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3.2 IDEIAS PRINCIPAIS DA TEORIA DE ENFERMAGEM

3.3.7 Objetos

As transações enfermeira-parturiente se desenvolvem em meio a um mundo de objetos, sejam da vida cotidiana (cobertor, móveis, roupas, TV, livros) ou, todos os tipos de aparatos clínicos. Ao entrar no processo de parir, a mulher pode ser incapaz de manipular seus objetos cotidianos, tornando-se travas e obstáculos. Imagine, então, ao dar entrada numa maternidade, ali ela se vê num mundo estranho rodeado de objetos novos, com pessoas estranhas, máquinas, instrumentos e soluções químicas, despertando sentimentos como: confusão, terror, medo, dor, insegurança. Para a enfermeira esses objetos são familiares, ajudas valiosas. “Os objetos em si mesmos, assim como as relações podem servir para alentar ou inibir a transação intersubjetiva da enfermagem” (PATERSON; ZDERAD, 1979, p.63, tradução própria).

Na assistência obstétrica os objetos podem significar para a parturiente certa dependência destes para parir, passando-lhes a mensagem subliminar de que não são capazes de parir por sua natureza e então necessitam daquele aparato. A enfermeira deve perceber essas relações e no diálogo empoderar a parturiente para comandar o processo de parir, independente do aparato tecnológico, que está ali apenas como medida de segurança.

3.3.8 Tempo

A enfermagem dialogal inserida num mundo real deve ser concebida tal como acontece no tempo cronológico, também no tempo vivido pela parturiente e pela enfermeira (PATERSON; ZDERAD, 1979).

Quando se diz que a enfermeira está com o paciente nas 24 horas do dia, isso não é verdade, como função ela é permanente, porém se deve considerar que as enfermeiras são seres individuais e elas vão e vêm (conforme sua escala de plantão). Não se pode esquecer que a transação intersubjetiva viva acontece entre uma enfermeira e uma parturiente singular (PATERSON; ZDERAD, 1979).

As enfermeiras dizem, com frequência, que não têm tempo suficiente para prestar cuidados da forma como gostariam, mas que mesmo assim, tratam de “fazer dar um tempo” para aquelas pacientes que lhes perguntam: dispõe de um momento?

O paciente vive seu tempo em referência ao aborrecimento, à pena, à solidão, à separação, à espera. O diálogo da enfermagem se desenvolve no tempo cronológico pois, tanto a enfermeira como o paciente, vivem este sob o ponto de vista de seu próprio tempo interior (PATERSON; ZDERAD, 1979, p.65, tradução nossa).

No diálogo genuinamente intersubjetivo a enfermeira está sincronizada e o seu fazer evidencia o “estar com”, o “fazer com” a parturiente, de modo que quando ela percebe a oportunidade para o diálogo, faz uma adequação do ritmo de seu chamado e resposta, à capacidade da parturiente para chamar e responder naquele momento, assim ela espera, antecipa, quase inconsciente ou intuitivamente, a parturiente (PATERSON; ZDERAD, 1979).

3.3.9 Espaço

O ambiente físico pode servir para facilitar ou impedir o diálogo da enfermagem. As experiências prévias da parturiente podem fazê-la associar mentalmente àquele lugar (parto anterior, hospitalização anterior, sala de emergência, centro cirúrgico) e fazê-la desejar estar em outro lugar. Mesmo sendo uma maternidade agradável, ela vai dizer que preferia estar em casa. Para a enfermeira estar de verdade, com a parturiente implica que a conheça em seu espaço vivo, em seu aqui e agora (PATERSON; ZDERAD, 1979).

A pessoa pertence a seu lugar e quando se encontra em um lugar novo, pode sentir o incômodo de não pertencer a ele.

verdade tanto para a enfermeira como para o paciente. Uma vez mais respeito a isso, o diálogo da enfermagem é estimulado pela consciência que a enfermeira tem não só de sua própria experiência do espaço, sim também do paciente (PATERSON; ZDERAD, 1979, p.67, “tradução nossa”).

3.3.10 Acolhimento

É o estabelecer de uma relação solidária e de confiança entre profissionais do sistema de Saúde e usuários ou potenciais usuários, entendida como essencial ao processo de co-produção da Saúde, sob os princípios orientadores do SUS (universalidade, integralidade e equidade). Traduz-se nas atitudes dos profissionais, também nas condições e processos de trabalho envolvidos na recepção e atendimento aos cidadãos, onde quer que ele se dê: na comunidade, nos ambulatórios, em hospitais ou demais unidades e serviços de saúde (BRASIL, 2008).

4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na modalidade convergente- assistencial. Esse tipo de pesquisa foi proposto por Mercedes Trentini e Lygia Paim, brasileiras, enfermeiras, doutoras e docentes de enfermagem. A Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA) traça um desenho que une o fazer e o pensar na prática em Saúde-Enfermagem (TRENTINI; PAIM, 2004).

A minha opção por este referencial decorreu da necessidade sentida em articular teoria e prática na construção de conhecimentos novos em enfermagem, já que, segundo suas autoras, esta modalidade de pesquisa procura manter em todas as fases do processo investigativo, uma estreita relação com a prática assistencial, tendo como finalidade “encontrar alternativas para solucionar ou minimizar problemas, realizar mudanças e introduzir inovações na prática” (TRENTINI; PAIM, 2004, p. 28).

A abordagem metodológica da PCA, no entendimento de Trentini e Paim (2004, p.29), “é o ‘saber fazer’ une-se ao ‘saber pensar’, mediante o processo de ‘aprender a pensar o fazer’, e este culminará para o ‘refazer’”. Assim, a PCA promove maneiras eficientes de concretizar mudanças significativas na prática da enfermagem ou na prática de outras profissões da saúde. Este método articula a prática profissional com o conhecimento teórico, faz do pesquisador um sujeito participante e corresponsável no processo de pesquisa.

Neste tipo de investigação o tema da pesquisa deve emergir da prática profissional cotidiana do investigador, e assim sendo, estará relacionado à situação-problema da prática. O desenho metodológico da PCA permite que as ações desenvolvidas na prática assistencial possam concomitantemente ser incorporadas ao processo de pesquisa, do mesmo modo que as ações de cunho investigativo podem ser igualmente incorporadas na prática assistencial desenvolvida.

De acordo com a definição de Trentini e Paim (2004), a PCA é aquela que inclui uma variedade de métodos e técnicas de coleta e análise de dados, pelo fato de que além de obter informações, a pesquisadora envolve os sujeitos significativos ativamente nos processos de pesquisa e assistência. Tem como principal característica a articulação intencional com a prática assistencial, a qual colabora

principalmente para a coleta de dados da pesquisa.

Os principais indicadores de identidade da PCA são: 1) Manter, durante seu processo, uma estreita relação com a prática assistencial com o propósito de encontrar alternativas para solucionar ou minimizar problemas, realizar mudanças e/ou introduzir inovações no contexto da prática em que ocorre a investigação. 2) O tema da pesquisa deverá emergir das necessidades da prática reconhecidas pelos profissionais\e ou pelos usuários do campo da pesquisa. 3) O pesquisador assume o compromisso com a construção de um conhecimento novo para a renovação das práticas assistenciais no contexto estudado. 4) A PCA deve ser desenvolvida no mesmo espaço físico e temporal da prática. 5) Os pesquisadores deverão estar dispostos a inserirem-se nas ações das práticas de saúde no contexto da pesquisa durante seu processo. 6) A PCA permite incorporação das ações de prática assistencial e outras práticas relacionadas à saúde no processo de pesquisa e vice-versa (TRENTINI; PAIM, 2004, p.157).

A PCA possui outra característica, que é considerada importante, pois ressalta que sua utilização implica no compromisso de trazer benefícios para o contexto assistencial, não só durante, mas também após o processo investigativo.

Caracteriza-se por movimentos de proximidade, distanciamento e convergência do saber-fazer profissional, oportunizando trocas recíprocas de informações ao longo dos processos da prática assistencial e da pesquisa.

A prática não se restringe à aplicação concreta dos conhecimentos teóricos, por mais que isto seja parte integrante. Prática, como teoria, perfaz um todo, e como tal está na teoria, antes e depois. Sobretudo, prática não aparece apenas como demonstração técnica do domínio conceitual, mas como modo de vida em sociedade a partir do cientista (DEMO, 2000, p. 59).

Essa referência citada por Demo (2000) reforça que o “saber- fazer”; à revelia da teoria, pode valorizar as técnicas utilitárias imediatistas.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL E DO CONTEXTO DO