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Avaliação e principais carências da exposição permanente

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 43-46)

3. A EXPOSIÇÃO PERMANENTE DO MUSEU DA MÚSICA

3.3. Avaliação e principais carências da exposição permanente

Uma leitura das opiniões dos visitantes registadas no livro de visitas permite perceber que a colecção do museu é tida em boa conta, pese embora essa satisfação não se estenda a 100% à exposição permanente, à qual é apontada falta de informação e de elementos pedagógicos, mas acima de tudo, a inexistência de ilustrações auditivas e interactividade.

Este último reparo, em especial, traduz alguma desilusão face às expectativas que a designação Museu da Música cria antes da visita e que depois são postas em cheque quando, por exemplo, pouco mais é dado a ver se não instrumentos musicais e mesmo esses falham em ser acompanhados de possibilidades de exploração multimédia e lúdico-pedagógica.

Recentemente, os visitantes passaram, contudo, a ter à sua disposição um conjunto de leitores mp3 com visitas áudio. Trata-se de um passo importante, mas que, como referi (ver 3.2.2.), não está a ter a receptividade que seria de esperar.

Por outro lado, a ausência de informação no local condiciona grandemente a apreensão da exposição, tornando o visitante refém de material escrito e da mediação do Serviço Educativo ou de outras actividades proporcionadas pelo Museu. Como mencionei antes (ver 3.2.2.), estas possibilidades não são, todavia, “soluções” adaptadas para todos os visitantes.

A menor capacidade de comunicação da exposição não é mais apontada, visto que a maioria dos visitantes se desloca ao Museu integrando grupos organizados, para os quais são, por norma, realizadas actividades ou visitas guiadas. No entanto, tendo em conta a satisfação das expectativas dos demais visitantes, seria bastante importante que a exposição prestasse especial atenção ao desenvolvimento de conteúdos informativos, sejam estes textuais, pictóricos, áudio ou vídeo.

Entrando já no campo das colecções, são de assinalar outros comentários registados nos livros de visitas, nomeadamente o pedido de mais instrumentos contemporâneos ou populares portugueses.

Além da interpretação imediata, estes comentários permitem concluir que os desejos dos visitantes vão no sentido de que o Museu diversifique e alargue, de forma mais evidente, o seu raio de acção a outras músicas que não apenas a erudita, com a qual acaba por estar conotado por conta da selecção de peças em exposição.

Extrapolando um pouco esta última ideia, é possível também chegar à conclusão que o discurso museológico adoptado na exposição é limitado e que a Instituição teria a ganhar ao explorar outras perspectivas de uma temática tão abrangente como é a música. Veja-se, por exemplo, como os elementos

iconográficos que integram a exposição têm, em certa medida, um papel subalternizado relativamente aos instrumentos.

Alguns comentários deixados nos livros de visitas consubstanciam esta perspectiva, por exemplo os dois seguintes: “… modesto espaço que espero vir a ver ampliado com mais variedade de 'veículos' da música...”; “… E uma parte de música? E história da música? A música é algo mais que simples instrumentos. Devia chamar-se Museu de Instrumentos Musicais.”

A este propósito será interessante assinalar como as renovações efectuadas na exposição permanente falharam em romper com a matriz estabelecida pela exposição inaugural do Museu, datada já de 1994, nomeadamente ao não responder às perguntas constantes do comentário acima.

Neste ponto está, a meu ver, o cerne da questão, já que a exposição segue um caminho um tanto ou quanto preguiçoso, plasmando-se ao próprio sistema de classificação organológica dos instrumentos musicais adoptado para a realização das tarefas de documentação e inventário. Dessa forma perde a oportunidade de contar uma história que tenha a música como pano de fundo32. Num museu de

instrumentos musicais isto não seria um problema de maior, no entanto, em causa está a exposição de um museu da música.

Seria, então, muito importante se esta pudesse ser repensada enquanto meio de comunicação que é33. Em particular, o trabalho conceptual preparatório deveria ser apoiado num programa científico para,

com rigor e criatividade, se chegar a um conceito sólido de exposição, capaz de transmitir uma mensagem consentânea com a missão do Museu e as expectativas dos seus públicos.

Este conceito deveria, também, ser pensado tendo em mente os restantes problemas detectados no diagnóstico, parte deles resultado das limitações que o próprio espaço da exposição possui.

O aumento do número e diversidade de peças em exposição, a disponibilização de mais suportes informativos ou a possibilidade de apreciar convenientemente as telas de José Malhoa são exactamente exemplos de opções que estão à partida limitadas pelo espaço existente e as suas características.

32 “Ya no se trata sólo de exponer objetos, por muy extraordinarios que éstos sean desde el punto de vista artístico, sino de contar una historia que interpele, cautive, y transmita un mensaje con el que los visitantes se sientan atraídos e identificados.” (HERNÁNDEZ HERNÁNDEZ, 2009: 228).

33 “La exposición es considerada como un medio de comunicación en el que se utiliza un lenguaje propio basado en los objetos, en los textos escritos, en los gráficos e ilustraciones, en los medios audiovisuales y en los medios tridimensionales. Los objetos van a constituir el eje principal de la presentación y, a partir de ellos, se va a articular el relato. Será necesario, por tanto, hacer una selección de los mismos en función de lo que queramos contar y del potencial de comunicación que posean, aunque también tiene su importancia el hecho de que sean originales y auténticos.” (HERNÁNDEZ HERNÁNDEZ, 2009: 231).

De igual modo, por mais necessários que sejam, o Museu não possui espaços próprios para a realização de exposições temporárias, concertos, workshops, conferências ou actividades do Serviço Educativo.

Estas limitações estendem-se aos problemas de acessibilidade identificados (ver 3.2.4.), à não existência de lugares de estacionamento, de uma cafetaria / restaurante ou de fraldários e sanitários para crianças; tudo ausências que acabam por afectar a qualidade do serviço oferecido e, obviamente, a capacidade de atracção e fidelização de públicos.

Tendo em conta esse objectivo, o Museu deveria também ser mais divulgado. Essa é, pelo menos a opinião de muitos visitantes34, o que indicia alguma surpresa dos próprios perante a instituição, talvez pelo

facto de estar “escondida” numa estação de metro.

Esta crítica pode explicar-se por vários motivos, entre eles dois que mais directamente se relacionam com este trabalho: primeiro porque a exposição permanente não estará a conseguir convencer as pessoas que a visitam a recomendá-la junto de terceiros35, e segundo porque o espaço onde o Museu está

instalado não parece ser suficientemente atractivo e valorizado de um ponto de vista arquitectónico para despertar o interesse na visita.

Só estes motivos poderão, por exemplo, explicar que, passados quase 18 anos sobre a sua inauguração, o Museu continue a ter o feedback de que muitos profissionais da área da música não realizaram ainda qualquer visita à exposição, e que vários outros são surpreendidos com a sua existência.

Daqui se depreende que, ao contrário do que se supunha, a opção metro veio a provar-se uma barreira à divulgação, pelo que o Museu teria muito a ganhar caso pudesse ser instalado num outro edifício, capaz de dignificar melhor a música e o seu património.

34 A comprovar esta crítica, encontramos no livro de visitas do Museu comentários como: “Exposição bem organizada com belas peças que merecia maior divulgação.”; “… a sua divulgação traria muita gente a este local, que por não saber ficam ausentes.”; “Pena que só agora tenha conhecimento deste Museu. Por favor divulguem.”; “É pena que não seja muito visitado. Será falta de divulgação, ou o local não será o mais indicado?”

35 “Building a museum’s reputation has to be worked at, and reputation has to be earned. Bad publicity or poor experience on the part of the museum’s visitors or users can damage the museum’s reputation (...). The most effective form of publicity is good word-of-mouth publicity. A satisfied user is infinitely preferable to a dissatisfied user who can damage your museum’s reputation without your knowledge. Satisfied users are your best advertising agents.” (AMBROSE; PAINE,

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 43-46)