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Foco financeiro e no mercado de capitais

6 O CASO TELEMAR-MINAS: ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

6.5 Foco financeiro e no mercado de capitais

Entre os objetivos explícitos no Relatório Anual de 1999 figura em primeiro lugar, a criação, de forma sustentada, de valor econômico para a empresa e de riqueza para seus acionistas. Este objetivo gerou a estratégia focada em custos, que a empresa detalha nos chamados “foco financeiro” e “foco em mercado de capitais.” O foco financeiro, de acordo com o citado relatório, engloba a receita bruta, o lucro líquido, os custos, o EBITDA (LAJIDO), investimentos, endividamento e provisão para devedores duvidosos. Na verdade, o foco em (redução de) custos significa o resultado que a empresa obtém para a criação de valor econômico e de riqueza. Esta é uma importante estratégia da Telemar, e o meio que adota para isto é a centralização de atividades, o planejamento e o controle rigoroso de gastos:

“O que eles fazem primeiro? Centralizam tudo. Sentam em cima do caixa, centralizam as atividades, planejamento, investimento, controle disso, controle daquilo... aos poucos eles vão colocando a estrutura que eles querem e precisam e vão dando os valores e as facilidades." (D2)

“Agora o Conselho olha um negócio chamado “ebitda,” você conhece um negócio chamado ebitda? [...] É ‘income before taxes, interests, depreciation and amortization.’ Isto é, lucro antes de juros, de impostos, de amortizações e depreciação. É aquilo que a empresa gera de riqueza... Está certo, depois desse resultado você vem com a depreciação, com os impostos, e chega no lucro líquido. Então, primeiro, o que o acionista, o que o mercado financeiro olha hoje é isso, a capacidade de geração de riqueza de uma empresa...” (D1)

Os gerentes, particularmente, sentem a pressão dos controles financeiros sobre sua atividade, e um deles se queixa da sensação de desconfiança da matriz em relação às informações fornecidas:

acontecendo em dezesseis empresas, não é? Então há cobrança. Vamos supor, a todo momento, nós somos solicitados a informar números, então existe essa resistência, essa sensação de que estamos sendo controlados, de desconfiança, não é? A gente não estava acostumado a isso, então nós estamos ainda passando por aquele processo de justificar: isso é normal, o dono quer saber quanto custa, quanto ele está gastando... isso tem que ser normal, não é? Mas, no momento, está dando aquela sensação de insegurança, de desconfiança, quer dizer, não confiam nos números que a gente apresenta. Mas eu acho que não... é um processo certinho... a gente tem que verificar que é. Esse controle tem que ser feito, e a forma de gestão tinha que ser mudada completamente, porque hoje tem dono, não é? Agora, está sendo doloroso, viu? Está sendo doloroso...”(G5)

“...Hoje a gente faz o que o dono quer. Qual é a taxa de retorno que o dono quer? Então essa vai ser a nossa meta. Qual é o caixa que a gente precisa ter no fim do ano? Então essa é que é a meta...”(G13)

“Cada dia mais nós temos que diminuir nossos preços e fazer os nossos custos baseados nos nossos preços, não os nossos preços baseados nos custos, quer dizer você vai no mercado, vê o competidor verifica quanto ele está podendo pagar por um produto A ou B, acha uma solução qualquer e adequa os seus custos.”(G8)

Como vimos anteriormente, um dos objetivos da Telemar é “criar, de forma sustentada, valor econômico para a empresa e riqueza para seus acionistas” (TELEMAR, 1999:15). Visando a atingir tal objetivo, a empresa mantém o foco no mercado de capitais, e suas ações são negociadas em bolsas de valores, incluindo-se aí a Bolsa de Nova York, onde foram negociados 167,9 milhões de ADRs (American Depositary Receipts) em 1999, com um volume financeiro de US$2,7 bilhões. As ações preferenciais apresentaram uma valorização média de 231% naquele ano, enquanto as ações ordinárias obtiveram uma valorização média de 293% no mesmo ano. Segundo o citado relatório, o valor de mercado da empresa evoluiu de R$4,882 bilhões, em dezembro de 1998, para R$16,171 bilhões, no final de 1999. Nessa época, a empresa contava com 2.252.439 acionistas, que detinham 79,6% do total de ações, estando depositados em tesouraria um total de 3,824 bilhões de ações, que correspondiam a 1,14% do capital da empresa. Além desses acionistas havia

mais 302 mil acionistas inativos, não cadastrados. Aproximadamente 32,7% do capital da empresa, correspondendo a 51,1% das ações preferenciais, estavam representados por ADRs. Além desses ADRs, investidores estrangeiros detinham cerca de 34,1 bilhões de ações preferenciais (10,2% do total) e 13,8 bilhões de ações ordinárias (4,2% do total). Na percepção de diretores e gerentes, o objetivo de criação de valor para os acionistas está bastante explicitado:

“Hoje o foco é na lucratividade: agregar valor à empresa e ter competitividade. Eu acho que essas duas questões mexeram profundamente com a vida da empresa. É a atividade econômica voltada para o lucro." (D5)

“...é uma administração profissional, que tem claramente o objetivo de resultados, não é?. Quer dizer, os donos vêem isto aqui como uma empresa em que tem que entrar um investimento e sair um lucro. Quer dizer, nós temos que gerar isso, não é?”(G2)

“...todo projeto tem que ser submetido a uma análise de... efetividade de investimento, ou seja verificar, fazer todo estudo de taxa de retorno, lucratividade, etc. Esse é um ponto forte, ou seja, nós temos nossa parte social, mas a parte de retorno do investimento hoje é condição básica para se fazer um investimento.” (G4)

Um ex-diretor manifestou preocupação com mudanças na missão da empresa:

"Realmente, eu senti uma diferença muito grande na empresa. A preocupação hoje realmente é outra. Se nós tínhamos a preocupação inicial de atender [...] bem a sociedade mineira, especialmente aqui no caso da Telemig, hoje a gente vê, fundamentalmente, uma preocupação com o lucro, que é próprio do capitalismo. Isso não é uma particularidade do nosso setor de telecomunicações, é próprio da empresa privada." (D5)