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A materialização do espaço saudável: prerrogativas médicas na construção do Grupo Escolar Augusto Severo

INTERVENÇÕES NA VIDA URBANA E EDUCAÇÃO PARA O PROGRESSO

4.2. A materialização do espaço saudável: prerrogativas médicas na construção do Grupo Escolar Augusto Severo

Os apelos oficiais pela melhoria da instrução pública e sua representação salvacionista não se constituiu como um discurso exclusivamente republicano, ao contrário. Antes disso já era possível encontrar uma associação direta entre educação e desenvolvimento. O que aparece como grande inovação, neste contexto, dizia respeito a associação, cada vez mais acentuada, entre ensino e a necessidade de uma espacialidade própria - a arquitetura escolar se constituirá como a grande revolução na instrução pública primária da Primeira República,

122 especialmente aquela materializada na construção dos Grupos Escolares (SOUZA, 1998).

O papel da materialidade física dos grupos escolares estava bem definido e fazia parte do conjunto de melhoramentos urbanos enquanto símbolo de modernização cultural de um povo76 - assim como outros equipamentos urbanos, a escola, espacialmente situada, condizia com o processo de setorialização dos espaços no interior da cidade e a fixação física de cada público.

A cidade deveria ser dividida e ordenada de modo que cada segmento social, entre eles a infância, tivesse seu lugar dentro desse espaço projetado, o que nos leva a considerar a construção de escolas, em especial dos grupos escolares, como sendo também uma tentativa de localizar as crianças dentro da cidade. A contraposição entre a escola e a rua, por exemplo, são representantes desse processo. O grupo escolar, portanto, deveria ser o espaço destinado às crianças que, mantidas fora da rua, teriam nesse prédio sua principal identificação, decorrendo daí a própria ideia de que a infância se tornava a fase por excelência da educação escolar. (FERREIRA, 2009, p. 93)

A construção escolar, portanto, constituía-se num importante meio de ordenar as relações humanas via significação de uma infância escolarizada e separação espacial entre adultos e crianças, assim como de seus percursos e horários no interior da cidade, tais critérios podiam ser considerados como uma “fonte silenciosa de ensinamentos” (ESCOLANO, 2001, p. 30), sem contudo, desconsiderarmos a forte simbologia expressa nessas ações.

A separação entre o mundo adulto e o mundo infantil no interior da cidade, teve na educação institucionalizada, via escola, uma simbologia carregada de sentidos. Tal representação atuou de maneira significativa no imaginário social ao ponto de sequer considerarmos uma vivência/existência infantil citadina para além dos muros escolares.

76 Para maior apreciação sobre a temática dos grupos escolares ver SOUZA, Rosa Fátima de.

Templos de civilização: A implantação da Escola Primária Graduada no Estado de São Paulo (1890-1930). São Paulo: Unesp, 1998.

123 Destarte, a escola não fora transformada apenas no lugar por excelência de uma educação formal – secularizada, ritmada, uniforme, universalizada, científica, etc. - mas antes, deu legitimidade à uma identidade fixa, segura e estável para a própria criança – o lugar da criança na cidade é na escola, fora dela a criança transforma-se em “menor”, um perigo iminente que assombra toda estabilidade futura de uma civilização ordeira, produtiva, moderna e civilizada.

Planejada para atuar no campo do imaginário tanto quanto da prática, nada na edificação do grupo escolar moderno foi gestado por acaso, nem sua localização, nem seu estilo arquitetônico, nem tampouco sua conformação interna. Para Bencostta,

A construção de edifícios específicos para os grupos escolares foi uma preocupação das administrações dos estados que tinham no urbano o espaço privilegiado para a sua edificação, em especial, nas capitais e cidades prósperas economicamente. Em regra geral, a localização dos edifícios escolares deveriam funcionar como ponto de destaque na cena urbana, de modo que se tornasse visível, enquanto signo de um ideal republicano, uma gramática discursiva arquitetônica [que] enaltecia o novo regime (BENCOSTTA, 2005, p. 97)

Ainda nesse sentido, para Frago as preocupações em torno da localização da escola e sua problematização coincide com a confluência de duas problemáticas presentes em solo europeu e que também demarcaram o processo de urbanização dos grandes centros no nosso país: a primeira fazia referência à necessidade de localizar o ensino em um estabelecimento construído exclusivamente para tal fim, desta maneira, não se tratava mais de associar educação, enquanto prática normativa civilizadora, à informalidade espacial da casa do mestre, ou aos rearranjos espaciais itinerantes para a funcionalidade escolar. Ela teria uma identidade fixada no solo e no cenário urbano. O segundo, dizia respeito ao próprio crescimento da urbe, que implicava na necessidade de regulação estrutural mediante seu planejamento urbanístico. Estas problemáticas demandaram ações estratégicas para aqueles que pensavam a cidade e sua conformação.

124 Do ponto de vista educacional, por sua vez, a fixação do prédio escolar significou sua transformação em lugar, o que implicava dizer que a escola ganhara ares de estabilidade e solidez em resposta à ausência de especificidade própria, não estabelecida ou delimitada.

Neste aspecto, a determinação de um espaço dentro da cidade para a implementação da escola garantia a esta uma identidade tão específica quanto era o seu lugar no solo:

Um lugar estável e fixo. Tal tendência foi reforçada no tempo, por uma outra, paralela: aquela que concebe a escola não apenas como um espaço determinado e rotulado enquanto tal, como ainda um espaço de natureza própria. Em outras palavras, a instituição escolar e o ensino só merecem esse nome quando se localizam ou se realizam num lugar específico. E, com isso, quero dizer num lugar especificamente pensado, desenhado, construído e utilizado única e exclusivamente para esse fim. (FRAGO, 2001, p. 69)

O anseio pela construção de um prédio próprio ao funcionamento escolar ganhou impulso na capital do Rio Grande do Norte através da lei nº 249 de 22 de novembro de 1906, que autorizava o governo a “reformar a instrucção publica, dando especialmente ao ensino primário moldes mais amplos e garantidores de sua proficuidade” (A REFORMA, 1917, p. 3).

A Lei além de reclamar a resolução da falta de regularidade da instrução pública ofertada no estado, previa a construção de um prédio nos moldes dos Grupos Escolares de São Paulo, em especial, a Escola Normal da Praça, e que em Natal deveria localizar-se na praça “Augusto Severo”.

A escolha do local de dava em razão desta praça compor, conjuntamente com o Jardim Público77 e o Teatro Carlos Gomes, um complexo de

77 O Jardim Público fazia parte do conjunto de melhoramentos urbanos e de aformoseamento da

cidade empreendidos pelo governador Alberto Maranhão. Foi construído pelo arquiteto Herculano Ramos em 1905 como solução para o aterramento da campina da Ribeira, local considerado foco de miasmas, por constituir-se em área alagada e de conformação pantanosa.

125 melhoramentos urbanos que fizeram do bairro da Ribeira o símbolo da modernidade urbana natalense ao unir cultura, educação e lazer78.

Os embates locais acerca da necessidade de construção de uma edificação própria à função de escola também seguia os debates nacionais em torno da questão, nos quais tal imperativo esteve acompanhado de reformulações do currículo e da cultura escolar, de maneira geral, a partir de um discurso, mais ou menos universal, que vinculava necessidade espacial e a “moderna pedagogia”, com seus métodos e lições, tendo a experiência paulista como exemplo:

A iniciativa paulista de organização do ensino elementar público, através dos grupos escolares, a partir dos fins do século XIX, foi chamando a atenção das demais unidades da federação republicana em adotar, em níveis diferenciados, a experiência desse tio de escola em seus estados. Desde os primeiros anos da República, o debate entre intelectuais, políticos e educadores paulistas fluía para um tipo de escola primária que pretendia ser moderna e diferente daquela existente no Império: carente de edifícios, mobiliário e livro didáticos, precário em pessoal docente qualificado para o ensino de crianças e distante dos modernos métodos pedagógicos. Nesse sentido, para a recém instalada república brasileira, a experiência inovadora das escolas primárias graduadas- os grupos escolares, como vieram a ser denominados – foi entendida como um investimento que contribuiria para a consolidação de uma intencionalidade que procurava, por sua vez, esquecer a experiência do Império e apresentar um novo tipo de educação que pretendia ser popular e universal (BENCOSTTA, 2005, p. 100).

A exigência pela construção de um prédio próprio ao funcionamento escolar em Natal ainda coincidiu com a desapropriação da antiga escola primária Professor Lourival Camara, que deveria dar lugar a construção da Estação da Estrada de Ferro Central, uma vez que suas acomodações estavam longe de adequar-se às novas exigências higiênicas da arquitetura escolar moderna.

O termo “exigências higiênicas” comportava em seu interior diversos aspectos que não apenas aqueles ligados a sua salubridade e/ou asseio,

78 Ver MOREIRA, Ana Zélia Maria. Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo

escolar “Augusto Severo” - Natal/RN – 1908-13. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2005, 165 f.

126 mesclando esta à questões de aspecto moral, comportamentos inapropriados, vizinhança perniciosa, barulhos e odores... seguindo a regra de outros países da Europa e os Estados Unidos. De acordo com Frago,

[...] a higiene é tanto física quanto moral. A relação dos lugares de proximidade perniciosa constitui, por isso, todo um repertório onde se misturam moralidade e saúde: tabernas, cemitérios, hospitais, quartéis, depósitos de esterco, casas de espetáculos, cloacas, prisões, praças de touros, casas de jogos, bordéis etc. junto à higiene moral e física, preocupavam também a segurança da criança [...], ‘a missão social e educadora’ da escola e seu ‘atrativo’. (FRAGO, 2001, p. 83)

Do ponto de vista médico sanitário, o Dr. Alfredo Lyra discorre com minucia os pressupostos que a escolha do terreno onde se localizaria o prédio escolar, deveria seguir, considerando para tanto, preceitos médicos higiênicos e as condições de moralidade apontadas anteriormente.

Judiciosamente feita, e, tanto quanto possível, deverá recahir em um terreno salubre, sêcco, de preferência n’uma elevação, livre, que assegure a todas as classes ar e luz; afastados dos centros movimentados e bulhentos, tem-se em vista evitar assim os desastres, como o ruído dos vehiculos e das estações; longe das fabricas, das usinas e dos centros industriaes, ficará preservado das exalações insalubres, de gazes tóxicos, fumaças, poeiras, partículas de carvão, que teem acção funesta sobre os órgãos da respiração; à distância dos cemitérios e hospitais; será outrossim, desviado dos locaes perigosos, immoraes e das causas da corrupção evitando, dest’arte as obscenidades consagrando o respeito devido à Escola e pugnando pela Hygiene moral (LYRA, Alfredo, 1922, p. 25-26)

Tal pensamento estava oficialmente presente, via regulamentação estadual, no Código de Ensino de 1911, determinando uma escolha judiciosa dos terrenos para a disposição escolar: seco e elevado, resguardando certo distanciamento das margens da rua, recuos laterais, assim como de outras construções contaminantes, voltadas para atividades industriais ou de caráter suspeito (Art. 43º).

127 A ideia de preservação moral da infância, via afastamento espacial de localidades perniciosas ou suspeitas, capaz de corromper a moralidade dos costumes e provocar uma descendência de degeneração (RIBEIRO, 2003) foi central nas discursões médicas higienistas neste início de século e que, posteriormente, embasariam o ramo da Hygiene Mental79, sobretudo a partir dos anos de 1920.

Neste caso também, a “preservação moral” remete a imagem de vulnerabilidade e de assexualidade como características próprias de uma identidade infantil, assim como era a representação das crianças como seres frágeis tão propagadas pela puericultura.

Apesar das exigências médico sanitárias relacionadas à construção do primeiro Grupo Escolar de Natal – o Augusto Severo – terem sido estabelecidas como quesitos essenciais, por meio de discursos médicos ou legislação, a escolha de sua localização continuaria sendo foco de preocupação, especialmente porque a umidade excessiva, característica da Ribeira, continuava sendo um dos problemas recorrentes do bairro e que por anos sofreria com períodos de alagamentos (fig. 03).

Figura 03 - O alagado da Campina da Ribeira (Natal/RN, 1864)

Fonte: ANAYA, 2011, p. 29

79 Sobre a discussão acerca da higiene mental no Rio Grande do Norte no período republicano,

ver: SILVA, Juliana da Rocha. As medidas de higiene mental propostas por Luiz Antonio dos Santos Lima e a legislação norte-rio-grandense (1889-1930). Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2017, 134 f.

128 A solução viável para o problema foi dada no nivelamento do prédio em relação a praça, com alicerces mais altos que o erguiam a 1,20 m da praça Augusto Severo. Além da necessária elevação do prédio em relação a rua, outras medidas médico higiênicas deveriam ser consideradas quanto à evitabilidade de umidade excessiva:

O sólo ocupado pelo edifício deve se impermeabilizado por uma camada de concreto, asfalto, argila batida ou de betume que isola das visinhanças insalubres e das infecções possíveis. Os ALICERCES ou fundações constarão de material impermeável. [...]. Que previne a ascenção capilar da agua tellurica e impede de serem atacadas as paredes formando deposito de salitre, vegetações microbianas, bolores e bactérias e as madeiras pelos parasitas animaes, térmites, etc., e vegetaes, mofo, etc. a causa mais grave da humidade e que constitui a

hygroscopicidade é a propriedade que oferece a estrutura de

certos materiaes de reterem a agua nos póros, lacunas e interctícios [...]. (LYRA, 1922, p. 27-29)

As preocupações médicas em torno da construção escolar trazia como base o princípio de Juvenal80, que buscava por fim a separação, até então comum, entre corpo e espírito, unindo ambos em torno da máxima “mentalidade sadia em corpo são”, alcançáveis através da existência infantil em um espaço saudável, assim como via contato cotidiano com uma educação sanitária. Para Januário Cicco,

A educação sanitaria, cujos preceitos deveriam constituir assumptos de leituras e provas escolares, de par com os vários prolegomenos da cultura humana, iniciando-se a criança na sciencia da vida, ao em vez desse suplicio heteroclito de se lhe embotar a razão com o papaguear de arengas poéticas e queixumes de amor, seria o caminho mais curto á longevidade, levando uma existência saudavel a extremos de séculos (CICCO, 1928, p. 25)

80 O “princípio de Juvenal” faz alusão a máxima Mens Sana in Corpore Sano pronunciada na

décima sátira do poeta Juvenal, demonstrando uma relação indissociável entre saúde do corpo e espiritualidade.

129 Sendo assim, estava relegada também à escola a responsabilidade de salvaguardar o corpo do escolar, via oferta de um espaço saneado, bem iluminado e arejado.

A intervenção médica na construção de edificios escolares, mostrará os defeitos de u’a má iluminação e ventilação, - porque toda a hygiene da escola repousa sobre esta dupla exigência e, obtida esta, teria atingido o ideal: - procurando no futuro abrigar as creanças contra accidentes graves que as ameaçam e para que não seja a escola incriminada de alimentar e difundir moléstias infecto-contagiosas. O estabelecimento de instrucção [...] é obrigado a constituir um complemento valioso, quer de alcance preventivo, quer nas operações de defesa sanitária, como um poderoso fator que é a prophylaxia collectiva e da salvaguarda do enfraquecimento physico, do empobrecimento moral e da aridez intellectual da creança. Os sacrifícios despendidos na construcção das escolas, que obedecem á determinações hygienicas, são largamente compensados. (LYRA, 1922, p. 10)

O pé direito de 4,5 m garantiam a opulência necessária à um prédio que buscava ser exemplar81, assim como garantia a entrada de iluminação e circulação do ar em seus 540 m² de área construída, também assegurados pelos seu amplo conjunto de portas e janelas (fig. 4).

Moreira ressalta que “as três salas de aula [...] dispõe de amplas aberturas (portas e janelas), favorecendo adequado conforto ambiental, em condições com as prescrições higienísticas e pedagógicas vigentes,” (MOREIRA, 2005, p. 97), demonstrando, com isso, uma confluência entre saberes que viam na escola um meio profícuo de perpetuação:

Hygienistas, pedagogo e arvhitectos collaboraram no estudo da hygiene da escola e fizaram de uma maneira definitiva os princípios que devem reger e presidir a toda a construção,

81 Bencostta ressalta que o amplo investimento financeiro (no caso do Grupo Escolar Augusto

Severo, foi investido a soma de 50.201$508 contos de reis) na construção dos grupos escolares cumprem, antes de qualquer coisa, o papel de uma visibilidade intencional para esta construção mais até do que o próprio esforço da escolarização e da universalização da instrução pública. Segundo ele, “em regra geral, a localização dos edifícios escolares deveria funcionar como ponto de destaque na cena urbana, de modo que se tornasse visível, enquanto signo de um ideal republicano, uma gramática discursiva arquitetonicamente que enaltecia o ovo regime.” (BENCOSTTA, 2005, p. 97).

130 assegurando se a salubridade atmosférica, luminosa e thermica, as regras technicas de asseio e evacuação de resíduos, por meio das instalações e aprovisionamentos geraes e especiaes. (LYRA, 1922, p. 23)

Figura 04 – Fachada do Grupo Escolar Augusto Severo (Natal/RN)

Fonte: Acervo da autora

Sua orientação e localização na cidade se basearia em três critérios centrais: 1º o percurso, em termos de distância, imposto as crianças para chegar a escola, garantindo o mínimo esforço para o máximo aproveitamento das vontades; 2º a exposição das salas de aula à luz solar, priorizando a incidência da luz da manhã em detrimento da luz da tarde evitando a “ardência dos raios solares e o calor excessivo”; 3º a circulação dos ventos.

Do ponto de vista de sua conformação interna, o Grupo Escolar Augusto Severo seguia a padronização espacial de outros grupos existentes no país, contando com um vestíbulo, que media cerca de 84m²; três salas de aula, das quais duas mediam 75 m² e uma sala central medindo 49m²; além de duas áreas para a circulação interna com 16,1 m² cada uma. A escola ainda contava com dois sanitários afastados da edificação (fig. 5).

131 Figura 05 - Planta baixa do Grupo Escolar “Augusto Severo” (Natal/RN,

1908).

Fonte: MOREIRA, 2005, p. 96

Essa conformação interna vinha de encontro às determinações do Código de Ensino (1913), em seu art. 43º, cujos prédios escolares, bem iluminados pela luz solar e arejados por sua disposição no terreno e presença de janelas e portas – “aberturas necessárias que as classes de alunos recebam a luz e o ar de maneira mais higiênica” (RIO GRANDE DO NORTE, 1916, art. 43º) - deveriam contar com salas de aula com capacidade máxima para quarenta alunos, em formato retangular, sendo 6 m., a medida mínima de largura e 7 m., a mínima de comprimento. Além disso, seu pé direito não poderia ser inferior à 4 m. de altura, o que garantiria uma medida de circulação de ar por aluno equivalente a 5 m. cúbicos (RIO GRANDE DO NORTE, 1914, art. 43º).

Tais preocupações não consideravam apenas o bem estar físico dos alunos, mas também deveriam levar em apreciação o conforto do professor no

132 exercício de sua função, garantindo a observação e vigilância de todos os alunos pelo mesmo e, considerando como elemento de medida, o alcance de sua voz: “um grande comprimento obriga ao mestre elevar a vóz [...] a ALTURA é determinada pelo mesmo principio de acústica.” (LYRA, 1922, p. 36-37).

O isolamento térmico e acústico, assim como a estabilidade da construção e as condições de asseio e higiene de suas instalações se dava pela espessura das paredes externas e internas, 0,50 cm e 0,30 cm, respectivamente; pelo recuo da área construída em relação à vizinhança, implicando em sua disposição no centro de um terreno que media cerca de 1.794,00 m²; assim como, pelos materiais empregados e exigências em relação a forma arredondada que os cantos das paredes deveriam assumir (fig. 6):

As paredes, de espessura bastante, para a proteção thermica da escola, serão construídas com material de pouca conductibilidade e permeabilidade calorificas. As paredes serão revestidas por enducto hydrofugo de argamassa fina e homogênea, evitando os ornamentos salientes e reentrantes, revestidas, do piso até a altura de dois metros, por uma camada impermeável, lavavel, de tinta a óleo, lacadas de sapolim e a ceramica. [...], o revestimento interno das paredes, com papeis coloridos e aderidos com gelatina e cola não são recomendados, pela impossibilidade de asseial-os e ainda, quando humedecidos, eles permitem a vegetação do peniccillium

brevecaule. Dos papeis contendo produtos arsenicaes, forma-se

e expande-se um gaz toxico – As H (C2H5)2 – a ethylarsina.

(LYRA, 1922, p. 30-31)

Verifica-se que a preocupação com o asseio propiciados pela seleção de materiais a serem utilizados na construção das escolas não estava mais, ou somente mais, centrada nos perigos daquela sujeira visível ou no campo dos odores perceptíveis.

133 Figura 06 - determinação arredondada para o canto de parede do prédio escolar com um raio de 0,10 cm.

Fonte: LYRA, 1922, p. 33

A noção de limpo ou sujo preocupa-se também com o perigo dos infinitamente pequenos, da emanação de gases tóxicos inodoros, cuja visão e nariz humano não seriam mais capazes de detectar – o perigo também estava no invisível, nos micróbios minúsculos, nos fungos e nas bactérias microscópicas, exigindo da ação médica, dos professores e dos alunos, uma postura ainda mais atenta: a limpeza seria responsável pelo afastamento de toda a sujeira, mesmo aquela que não se via. Neste sentido, Chaves destaca que