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INTERVENÇÕES NA VIDA URBANA E EDUCAÇÃO PARA O PROGRESSO

3.1. As transformações da cidade ou qual Natal queremos

O advento do regime republicano foi significativo quando consideramos as transformações urbanas ocorridas em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Antes disto e comparativamente, a cidade podia ser apresentada como precária, sobretudo quando consideramos sua vida urbana pouco desenvolvida, a ausência de instituições públicas, a deficiência de interligação física dos espaços no interior da cidade, a falta de iluminação e de transportes, assim como a ausência das “mais elementares condições de higiene, recomendadas como indispensáveis a uma boa saúde [...]”. (SOUZA, 1909, p. 42).

Natal era assim, nas palavras do memorialista Lindolpho Câmara, um lugar mais com “aspecto de vila do que de uma cidade propriamente dita, devido seu caráter atrasadíssimo”. (CÂMARA apud MELO, 2007, p. 21)

Esta realidade criticada por Eloy de Souza e Lindolpho Câmara começou a sofrer alterações variadas a partir de 1900 e, se antes a cidade podia ser resumida a dois bairros oficiais sem conexões físicas ou simbólicas, foi tomando forma, a partir de então, uma cidade com “ares modernos”, exibindo jardins, praças, ruas pavimentadas, prédios públicos, iluminação e transporte urbano, resguardando, no entanto, as devidas proporções entre mudanças e condições financeiras do estado, sobretudo quando comparado aos outros entes federados.

Estas transformações foram essenciais para a construção de uma nova identidade local associando, de maneira mais sistemática, o indivíduo à cidade, e que, em grande medida, se contrapunha à antigas formas de identificação social, fragmentadas e dissociadas de uma vida urbana interligada.

64 Sobre essas antigas formas de identificação social presentes na cidade de Natal/RN, o historiador Hélder Viana destaca que,

Dentre essas antigas formas de identificação da população de Natal estava aquela que a dividia em dois grandes grupos distintos: os “Xarias”, moradores da Cidade Alta e os “Canguleiros”, moradores da Ribeira. Essas denominações expressavam diferenças sociais mais profundas. Os Xarias constituíam o grupo melhor aquinhoado, moradores da parte alta da cidade, centro do poder e da administração, receberam a alcunha pelo consumo de um peixe nobre, o xaréu. Os Canguleiros eram moradores de origem humilde dedicados em grande parte à atividade portuária da região ribeirinha da cidade, ganharam essa denominação por serem comedores de cangulo, peixe de pouco valor comercial pescado na própria localidade. Tratavam-se de denominações cristalizadas ao longo do tempo que expressavam a forte rivalidade entre os grupos e que, em diversas ocasiões, transformava-se em conflitos sociais. (VIANA, 2012, p. 2)

Sobre a questão, o folclorista Câmara Cascudo assinala, por exemplo, a importância para o fim da dicotomia entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira, da pavimentação da Avenida Junqueira Aires e do “sobe e desce do bonde movido a tração animal”, melhoramentos urbanos surgidos em 1908 que passaram a interligar esses espaços.

De acordo com Cascudo, esse novo movimento do ir e vir foi diminuindo a antiga separação entre os Xarias e Canguleiros, possibilitando assim o nascimento do natalense (CASCUDO, 1980, p. 216).

Por outro lado, é mister destacarmos que tal separação não era apenas física, mas possuía uma forte simbologia de segregação sócio-espacial, capaz de gerar graves conflitos entre os moradores dos dois bairros.

Através das memórias de Clementino Camara podemos perceber o quão forte eram estas identificações locais, acompanhando os indivíduos desde a infância à vida adulta. Ele lembra que,

Ai! Do menino da Cidade [Alta] que ousasse vir sosinho à Ribeira. Ai do fedelho da Ribeira que fosse desacompanhado à

65 Cidade [Alta], os da Cidade [Alta] era “Xarias” – comedores de “Xareu”; os outros, Canguleiros – comedores de “Cangulo”. O introito era o insulto em que nem sempre a palavra “mãi” era olvidada; surgiam os “torcedores”, formavam-se a trança que muitas vezes começava pelos meninos e terminava pelos homens. (CAMARA, 1936, p. 64-65)

Essa segregação sócio-espacial nos leva a outra questão relevante para os formuladores da cidade moderna que dizia respeito a inexistência de um espírito público, que somando-se aos padrões de identidades criticados acima, serviam de entrave as formas de sociabilidades ansiadas pelo novo modelo de desenvolvimento.

Quando Eloy de Souza critica a falta de cordialidade entre os natalenses, por exemplo, podemos fazer referência a necessidade de interação social exigida pela convivência entre as pessoas que habitam a cidade nas sociedades modernas.

Nelas, os encontros efêmeros dados ao acaso demarcam também um certo distanciamento entre a vontade individual, as identidades de grupo e os contatos pessoais. Não se trata mais de conviver apenas com rostos conhecidos e escolhidos, a priori, por aquele que passeia pelas ruas ou frequenta os diversos lugares existentes na cidade. Ao contrário, os encontros casuais entre aqueles que consomem a cidade se dão de maneira aleatória, de modo que não podemos mais decidir acerca de quem cruzará ou não o nosso caminho, exigindo dos habitantes da urbe um posicionamento diferente – mais amistoso e menos arredio - no qual o cumprimento, o aceno cordial, as felicitações de bom dia, são necessários como demonstração de uma “intencionalidade não hostil” (Giddens, 1991).

O sociólogo Anthony Giddens afirma que nas sociedades modernas, a suspeição generalizada cede lugar a tentativa de estabelecer relações de confiança sancionadas por uma percepção de confiabilidade, estabelecida pela manutenção de rituais informais: “tato e polidez são dispositivos protetores mútuos, que estranhos ou conhecidos usam intencionalmente como um tipo de contato social implícito”. (GIDDENS, 1991, p. 83-86).

66 O educador Henrique Castriciano (1903), sob o pseudônimo de José Braz, tal como Eloy de Souza, também posicionou-se criticamente em relação aos padrões tradicionais de comportamento entre os indivíduos da cidade, fazendo inferência a necessidade de estabelecimento de novos padrões não hostis (desatenção civil) de comportamento social.

Para Castriciano, o mais pernicioso defeito da vida natalense era a sua desconfiança30 relativa aos demais:

[...] Na igreja, nas ruas, no theatro, nos bailes, em qualquer parte em que nos achamos, os homens e as senhoras, claramente divididos, parecem pessoas que se conhecem de pouco ou que se detestam mutuamente. (BRAZ apud ALBUQUERQUE, 1993, p. 185)

Para Giddens (1991), esta relação de desconforto que implica na ausência de relações de confiança, gerado pelos encontros efêmeros entre pessoas desconhecidas, leva os indivíduos a evitar contatos, sejam eles físicos ou até visuais, que poderiam precipitar um envolvimento potencialmente hostil. Em condições de modernidade, por outro lado, esses comportamentos abrem espaço para o estabelecimento de novas percepções sobre o outro, assim como novas formas de sociabilidade, ou conforme Giddens estabelece, de “desatenção civil”.

A desatenção civil é o tipo mais básico de compromisso com rosto envolvido em encontros com estranhos em circunstancias de modernidade. Ela envolve não apenas o uso do rosto mesmo, mas o emprego sutil da postura e posicionamento corporais que transmitem a mensagem: ‘você pode confiar que estou sem intenções hostis’ – na rua, edifícios públicos, trens ou ônibus, ou em reuniões cerimoniais, festas ou outras ocasiões. A desatenção civil é confiança fortuita de sons, mas com ritmos sociais cuidadosamente comedidos e controlados. (GIDDENS, 1991, p. 86)

30 Sobre confiança e modernidade ver: GIDDENS, Anthony. As consequências da

67 Podemos inferir, portanto, que o apelo dos governantes republicanos e de parte da elite intelectual local à uma existência pública dos indivíduos na cidade de Natal assinala para um passado em que a existência coletiva girava em torno dos amigos íntimos, da família e da privacidade do lar de seus moradores, cujas janelas e portas sempre abertas rompiam com as últimas barreiras entre a casa e a rua.

Nesta cidade deficiente de vida urbana e de coletividade para os padrões modernos, era a família uma das principais bases da vida social, o primeiro elo entre o indivíduo e a sociedade, assim como quase que exclusivamente a responsável pela educação dos filhos, sobretudo quando consideramos a infância pobre, já que era comum o envio dos filhos da classe mais abastada para receber formação educacional fora da cidade, especialmente em centros urbanos maiores, como por exemplo, Recife e Rio de Janeiro.

As críticas direcionadas à cidade estavam atentas à falta de uma existência que ultrapassasse as barreiras da vida doméstica e sobretudo, à ausência do que chamavam de espírito público o que, para o intelectual e político Eloy de Souza, estava ligado ao receio em aderir aos novos hábitos que se anunciavam, especialmente pela falta de unidade em torno de um ideal comum na educação que era ofertada. A solução por ele apresentada viria de um,

[...] ensino primário disseminado e metodizado em escolas mistas, onde as creanças possam, no trato diário de sexo a sexo, ir, pouco a pouco adquirindo a polidez e o respeito que são na sociedade, a par da máxima tolerância os traços por onde se afere grau de civilização de qualquer povo. (SOUZA, 1909, p. 40).

A crítica apresentada por Eloy de Souza em sua Conferência Pública sobre os costumes locais atenta ainda para a entrada de novos ideais quando o assunto era educação, tratava-se de pensar a necessidade de uma educação com unidade e uma finalidade estabelecida, o que não condizia com a realidade fragmentada de uma educação familiar - disseminar os ideais republicanos de progresso e civilização não poderia mais confundir-se com a transmissão de

68 hábitos e/ou valores de uma moralidade doméstica31, mas antes de uma moralidade que se voltava para o desenvolvimento do espírito público.

Sendo assim, de nada adiantaria a construção de praças, jardins, passeios públicos e a setorialização dos espaços no interior da cidade se não houvesse um investimento efetivo no que dizia respeito a remodelação de comportamentos e de padrões de consumo da cidade por seus habitantes e essa remodelação só seria alcançada através de uma educação escolar formal.

Mas, se as mudanças no comportamento e nos padrões de sociabilidade urbana requeriam um investimento mais sistemático por parte do poder público e de suas instituições, demandando mais tempo e esforços, as mudanças estruturais na cidade, por outro lado, foram percebidas de forma mais rápida, ocorrendo de maneira gradativa e mantendo uma certa constância entre os anos de 1900 e 1920.

Foram exemplares desse movimento de modernização urbana: o ajardinamento da Praça Augusto Severo (1904), ligando fisicamente os bairros da Cidade Alta e Ribeira; a realização das obras de aterro e saneamento do Baldo (1905); a inauguração do grupo escolar Augusto Severo (1908); a introdução do bonde movido a tração animal pela Companhia de Ferro Carril (1908); a inauguração do Cinema Natal (1909); a inauguração do Hospital Juvino Barreto (1909); a inauguração do cinema Polytheama (1911); a introdução da energia elétrica (1911); a introdução do bonde elétrico (1911); a inauguração do Teatro Carlos Gomes (1912); a inauguração do Hospital São João (1912); a fundação do Instituto de Proteção e Assistência à Infância (1917), só para citarmos alguns exemplos32.

31 Sobre essa questão, é possível perceber que os mesmos valores consideráveis indispensáveis

à formação do bom cidadão confundiam-se com aqueles defendidos pela gente de boa família, como por exemplo, a honradez, a dignidade e a boa moral. A professora Isabel Gondim, por exemplo, destaca que era preciso considerar a “sociedade [como] uma grande cadeia que enlaça o gênero humano, cujos destinos e conveniências tende a realizar. D’essa cadeia o primeiro elo é a família”. (GONDIM, 1910, p. 18).

32 Muitas dessas intervenções urbanas foram realizadas durante a gestão de Alberto Maranhão

e só foram possíveis graças a um empréstimo solicitado à França em 1909 pelo governador. O empréstimo solicitado para fins de melhoramentos na cidade foi no valor de “cinco mil contos de réis, ou trezentos e cincoenta mil libras esterlinas” (RIO... decreto de lei n. 270, 1909).

69 Todas essas intervenções foram significativas para a efetivação de mudanças na feição da cidade, perceptível aos olhos dos seus próprios habitantes e decisiva para “espraiar o sentimento de se estar vivendo em uma cidade em transformação, nova e moderna” (DANTAS, 1909, p. 72).

De acordo com o historiador Raimundo Arrais,

Intervir na cidade se torna uma necessidade, criando-se estruturas de melhoramentos materiais e desencadeando uma ação pedagógica sobre os seus moradores: a cidade se torna o lugar exemplar a partir do qual o país exibe a posição que ocupa na ordem civilizatória mundial (ARRAIS, 2011, p. 21).

Os jornais locais constituíram-se em importantes veículos de comunicação neste período, dando glórias as mudanças realizadas na cidade, como também demonstrando o despertar de uma nova sensibilidade nos moradores da urbe.

A construção dessa cidade que se pretendia moderna passava, desta maneira, também pelo plano discursivo, no qual estava depositado uma gama de expectativas em torno de suas transformações fossem estas de caráter material e/ou simbólico.

Em 01 de outubro de 1910, o jornal A Republica publicava um comentário entusiasmado sobre essas reformas urbanas:

Natal é uma velha cidade, mas Natal é uma cidade nova, ressurgida das próprias cinzas [...]. Sim! Natal é uma cidade nova, é uma cidade que vai conquistando dia a dia e com incontestável direito o logar que lhe compete como capital que é de um dos Estados da União Brasileira [...]. “Natal” de hoje é uma nova cidade, calçada sobre as ruínas da indústria florescente (outr’ora muito rudimentares) com belíssimos edifícios que faze, honra a qualquer povo e se aparelhado para novos commettimentos de alta monta com bem sejam novas estradas de ferro, esgotos, calçamento das ruas e praças, eletrificação da luz e dos carris urbanos, e melhoramentos de toda ordem. Onde outr’ora se via casebre, apertado, estreito e deteriorado ergue- se hoje majestoso edifício para altíssimo fim construído (A REPÚBLICA, 1910)

70 Outros intelectuais, por meio de veículos variados, como proferimentos públicos, crônicas, conferências, etc., também foram importantes na conformação de uma mentalidade positiva em relação ao futuro da cidade. É exemplar neste processo a crônica futurista do jornalista Manoel Dantas, cujas previsões elaboradas em 1909 colocavam Natal em pé de igualdade com as capitais mais desenvolvidas do Globo.

Para Dantas, em 50 anos a capital do Rio Grande do Norte se constituiria como uma grande e desenvolvida metrópole, tal qual aquelas presentes em solo europeu, às quais estaria também fisicamente conectada via “estrada férrea transcontinental”. A capital do Rio Grande do Norte seria, para ele, um polo atrativo para visitantes de todas as partes, cujo porto, com capacidade para o atracamento dos maiores transatlânticos do mundo, constituir-se-ia uma porta de entrada para o vislumbre daqueles que aqui aportariam frente uma natureza exuberante e a pujança das construções da cidade, com seus parques, praças e jardins (DANTAS apud VIEIRA, 2008, p. 114).

Destarte, importa-nos destacar que essas mudanças não ocorreram a esmo. Por trás delas existia todo um discurso modernizador idealizado pela elite local e que tinha como viés conhecimentos técnicos e científicos, assim como um forte apelo civilizacional.

De fato, as transformações que na entrada do século XX vinham acompanhando o novo século em Natal, impunham aos intelectuais a indagação a respeito do ponto em que a cidade se localizava nessa escala que ia da natureza ao artifício, ou à – para empregar uma palavra cara à época – civilização. Isso se devia, pelo menos parcialmente, às relações próximas que, para aqueles que assumiram o governo do Rio Grande do Norte, o regime republicano estabelecera com o progresso, uma palavra grafada frequentemente com a inicial maiúscula, o que lhe conferia uma grandeza de entidade supra-histórica, uma força condutora do destino dos povos: o Progresso. (ARRAIS, 2011, p. 24)

Quando falamos de uma elite local, nos referimos à uma pequena parcela da população natalense que possuía um certo grau de instrução, conhecimento

71 técnico e/ou intelectual e que, por sua posição social e/ou política, influíam nos rumos dessas mudanças. De acordo com o historiador Raimundo Arrais,

Os membros das elites exibiam prestígio político ou força econômica ou ainda um saber técnico que lhe permitia ocupar algum lugar dentro da estrutura do Estado e, assim, num entrelaçamento de funções, intervir nos rumos da cidade. [...] os intelectuais estavam vinculados à malha partidária do governo, secretariando governadores, escrevendo discursos, atuando nas várias esferas da administração, chegando a cargos de intendentes municipais, deputados, governadores ou senadores. [...] agindo a partir de seus cargos públicos [...], tentaram modelar a cidade, cada um ao seu modo e dentro de suas áreas de interesse. (ANDRADE; ARRAIS; MARINHO, 2008, p. 74-75)

A emergência do regime republicano foi emblemática nesse sentido, trazendo para o seu campo político discursivo um grupo de intelectuais, cujos conjuntos de saberes constituiriam um campo de responsabilização para pensar a organização social do país e sua integração à marcha da civilização ocidental.

Neste grupo, foram aos poucos ganhando maior destaque engenheiros, pedagogos e médicos, cujas relações estabelecidas entre pessoas e cidades serviram para delimitar ações de convivências controladas entre a carne e a pedra33.

Sobre estes últimos agentes, Dantas e Ferreira atestam que

Uma das primeiras conseqüências da estruturação destes saberes [...] foi o processo chamado de ‘medicalização da sociedade brasileira’, que pressupunha uma ‘intervenção social intensa, autoritária e sem fronteira’, e um aparato de poder que controlasse as esferas da vida pública e privada, o indivíduo em sua intimidade assim como as multidões em sua complexidade,

33 Em Carne e Pedra, Richard Sennett nos mostra como, ao longo do processo civilizacional, a

construção e desenvolvimento das cidades ocidentais planejadas, foram transformando os corpos em passividade, direcionando fluxos, determinando caminhos, apagando a espacialidade física e sua necessidade de interpretação pelos migrantes. Para ele, “ao planejar uma via pública, por exemplo, os urbanistas frequentemente direcionam o fluxo de tráfego de forma a isolar uma comunidade residencial de uma área comercial, ou dirigi-lo através de bairros de moradia, separando zonas pobres e ricas, ou etnicamente diversas. À medida que a população cresce, os prédios escolares e as casas situam-se preferencialmente na região central, mais do que na periferia, para evitar o contato com estranhos” (SENNETT, 2003, p. 18)

72 afastando os perigos do corpo biológico e, principalmente, social [...] (DANTAS; FERREIRA, 2001, p. 14).

É importante alertarmos que havia uma sensível distância entre as mudanças idealizadas no plano do discurso e aquelas efetivamente colocadas em prática pelas mãos humanas. Isso porque, do ponto de vista das intervenções urbanas, existiam pelo menos duas necessidades imperativas, sendo a primeira ligada à demanda financeira para a nova estruturação proposta para a cidade, uma vez que, conforme demonstramos, o Rio Grande do Norte dependeu de recursos advindos de empréstimos conseguidos no exterior para realizar as primeiras intervenções significativas na cidade de Natal; enquanto a segunda relativa à carecia de profissionais especializados, como arquitetos, médicos, sanitaristas, engenheiros etc., os quais ou não existiam ou eram em número insuficiente para atender as demandas propostas pelo Estado. Tais carência apontam para uma idealização exacerbada de uma cidade que se queria - marcada pelo selo da modernidade e aquela real talhada entre o rio e o mar.

3.2. A organização de um campo de saber: por onde andam os