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As telecomunicações no Brasil

5 O CASO TELEMAR-MINAS: HISTÓRICO

5.2 As telecomunicações no Brasil

Até o final da década de sessenta, o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil era tímido, os serviços precários, e a legislação pobre e obsoleta. Os serviços de radiocomunicações eram regulados apenas pelo Decreto-Lei 21.111, de 1932. Havia pouco mais de um milhão de telefones para uma população de mais de 70 milhões de pessoas. Dois terços desses telefones eram de propriedade da Companhia Telefônica do Brasil, pertencente ao grupo canadense Brazilian Traction, e o restante pertencia a mais de novecentas pequenas empresas e serviços municipais já obsoletos, não havendo uma

política nacional que os englobasse. Várias capitais estaduais não tinham comunicação telefônica entre si.

Em 1961, alguns incidentes políticos aconteceram, entre eles a suspensão da Rádio Jornal do Brasil, que provocou reações da mídia e da maioria dos membros do Congresso Nacional. Em maio desse ano, o governo federal criou o Conselho Nacional de Telecomunicações - CONTEL -, por meio do Decreto no. 50.661, com o objetivo de controlar a exploração dos serviços de radiodifusão. O terceiro fato relevante foi a transferência da Comissão Técnica do Rádio do Ministério de Viação e Obras Públicas para o Ministério da Justiça, o que infundiu um temor de cerceamento da liberdade entre as emissoras de rádio e TV. Até que, em 1962, o Congresso Nacional votou a Lei no. 4.117, contendo o Código Brasileiro de Telecomunicações, a partir do qual foi estabelecida a política nacional para as telecomunicações. A importância dessa lei é que ela representa o marco de criação do Sistema Nacional de Telecomunicações, que colocou sob a jurisdição da União os serviços de telegrafia, radiocomunicações e telefonia interestaduais, atribuindo-lhe ainda competência para explorar diretamente os troncos de microondas do Sistema Nacional de Telecomunicações, instituindo o Fundo Nacional de Telecomunicações - FNT -, com a finalidade de financiar as atividades da EMBRATEL, empresa que futuramente iria explorar os troncos integrantes do SNT. O Código definiu ainda as relações entre o poder concedente e o concessionário, no que se refere à radiodifusão. O CONTEL, criado anteriormente teve como secretaria executiva o Departamento Nacional de Telecomunicações – DENTEL, cujas atribuições eram aprovar as especificações das redes telefônicas e estabelecer critérios para a fixação de tarifas no território nacional.

As bases do sistema estavam lançadas, mas foi efetivamente nos governos militares que as telecomunicações alcançaram grande desenvolvimento. Em 1965 foram criados o Conselho Nacional de Telecomunicações e a Empresa Brasileira de Telecomunicações – EMBRATEL. Segundo SIQUEIRA (1998), o Contel, o segundo órgão com esse nome,

passou a funcionar como órgão executivo e regulador, até que foi criado, em 1967, o Ministério das Comunicações. Coube à EMBRATEL implantar os troncos de microondas de longa distância e as comunicações internacionais. Em 1967, foi criado o Ministério das Comunicações, ficando sob sua jurisdição o DENTEL e a EMBRATEL. O CONTEL foi extinto, tendo o Ministério assumido suas funções. .

Em 1972, o Congresso Nacional votou a Lei no.5.792, criando a Empresa de Telecomunicações Brasileiras S.A - TELEBRAS, atribuindo-lhe os recursos do FNT e autorizando a transformação da EMBRATEL em sociedade de economia mista, subsidiária da Telebras, empresa holding que controlava 28 subsidiárias; uma, a EMBRATEL, responsável pelo ramo de serviços de longa distância, e as demais 27, responsáveis pelos serviços locais e intra-estaduais. Como havia naquela época centenas de concessionárias estaduais, municipais e privadas operando no país, a TELEBRAS absorveu quase todas, passando a haver uma por estado, tendo-se assim formado o Sistema TELEBRAS. A Companhia Telefônica do Brasil - CTB, que até então operava em cinco estados, acabou dando origem à TELESP, TELERJ, TELEMIG e TELEST.

No período compreendido entre 1969 e 1973 a EMBRATEL assumiu os serviços internacionais, cuja exploração ainda estava em parte nas mãos de empresas estrangeiras, que não atendiam às necessidades do país. Em 1969, a empresa lançou a discagem direta a distância, que foi implantada inicialmente entre Rio-São Paulo, São Paulo-Brasília, São Paulo-Salvador, São Paulo-Belo Horizonte, até atingir todo o território nacional. Ainda nesse mesmo ano, inaugurou a primeira estação terrestre via satélite, no Estado do Rio de Janeiro. No âmbito internacional, modernizou sua infra-estrutura, lançando os cabos submarinos BraCan (Brasil-Canárias) e BUS (Brasil-Estados Unidos). Na década de oitenta, foram lançados dois satélites ao espaço, consolidando o desenvolvimento da EMBRATEL. Em 1976, foi criado o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da TELEBRAS, que representou um marco na política tecnológica e na política industrial do setor. O CPqD desenvolveu isoladamente ou em parceria com indústrias, equipamentos e

sistemas de telecomunicações até o nível do protótipo, trnasferindo a tecnologia às indústrias, que pagavam royalties de 3% do valor das vendas. O CPqD foi bem sucedido, tendo desenvolvido um programa de comutação digital e o telefone público a cartão, além de outros nas áreas de optoeletrônica, transmissão de voz e dados, gerenciamento de rede das operadoras, tornando-se internacionalmente reconhecido.

Em 1990, o governo federal criou o Programa Nacional de Desestatização – PND , tendo a privatização se tornado parte das reformas econômicas. Nessa primeira fase do programa, foram privatizadas empresas do setor industrial (siderurgia, fertilizantes, petroquímica), mas só a partir de 1995 é que se priorizou a privatização. A agenda governamental incluiu nesse programa os setores de eletricidade, transporte e telecomunicações, tendo-se dado início em 1997 à desestatização de empresas estaduais, que contaram em sua maioria com o apoio do BNDES.

Após 1995, o contexto das telecomunicações no Brasil alterou-se profundamente, caracterizando o que SIQUEIRA (1998) chama de “terceiro momento” da historia das telecomunicações no Brasil. Como foi exposto no início deste capítulo, o setor de telecomunicações experimentou transformações que tiveram origem na globalização da economia e na evolução tecnológica, e a privatização foi uma estratégia usada para a inserção do mercado brasileiro no mercado internacional. Setores como o siderúrgico e o de telecomunicações representavam grande potencial para o país entrar no processo de globalização, principalmente porque eram lucrativos e permitiriam a aproximação entre as empresas oligopolistas e seus fornecedores e consumidores; entre a globalização e as estratégias tecnológicas e financeiras (COUTINHO, 1996). O setor siderúrgico passou por um processo amplo de reestruturação, que começou alguns anos antes da privatização e que ainda continua. O mesmo ocorreu no Sistema Telebras e o Programa, denominado PASTE envolveu grandes investimentos do Estado brasileiro para garantir a atratividade econômica para o mercado. Em 1994, o Sistema Telebras investiu US$3,4 bilhões aproximadamente, representando um aumento de 14,9% em relação ao ano anterior.

Em 1995, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional que abolia o monopólio estatal das telecomunicações. Foi elaborado o plano de investimentos plurianual, Programa de Ampliação e Recuperação do Sistema de Telecomunicações e do Sistema Postal – PASTE, cuja primeira edição apresentou diretrizes para o programa de investimentos no período 1995-1999, com enlace até 2003, a ser executado pelas empresas do setor - públicas e privadas-, prevendo as seguintes ações: reprofissionalização dos quadros técnicos e gerenciais das empresas do Sistema TELEBRAS e da ECT; regulamentação dos serviços de telecomunicações; adoção de pacto ético para o setor; modernização dos sistemas postais; implementação de modelo institucional para a área de telecomunicações. O PASTE procurou incentivar a concorrência na exploração dos serviços, com intensa participação de capitais privados, bem como a implantação do cenário de transição para a privatização total das telecomunicações. (BRASIL. Ministério das Comunicações, 1999).2

Em julho de 1996, o Congresso Nacional aprovou a chamada Lei Específica ou Lei Mínima (Lei no. 9.295, de 1996), que abriu os serviços celulares da banda B ao mercado privado, além dos serviços via satélite, serviços limitados, trunking, paging e redes corporativas. Em 1997, o Congresso elaborou a Lei Geral de Telecomunicações (Lei no. 9.472), que redefiniu o modelo institucional das telecomunicações brasileiras e criou a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, órgão regulador do setor, que foi instalado nesse mesmo ano. À ANATEL foram atribuídas as funções de implementar a política nacional de telecomunicações; regulamentar e fiscalizar os serviços e redes de telecomunicações; celebrar e gerenciar contratos de concessão; fixar e controlar tarifas dos serviços; expedir normas e padrões; reprimir infrações aos direitos dos usuários e da ordem econômica, entre outras. Os contratos de concessão visaram a garantir a universalização dos serviços telefônicos dentro dos padrões requeridos de rapidez, atualização tecnológica, segurança e preço. A universalização tem por objetivo possibilitar o acesso de qualquer

pessoa aos serviços de telecomunicações, independentemente de sua localização e condição socio-econômica e deverá, na prática, ser atingida gradualmente. Além disso, a universalização implica em utilização das telecomunicações em serviços essenciais, de interesse público.

Foi ainda em 1997 que se concluiu a licitação internacional da banda B celular, iniciada no ano anterior, que rendeu mais de R$8,3 bilhões aos cofres públicos. A preparação para a privatização da Telebras envolveu a reestruturação dessa estatal, resultando em sua fragmentação em doze holdings regionais, sendo três para controlar as operadoras estaduais de telefonia fixa, uma para controlar a EMBRATEL e oito para controlar as empresas estaduais de telefonia móvel da banda A.

Em 29 de julho de 1998, a Telebras foi privatizada em leilão da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro por R$22 bilhões e, ainda nesse ano, foram escolhidas as primeiras empresas espelho: a CANBRÁ, que iria competir com a Tele Norte Nordeste Leste, e a BONARI, que competiria com a EMBRATEL. Empresa-espelho é o nome pelo qual são tratadas as empresas que receberam autorização para explorar o serviço telefônico fixo, comutado nas áreas definidas pelo Plano Geral de Outorgas, concorrendo com as empresas originadas da privatização da TELEBRAS. O novo cenário das telecomunicações no Brasil ficou dividido entre o bloco europeu, representado pela Península Ibérica e os italianos; os norte-americanos e canadenses; os grupos brasileiros.

A TAB.3 contém informações importantes sobre o leilão da TELEBRAS, mostrando o preço mínimo para aquisição de cada holding, o preço ofertado, o consórcio adquirente e o ágio obtido.

2 MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. 1999 Home Page: www.mc.gov.br

TABELA 3