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As Reformas Pombalinas e as Aulas Régias na Capitania de Minas Gerais

4. REFORMA DOS ESTUDOS MENORES E OS SEUS DESDOBRAMENTOS NA

4.10 As Reformas Pombalinas e as Aulas Régias na Capitania de Minas Gerais

Os bandeirantes paulistas, em 1693, descobriram ouro no território que hoje chamamos de Minas Gerais. Esse acontecimento mudaria totalmente os rumos políticos e econômicos de toda a colônia brasileira. Com a percepção de que as reservas de pedras preciosas eram promissoras, a metrópole resolvera, em 1720, elevar Minas Gerais à condição de Capitania. A importância que Minas adquiriu desse momento em diante levou, em 1763, o Marquês de Pombal a transferir a capital da colônia, que era na Bahia, para o Rio de Janeiro. Por quê? Porque o porto do Rio se tornara importante para o envio de metais preciosos à Europa. Assim, estando mais próximo desse local estratégico seria, em tese, mais fácil controlar as riquezas expropriadas da colônia brasileira.

Diante desse contexto político e econômico, justa se faz a seguinte pergunta: como era a educação em Minas Gerais? As Reformas Pombalinas geraram em Minas o Vazio Educacional entre 1759 – 1772? Isso é o que veremos agora.

A história da educação mineira, segundo Carrato (1968), está intrinsecamente ligada à Igreja Católica. Nada de novidade se considerarmos que os jesuítas praticamente monopolizaram a educação no período colonial. No entanto, Minas Gerais se destaca de outras capitanias brasileiras pelo seguinte fator: a primeira instituição escolar para a formação dos rebentos das classes dominantes não nasceu sob a batuta dos jesuítas, mas sim através da criação da diocese de Mariana. O mais interessante sobre a fundação do referido Seminário é que, segundo os estudos de Carrato (1968), antes dele ter sido criado, por não haver escolas para os mineiros, os que desejavam estudar precisavam ir para o Rio de Janeiro ou para a Bahia. Desse modo, essa instituição foi vista para a sociedade mineira como algo de muito valor à época.

A diocese de Mariana foi criada no ano de 1745 e seu primeiro bispo, Dom Frei Manuel da Cruz (1690 – 1764), tinha o ardente desejo de construir em sua diocese uma instituição para a formação de novos padres e também para a educação dos que desejassem continuar os estudos na Europa. Desse modo, foi em 1750 que Manuel da Cruz fundou a organização que tanto desejara, o Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte. Ou seja, o Seminário de Mariana nasceu diocesano, não jesuíta. Isso será de enorme valia quando a tormenta pombalina recair sobre os jesuítas em 1759. Veremos mais à frente.

Mas o fato de esse seminário não ter nascido jesuíta não implica dizer que os jesuítas não tiveram papel de destaque nessa instituição de ensino.

De acordo com Selingardi e Tagliavini (2014), o desejo do bispo mineiro era que o famoso jesuíta, padre Gabriel Malagrida (1689 – 1761), o qual já falamos sobre quando estudamos a conspiração dos Távoras, viesse ao seminário na condição de reitor e professor. Esse desejo não pode ser satisfeito, o que levou Dom Frei Manuel da Cruz optar por outro jesuíta, o padre José Nogueira, que era seu sobrinho. Contudo, José Nogueira atuou como diretor de estudos e professor do seminário. A reitoria, no âmbito do cuidado econômico da instituição, ficou para o Cônego Vicente Jorge de Almeida e padre Lino Lopes de Matos. Vemos nessa situação um certo receio que os mineiros tinham dos jesuítas. Mas há uma explicação para esse “pé atrás” dos padres seculares. Carrato (1968) afirma que até a vinda desse primeiro padre jesuíta, as ordens religiosas estavam proibidas de se instalarem em Minas Gerais. Assim, a ausência das irmandades religiosas deu ao clero secular mineiro um poder que outros cleros não tiveram.

Em 1751, o bispo de Mariana pediu a Portugal que viessem mais jesuítas ao Seminário de Mariana. Isso só foi autorizado em 1753, mas os jesuítas só vieram de fato entre o fim de 1756 e início de 1757. Ou seja, a presença maciça dos padres da Companhia de Jesus no Seminário foi bastante curta, afinal, em 1759 se daria a derrama sobre os filhos de Santo Inácio.

Com as Reformas dos Estudos Menores de 1759 e a seguinte expulsão dos jesuítas como ficou a situação do Seminário de Mariana? De acordo com Selingardi e Tagliavini (2014) e Carrato (1968), não houve paralisação alguma e os estudos continuaram sob responsabilidade do clero secular de Minas. Ou seja, podemos afirmar que entre 1759 e 1772 não houve em Minas Gerais um Vazio Educacional total porque o Seminário de Mariana não era propriedade da Companhia de Jesus. Se fosse, provavelmente teria ocorrido tal como em todos os colégios jesuítas: fechamento do colégio, expropriação dos bens e a delegação das aulas para a responsabilidade do Estado, que pelo o que vimos até aqui não cumpria seus deveres com a sociedade colonial.

Embora o Seminário de Mariana tenha funcionado no período do Vazio, isso não quer dizer que em Minas não tenha havido um Vazio Educacional por parte do Estado Português. Não foi o estado que supriu a ausência dos professores jesuítas com os “Nobres professores régios”, mas a própria diocese de Mariana que o fez. Em outras palavras, o modelo educacional público e estatal prometido no Alvará de 28 de junho de 1759 não aconteceu. Ficou só na letra da lei. Uma retumbante promessa Vazia para os mineiros. Do ponto de vista educacional, o Estado Luso foi sim um Vazio para os moradores de Minas, que, por sorte, puderam se valer do trabalho dos padres seculares e não sofreram tanto como os moradores de

outras capitanias do Brasil, que só podiam contar com a ação do Estado, o que implica dizer que não contavam, na prática, com nada.

4.11 As Reformas Pombalinas e as Aulas Régias na Capitania de Santa Catarina e Rio

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