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LITERATURA INFANTIL

3.3 As Representações Sociais na Literatura Infantil

Como pode-se observar, a literatura infantil emerge, desde as suas origens, a uma função “utilitário-pedagógica”, pois as histórias eram elaboradas no intuito de propagar os novos ideais burgueses (OLIVEIRA, 2005), como também elas foram inspiradas nas histórias populares da comunidade.

Quando Moscovici conceituou representações sociais como processo de assimilação e construção da realidade pelos indivíduos, ele institui uma relação entre indivíduo e sociedade, onde as representações sociais são culturalmente construídas, mas não são imóveis, uma vez que os sujeitos sociais podem interagir e modificar esta realidade (MOSCOVICI, 1978).

Oliveira (2005) declara que as pessoas quando criam representações individuais podem validar ou não as representações socialmente formadas. E que por isso, deve-se perceber os leitores como sujeitos críticos e capazes tanto de assimilar como também de

mudar os paradigmas sociais. Sendo assim, na literatura infantil as representações sociais podem ser apreciadas como produtora de conhecimento cultural, na medida que destacam os signos de uma sociedade e definem limites entre o que é permitido e o que não é.

Abric (1998), afirma que a representação funciona como um sistema de interpretação da realidade que dirige as relações dos indivíduos com o seu meio físico e social, determinando seus comportamentos e práticas, sendo assim, sistematiza as finalidades das RS, atribuindo-lhes quatro funções, as quais pode-se identificar na literatura infantil:

1) Função do saber – permitem compreender e explicar a realidade. Na literatura infantil a narração da leitura de um texto proporciona a apropriação da realidade do texto, escrito para uma melhor compreensão do mundo, dos fatos do cotidiano.

2) Função identitária – definem a identidade e permitem a proteção da especificidade dos grupos num campo social, possibilitando-lhes elaborar sua identidade social e pessoal. Na literatura infantil, a criança tem a oportunidade de relacionar a sua realidade com o imaginário da história, identificando-se com um personagem e a situação vivida por ele.

3) Função de orientação – guiam os comportamentos e as práticas, definindo o que é lícito, tolerável ou inaceitável em dado contexto social. Na literatura infantil, as RS contidas no texto destacam os signos de uma sociedade e definem limites entre o que é permitido e o que não é.

4) Função justificadora – permitem, a posteriori, justificar as tomadas de posição e os comportamentos, ou seja, permite aos atores explicar suas ações diante de uma situação ou face aos seus parceiros. Na literatura infantil, a criança pode encontrar determinadas atitudes dos personagens diante de uma situação difícil, como por exemplo a morte, sendo justificada pela dor, a qual ela também poderá estar passando.

Como se pode ver, a narração da leitura de um texto proporciona a apropriação da realidade do texto, escrito para uma melhor compreensão do mundo, dos fatos do cotidiano. Como por exemplo, na narração dos contos de fadas estão lá sentimentos de medos, de amor, de carências, de auto-descobertas, de perdas e buscas, de vida e morte.

De acordo com Abromivich (cit.), os contos de fadas se perpetuam de geração a geração por tratarem de conteúdos da sabedoria popular, essenciais da condição humana.

Nesse sentido, a literatura infantil é um recurso indispensável para a educação de crianças, pois proporciona à criança novas dimensões a sua imaginação, dando-lhe a oportunidade de relacionar a sua realidade com o imaginário da história, pois de acordo com Kaercher (2001) : “A história não acaba quando chega ao fim. Ela permanece na mente da criança, que a incorpora como um alimento de sua imaginação criadora” (p.59). Acredita-se que o contar histórias que abordem temas como perdas e mortes, facilita a compreensão e aceitação da criança para com o fato, pois além de ser uma atividade rica de afetividade é um meio de aproximação entre o adulto e a criança. Uma atividade que estimula a imaginação, sensibilidade, emoção e expressão. Expressão como uma forma de buscar dentro de si os sentimentos, as impressões, os conceitos e representar por meio da fala, do gesto e do corpo.

Essa expressão não significa que o adulto deva sugerir interpretações da narrativa, nem muito menos apontar a moral da história ou aplicações de lições. As conclusões pertencem as crianças e elas perceberão a mensagem e revelarão quando achar conveniente. A respeito disso, Bettelheim (1978) enfatiza o valor que se tem de esperar que a interpretação da história seja da criança, e afirma:

“Explicar para uma criança por que um conto de fadas é tão cativante para ela, destrói, acima de tudo, o encantamento da história, que depende, em grau considerável, de a criança não saber absolutamente por que está maravilhada. E ao lado do confisco deste poder de encontrar vai também uma perda do potencial da história em ajudar a criança a lutar por si só e dominar exclusivamente por si só o problema que fez a história estimulante para ela. As interpretações adultas, por mais corretas que sejam, roubam da criança a oportunidade de sentir que ela, por sua própria conta, através de repetidas audições e de ruminar acerca da história, enfrentou com êxito uma situação difícil. Nós crescemos, encontramos sentido na vida e segurança em nós mesmos, por termos entendido ou resolvido problemas pessoais por nossa conta, e não por eles nos terem sido explicados por outros” (apud ABRAMOVICH, 2006, p.122).

Dessa forma, para facilitar o uso desse recurso tão importante para trabalhar o tema de perdas, como é a morte, fez-se uma pesquisa de levantamento de alguns livros

infantis que tratam do assunto, incluido-se pequena sinopse para ajudar na escolha, a qual encontra-se no apêndice A (p.114).

É importante ressaltar que se deve fazer uma leitura inicial antes de apresentar o livro à criança, preparando-se para possíveis questionamentos como também uma forma de avaliar se o conteúdo do texto é apropriado para situação. Confirmando essa indicação, Abramovich cita a relevância de se ler o livro antes, de sentir como ele nos emociona ou nos irrita, para quando se for ler para a criança poder passar toda a emoção verdadeira, como nos diz a autora: “a emoção que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que, por isso, chega no ouvinte” (cit. p.20).

No próximo capítulo, apresentar-se-á a proposta metodológica da pesquisa, baseada nos princípios metodológicos das representações sociais.

CAPÍTULO IV

METODOLOGIA

“As representações sociais – enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os outros – orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais. Da mesma forma, elas intervêm em processos variados, tais como a difusão e assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais”.

Jodelet, 2001

4.1 Método

Este trabalho apresenta uma pesquisa exploratória , fundamentada nos aportes teórico e metodológico das representações sociais, concentrando-se na identificação, análise e comparação das representações sociais da morte de professoras e pais, em duas instituições de educação infantil, uma pública e outra particular de Brasília/DF.

De acordo com Gonsalves (2003): “A pesquisa exploratória é aquela que se caracteriza pelo desenvolvimento e esclarecimento de idéias, com objetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma primeira aproximação a um determinado fenômeno que é pouco explorado. Esse tipo de pesquisa também é denominada “pesquisa de base”, pois oferece dados elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema” (p.65).

Nessa pesquisa, a compreensão das representações sociais da morte, em instituições de educação infantil, é uma maneira de buscar informações e entender o pensamento coletivo e individual das professoras e pais sobre o assunto.

Com o intuito de conhecer as dificuldades, potencialidades e as características individuais que cada indivíduo possue ao lidar com o tema morte, propõe-se uma

pesquisa qualitativa, a qual permitirá, além de outros, uma aproximação da subjetividade humana com o fato.

A pesquisa qualitativa permite a comunicação direta do pesquisador com o campo e seus participantes, formando parte integrante da produção de conhecimento. As subjetividades do pesquisador e dos sujeitos estudados são parte do processo de pesquisa.

Bogdan e Biklen (1984), apresentam cinco características básicas da pesquisa qualitativa, que dão suporte a essa escolha:

- tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento;

- os dados coletados são predominantemente descritivos;

- a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto;

- o significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e

- a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Utilizou-se um instrumento da pesquisa quantitativa, um questionário endereçado aos pais, como uma forma direta e efetiva de conseguir a participação dos mesmos, além de assegurar uma melhor representatividade desses sujeitos, permitindo uma generalização de uma população mais ampla, como é o caso dos pais. Utilizou-se também desse instrumento com as professoras no grupo focal, de maneira mais participativa.

Segundo Almeida (2001), o questionário é um instrumento que favorece o estudo das representações sociais porque possibilita, por meio de uma análise quantitativa, reconhecer e organizar as respostas, elucidando os aspectos explicativos ou discriminantes de uma dada população (análise intragrupo) ou entre populações (análise intergrupos), além de situar as posições dos grupos estudados em relação aos eixos explicativos.

A fase inicial dessa pesquisa, constituiu-se na construção do objeto, no estudo das representações sociais como também a opção dos instrumentos a serem utilizados, a elaboração do cronograma de atividades, a decisão do local de pesquisa e o suporte teórico, os quais orientaram à coleta de dados e sua análise.

Para Sá (1998) : “A construção do objeto de pesquisa é um processo pelo qual o fenômeno de representações sociais é simplificado e tornado compreensível pela teoria, para a finalidade da pesquisa” (p.23). Com isso, o autor enfatiza que os fenômenos da representação social são mais complexos do que os objetos de pesquisa que construímos advindo deles.Esse mesmo autor destaca algumas decisões iniciais que precisa-se adotar para a construção do objeto de pesquisa, as quais orientou esse trabalho:

1) O enunciado do objeto de pesquisa: As Representações Sociais da Morte para Professoras e Pais em Instituições de Educação Infantil.

2) Quais sujeitos foram investigados? Professoras e pais da educação infantil. 3) O quanto de contexto sócio-cultural levou-se em consideração para esclarecer a formação e manutenção da representação? Escolas de educação infantil particular e pública do DF, situadas no Plano Piloto, uma de cada.

A opção por esse objeto de pesquisa surge da percepção da importância da escola na vida social da criança, que situada em um contexto social, dentro de uma realidade histórica e sofrendo várias determinações externas, têm a função, dentre outras, ultrapassar os processos acadêmicos.

A morte faz parte da vida, e a escola precisa estar preparada para lidar com essa situação, possibilitando à comunidade escolar um espaço de sentido e significação, que gere expressão pela subjetividade social e individual. É imprescindível que o professor de educação infantil entenda que o lugar que ocupa em relação aos seus alunos não é apenas aquele de transmissor do conhecimento. “A dinâmica transferencial atua, assim, no nível simbólico, permitindo relações não perceptíveis, mas tão profundas, a ponto de possibilitarem ou não a aprendizagem” (SILVA, 2006, p.3).

A seguir, apresentar-se-á o estudo piloto, resumidamente, o qual foi realizado com a intenção de qualificar o trabalho “As Representações Sociais da Morte para Professoras e Pais em Instituições de Educação Infantil”, validando um dos instrumentos da pesquisa – o questionário, como também perceber a relevância do tema para a continuidade da proposta.