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4.4 OPERACIONALIZAÇÃO DO ESTUDO

4.4.2 Procedimento para coleta e registro dos dados

A coleta de dados ocorreu no decorrer da prática assistencial, foi realizada nos meses de abril, maio e junho de 2009, durante o horário de trabalho, ou seja, das 13 às 19 h nos dias de semana, das 7 às 19 h em finais de semana, conforme a escala mensal. Esse horário foi estendido em duas situações, isto é, quando o nascimento estava próximo de acontecer.

Na fase de perscrutação, que se refere às estratégias para a obtenção das informações, foi necessário criar condições para que esta acontecesse com eficiência, sempre relacionando com a compatibilidade dos recursos, a adequação dos métodos e a aplicação do referencial

teórico adotado, assim utilizei gravador digital, diário de campo para registrar o diálogo vivido durante o processo de parir e a entrevista posteriormente para a complementação das informações, utilizando novamente o gravador digital. A princípio acreditava que todas as questões emergiriam a partir do diálogo vivido, durante o processo de parir assistido por mim e norteado pelo roteiro guia (apêndice E). No entanto, cada ser é singular e vivenciava esse momento de acordo com sua singularidade, assim acompanhei mulheres que se manifestavam chorosas, gementes, pouco dispostas para um diálogo, outras eram admitidas numa fase bem próxima ao expulsivo, o que também impedia o dar-se a conhecer e conhecer a mulher em seu mundo. Portanto, na segunda participante revi o método de coleta de dados, incluindo além do diálogo vivido no processo de parir, também a entrevista aberta após o nascimento, mas ainda durante o internamento hospitalar.

Da mesma forma, a estratégia de utilizar gravador durante o processo de parir não foi viável, pois esse período podia ser longo, ficando uma gravação por muito tempo silenciosa ou de gemência e choro, descarregando a bateria do gravador e atrapalhando na espontaneidade daquele momento vivido. Além do mais, as práticas estimuladas eram de movimentos, exercícios na bola, deambulação, agachamento, banhos prolongados, incompatível com o alcance da gravação e até porque a proposta era essa, deixá-la livre para protagonizar o seu processo de parir.

Para tanto, utilizei o diário de campo para anotar os pontos chaves das falas, comportamentos, expressões não verbais (como franzir o rosto, sorrir, menear com os ombros, arquear o corpo em resposta à dor, gemência, suspiros), fatos ocorridos, gestos e a percepção intuitiva ao cuidar e pesquisar, bem como notas de observação e de cuidados prestados. Logo após a vivência, procedia a digitação na forma dissertativa do processo vivido para evitar esquecimentos.

Os seguintes instrumentos também serviram como fonte de informações, permitindo o conhecimento da história obstétrica anterior e atual dos sujeitos do estudo, sendo: cartão da gestante, resultado de ultrassonografias, prontuário da cliente (o atual e o anterior).

Ao realizar a coleta de dados norteada pelo diálogo vivido, utilizei um roteiro guia (apêndice E) e entrevista. Usei também o gravador digital, fazendo a transcrição das mesmas após cada encontro, objetivando não esquecer dados importantes e avaliar se o processo estava adequado ou precisaria ser mudado.

A experiência do “diálogo vivido” me permitiu conhecer o que a parturiente fazia..., falava..., quais expressões não verbais ela

manifestava durante o processo de parir. Permitiu a abertura, também, para se deixar conhecer no relacionamento com a parturiente. Proporcionou a experiência da intersubjetividade e da empatia.

4.4.2.1 O caminho se faz ao caminhar

Em abril de 2009, iniciei a coleta de dados e logo percebi que antes de convidar a parturiente para participar da pesquisa, deveria permitir uma aproximação maior e se deixar conhecer, para só então fazer-lhe o convite e obter o consentimento livre e esclarecido para atendê-la no processo de parir. Assim, decidi não abordá-la de imediato na admissão da maternidade, a não ser que chegasse muito próximo ao expulsivo (o que aconteceu uma vez). Desse modo pretendia concluir a coleta de dados em abril e maio, no entanto me deparei com a dificuldade de captar a parturiente em franco trabalho de parto em meu horário de trabalho e algumas das que atendia não evoluíram para o parto. Diante dessa realidade, programei-me para assumir plantões em finais de semana e feriados a fim de obter mais oportunidades de acompanhá-las, bem como se propus a permanecer além do horário para completar o meu propósito.

O contato próximo com o (a) obstetra de plantão, se por um lado trouxe segurança e tranquilidade na evolução da assistência, também trouxe a interferência em outras, fazendo excluir a parturiente do estudo, pois à medida que foi introduzido medicações e inserção de fórceps de alívio na assistência, já deixou de ser conduta da enfermeira obstétrica. Diante de tais situações fiz a seguinte reflexão: a presença do médico obstetra dá respaldo, é uma segurança quando há o respeito pelo saber da enfermeira e vice- versa.

Em todas as categorias profissionais existem aqueles que promovem condutas humanizadas e os mais objetivos e tecnicistas. No trabalho em equipe deve haver o apoio e o respaldo entre os colegas, e em duas situações nas quais teve dúvidas na progressão (proximidade da linha de alerta do partograma, descida da apresentação muito lenta), sentia-me insegura ao tomar a decisão de chamar ou não o plantão médico, pois sabia que este ao vir examinar a parturiente, poderia trazer- lhe traumas e “estragar” todo o cuidado delicado que vinha conduzindo até então (percepção minha e depoimento de duas participantes).

Cada ser é singular e ao perceber que a abertura para o diálogo dependia do estágio em que a parturiente se encontrava na evolução do

período de dilatação, na qual a dor pela contração uterina intensa e frequente a volvia para dentro de si, prejudicando o conhecimento do outro, na relação Eu-Tu. Com isso, nesse momento a presença genuína e silenciosa se fazia mais forte e os dados de interesse para assistência e pesquisa foram colhidos do cartão da gestante, da consulta ao familiar, do prontuário anterior ou dela mesma daquilo que fosse possível, além da percepção subjetiva e das expressões não verbais que manifestasse.

Em alguns casos muitas informações deixaram de ser colhidas por absoluta falta de tempo, pois o final do período de dilatação não era oportuno para a mulher relatar a sua história. Percebi que simplesmente deveria estar presente para algumas, poderia interagir com outras, atenta a seu chamado, respeitando a singularidade de cada mulher naquele momento. Também apurei o olhar sobre a mulher, suas expressões faciais e corporais, seu relacionamento com acompanhante (fosse o caso), bem como os aspectos subjetivos percebidos nesta relação. Para tanto utilizei o diário de campo no qual anotei os pontos chaves e suas observações, em seguida fiz a compilação dos diálogos e as notas de observação digitando no programa microsoft office.

Num segundo momento, fiz nova aproximação junto à puérpera com objetivo de entrevistá-la, que foi acordado com a mulher o melhor horário e local, ainda no período de internamento hospitalar. Com auxílio de um gravador digital obtive as informações das condições socioculturais e qualitativas da vivência do processo de parir, seguida de transcrição da mesma forma.

O encontro para a entrevista aconteceu na própria unidade de internação, no quarto da cliente, quando esta se encontrava sozinha (internada) no quarto, ou na sala de enfermagem para garantir a individualidade e a confidenciabilidade das informações. Utilizei a entrevista individual, na qual ocorreu a interação face a face com a entrevistada, na modalidade de entrevista aberta, norteada pela questão: Falei como foi à experiência de parir sob assistência da enfermeira obstétrica, com a intenção de que o diálogo emergisse de forma espontânea.

Julgo importante destacar que, apesar de minha percepção enquanto cuidadora, prestadora da assistência obstétrica, optei pela entrevista aberta para que viesse à tona a abertura, a empatia, a troca de maneira espontânea, sem direcionamentos e que, por já se conhecerem, teria chance de ser o mais natural possível. A expressividade é muito importante no método fenomenológico para que se possa apreender a realidade vivida. E foi assim que ocorreu. No princípio a mulher ficava constrangida com o gravador, mas à medida que o diálogo fluía, o receio

ficava de lado e nos sentíamos à vontade para contar e ouvir a experiência.