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INTERVENÇÕES NA VIDA URBANA E EDUCAÇÃO PARA O PROGRESSO

4.1. Como atuar no que não tem: preâmbulos da educação republicana

A entrada da educação da criança no rol das questões médicas pode ser associada inicialmente à três questões: 1ª. A exigência da manutenção do asseio, higiene e limpeza dos prédios escolares, sob a incumbência da Inspectoria de Hygiene; 2ª. A obrigatoriedade da vacinação como pré-requisito para admissão das crianças nas escolas públicas; 3ª. A entrada da discussão acerca da importância das aulas de “gymnástica” e do ensino do trabalho manual nas questões educacionais, como requisitos básicos para a aptidão ao trabalho.

As obrigações da Inspectoria de Hygiene Publica, conforme apresentamos anteriormente, não necessariamente condizia com uma ação efetiva de acompanhamento das instituições escolares pela referida instituição, não porque não houvesse interesse por parte da repartição pública pelo cumprimento de seus deveres, mas porque o número diminuto de “estabelecimentos escolares”, fossem eles particulares ou de subvenção do Estado, assim como de frequência escolar, não constituíam estas instituições ou o aglomerado infantil e/ou adulto nelas presentes, em problemas de saúde pública, mas antes, como uma problemática de caráter exclusivamente educacional.

111 Isso porque na discussão médica em torno da saúde pública ainda prevalecia mais fortemente a relação direta estabelecida entre os surtos epidêmicos e/ou endêmicos e a Teoria Miasmática, sendo assim, outros focos considerados como fontes de contaminação dos ares e pântanos no interior da cidade acabavam atraindo maiores esforços da classe médica65, como por exemplo, o aterramento do Baldo, o aglomerado humano na cadeia pública, a localização do cemitério no centro urbano, o escoamento do sangue de animais abatidos no matadouro, o aterramento da campina da Ribeira e a precariedade higiênica do Hospital da Caridade.

Apesar da Inspectoria de Higiene ter sido criada cerca de 20 anos após o ensino primário ter sido considerado obrigatório na província66, incorrendo seus pais, tutores ou curadores nas penas de admoestação e multa de 5$000 e 10$000 caso descumprissem o regulamento nº 28 de 17 de dezembro de 187267, o número de matrículas oficiais girava em torno de 33 alunos por escolas em 1889.

De acordo com os números apresentados pela pesquisadora Maria Marta de Araújo, (ARAÚJO, 1979, p. 39), neste mesmo ano, havia no estado 152 escolas oficiais subvencionadas pelo poder público, das quais 85 eram masculinas, 60 femininas e 4 mistas, com uma taxa de matrícula de 3.175 meninos e 1.905 meninas.

65 Lembrando que a Inspetoria de Higiene contava com um quadro de dois médicos que eram

responsáveis pelas campanhas de vacinação, fiscalização dos prédios públicos e moradias, como também de tratar dos doentes do Hospital da Caridade. Sobre as dificuldades enfrentadas pelos médicos responsáveis pela Inspectoria de Hygiene Publica, o Dr. Juvencio Odorico de Mattos, em seu primeiro relatório anual sobre os trabalhos realizados pelo órgão em questão traz um aviso “as múltiplas attribuições e deveres que a lei n. 14 de (ilegível) de junho de 1892 distribuio á Inspectoria de Hygiene, atribuições que se referem não somente a inspecção geral das saúde publica, como ao serviço clinico do Hospital da Caridade, trabalhos medico-legaes e diligencias de policia, vacinação e revacinação, cargas, só com muito esforço podem ser executados por dois médicos. Comprehendereis, pois, facilmente o atropelo actual do serviço, desde que me acho com o peso d’aquellas obrigações, desculpando-me a involuntária deficiencia e lacunas deste relatório.” (MENSAGEM, 1893, A4 p. 2)

66 O Art. 14, do Reg. Nº 28, de 17 de Dezembro de 1872, estabelecia a obrigatoriedade da

instrução nas cidades, vilas e povoações, para as pessoas de 7 a 15 anos de idade.

67 Maria Marta Araújo ressalta que em 1873 a população do estado girava em torno de 233.973

habitantes, enquanto que havia 78 escolas em funcionamento, o que dava uma média de 1 escola para cada 2.999 habitantes, no entanto, o número de matrículas era de 2.693 alunos, o que dava a média de 34,5 alunos por escolas, ou de 1,15 alunos para cada 100 habitantes (ARAÚJO, 1979, p. 34).

112 Confrontando estes números com as taxas de analfabetismo na província num espaço de quase 20 anos, podemos perceber o quão lenta era a associação prática, ou seja, fora do campo discursivo, entre desenvolvimento nacional/civilizacional e necessidade educacional.

Os censos realizados nos anos de 1872 e 1890, por exemplo, apontam uma população de analfabetos que girava em torno de 83% e 84,6%, respectivamente (STAMATTO,1996, p. 14). Mesmo considerando as dificuldades de levantamento desses índices no período, estava claro que as políticas de investimento na instrução pública, mesmo aquelas que a tornaram obrigatória, não surtiam impactos significativos nos índices de alfabetização da população local. Neste aspecto, Maria Marta de Araújo ressalta a recorrência do que ela denominou de “cria e extingue” como problema causador da não continuidade das políticas públicas educacionais no Rio Grande do Norte. De acordo com ela,

Decisões contraditórias marcavam a política do tempo. Os dirigentes, por um lado, reconheciam o ‘estado lamentável em que se encontrava a educação’ e, por outros, decresciam sensivelmente os recursos que lhe eram destinados68. Nesse

contexto, tornava-se inviável equacionar o problema do ensino. A solução usada apelava para uma estratégia bem conhecida de nossa política administrativa: extinguir escolas. ‘O cria e extingue’ também marcou a nova era. O Decreto nº 15, de 3 de março de 1890, mandava suprimir escolas onde elas existissem duplicadas. (ARAÚJO, 1979, p. 109)

Apesar de haver a recorrência de falas oficiais, fosse no período imperial ou início da Primeira República, nos diversos relatórios e mensagens de governo que ressaltavam a importância e necessidade da instrução pública e obrigatória como questão central para o desenvolvimento nacional, não havia, de maneira efetiva, a tomada de medidas que demonstrassem na prática tal empenho69.

68 A pesquisadora aponta que no início do regime republicano houve uma sensível diminuição

das receitas destinadas a instrução pública. Se no período imperial o orçamento destinado à educação correspondia a à cerca de 1/3 do total das receitas, esse número cairá para cerca de 1/5 já em 1891 (ARAÚJO, 1979, p. 109).

69 Em 1871, por exemplo, o Dr. Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque tomou a decisão de

113 Os problemas relacionados à instrução pública eram ressaltados por vários vieses, que não exclusivamente o índice de analfabetismo e/ou a escassez das instituições escolares. Prevaleciam nos discursos oficiais a carência de professores ou o mal preparo dos mesmos para o exercício da cátedra, a falta de comprometimento dos pais em matricular seus filhos, a escassez de recursos didáticos, a falta de infraestrutura dos prédios escolares, a insuficiência do orçamento público, etc. Era o que apontava o então presidente de estado Adolpho Affonso da Silva Gordo em 1890.

Ao tratar da instrução pública, dizia ele que “o estado da Instrucção Publica enche-nos de verdadeira humilhação. Não temos escolas, como não temos professores. Não temos enfim instrucção.” (MENSAGEM, 1890, p. 8).

Levando em consideração a salubridade das edificações escolares, quando estas existiam, não havia de fato um acompanhamento sistemático por parte do governo em relação a esta questão. A nova regulamentação para a instrução pública empreendida por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, através da Lei nº 6 de 30 de maio de 1892, trouxe algumas modificações quanto à inspeção das escolas públicas, em seus mais variados aspectos, através da figura do Delegado Escolar (art. 1º, nº VIII), cargo a ser ocupado pelo promotor público de cada município, mas que de fato não era exercida de maneira plena, ou era relegado ao segundo plano em detrimento de outras obrigações deste profissional.

Este “descompromisso” pode ser atestado na mensagem de governo de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão em 1894, endereçada ao Congresso Legislativo, na qual o então Diretor Geral da instrução pública, Francisco Theophilo B. da Trindade, acusa a falta de prioridade em relação a realização das Inspeções escolares, mesmo sendo estas de caráter obrigatório (art. 31 § 7º de 30 de setembro).

Sobre a questão, após traçar um quadro acerca da situação das escolas públicas no estado, o diretor ressalta só haver recebido quatro Relatórios de

ressaltando a impossibilidade de pagamento dos mesmo por falta de verbas públicas. (RELATÓRIO, 1871, p. 9)

114 Inspeção e de visitas escolares naquele ano, os de Santa Cruz, Santo Antonio, São José de Mipibú e de Areia Branca70 (MENSAGEM 1894, S5 p. 5).

Sobre a infraestrutura escolar, fica clara em suas afirmativas a situação de carência generalizada dos prédios, dos materiais necessários para o funcionamento, do comprometimento dos inspetores, da situação de higiene, etc.

Funcionam, em sua quasi totalidade, em casas particulares alugadas, muitas vezes a mesma em que residia o professor, sem os cômodos necessários e até sem o mais simples requisitos exigidos pela hygiene escolar. Sobre este e outros pontos de importância relativos ao ensino primário dirigi, em 3 de Novembro do anno findo, uma circular aos delegados escolares do Estado e os que responderam até hoje são accordes, com excepção de dois ou três que tem sua jurisdição em localidades mais favorecidas em corroborar o que não venho de affirmar. (MENSAGEM, 1894, S5, p. 2-3)

Estas queixas relacionadas à deficiência da infraestrutura escolar, assim como da inexistência de espaços apropriados que apresentassem as mínimas condições higiênicas para o funcionamento das escolas públicas, será lugar comum nos relatórios anuais sobre a instrução pública no estado, pelo menos até a construção do Grupo Escolar Augusto Severo em 1907, cuja diferenciação entre este e as escolas sob subvenção das municipalidades ou particulares será acentuada para aquela realidade.

Sobre as outras duas prerrogativas – vacinação, aulas de gymnastica e trabalhos manuais, também teremos ações pouco enfáticas. A primeira pode ser atribuída à alguns fatores, como como exemplo, a própria quantidade insuficiente de vacinas, a resistência da população em relação a eficiência da mesma, como também a dificuldade de fiscalização neste serviço. Sobre o assunto, o médico Juvencio Odorico de Mattos asseverava que

70 É importante ressaltarmos que o número de escolas era bastante diminuto nesse ano, mesmo

a capital contava com apenas duas escolas para cada sexo mantidas pelos cofres estaduais, e mesmo assim não houve a entrega do relatório de inspeção e visitas escolares (MENSAGEM, 1894, S5 p. 2).

115 A demora em organizar-se esse importante ramo de profilaxia tem dado ate logar a que, na disciplina escolar se relaxe o respectivo Regulamento, na parte que exige para a admissão nas escolas publicas que o candidato seja vaccinado. (MENSAGEM, A4 p. 2)

A profilaxia das doenças via vacinação, educação sanitária e fiscalização material da cidade e suas habitações, ganhou força nas últimas décadas do século XIX até os anos de 1920, sendo caracterizada por um discurso de caráter colonizador da classe dominante, elite intelectual e “homens da sciencia” sobretudo em relação às camadas pobres da sociedade.

No caso da cidade de Natal/RN, por exemplo, podemos considerar exemplar nesse processo, as apreciações das instituições estatais acerca da ameaça dos retirantes da seca e o impacto dos mesmos sobre a salubridade da cidade71, assim como a atenção médico sanitária que se voltava para determinados bairros, reconhecidamente habitados pela classe pobre e/ou trabalhadora como, por exemplo, o Passo da Pátria e o Alecrim.

A “topografia de Natal e sua geografia médica”72 é exemplar nesse sentido. Nela, o Dr. Januário Cicco ressalta os impactos que os hábitos da população residente nessas áreas eram capazes de causar na atmosfera da cidade como um todo.

A classe trabalhadora havia sido escolhida como a população que mais atentava contra a vida coletiva, com suas moradias mal asseadas e hábitos imundos.

O modo por que se fazem as casas do nosso operário, com o piso desprotegido e por onde se arrasta a filharada amarellenta e núa, mesclando o chão com as próprias dejecções, misturando à sujidade do local a côdea de pão que lhe cáe das mãos, não há remédio contra as reifecções, tônicos que reorganizem

71 Ver DANTAS, George A. F.; FERREIRA, Angela L. A. Os indesejáveis da cidade: as

representações do retirante da seca (Natal, 1890-1930). Scripta Nova. Revista electrónica de Geografia y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona. N. 94 (96), 1 de agosto de 2001.

72 Tais informações compunham o plano de saneamento da cidade realizado pelo médico

Januário Cicco. Tratava-se de um quadro amplo que descrevia e analisava cada espacialidade da cidade, diagnosticando e rescrevendo medidas danadoras adequadas para cada caso.

116 decadências. Nem fossas que eduquem um povo de analphabetos (CICCO apud LIMA, 2003, p. 17)

Tais posturas, das políticas de saúde públicas73, no entanto, não devem ser reduzidas, exclusivamente, à forças coercitivas como únicos elementos de poder – polícia sanitária e aplicação de multas, por exemplo, mas sua associação com a necessidade de uma infância apropriadamente modelada, via educação sanitária escolar, abre espaço para outros mecanismos e/ou estratégias de controle, por exemplo.

De acordo com Jurandir Freire Costa,

Essa estrutura de poder não esteve centrada apenas em elementos coercitivos, como usualmente se afirma. Apesar da política de saúde pública desse período apresentar o discurso da polícia sanitária, isto é, o propósito de induzir através da força repreensiva estatal normas e medidas de saúde, a função coercitiva não visou simplesmente excluir, separar os elementos desviantes. [...], a função coercitiva no âmbito das instituições de saúde tem algo de educativo quando visa exemplar. Pelo temor do exemplo aprende-se a ordem, a disciplina; a aceitar a hierarquia. Esteve inseparável de um certo papel adaptativo- educativo do Estado, que buscou realizar uma adequação entre o aparato produtivo e a moralidade e padrões de higiene das massas populares. Foi terreno onde se desenvolveu determinados mecanismos gerais, concretos, técnicos de dominação: poderes que intervieram materialmente, atingindo, como no caso dos dispositivos de regulação sanitária, por exemplo, a realidade mais concreta dos indivíduos – o corpo – e que se situaram ao nível do próprio corpo social. E não acima dele, penetrando a vida cotidiana (COSTA, 1986, p. 13-14)

Nesse processo de criação e recriação de estratégias e mecanismos de dominação do corpo individual e social, a exemplificação, via exposição e exaltação, por discurso ou imagem, ganha espaço de destaque. As exposições de comportamentos exemplares, “constituem-se como registros de práticas que se visam legitimar” (ROCHA, 2003, p. 166). Não por acaso, neste período, serão

73 A ideia de políticas de saúde pública é aqui partilhada com Nilson do Rosário Costa, quando

as considera como “as ações estatais que visaram preservar a saúde de determinadas parcelas da população através de programas de imunização, campanhas sanitárias e controle do ambiente urbano” (COSTA, 1986, p. 11)

117 comuns exposições escolares em praça pública, desfiles cívicos, concurso de robustez, comemoração pública de datas festivas e heróis republicanos, etc., como momentos impares na exposição urbana de uma infância escolarizada e saudável.

Nessa questão (exposição exemplar), a conformação dos corpos e sua disposição espacial, fossem através de suas próprias medições corporais, como quesitos de robustez74 via análise antropométrica ou de sua gestualidade e comportamentos, colocavam a necessidade do treinamento corporal via mecanização dos gestos como indispensável ao fortalecimento físico e aptidão ao trabalho.

Havia, nesse período, uma aura de fatalismo e de esperança no futuro convivendo mutuamente, produto do encontro de teorias médicas distintas, como eugenia, sanitarismo, higienismo, médico-legal, com o direito e a antropologia, que buscavam analisar o país e sua população por um viés positivo, medindo, quantificando, classificando, diagnosticando, sanando, etc.

A ameaça da mestiçagem era considerada condição de predisposição para a deterioração do povo em seus aspectos físicos e morais. Em relação a estes últimos não estava clara a separação entre corpo, mente e ambiente. Questões como taras, tabagismo, alcoolismo, raquitismo, impulso à masturbação, fraqueza, debilidade mental, insalubridade, loucura, sujeira, deficiência física, indolência etc., faziam parte de um mesmo aparato explicativo. Tais acepções se tornam legitimadas dentro das academias, sobretudo com as teorizações do médico italiano Cesare Lombroso ao aproximar a criminalidade das conformações físicas, antropológicas e sociais dos indivíduos. De acordo com Schwarcz,

Seja por um traço, seja pela delimitação de muitos detalhes, o fato é que, para esse tipo de teoria, nas características físicas de um povo é que se conheciam e reconheciam a criminalidade, a loucura, as potencialidades e os fracassos de um país. Critério ‘objetivo de análise’, o ‘método antropológico’ trazia para esses intelectuais uma série de certezas não apenas sobre o indivíduo

74 O índice de Robustez tinha como referência os métodos de medição determinados pelo médico

francês Dr. Pignet, calculados pela fórmula E - (P+P), que significava a diminuição da altura pela soma do peso e do perímetro torácico (MENDES; NÓBREGA, 2008, p. 2012).

118 como também acerca da nação. [...]. A nação, passando por um processo lento de evolução, carecia de um tipo único, uma raça delimitada, estando sujeita às tentações da criminalidade, aos

abismos da loucura. [...] (SCHWARCZ, 1993, p. 217-218).

Neste contexto, aulas de gymnastica e de trabalhos manuais são tratados pelo viés da indissociabilidade, como se o primeiro fosse condição sine qua non para a construção de corpos aptos ao trabalho e fortes o bastante para romper com os determinismos geográficos e biológicos de um povo mestiço.

Os exemplos para transformação dos corpos débeis em corpos sãos vinham sempre dos países ditos civilizados, cuja aparência física de seus indivíduos e sua capacidade produtiva eram consideradas matemática e biologicamente saudáveis.

Nos Estados Unidos, na Belgica, na França, na Dinamarca, na Suecia, na Russia, na Alemanha, na Suissa e, em menor escala em outros paizes a importância dada aos exercícios physicos de toda espécie nas escolas primarias é igual a muitos trabalhos intelectuaes. Em muitos destes paizes, uma parte importante do edifício escolar, ou outro anexo a este é dedicado ao funcionamento de oficinas elementares de marcenaria, cartonagem, serralheria, etc., em que os alumnos, a par do exercício physico tão necessário ao desenvolvimento physicologico da infância, fazem por ventura o primeiro aprendizado de um officio útil [...] (MENSAGEM, 1894, S5, p. 3)

Destarte, assim como a higiene dos prédios escolares e a exigência da vacinação no ato das matriculas não eram dignas de elogios; as aulas de “gymnastica” não constituíam-se em realidade concreta até a construção dos Grupos Escolares, barrando, sobretudo, na inexistência de espaços próprios a sua realização e ineficiência na formação dos professores para tal prática, por serem incapazes de dar conta do programa pedagógico moderno destinado ao ensino primário – “lições de couzas, geometria linear e dezenho, gymnastica e trabalhos manuais”.

As determinações para a educação pública deste período buscavam seguir as mesmas orientações delegadas pelas nações desenvolvidas, mas que

119 na prática, conforme assinalado anteriormente, esbarravam na má formação dos professores, no não comprometimento dos pais em colocar os filhos nas escolas, assim como, na carência generalizada de prédios próprios ao funcionamento escolar e/ou seu número diminuto em relação ao número de habitantes.

O imbróglio sobre a questão financeira relacionada à instrução pública, nesse início de República, que girava em torno da municipalização total ou não do ensino primário significou, na prática, perdas consideráveis ao ramo, uma vez que a carência financeira dos municípios ou a falta de comprometimento dos mesmos com a questão da instrução pública era constantemente atestados pelos relatórios oficiais. Para Nestor dos Santos Lima,

A lei estadual n. 131 de 136 de setembro de 1899, tornando municipaes as cadeiras de instrucção primaria creadas ou vacantes, abriu para o ensino publico uma nova era de desprestigio e de calamidades: foi o mais profundo golpe vidrado da pepauperada e rotineira aparelhagem do ensino popular, em nosso Estado. (Lima, 1927, p. 149)

Ainda nesta questão, em relatório endereçado ao governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em 1895, o então Diretor de Instrucção Pública, professor e bacharel em direito, o sr. Pinto de Abreu, denunciava os impactos do sistema de competência mista implantado pelo Estado.

Confessemos: - a autonomia dos municípios, consagrada pela nossa lei orgânica, é uma faculdade de que elles não sabem usar. Sejam causa as nossas condições de raça, educação, topographia, sejam outras quaesquer condições de ordem moral ou economica, certo é que o apparelho communal entre nós inda não tem no organismo politico do Estado um funccionamento completo indispensável à pratica do systhema federativo. Concluamos: descentralisar, municipalisar, é cousa difficil, si não impossível, actualmente entre nós. Em matéria de Instrucção Publica esta dificuldade, ou esta impossibilidade, assume maiores proporções. (MENSAGEM, 1895, p. 1)

Entre Decretos e Leis que estipulavam a competência mista ou a municipalização radical, Lei nº 131 de 13 de setembro de 1899, a instrução