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O setor de telecomunicações

5 O CASO TELEMAR-MINAS: HISTÓRICO

5.1 O setor de telecomunicações

A sociedade contemporânea deve em parte o grande desenvolvimento e dinamismo que a caracterizam à revolução das telecomunicações e não é sem motivo que ela é denominada “sociedade da informação,” pois conjuga infra-estruturas de comunicação de alta capacidade e grande velocidade, possibilitando o surgimento de mercado de informações eletrônicas que integra textos, voz, dados, imagens e vídeo. Os avanços tecnológicos dessa nova era permitiram o entrelaçamento entre os setores de telecomunicações, de informática e de entretenimento, produzindo uma mudança qualitativa e transformando as telecomunicações de insumo em instrumento de poder e de criação de riqueza. Segundo LAPLANE, SARTI (1995), é um instrumento de concorrência, que torna viável às organizações gerenciar fluxos de informações consideradas vitais para suas estratégias.

O setor de telecomunicações é dinâmico e pode proporcionar aos países maior potencial de acumulação interna do que o setor automobilístico, tanto do ponto de vista de inovações quanto de expansão de mercados (LAPLANE, 1992). O Ministro Sérgio Motta afirmou na apresentação do Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de Telecomunicações e do Sistema Postal brasileiro – PASTE que “a tecnologia de informação tornou-se a peça fundamental do desenvolvimento da economia e da própria sociedade,” pois vale lembrar que as taxas de crescimento anual do setor de comunicações equivalem a duas vezes o crescimento global da economia. O GRÁF. 1 mostra a evolução do crescimento do PIB mundial e dos serviços de telecomunicações na década de noventa

0 2 4 6 8 1990 1991 1992 1993 1994 1995 ANOS %

Serviço de telecomunicações PIB Mundial

GRÁFICO 1. Comparação entre taxas de crescimento anual entre PIB mundial e Setor de Telecomunicações

FONTE: BRASIL. Ministério das Comunicações (1997). (Adaptação)

Apesar do crescimento do setor de telecomunicações e de sua importância na abertura dos mercados, ele ainda se ressente de uma verdadeira liberalização, que se restringe a alguns nichos, como a telefonia celular. Este é um dos serviços mais atrativos e que mais têm crescido em todo o mundo, assim como a Internet e a Infra-estrutura Global de Informação (GII). Estima-se que os serviços de telecomunicação móvel celular, após a introdução da tecnologia digital, tenham crescido 105% na América Latina e no Caribe, só ficando atrás da América do Norte e da Europa Ocidental. Falando-se em termos globais, observou-se uma adesão a esses serviços da ordem de 33 milhões de assinantes em 1995, comparados a 21 milhões em 1994, enquanto em 1996 houve um acréscimo de 48,7 milhões de novos assinantes, o que elevou o total para 137 milhões. Segundo informações veiculadas pelo PASTE, o desenvolvimento de satélites de órbita baixa permitirão oferecer serviços de telecomunicação móvel celular em todas as partes do globo, tornando realidade a comunicação a qualquer hora e em qualquer lugar. Tais serviços representam vultosos

afluxos de capital, originados de concessões e outorgas, de aquisição de equipamentos e de criação de empregos (WORLD DEVELOPMENT REPORT, 1997).

A Internet constitui uma rede mundial de computadores que se tornou possível por meio da convergência do setor de telecomunicações, de computadores e de entretenimento, sendo considerada por muitos como precursora de futura infra-estrutura global de informações (GII). Estima-se que tal rede tenha crescido a taxas superiores a 100%, mas é muito difícil avaliar o número exato de usuários existentes. No entanto, estimava-se que, em fins de 1996, havia 16 milhões de servidores conectados à Internet, com mais de 50 milhões de usuários. De acordo com estimativas do WORLD DEVELOPMENT REPORT (1997) esse número tende a crescer. A Internet está imprimindo uma profunda alteração em costumes sociais e práticas organizacionais, representando novas oportunidades de negócios, produzindo efeitos multiplicadores na economia e gerando empregos qualificados. Espera-se que ela seja a plataforma de comércio eletrônico do século XXI.

Mas a base da sociedade de informação é representada pela Infra-estrutura Global de Informação, rede que possibilita a transmissão conjunta de dados, som, textos e imagens. Os provedores dos serviços de informática, telecomunicações e entretenimento terão à sua disposição uma rede de redes, desde que existam técnica digital, largura de banda e qualidade. Mas ainda há muitas questões que os países precisam resolver, tais como as de natureza regulatória (quem pode prestar determinados serviços para quem), privacidade, segurança, acesso aberto e serviço universal.

A quebra dos monopólios estatais no setor é uma tendência que se observa em vários países de orientação capitalista, mas também nos países do antigo bloco socialista, sob a inspiração de teorias neoliberais que procuraram mostrar que o monopólio estatal não era adequado, porque faltava às empresas autonomia política e capacidade administrativa para implementar decisões corretas em tempo hábil. Sobretudo argumentava-se que os objetivos de políticos e burocratas nem sempre coincidiam com os interesses da sociedade.

Em conseqüência, a maioria dessas empresas apresentava um quadro de desatualização tecnológica, produtividade deficiente, estrutura de preços distorcida, obsolescência do parque produtivo e dificuldades de negociação de contratos de trabalho, em virtude de legislação que protegia os direitos dos funcionários. A privatização surgiu então como parte de uma estratégia de desenvolvimento que ganhou adeptos entre formuladores de política econômica com o objetivo de aumentar o grau de eficiência e de competitividade de suas economias, permitindo reequilibrar as finanças públicas.

Além disso, na década de oitenta, as fortes mudanças tecnológicas na estrutura industrial do setor, e o desenvolvimento econômico das nações européias e do Japão geraram uma competição no mercado mundial que teve como conseqüência a perda do caráter de monopólio dos serviços telefônicos básicos e permitiu a abertura do mercado, que se tornou pouco regulado e muito competitivo. O papel do Estado, que anteriormente foi importante na montagem da estrutura industrial e na infra-estrutura de serviços públicos, passou a ser mais de regulador do que de produtor, principalmente no setor de telecomunicações, em que a sociedade de informação está fortemente apoiada na golobalização dos mercados e no desenvolvimento de sistemas financeiros internacionais, exigindo investimentos na modernização e ampliação das redes e oferta de serviços de valor adicionados. (PASTORIZA, 1999)

O setor de telecomunicações, segundo MOREIRA (1989) apresenta algumas questões que demandam atenção; uma delas é a privatização, em países desenvolvidos, de operadoras públicas, que se internacionalizaram, passando a adotar estratégias de concorrência semelhantes às das empresas privadas. As novas empresas resultantes desse processo têm-se aliado a corporações de mercados liberalizados, formando empresas globais que já estão atendendo a clientes em todos os pontos do globo e começam a competir com as empresas de telecomunicações tradicionais que atuam em mercados regionais ou nacionais, o que contribui para reduzir a lucratividade destas últimas. O papel do Estado restringiu-se ao de regulamentação, a qual, contudo, também passa por

mudanças, uma vez que as inovações tecnológicas trouxeram novos produtos e serviços. O afastamento do Estado com a quebra dos monopólios implicou em desregulamentação do setor, aliada aos riscos de concentração de propriedade, em virtude de aquisição, por parte de empresas globalizadas, de operadoras de outros países, principalmente do terceiro mundo.

Na Europa, pode-se citar a Inglaterra e na América Latina, a Venezuela, a Argentina e o Chile entre os países que privatizaram as telecomunicações. O WORLD DEVELOPMENT REPORT (1994) considera a privatização das telecomunicações na Venezuela como um modelo a ser seguido no terceiro mundo. Os serviços de telecomunicações venezuelanos tinham cerca de l,6 milhão de linhas instaladas ( 1 para cada 12 habitantes) e clientes em espera há oito anos para obtenção de novas linhas, sendo, portanto, considerados insatisfatórios. Era necessário também aumentar as tarifas, mas um acordo do governo com a nova empresa estabeleceu que o aumento seria gradual durante nove anos, reservando-se à empresa concessionária a exclusividade de fornecimento dos serviços telefônicos básicos. Foram estipuladas metas anuais de expansão, com a abertura dos serviços de telefonia móvel, informações e equipamentos aos concorrentes. Criou-se também uma agência reguladora – Conatel – para fiscalizar o funcionamento do setor. A venda de 40% das ações da empresa estatal rendeu aproximadamente US$1,9 bilhão aos cofres do governo.

Na Argentina, segundo NOVICK, MIRAVALLES, GONZÁLEZ. (1997), os serviços de telecomunicações eram estatizados, porém, na primeira metade dos anos oitenta o mercado abriu-se ao setor privado para a oferta de serviços de telefonia móvel, ao passo que os serviços básicos foram privatizados no início dos anos noventa, como no México e no Chile. A privatização da ENTEL, empresa de telecomunicações argentina, concretizou- se em 1990 por meio de licitação internacional, tendo sido a rede telefônica nacional dividida em duas zonas – norte e sul –, outorgadas a duas empresas para exploração, durante o período de sete anos, prorrogável por mais três, sendo a prorrogação

condicionada ao cumprimento de metas.

Com a privatização das atividades da antiga operadora, foram descentralizados os serviços e produtos em três níveis: o primeiro nível compreende os serviços básicos de telefonia, as atividades de expansão, renovação e manutenção dos serviços básicos (infra- estrutura civil) e novos produtos (telefonia móvel, transmissão de dados, radiomensagem, informação e serviços telefônicos, entre outros). Neste primeiro nível, várias empresas e grupos atuam, principalmente empresas que se encontram na fronteira internacional. No segundo nível, estão colocadas empresas provedoras, produtoras e instaladoras de equipamentos, de capital transnacional e, no terceiro nível, está o grupo de subcontratadoras de serviços diversos, na sua maioria de capital nacional, que instalam equipamentos de telecomunicações ou de radiocomunicações e fazem a provisão de acessórios e peças de reposição para telefonia. No centro do sistema, encontra-se o grupo de serviços básicos de telefonia, que desempenha o papel de articulação de atividades dos outros grupos. As relações entre os diversos grupos se dá por meio de compra e contração de produtos e serviços entre os três grupos. Além dessas relações entre os grupos, há também vinculação acionária ou de capital entre os diversos níveis.