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As Reformas Pombalinas e as Aulas Régias na Capitania do Rio de Janeiro

4. REFORMA DOS ESTUDOS MENORES E OS SEUS DESDOBRAMENTOS NA

4.12 As Reformas Pombalinas e as Aulas Régias na Capitania do Rio de Janeiro

Na ocasião das Reformas Pombalinas em 1759, a Capitania do Rio de Janeiro estava entre as capitanias que mais tinham proeminência no Estado do Brasil. Um dos fatos que constata o que estamos afirmando foi quando em 1763 a capital do Brasil deslocou-se da Capitania da Bahia para essa que ora analisamos. Diante disso, o que se esperava do governo real na ocasião das reformas educacionais era que o Rio não fosse menosprezado como foram as outras capitanias. De fato, o início da tentativa de implantação das regras do Alvará de 28 de junho de 1759 pareceu ser promissora. Já em maio de 1760, o Diretor de Estudos, Dom Tomás de Almeida, obteve do rei a permissão para abertura de concurso para seleção de docentes régios.

Lembremos que o supracitado Alvará dava aos professores régios a condição social de Nobres. Assim, era de se esperar que ninguém seria alçado à nobreza lusa sem que houvesse um esforço hercúleo por parte do aspirante. Com efeito, o concurso previa já de início que o

desembargador do Rio fizesse um exame da vida privada dos candidatos. Não bastava ter domínio intelectual, era necessário estar trilhando os caminhos da “santidade cristã”. Segundo Cardoso (2002), coube ao bispo e aos padres da Diocese que fizessem escrutínios das vidas dos futuros docentes. Essas informações foram obtidas de forma secreta, sem que os candidatos tivessem condições de depois recorrer em caso de sentença desfavorável.

O mais intrigante desse processo seletivo, segundo Cardoso (2002), é que não se exigia dos candidatos à docência a comprovação da formação, por meio de diploma. Bastava que o desempenho na prova fosse de acordo com o que os examinadores esperavam ser o desejável.

Cardoso (2002) descreve em detalhes todo o passo a passo do concurso. Não vamos aqui ater-nos a esses detalhes porque senão estenderíamos muito a análise. Importa saber que ao todo foram aprovados 17 professores no certame.

O mais curioso ainda desse concurso é quando se constata que, segundo Cardoso (2002), entre os 17 professores aprovados 3 eram ex-jesuítas. Como a banca examinadora no Rio de Janeiro permitiu que ex-inacianos participassem de concurso para professores? Essa gritante incoerência poderia ser aceita na banca, mas dificilmente teria a chancela de Portugal. Andrade (1978, p. 42) parafraseia Dom Tomás de Almeida a esse respeito e nos diz o seguinte: “Uma coisa era Sua Majestade consentir que ficassem e outra, que ensinassem a mocidade”. O padre Caeiro (1936) afirmara que na ocasião da expulsão, em 1759, Dom José fizera aos jesuítas a proposta de largarem a Companhia a fim de não sofrerem penalidades extremas. Uns aceitaram, outros foram fieis até o fim. Esses primeiros, o padre Caeiro afirmara que acabaram sucumbindo às fraquezas do momento. São esses “fracos” ex-jesuítas que bateram à porta do antigo algoz para pedir emprego.

O problema é que o concurso foi feito, mas ninguém fora realmente nomeado professor régio por parte da Coroa. Esse descalabro não ficaria sem uma denúncia. Coube ao padre Jorge Nunes fazer a reclamação, em 1765. “Nela afiançava que as cidades do Rio e São Paulo, como as vilas da Vitória e capitanias do Espírito Santo e de Santos, ‘desse Estado do Rio de Janeiro’, se encontravam, nesse momento, sem professores públicos que ensinem a mocidade” (ANDRADE, 1978, p. 43). Segundo Andrade (1978), Dom Tomás de Almeida não ignorou essa crítica e se debruçou ao assunto para verificar de quem era a culpa dessa situação toda. Com efeito, depois de muito analisar quem seria o bode expiatório para a falta de professores na Capitania do Rio de Janeiro, Dom Tomás disse que

A culpa incidia, pois, exclusivamente no Chanceler, uma vez que ele, não podendo, por falta de despacho ministerial, prover as cadeiras vagas, lhe havia recomendado que procurasse, entre os examinados e aprovados, os que se lhe afigurassem mais aptos, devendo o ordenado ser pago “pelos emolumentos que os Pays dos estudantes pudessem pagar, conforme o estilo do Paiz” (ANDRADE, 1978, p. 43).

Analisemos essa assertiva de Dom Tomás. Se a Reforma dos Estudos foi feita pelo rei de Portugal, e no Alvará que instituiu essa mudança previa que o Estado é quem arcaria com a educação e com os salários dos professores, como então a culpa por não ter professores pode ser de um chanceler ou de um desembargador? É claro que o Diretor de Estudos não seria suicida ao ponto de acusar os verdadeiros culpados (Dom José I e o Marquês de Pombal) por tal situação. Era muito mais conveniente achar alguém que levasse a culpa sem que isso lhe acarretasse algum prejuízo pessoal. Por isso, o chanceler fora o culpado.

Não há como enxergar essa situação do Rio de Janeiro de outra forma que não seja o descaso flagrante da metrópole com a colônia na questão educacional. Esse desinteresse chegou a tal ponto que, segundo Andrade (1978, p. 45), o Diretor de Estudos, em 1765, afirmou em carta ao Governador de Pernambuco o seguinte: “Eu não sei nada de como vão os estudos nesse paiz, porque há infinitos tempos que não recebo carta do Chanceler do Rio de Janeiro, meu Comissário nesse distrito”.

A capital do Estado do Brasil não deveria ter chegado a esse ponto lastimável de decadência total das letras. Em que pesem todas as críticas justas e injustas aos jesuítas, o certo é que eles, ao seu modo, pelo menos supriram a colônia do ponto de vista educacional. Essa situação deve ter atormentado o Diretor de Estudos. Nessa linha de raciocínio, Andrade (1978, p. 44) relata a seguinte manifestação vinda de Dom Tomás, em 1766: “nenhum escrúpulo me fica da lamentável falta que há na procidência dos estudos, não só nas Conquistas mas ainda nesse Continente, porque o tenho posto tantas vezes na real presença, com tanta verdade e clareza que até poderei ser censurado de impertinente”. Dom Tomás está convicto de duas coisas: 1ª os estudos nas colônias, sobretudo na brasileira, estão um verdadeiro fiasco se se levar em conta o que fora prometido em 1759; 2ª ele, enquanto Diretor de Estudos, nada tem de culpa em toda essa situação. Como já registramos, ele apontara negligência do Chanceler do Rio de Janeiro e agora claramente está afirmando que interpelou o rei por diversas vezes, mas que em nenhuma delas fora atendido.

Podemos então colocar a seguinte questão para fechar essa análise das reformas pombalinas na Capitania de Rio de Janeiro: como ficou a situação da educação no período de 1759 até 1772? Mais uma vez, como provamos, a Coroa portuguesa não cumpriu com a sua

palavra empenhada em Alvará régio. Embora tenha ensaiado fazer algo, tudo se limitou a um concurso que nem sequer fora consumado, afinal, não houve nomeação do Estado para com os professores aprovados. Os pais é que tiveram que arcar com a educação dos filhos. Mais uma vez o Estado português foi ausente em outra Capitania brasileira, dessa vez a Capital do Estado do Brasil. Em suma, no Rio, como nas outras Capitanias que já estudamos, o que a Coroa ofereceu para o povo desse território foi tão somente um Vazio Educacional.

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