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6.1 O PROCESSO DE PARIR ASSISTIDO PELA ENFERMEIRA

6.1.4 As sugestões da parturiente para melhorar a assistência

deste estudo foram socializadas no paradigma tecnocrático, sendo difícil romper com o comportamento de falta de confiança em si mesma, o medo da dor, ocultar os sentimentos de pudor, por isso facilmente delegam a responsabilidade de si aos profissionais de saúde; se anulam, não opinam sobre o lugar do parto porque o ambiente hospitalar lhes dá segurança, sentem que devem “colaborar” com o pessoal de saúde, sem reclamar ou exigir nada (DIBBITS, 2007).

6.1.4 As sugestões da parturiente para melhorar a assistência

6.1.4.1 Acolhimento e agilidade na admissão

Nesse sentido, para Beta, que chegou a fase adiantada do trabalho de parto, a esperou na admissão por ter outra gestante na frente, significou um desconforto maior, pois na presença de contrações fortes não tinha como estar à vontade aguardando a sua vez.

A parturiente vive seu tempo em referência ao que está sentindo, ou seja, às contrações, às preocupações, à solidão, à separação e à espera. O diálogo da enfermagem se desenvolveu no tempo cronológico, pois tanto a enfermeira como a parturiente vivem este momento sob o ponto de vista de seu próprio tempo interior (PARTERSON; ZDERAD, 1979). Dessa forma, Beta disse que como profissionais da saúde, devemos acolhê-la de forma carinhosa, respeitosa, mas acima de tudo com agilidade, pois foi muito desconfortável ficar 10 minutos aguardando o atendimento no setor de triagem para ser admitida na instituição. Vê-se que o tempo passa diferente para parturiente, porque ela percebe o tempo não passar quando está sentindo as contrações, e não estando num ambiente que lhe permita a expressão verbal e não verbal, a restrição de seus movimentos interferiu negativamente na sua vivência do processo de parir.

Eu, eu pediria só, um pouquinho mais de atendimento na admissão. É, que você fica sentada lá na cadeira, ficou na falta. Demorou um pouco pra eu ser atendida. Só isso, mais nada a reclamar. É ruim esperar nessa hora em que você está tendo contração. É, a gente quer atendimento. Tá certo que a gente tem que entender o profissional que está atendendo os pacientes que chegaram antes que a gente. Mas

eu gostaria que melhorasse um pouquinho. Que tivesse pelo menos umas duas salas de admissão! (Beta)

O acolhimento como estratégia de interferência nos processos de trabalho não é um espaço ou um local, mas uma postura ética, não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades, angústias e invenções. Desse modo é que o diferenciam de triagem, pois não se constitui como uma etapa no processo, mas como ação que deve ocorrer em todos os locais e momentos do serviço de saúde. Colocar em ação o acolhimento como diretriz operacional requer uma nova atitude de mudança no fazer em saúde e implica em:

- Propagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde;

- Uma reorganização do serviço de saúde a partir da reflexão e problematização dos processos de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada da escuta e resolução dos problemas do usuário.

O acolhimento é uma ação tecnoassistencial que pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e a rede social, através de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, reconhecendo o usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde (BRASIL, 2004b).

6.1.4.2 Ver outra parturiente desesperada apavora

Outra situação vivenciada, que aponta o quanto interfere no processo de parir que vinha acontecendo tranquilamente, aconteceu com Epsilon.

Ela estava na sala de pré-parto, quando foi admitida outra parturiente, a qual chegou desesperada com as contrações e apavorada com medo do parto. Para Epsilon, essa situação representou terror, demonstrando que o ambiente interfere na condução do trabalho de parto humanizado. O ideal seria se tivesse um ambiente individual e privativo para a mulher permanecer no pré-parto, parto e puerpério, mas infelizmente o ambiente do pré-parto é coletivo, ou seja, para três parturientes. Paliativamente, pode-se destinar um quarto de internação vago para acomodar outra parturiente, porém fica mais difícil para uma

enfermeira sozinha acompanhar a evolução do trabalho de parto de duas ou três, quando estão distantes, além de nem sempre ser possível pela ocupação de leitos da maternidade. Dessa forma se percebe em quem está centrada a lógica da atenção à saúde: sobre as necessidades da parturiente ou às necessidades do profissional de saúde?

[...] quando chegou aquela outra menina, chorando, aquilo me apavorou... eu pensava que...he, he... que ia ficar muito pior e que...também o nervosismo porque já há tanto tempo com dor e dor...daí apavorou... (Epsilon)

Um ambiente tranqüilo, sem a influência de outras parturientes seria o ideal, porém em ambiente hospitalar isso é praticamente impossível. No entanto, sempre que possível deve-se proporcionar um ambiente privativo para a mesma, nem que para isso os cuidadores tenham que se deslocar, todavia é preciso considerar a realidade de cada local. Neste caso a demanda era grande e não havia condições de separá- las.

Na prática hospitalar deve-se ter a preocupação para criar um ambiente de tranquilidade e apoio, o mais próximo possível ao ambiente familiar e propiciar conforto físico e emocional para facilitar o contato íntimo entre mãe e criança, o mais precocemente possível. Para tanto, quando as enfermeiras assistem o parto, deixam a mulher livre para escolher se deseja ficar no pré-parto ou ter o seu bebê no Centro Obstétrico, na mesa e na posição tradicional, tanto que para Beta, Eta e Iota o nascimento aconteceu na sala de pré-parto e para Alfa, Gama, Delta, Epsilon, Zeta, Theta ocorreu na sala de parto, por escolha das mesmas. Segundo Zwart2: “Para os mamíferos, o natural é permanecer no ninho durante o parto – e não sair dele. Mas o ninho deve ser seguro. É preciso ter uma infra-estrutura que torne isso possível: água totalmente limpa, comida adequada, o suporte de uma parteira, do médico de família ou de uma enfermeira com formação voltada ao parto”.

Para Odent (2000), quando as mulheres sentem-se confiantes e são observadas durante o trabalho de parto, é comum adotarem posições inclinadas para frente, ou seja, apoiadas nas mãos e nos joelhos, de _____________

2 Zwart, em entrevista concedida à Folha de SP em 22/02/2007. Mary C. Zwart formou-se na Escola de Parteiras de Amsterdã em 1969, é parteira independente há trinta anos e assistiu mais de 4000 nascimentos até o momento, é docente e pesquisadora ligada ao movimento internacional de humanização do parto e do parto e do nascimento e atenção ao parto domiciliar.

quatro, pois ajuda a relaxar a musculatura e a reduzir a atividade de seu neocórtex, estimulando a liberação de hormônios que promovem contrações uterinas efetivas. Essa postura ajuda a lidar com a dor lombar, facilita a rotação do bebê no canal de parto e a descompressão da veia cava e da aorta. A postura de quatro permite à mulher isolar-se do mundo externo com mais facilidade. Para os sujeitos significativos desta pesquisa, a posição adotada para parir foi à tradicional e o som ambiente em baixo volume, com música orquestrada e de relaxamento (sons da natureza) fizeram parte do cuidado, sendo aprovado pelas mesmas.

Me marcou a música que tocava a hora em que eu fui para a sala de parto, era o tema do Airton Sena, me fazendo também me sentir vitoriosa, ao dar à luz. (Theta)

o canto dos passarinhos deste CD, me fazem achar que eu estou em outro lugar, não aqui! (Alfa).

Tendo uma postura pouco intervencionista - no fazer nada, respeita-se o caráter fisiológico e o próprio ritmo dos acontecimentos, o fazer nada, quer dizer também criar condições que permitam à mulher sentir-se segura e confiante, ter paciência, estar junto, acolher, permitir que a parturiente possa viver o prazer e a dor, segundo a sua singularidade (JONES, 2004).

6.2 CONTRIBUIÇÕES DA ENFERMEIRA OBSTÉTRICA À