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Aspectos conceituais sobre limites aos direitos fundamentais e sua importância para o

4 NOTAS ACERCA DAS RESTRIÇÕES E DAS CONFIGURAÇÕES AOS

4.1 Aspectos conceituais sobre limites aos direitos fundamentais e sua importância para o

A opção metodológica pela teoria externa para fins de elaboração deste trabalho torna claro que o posicionamento defendido no estudo situa-se na possibilidade de restrições e de limitações externas aos direitos fundamentais, opondo-se à tese desenvolvida nas teorias internas. Compreendido que existem limitações aos direitos fundamentais, torna-se importante, com o intuito de manter a precisão terminológica necessária aos trabalhos desta natureza, delinear alguns conceitos que serão utilizados em seu desenvolvimento.

Quando se cuida das limitações legislativas, pode-se destacar que elas empreendem um estreitamento no exercício constitucionalmente definido para o direito ou uma pormenorização da definição e da forma de exercício do direito fundamental. Muito embora a doutrina acerca da matéria não contende relativamente à significação dessas hipóteses de limitações, dissente quanto à sua nomeação, empregando termos diversos, tais como limites, delimitações, restrições, configurações, conformações e intervenções. Assim, para manter a precisão terminológica e a coerência do trabalho, necessário trazer a lume qual a concepção conceitual acerca desses termos que se perfilha.

Inicialmente, consigne-se que o termo “limitações”, em relação aos direitos fundamentais, será empregado para significar qualquer situação que os limite, sem diferenciação de qualquer espécie. Em outras palavras, empregar-se-á sua acepção ampla. Acontece que, a depender de que forma ocorre a limitação ao direito fundamental, é possível listar variadas terminologias que as exprimem, particularizando-as, pois.

Muito embora se revele dificultosa a tarefa de demarcar os lindes práticos existentes entre as duas principais categorias de limitações com que se trabalha neste estudo, quais sejam, restrições e configurações, importante conceituá-las e distingui-las para fins de       

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bem explicar se e como a capacidade contributiva possui aptidão para restringir ou para

interferir na configuração do direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado

nas ocasiões em que se faz uso da extrafiscalidade para a promoção desse direito. Expressando-se de outra maneira, nesse ponto, averígua-se se a capacidade contributiva atua na liberdade de conformação do legislador em impostos extrafiscais ambientais. Para designar a noção geral de que, quando se refere às limitações legislativas no eixo temático do direito fundamental, adota-se o termo “intervenções legislativas” 122, que denota ambas as possibilidades mais específicas explicadas nos parágrafos anteriores.

4.1.1 Restrição e configuração aos direitos fundamentais: uma distinção necessária

Ainda que não se consiga empreender, sem grande trabalho, a distinção, na prática, entre o que consubstancia restrição e o que promove configuração, conceitualmente, essa diferenciação recebe relevância, pois se discute, ao largo desta seção, se e como a capacidade contributiva possui aptidão para restringir ou para interferir na configuração do direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado nas ocasiões em que se faz uso da extrafiscalidade para a promoção desse direito. Deve-se, portanto, perceber, a partir dos conceitos distintos de restrição e configuração, duas maneiras possíveis e específicas de se compreender a capacidade contributiva como fator conformador da legislação dos impostos extrafiscais ambientais.

Para restrições aos direitos fundamentais, mesmo que a sua categorização normativa como norma-princípio revele maior adequação aos pressupostos da teoria externa com a qual se optou trabalhar, impõe-se considerar que, como eles são inferidos do texto da Constituição, apenas outras normas de igual hierarquia (constitucional), quer regra, quer

princípio, poderão exercer a atividade de restrição123. Note-se que o critério para saber se       

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O termo intervenções legislativas, designa, nesta pesquisa, qualquer ingerência normativa nos direitos fundamentais, o que corrobora com a perspectiva de Jane Reis Gonçalves Pereira: “Acresça-se, ainda, que é possível empregar a expressão intervenções legislativas, a abranger todas as hipóteses de atuação normativa no campo temático dos direitos fundamentais.”. (PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação Constitucional e

Direitos Fundamentais, p. 138.).

123 Veja-se integralmente a explicação de Humberto Ávila sobre o conflito entre normas, em que destaca o

critério da hierarquia: “Conexo a essa questão está o conflito entre normas, especialmente entre princípios e regras. Normalmente, afirma-se que, quando houver colisão entre um princípio e uma regra, vence o primeiro. A concepção defendida neste trabalho segue percurso diverso. Em primeiro lugar, é preciso verificar se há diferença hierárquica entre as normas: entre uma norma constitucional e uma norma infraconstitucional deve prevalecer a norma hierarquicamente superior, pouco importando a espécie normativa, se princípio ou regra. Por exemplo, se houver conflito entre uma regra constitucional e um princípio legal, deve prevalecer a primeira; e se houver um conflito entre uma regra legal e um princípio constitucional, deve prevalecer o segundo. Isso quer dizer que a prevalência, nessas hipóteses, não depende da espécie normativa, mas da hierarquia.”. (ÁVILA.

determinada norma pode ou não restringir um direito fundamental não se funda na distinção entre as espécies normativas, mas sim na hierarquia em que se posicionam. Segundo o raciocínio anterior, apenas outros direitos de mesma magnitude poderão interferir de maneira limitadora nos direitos fundamentais, o que leva à ilação de que, sob o ponto de vista normativo, as restrições aos direitos fundamentais são normas promotoras de contenção ao grau máximo de realização dos princípios de direitos fundamentais124. Nesse sentido, uma restrição opera uma limitação normativa que diminui a zona de incidência máxima do direito fundamental. Importante, então, a análise da aptidão que normas possam ter para restringir direitos fundamentais, mais precisamente normas referentes aos impostos extrafiscais (que exprimam finalidade ambiental), mesmo que seja apenas para aferir se existirá uma violação de direitos fundamentais quando de seu futuro exercício125, que pode nem se perfectibilizar.

Por outro lado, aponta-se a configuração como uma norma que, muito embora mantenha pertinência com o eixo temático do direito fundamental, meramente o configura, de modo que traça uma pormenorização da sua definição e da sua forma de exercício, bem como estipula garantias processuais para seu acautelamento.

Em síntese, quando se cuida das limitações legislativas, interessa-nos dois modos específicos como ela ocorre: mediante restrição, um estreitamento no exercício constitucionalmente definido para o direito; mediante configuração, pormenorização da definição e da forma de exercício do direito fundamental acompanhada de garantias processuais correlatas ao seu resguardo. Ademais, para designar a noção geral de que, quando se refere às limitações legislativas no eixo temático do direito fundamental, adota-se

       

Teoria dos princípios, p. 112-113. O autor defende a mesma ideia no trabalho: ÁVILA, Humberto.

“Neoconstitucionalistmo”: entre a “ciência do direito” e o “direito da ciência”. Revista Eletrônica do Direito

do Estado, Salvador, IBDP, n. 17, jan./mar. 2009. Disponível em: <http://www.direitodoestado.com>. Acesso

em 04 de julho de 2011, p. 11.).

124 “Nesse sentido, pode-se dar a seguinte resposta simples à questão acerca do que são restrições a direitos

fundamentais: restrições a direitos fundamentais são normas que restringem uma posição prima facie de direito fundamental. Essa resposta tem, contudo, um caráter circular, na medida em que utiliza o conceito de restrição para definir o conceito de restrição a direito fundamental. Mas ela oferece um pequeno avanço, ao afirmar que as restrições aos direitos fundamentais são normas. Aqui é possível mencionar uma, que vai além das normas restritivas mandatórias e proibitivas e diz respeito a todas as normas restritivas: restrições a direitos fundamentais são normas que restringem a realização de princípios de direito fundamental”. (ALEXY, Teoria

dos Direitos Fundamentais, Trad. Virgílio Afonso da Silva. 2ª ed., p. 284-285.). 125

Anota-se aqui a advertência formulada por Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis de que “tarefa da dogmática não é resolver diretamente tais conflitos, mas analisar as intervenções ou abstenções normativas do Estado em relação à sua conformidade constitucional”. Ou seja, emprega-se a noção de que a análise da atuação do legislador no exercício da sua liberdade de conformação em impostos extrafiscais de finalidade ambiental, sob o prisma dos direitos fundamentais albergados pela capacidade contributiva, faz-se pertinente mesmo para aferir se uma determinada hipótese normativa abstrata não já se apresenta inquinada com inconstitucionalidade. (Cf. MARTINS, Leonardo; DIMOULIS, Dimitri. Teoria dos Direitos Fundamentais, p. 136.).

o termo “intervenções legislativas” 126, que denota, destarte, ambas as possibilidades mais específicas explicadas nos parágrafos anteriores.

Como se aborda a tese da capacidade contributiva, sob a ótica da jusfundamentalidade, enquanto limitação à atividade do legislador em impostos extrafiscais ambientais, importa saber se, na referida atividade, o emprego desse princípio poderá consubstanciar ou uma restrição ou uma configuração ao direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado.

4.2 Notas acerca da possibilidade de restrição aos direitos fundamentais e das