de fomento. Com base na LDO aprovada pelo Legislativo, o Poder Executivo elabora a proposta orçamentária para o ano seguinte

c) A lei orçamentária – instrumento pelo qual o governo define as prioridades contidas no PPA e as metas que deverão ser atingidas naquele ano. A LOA disciplina todas as ações do Governo. Nenhuma despesa pública pode ser executada fora do Orçamento.

d) A Lei 8.666-93 e suas alterações – Lei de Licitações – regula o procedimento para realização de obras e compras de bens e serviços da administração pública garantindo ampla concorrência e publicidade das ações.

e) A Lei Complementar nº 101-2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – estabelece um código de conduta para os administradores públicos exigindo responsabilidade, limites e transparência nos gastos públicos. Impõe também um conjunto de procedimentos para prestação de contas do gestor.

f) A Lei Complementar nº 131-2009 – Lei de Transparência - obriga a divulgação em tempo real das receitas e dos gastos públicos da União, estados e municípios, por meio da internet. Os dirigentes municipais efetuam os registros necessários à verificação periódica do cumprimento das normas de transparência mediante declarações na página do Tribunal na internet, contendo o endereço eletrônico para o acesso das informações. Qualquer cidadão, partido político, associação e sindicato pode denunciar aos Tribunais de Contas dos estados ou ao Ministério Público o descumprimento desta obrigação.

g) A Lei 12.527-2011 – Lei de Acesso à Informação - regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas. Criou mecanismos que possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades.

Todas estas normas trazem um complexo bem elaborado de ações que visam não só orientar a ação do gestor para o atendimento do interesse público, como também abrem oportunidade à participação da sociedade através de audiências públicas, e deliberações dos conselhos gestores com a potencialidade de interferir no procedimento administrativo.

Contudo, inobstante seu longo tempo de vigência, não são observadas a contento pelos gestores, pois nas três avaliações feitas pela Controladoria Geral da União25, verificam-se órgãos que não atingem nem mesmo metade das exigências colocadas em lei.

Por outro lado, este conjunto normativo dá ênfase à questão da transparência e do controle social, de fato, como se poderá observar nos resultados da análise efetuada, e vem sendo desenvolvido com vistas a satisfazer os órgãos de fiscalização, de modo a coibir desvios que promovam prejuízos ao erário, ou seja, não estão direcionados de forma adequada para o aprimoramento da participação social ou à formação de um capital social.

A exposição de orçamentos, de empenhos, lançamentos contábeis, editais e atos normativos, não é capaz de fornecer ao cidadão as razões de uma determinada ação pública, nem verificar sua conveniência ou oportunidade.

A ideia de boa governança, porém, relaciona-se principalmente com padrões de interação entre as instituições governamentais e a sociedade, baseados na transparência, no debate público, na participação social, cujo sucesso está ligado à qualidade da comunicação entre gestores e cidadãos.

Bezerra e Jorge (2010) utilizam a boa governança como indicativo da democratização entre cidadão e governo. Para que os cidadãos tenham domínio do contexto envolvido nas decisões a respeito de determinado tema político, precisam de mais dados, que, de acordo com Bezerra e Jorge (2010), vão além das informações acessíveis no rádio, televisão e jornal. As tecnologias da comunicação e informação podem aproximar representados e governo, possibilitando a divulgação de dados importantes para o fortalecimento da fiscalização das ações políticas dos representantes.

A governança pública ainda representa um grande desafio para o país na medida em que é necessário abrir os canais de comunicação com a população, apresentar um planejamento das ações e políticas públicas lançadas para atender os problemas nacionais, divulgar as avaliações e resultados alcançados, bem como os custos da implementação dos projetos criando condições para uma reflexão pública e a tomada de decisões mais adequadas às necessidades e aos recursos disponíveis.

A boa governança das instituições aliada ao capital social contribui para o desenvolvimento social. São elementos que se mútuo determinam, na medida em que os governantes eleitos são componentes da comunidade que os elege e sua atuação ao mesmo tempo que reflete na vida da comunidade, recebe em maior ou menor grau os seus impactos.

25 Estas avaliações são resultado de uma ação promovida pela Controladoria Geral da União denominada Escala Brasil Transparente.

Os dois movimentos, aumento do capital social e a governança podem colaborar na diminuição das desigualdades e na melhoria das condições de vida da sociedade.

Esses dois elementos estão ligados a livre circulação de informações claras e verdadeiras entre o governo e a sociedade, que sedimenta uma base de confiança nas relações. O acesso às informações contudo é um tema que vem se afirmando no último século, como se passará a demonstrar no próximo capítulo.

É importante analisar como se dá ao cidadão o acesso à informação sobre as ações do poder público, o que se verá no capítulo seguinte.

3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DE