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2.4 A COMPREENSÃO DA MULHER ACERCA DO FENÔMENO

2.4.1 De dentro para fora e de fora para dentro no processo de

O parto constitui em um acontecimento de relevância na vida da mulher, uma vez que é um momento único para o binômio, mãe e filho; envolve aspectos psicológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, é considerado por diversos autores um fenômeno complexo (MALDONADO, 2002), despertando o interesse de pesquisadores de várias ciências, entre elas a enfermagem.

Fisiologicamente, grande parte dos trabalhos de partos e nascimentos segue um padrão consistente, à medida que as contrações uterinas se intensificam, a cérvice esvai e dilata. Empurrado pelas contrações uterinas e pelos esforços dos puxos maternos, o feto desce o canal do parto, realizando seus movimentos fundamentais. São fenômenos plásticos e mecânicos que ocorrem simultaneamente, como

uma sinfonia para nascimento; estes fenômenos podem perdurar por horas sem que haja qualquer problema (NEME, 2005). O estudo de Caparroz (2003) constatou que o tempo de duração do trabalho de parto na fase ativa, ao receber cuidados solidários, como massagens, relaxamento proporcionado por banhos, reduziu significativamente, comparado ao atendimento tradicional.

Sob a perspectiva antropológica, o nascimento é diferentemente percebido, organizado e padronizado, conforme os valores atitudes e crenças de cada cultura. Assim, a perspectiva do nascimento, como um rito de passagem, tem a sua importância pela sua função de socialização. O nascimento do primeiro filho é um momento extremamente delicado, pois existe a passagem da mulher como gestante para puérpera e mãe, na qual deve incorporar diversos papéis sociais. Assim, além de atender os aspectos biológicos, as pessoas envolvidas no nascimento, que historicamente sempre foram elas, as mulheres desenvolveram ritos de cuidados para incorporar o novo: a mãe e o recém-nascido (MONTICELLI, 1997).

No aspecto biológico, o processo de parir é fisiológico, natural e faz parte da vida de todo o ser humano. O sistema endorfínico não só tem papel crucial no trabalho de parto como também opera como um “sistema de recompensa” intrínseco, recompensando todos os aspectos do comportamento sexual e reprodutivo. A ocitocina é o chamado hormônio do amor, que, entre suas outras funções, estimula as contrações uterinas durante o orgasmo, o trabalho de parto e o parto em si, é também o hormônio que estimula a secreção do leite materno (ODENT, 2002).

A presença de altos níveis de endorfinas, tanto na mãe quanto no recém-nascido, sugere a forte probabilidade de existência de uma base hormonal para o processo de apego, isto ocorre nas primeiras horas e dias após o parto. Em termos gerais, a existência desses neuro- hormônios complexos confirma a crença da interconectividade de todos os aspectos da vida e, uma vez que a secreção balanceada de hormônios é uma questão delicada, altamente influenciável pelas condições externas e pelo estado psicológico; representa mais um argumento poderoso contra a interferência médica ou a perturbação do processo fisiológico do parto (ODENT, 2002).

Estudos sobre a saúde primal demonstram quantos malefícios que condutas intervensionistas e intempestuosas podem causar ao recém- nascido, como por exemplo, o uso de entorpecentes no processo de parir e a associação ao uso de drogas na fase da adolescência, porque as drogas utilizadas no processo de parir interferem no complexo hormonal

natural no qual a embebição de ocitocina e endorfina na mãe e bebê lhes conferem a capacidade de se “viciar” e se ligar pelo amor por toda a vida (LUZES, 2007).

No processo do nascimento são plasmados no âmago do bebê, de forma muito profunda, certas noções e qualidades que ficam impressos no seu inconsciente por toda a vida. Sabe-se, hoje, que uma grande conseqüência do advento do parto hospitalar com anestesia foi o surgimento de uma população de drogados, pois a partir da década de sessenta houve um considerável aumento de viciados em drogas, coincidindo com a primeira geração da história a nascer sob sedação. Há também correlação entre o surgimento do parto hospitalar tecnológico e o aparecimento de autismo, bulemia, anorexia, dificuldade de socialização, tendência a cometer delitos e o suicídio (LUZES, 2007).

Leboyer (2004), em seu livro, trata sobre histórias de bebês nascidos em casa, nele inclui fotos de parto que mostram que um recém- nato não precisa nascer todo enrugado, que se o parto acontecer sem estresse, na penumbra, com toda a privacidade possível, o bebê pode nascer sorrindo. O nascer enrugado se deve aos níveis de hormônios de estresse presentes na corrente sangüínea do bebê e que só serão eliminados dois meses e meio após o parto, quando então ele poderá sorrir. “O recém-nascido é como um espelho. Reflete sua imagem. Depende de vocês não fazê-lo chorar” (LEBOYER, 1998, p. 150).

Indivíduos respeitados e acolhidos em seu processo de parir e de nascer são cidadãos e potencialmente futuros cidadãos resolvidos, empoderadas para cuidar e serem felizes, com menor risco para se envolverem com drogas e violência. “Para mudar a vida é preciso primeiro mudar a forma de nascer” (ODENT, 2002, p.56).

O parto torna-se um momento imprevisível e desconhecido para a mulher, considerando que cada parto independentemente que a mulher já tenha passado por outros são episódios de extrema importância e únicos em sua vida. Traz consigo expectativas, perspectivas, esperanças, preocupações, medos, ansiedades e angústias. Precisa de uma assistência competente e humanizada. A mulher busca uma assistência capaz de garantir sua integridade física e emocional e de seu filho (FREITAS et al., 2003).

Tratando sobre o período pós-parto, Machineski, Schneider e Bastos (2006) referiram que, neste período, a mulher precisa de apoio tanto familiar como social, para enfrentar as alterações que ocorrem em sua mente e corpo, necessitando de ajuda para compreender seu novo papel e construir uma relação mãe-filho.

2.4.2 As percepções e significados de parir no contexto hospitalar