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Aspectos a considerar para uma proposta de programa expositivo

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 59-62)

4. A MÚSICA (O PATRIMÓNIO MUSICAL) ENQUANTO CONTEÚDO EXPOSITIVO EM CONTEXTO MUSEAL

4.3. Aspectos a considerar para uma proposta de programa expositivo

Uma leitura do conjunto de reflexões que efectuei a propósito das exposições dos museus de temática musical que “visitei” permite detectar algumas tendências. São essas tendências que agora agrupo, esperando, conseguir sistematizar aquelas que, em benefício da exposição do Museu da Música, entendo ser as principais conclusões a reter da análise que realizei:

a. Densidade de peças - O número de peças deverá ser equilibrado em função do espaço disponível e da mensagem que se pretende que a exposição comunique. Peças a mais podem sobrecarregar o espaço, contribuindo no final para um maior cansaço do visitante e, por conseguinte, para uma

menor eficácia comunicativa. A este propósito, a exposição do Museu do Fado parece-me um exemplo a seguir;

b. Espaços - Independentemente do número de peças expostas, a fruição da exposição será sempre melhor para o visitante caso possa circular à vontade e apreciar devidamente os conteúdos expostos, algo que acontece, por exemplo, no Musée de la Musique (Paris). Por outro lado, a exposição terá ainda a ganhar caso os seus espaços possam ser articulados com um jardim;

c. Informação - A exposição deverá possuir vários níveis de informação, desde o mais básico (tabela com a legenda da peça) até ao mais aprofundado (o catálogo). Desta forma será possível dar resposta às solicitações de públicos com diferentes graus de exigência relativamente aos temas tratados e aos objectos expostos. Esta preocupação deverá ser estendida às crianças, desenvolvendo-se conteúdos especiais, a exemplo do que acontece também no Musée de la Musique (Paris);

d. Música - Ainda que imaterial, a música é uma forma de arte, pelo que deve ser ouvida ou “vista” no decorrer da exposição. Não deverão, portanto, faltar gravações (áudio e vídeo), até porque estas têm o condão de “amplificar” os objectos expostos;

e. Interactividade - Longe vão os tempos em que os visitantes dos museus se contentavam em ser meros receptores. Nesse sentido, e a exemplo de alguns dos projectos que aqui apresentei, a exposição deverá possibilitar a participação (como acontece, por exemplo, no Museo Interactivo de la Música de Málaga ou na Haus der Musik de Viena), não deixando essa tarefa apenas nas mãos dos técnicos dos serviços educativos. Ao integrar conteúdos lúdico-pedagógicos (multimédia ou não) que levem à participação dos visitantes, estes estarão a divertir-se e a conhecer algo de novo, o que se poderá traduzir em experiências transformadoras. Note-se, contudo, que esses meios deverão ser utilizados de forma equilibrada, evitando que a exposição possa tornar-se um evento puramente “pirotécnico”, como acontece por vezes na Haus der Musik (Viena);

f. Temas e património - A diversidade de temas tratados e de objectos expostos contribui, na medida certa, para exposições mais dinâmicas e interessantes, sendo um bom exemplo disso a exposição do Museu do Fado como um todo ou as reconstituições das oficinas de instrumentos musicais no

Musée des Instruments de Musique (Bruxelas). Com ligeiras matizes, os temas tratados pelos vários museus são muito semelhantes, pelo que fica a ideia de que se poderia pensar em ângulos novos. Com isto, quero dizer que seria importante ir um pouco mais longe relativamente ao tipo de património que poderá integrar a exposição. Nessa medida, creio que o valor individual das peças das colecções não deverá sobrepor-se à mensagem que se pretende que a exposição comunique, ou seja, a música. Se assim for, o museu será muito mais do que o somatório das suas colecções, descolando-se do seu passado enquanto museu instrumental para assumir verdadeiramente o papel

de museu da música. Numa outra perspectiva, creio que a exposição terá a ganhar prestando uma atenção especial à realidade portuguesa, não só porque dessa forma o museu honra a sua missão, assumindo a sua condição de museu nacional42, mas também porque marcará a diferença relativamente às exposições de museus da música estrangeiros;

g. Soluções expositivas e gráficas - A variedade de temas e património poderá, como referi a propósito da Haus der Musik (Viena), resultar em exposições de tal maneira distintas que sejam passíveis de pertencer a dois museus diferentes. Posto isto, será importante que as soluções expositivas e gráficas adoptadas possam servir como garante de uma comunicação coerente ao longo do percurso, como aliás é conseguido na exposição do Museu do Fado;

h. Cenografia, som, iluminação e concepção plástica - A utilização conjunta e equilibrada destes elementos poderá estimular sensações, potenciando as experiências de visita, nomeadamente criando ambientes que ajudem a transmitir determinadas mensagens. Um bom exemplo disso é a exposição do piso 2 da Haus der Musik (Sonosfera). Por outro lado, será igualmente importante que estes elementos se combinem de modo a que a exposição possa ser atractiva para um público jovem, dinâmico e moderno, sem com isso excluir outros públicos.

Todos os aspectos aqui listados serão de considerar no que toca à elaboração de uma proposta de programa expositivo para o Museu da Música. No entanto, defini também como objectivo para este capítulo tentar perceber como poderia a exposição do Museu distinguir-se positivamente relativamente às de outros museus, isto numa perspectiva de conquistar o seu próprio espaço. Procurando agora concluir, creio que de todos os aspectos que enumerei atrás a resposta passa pelo que escrevi na alínea f a propósito dos temas e património.

Entendo que as exposições de muitos museus de temática musical reflectem mais as suas colecções do que os temas que tratam. Por isso mesmo, parece-me que nem tudo o que é música está retratado nessas exposições, havendo ainda espaço para introduzir alguma originalidade, o que dependerá do conceito adoptado. A acrescer a isto, julgo que uma perspectiva centrada na realidade portuguesa será, igualmente, um factor de diferenciação, além de que terá o condão de contribuir para a valorização e divulgação da música e do património musical português.

42 Como referi no capítulo 2, no momento em que redijo este trabalho o Museu da Música é um serviço da administração central tutelado pelo Instituto dos Museus e da Conservação. Pelo contrário, tanto o Museu do Fado, como o Museu da Música Portuguesa são instituições ligadas a autarquias, ligação que no caso do primeiro se faz por intermédio de uma

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