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Para Trentini e Paim (2004) a escolha do espaço físico da pesquisa (local do estudo) é compreendida como o local onde se estabelecem as relações sociais inerentes aos objetivos e finalidade da pesquisa.

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública do interior do Estado de Santa Catarina. A maternidade foi inaugurada em março de 1972, com o compromisso de ser referência no atendimento obstétrico diferenciado para a região, ou seja, atendimento com qualidade técnica e humana.

Em 1987 foi criado o Banco de Leite Humano, com o intuito de incentivar o aleitamento materno, propiciando às mulheres nutrizes apoio e orientação nas questões técnicas e culturais relacionadas à amamentação. Este procedimento diminuiu os altos índices de desmame precoce que ocorriam naquela realidade e, consequentemente, reduziram as internações pediátricas devido à intercorrências como diarréia e desidratação, ocasionadas pela introdução de leite artificial − fenômenos frequentes na região antes da existência do Banco de Leite (NASSIF, 2009).

Segundo a mesma autora, como reconhecimento à mudança de condutas e rotinas, também o cumprimento dos 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, em agosto 1994 recebeu o título “Hospital Amigo da Criança”, o primeiro título conquistado por uma instituição na região Sul do Brasil. Esta homenagem foi atribuída pela Iniciativa Hospital Amiga da Criança, (IHAC) do MS, idealizada em 1990 pela OMS e pela United Nations Children's Fund (UNICEF) para promover, para proteger e apoiar a amamentação.

Em 1997 esta maternidade recebeu um prêmio da Rede Brasil Sul de Comunicação, pelo trabalho de incentivo ao aleitamento materno. Como a premiação consistia em recursos financeiros, a verba recebida possibilitou a aquisição de um automóvel utilitário, materiais e equipamentos para as atividades educativas desenvolvidas no Banco de Leite Humano (NASSIF, 2009).

A maternidade possui 40 leitos, sendo trinta e um credenciados pelo Sistema Único de Saúde, destinados para a assistência obstétrica e nove para a assistência neonatal. Estes últimos estão distribuídos na UTI neonatal (cinco leitos) e na UTI intermediária (quatro leitos). Estas duas unidades para assistência neonatal foram inauguradas em 29 de março

de 2.008. A maternidade faz atendimento às gestantes de baixo e médio risco, com uma média mensal de aproximadamente 100 nascimentos por mês (NASSIF, 2009).

A maternidade possui a missão de prestar assistência segura e humanizada em obstetrícia e neonatologia, é reconhecida como referência para a região do Planalto Norte Catarinense

(MATERNIDADE DONA CATARINA KUSS, 2007).

Atualmente, a maternidade atende preferencialmente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que se trata de uma instituição pública, mas presta também atendimento a pacientes de convênios como UNIMED, Instituto de Previdência do Município, FUSEX e particulares, sendo 7 leitos. Oferece atendimento obstétrico e neonatal, psicológico, fisoterápico, serviço social e fonoaudiológico. Os recém- nascidos saem da maternidade com o seu registro civil, uma vez que há uma agência cartorária nas suas dependências. Também recebem a primeira dose da vacina contra hepatite B, fazem o teste da orelhinha e do olhinho. Os prematuros internados na UTI neonatal coletam o exame do pezinho na própria maternidade. Além disso, a instituição possui serviço de radiologia próprio e convênio para exames de imagem (ultra- sonografia) para as gestantes e bebês que necessitam de acompanhamento especializado (NASSIF, 2009).

O quadro funcional da instituição é composto pelos seguintes colaboradores: 11 enfermeiras (4 obstétricas), 6 médicos obstetras, 6 pediatras, 1 psicólogo, 1 assistente social, 1 nutricionista, 2 fisioterapeutas e 42 auxiliares e técnicos de enfermagem, além de outros profissionais nos setores de cozinha, limpeza, lavanderia, portaria, entre outros.

A área física da maternidade está muito diferente de quando foi inaugurada, pois necessitou ampliação e adequação para acomodar os serviços atualmente existentes. No ano de 2001 o bloco cirúrgico foi totalmente reformulado, com a finalidade de atender às exigências técnicas para esta área, com a construção de barreiras físicas, melhorando o fluxo de pessoas e materiais para o centro obstétrico e para o centro de materiais de esterilização (CME), seguindo as normas da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH (NASSIF, 2009).

A maternidade é constituída pelos seguintes setores assistenciais: Neonatologia (unidade intensiva e intermediária), Bloco Cirúrgico, Alojamento Conjunto e Banco de Leite Humano.

O Bloco Cirúrgico compreende a Central de Materiais e Esterilização (CME), uma sala de curetagem, uma sala de ressuscitação

neonatal e três salas de parto, sendo duas destinadas preferencialmente para a realização de partos cirúrgicos, uma especialmente destinada à realização de partos vaginais distócicos e eutócicos. Neste local atua uma equipe de enfermagem específica, composta por 12 profissionais de nível médio, coordenados pela enfermeira responsável pelo Alojamento Conjunto (NASSIF, 2009).

O Alojamento Conjunto é composto por 18 quartos de internação (sendo 7 destinados a convênios e particulares e 11 para usuários do SUS), onde permanecem tanto as gestantes em tratamento clínico obstétrico, como também àquelas que se encontram em trabalho de parto e pós-parto. Além dos 18 quartos, há também uma sala com 3 leitos obstétricos, destinados às mulheres que se encontram em franco trabalho de parto, sendo que ali também eventualmente ocorrem partos vaginais. No Alojamento Conjunto há um posto de enfermagem, estrategicamente posicionado, de onde a equipe de enfermagem coordena a assistência a todas as gestantes, parturientes e puérperas. As enfermeiras, além de serem responsáveis pela gerência do cuidado, realizam partos na sala de pré-parto. Em cada plantão no Alojamento Conjunto há uma enfermeira e um auxiliar ou técnico de enfermagem. Este profissional de nível médio auxilia a enfermeira no cuidado à parturiente, realizando também os controles obstétricos e demais procedimentos. Os plantões são de 6 e ou 12 horas durante o dia e de 12 horas durante o período noturno (NASSIF, 2009).

A sala na qual realizam os partos, ocupa lugar de destaque no Alojamento Conjunto. Diferente de outras instituições, não está situada no bloco cirúrgico ou obstétrico, o que permite à parturiente maior liberdade de movimentação, inclusive para deambular fora do quarto, mantendo maior contato e intimidade com os familiares que porventura estejam a acompanhando. Esta sala está situada entre os quartos, logo em frente ao posto de enfermagem, composta por três leitos separados lateralmente com uma divisória de MDF e cortinas blecault, o que permite manter a privacidade da paciente e seu acompanhante, porém não impede a propagação de sons. Possui um banheiro exclusivo para as parturientes e tem disponível um aparelho de som para ouvirem música, se assim desejarem, “bola de Bobath”, para exercícios da parturiente e outros pequenos equipamentos para a realização de massagem. Apesar de não possuir cama de estrutura PPP, ou seja, pré-parto, parto e pós- parto, a sala de pré-parto está preparada para o atendimento de partos normais sem distócia (NASSIF, 2009).

A gestante, ao dar entrada na maternidade, segue o seguinte fluxo: é recebida no hall da entrada principal, onde se situam os setores

de recepção e de admissão. A equipe de recepção (composta por auxiliares administrativos) recebe a mulher e comunica a enfermeira do Alojamento Conjunto, que faz então o acolhimento e o exame para a sua admissão. As mulheres que procuram a maternidade quase sempre chegam por demanda espontânea, ou seja, por estar em trabalho de parto ou por outra intercorrência clínica obstétrica, ou por encaminhamento médico do pré-natal. Após a triagem pelo exame obstétrico, a enfermeira comunica ao médico responsável pelo plantão sobre as condições da gestante e então é realizado o internamento ou encaminhamento necessário (NASSIF, 2009).

A equipe médica que atende no Bloco Cirúrgico é a mesma que atua no Alojamento Conjunto. No período diurno há sempre um obstetra e um pediatra responsáveis pela assistência, porém estes o cumprem em regime de sobreaviso. No período noturno permanecem de plantão um obstetra e um pediatra que atuam das 20 horas até as 8 horas do dia seguinte. Somente passam visita às clientes, na instituição, na primeira hora da manhã e tomam conhecimento acerca das clientes internadas. Após, saem para atividades extra-hospitalares, mantendo-se, no entanto, em sobreaviso, ou seja, só comparecem novamente ao hospital de forem chamados pela enfermeira para a realização de cesáreas, em situações de partos distócicos, ou qualquer outra situação que a enfermeira necessite da presença do médico (NASSIF, 2009).

A referida instituição atende somente casos de obstetrícia e neonatologia, têm em média 60 partos vaginais/mês, já a taxa de cesárea está em torno de 40 a 45%. A taxa de ocupação ao mês varia de 60 e 80 % (MATERNIDADE DONA CATARINA KUSS, 2009).

Tendo compromisso com a formação de outros profissionais, a unidade abre espaço para o ensino, servindo de campo para a prática assistencial e estágios curriculares de estudantes de cursos de nível médio e superior em Enfermagem e da graduação em Fisioterapia, além de oportunizar a realização de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) desses alunos e daqueles de Psicologia e Administração da Universidade do Contestado - Campus Mafra, SC.

A maternidade é reconhecida como serviço de referência em neonatologia de risco, recebendo gestantes, mães e recém-nascidos procedentes de Mafra, Monte Castelo, Major Vieira, Canoinhas, Três Barras, Rio Negrinho, São Bento do Sul, Itaiópolis, Santa Terezinha e Rio Negro, esta do Estado do Paraná.

Atualmente, a instituição possui quatro enfermeiras obstétricas, que são responsáveis pela admissão da mulher em trabalho de parto, pelo acompanhamento da evolução do processo de parir. Por

acompanhamento obstétrico se entende o controle dos batimentos cárdio-fetais, da dinâmica uterina, da dilatação cérvico-uterino, da descida da apresentação fetal, do gotejamento do fluido intravenoso em casos de indução do trabalho de parto (sob prescrição médica), aplicação das técnicas alternativas de alívio à dor, higiene e conforto, dos sinais vitais, avaliação de anormalidades e aparar o bebê no período expulsivo, bem como realizar os cuidados de reanimação ao recém-nascido na ausência do pediatra.

A enfermeira obstétrica não está credenciada para “fazer o parto”, no sentido de não estar formalizado para legalmente assinar a autorização de internamento hospitalar (AIH). No entanto, ocorre eventualmente quando o obstetra não se faz presente, por estar em outro procedimento quando ocorrem partos simultâneos, cesariana e/ou curetagem uterina, devido à chegada da parturiente já em período expulsivo, devido a impedimento pessoal ou por pactuar com a enfermeira obstétrica do plantão para assumir se prontificando em vir imediatamente, caso ela precise. Essa situação ocorre somente com as clientes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). O livro de registro de procedimentos do Centro Obstétrico (CO) aponta uma média de dez partos/mês atendidos pela enfermeira obstétrica e isso representa 16% dos partos normais.

Nessa situação a enfermeira obstétrica assiste o parto e o nascimento no pré-parto ou na sala de parto tradicional, respeitando o desejo da parturiente e apoiando-a em suas necessidades. As técnicas de enfermagem que atuam diretamente nos cuidados às parturientes no alojamento conjunto, possuem perfil profissional e qualificação para esse apoio, sendo dedicadas e carinhosas com as mulheres. Apesar da presença do acompanhante de escolha da mulher ser um direito garantido por lei, ainda enfrentam resistência por parte de alguns membros da equipe de saúde para que o mesmo seja cumprido.

O modelo de assistência ao parto que prevalece na instituição é o biomédico, centralizado no saber médico, apesar da instituição ser reconhecida com os prêmios que emanam da política governamental de humanização ao nascimento e parto.