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Fabrico de suportes fonográficos

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 87-90)

5. PROPOSTA DE PROGRAMA EXPOSITIVO

5.2. Produção (Emissão)

5.2.3. Fabrico de suportes fonográficos

A exposição deverá também abordar aspectos industriais relacionados com a produção musical, como é o caso do fabrico de suportes fonográficos.

Pensando que a música parte sempre de um emissor (o músico), a sua recepção em plena sociedade de massas não é, na maior parte das vezes, imediata, mas sim mediada. Esta mediação pressupõe um suporte que, por sua vez, terá que ser descodificado de modo a permitir a recepção. Quando esse suporte é um disco, uma cassete ou um CD, a sua descodificação pressupõe, então, a existência de um gira-discos ou de um leitor de cassetes ou CD. Quer uns quer outros são produtos industriais, sem os quais a música não seria o que é hoje. Pese embora tenham vindo a perder terreno em anos mais recentes, face ao surgimento dos suportes virtuais (por exemplo, mp3), a sua importância, apesar de muitas vezes descurada, é fundamental, em especial quando se pensa em salvaguardar o património sonoro de todo o século XX, e não só.

Nessa perspectiva, o papel da exposição terá que passar pela sensibilização para a preservação e valorização dos suportes e reprodutores, sem os quais não é possível, como vimos, recepcionar a música ou o som. Ora, que melhor maneira de o fazer se não começar por os explicar, interpretar, descodificar e com isso “descoisificá-los”? Essa será, por conseguinte, a mensagem fundamental a transmitir neste núcleo, tanto mais importante quanto serão cada vez mais as crianças que no futuro desconhecerão a possibilidade de ouvir música sem ser através de leitores de mp3, telemóveis ou computadores.

De modo a transmitir esta mensagem, pretende-se que o núcleo aqui tratado possa, historicamente, mostrar a evolução dos suportes, referindo-se às várias inovações técnicas que, progressivamente, fizeram avançar esta indústria até à actualidade. De fora ficarão os processos industriais de fabrico de reprodutores de som, opção que se justifica pelo facto destes equipamentos terem o seu destaque no núcleo dedicado às práticas de recepção musical (ver 5.3.).

A história dos suportes fonográficos deverá ser contada tendo por base aqueles que foram os formatos de maior aceitação popular ao longo de todo o século XX: o disco (goma laca e vinil), a cassete e o CD, não deixando de fazer referências a outros suportes (bem ou mal sucedidos), nomeadamente o cilindro de fonógrafo, o rolo de pianola, o ditafone, a bobine, o DAT ou o MiniDisc.

Tendo em conta que vários destes suportes perderam, entretanto, a sua função original para serem “refuncionalizados”, então a exposição deverá, no final do núcleo, expô-los no contexto das suas novas funções, nomeadamente enquanto objectos de moda, decoração ou design. Não deverá, também, deixar de assinalar processos de valorização afectiva como, por exemplo, o que beneficiou recentemente o disco de vinil.

Para que os visitantes possam perceber a história destes suportes, deverá proceder-se à reconstituição do seu processo de fabrico após a produção do master no estúdio de gravação. Serão, por conseguinte, assinaladas as várias fases desses processos, destacando as diferenças e semelhanças entre si, as matérias-primas e os utensílios usados e mencionando as inovações tecnológicas introduzidas ao longo dos anos.

De modo a optimizar este conceito, permitindo uma percepção comparada e uma melhor fruição, a exposição deverá reproduzir em paralelo, e de forma cronológica, os processos de fabrico dos três suportes base mencionados, recorrendo, para o efeito, à apresentação das várias máquinas utilizadas no processo e dos vários suportes em cada uma das fases do fabrico.

No caso dos discos de vinil, isso pressupõe a apresentação de fases como o corte do acetato, as operações de galvanoplastia, a preparação do Policloreto de Vinilo (PVC) ou a prensagem. Tratando-se de um CD será necessário referir a masterização, as operações de galvanoplastia com vista, desta feita, à obtenção do chamado estampador, a injecção do policarbonato de modo a reproduzir a informação existente no estampador ou a impressão. Por fim, no caso da cassete, será conveniente explicar a preparação de mais masters, a gravação nas chamadas panquecas (rolos de fita magnética), a inserção da fita gravada nos cartuchos (cassetes) ou a sua consequente impressão. Para os três suportes, serão ainda apresentadas as fases de produção dos materiais gráficos (capas ou inlay) e embalagem.

As máquinas e a sua função e forma de utilização serão interpretadas localmente com recurso a legendas, fotografias, publicidade de época, textos de parede, esquemas gráficos, som e vídeos.

Entre os possíveis conteúdos multimédia, deverão incluir-se, caso possível, gravações vídeo das fábricas ainda em funcionamento, assim como testemunhos de ex-funcionários, que terão como objectivo uma transmissão oral, em primeira mão, do ambiente e condições de trabalho existentes nas unidades fabris

apresentadas. Tal como noutros núcleos, também estes conteúdos poderão ser sincronizados com os áudio- guias.

O Museu deverá procurar estabelecer uma relação com esses ex-funcionários, em especial porque o seu contributo poderá ser essencial para o sucesso do projecto, por exemplo, contribuindo com a sua experiência para a conservação e restauro da maquinaria exposta.

Caso se justifique (e isso seja possível), poderá proceder-se à desmontagem de algumas máquinas, visando dessa forma realizar uma melhor interpretação. As máquinas poderão, também, ser pontualmente postas em funcionamento, isto caso não haja risco para a sua preservação e essa utilização não represente, de algum modo, um constrangimento para a fruição dos restantes núcleos.

Funcionando como uma espécie de prolongamento do núcleo dedicado ao som (ver 5.1.2.), a exposição deverá integrar um modelo explicativo da forma como este é fixado num suporte físico. O modelo em questão servirá como uma das componentes lúdicas deste núcleo, pretendendo-se que o visitante possa ele próprio produzir um suporte básico com um som por si vocalizado.

Por outro lado, a exposição não deverá limitar-se a apresentar os suportes e os respectivos processos de fabrico, mas sim procurar que essa apresentação seja acompanhada de informação relativa à história desta indústria no nosso país (ainda por fazer), nomeadamente que unidades fabris existiram, em que contextos e durante quanto tempo produziram, que especificidades se revestiu o processo de fabrico em solo português, etc.

Tendo em conta que a exposição representa uma tentativa de recriação da realidade de unidades fabris, então será necessário reunir informação tão detalhada quanto possível acerca dos contentores originais, nomeadamente analisando a existência de algum tipo de padronização arquitectónica.

Isto pressuporá um importante trabalho de investigação a realizar nos arquivos de empresa ainda existentes de unidades fabris tão relevantes no contexto português como as da Rádio Triunfo (a primeira de que há memória, criada em 1946 com a designação Fábrica Portuguesa de Discos) ou da Valentim de Carvalho (criada no início da década de 50).

Essa investigação deverá ser pensada no sentido de poder também beneficiar a exposição com outros conteúdos, por exemplo, materiais gráficos ou documentos com informação que se venha a revelar interessante no contexto do núcleo aqui tratado ou da exposição em geral.

Dela terá ainda que resultar um levantamento da maquinaria que sobreviveu ao encerramento das fábricas de discos, cassetes e CD que funcionaram em Portugal. Será a partir desse levantamento que o

Museu procurará a incorporação ou depósito dos conjuntos patrimoniais com valor histórico, tecnológico e social essenciais à organização de um discurso expositivo coerente, isto dado não possuir actualmente quaisquer objectos do género. Caso isso não seja possível, seja porque essas máquinas foram destruídas ou porque estão ainda em funcionamento55, então deverá optar-se, quando possível, por uma reconstituição à

escala ou por maquetas explicativas, complementadas com informação gráfica (por exemplo, esquemas, desenhos ou fotografias).

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 87-90)