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Conteúdos informativos

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 35-39)

3. A EXPOSIÇÃO PERMANENTE DO MUSEU DA MÚSICA

3.2. Diagnóstico da exposição permanente

3.2.2. Conteúdos informativos

No que se refere à informação, esta é escassa. À entrada distribuem-se folhetos com indicação dos instrumentos mais significativos e do percurso básico da exposição (à data deste diagnóstico apenas disponíveis em inglês). Para complementar a visita, os visitantes podem ainda adquirir, na loja, o roteiro do Museu (disponível em português, inglês e francês), sendo esta a única publicação existente relativa à exposição permanente.

De resto, na exposição propriamente dita não existem textos de parede nem de sala e a esmagadora maioria das tabelas inclui apenas referências ao nome do instrumento, número de inventário, construtor, data e local, conteúdos que se encontram disponíveis em português e inglês.

Não existe, igualmente, qualquer possibilidade de exploração multimédia, nomeadamente som, ausência que, tratando-se de uma exposição de instrumentos musicais, se faz notar particularmente e que é recorrentemente mencionada pelos visitantes27.

27 Esta é talvez a crítica mais recorrente entre os comentários constantes dos livros de visitas do Museu. Para a ilustrar, apresento aqui alguns desses comentários: “Belos objectos, mas todos mudos.”; “E a música, onde está?”; “Uma pena encontrar um Museu da Música tão silencioso…”; “Este museu é uma maravilha para os nossos olhos mas ainda não para os nossos ouvidos…”; “A impossibilidade de ouvir os sons dos vários instrumentos torna este museu pouco apelativo para

A interactividade restringe-se, portanto, a alguns instrumentos e a modelos dos mecanismos de tecla de vários outros, materiais que se encontram espalhados pela exposição e que são, nomeadamente, utilizados nas actividades do Serviço Educativo. A forma como se apresentam não parece, contudo, despertar a atenção dos visitantes, que assinalam com alguma frequência o desejo de que a exposição seja mais lúdica e pedagógica, nomeadamente possibilitando que alguns instrumentos possam ser tocados.28

Esta menor presença de elementos informativos contribui para uma mais difícil compreensão do próprio discurso expositivo. Exemplo disso é a vitrina que pretende retratar a evolução da guitarra portuguesa tendo como ponto de partida a sua congénere inglesa. Em virtude da ausência de informação, a ligação entre estes dois instrumentos só é evidente no decurso de uma visita guiada ou após a leitura do roteiro do Museu. Situação semelhante se passa com os vários retratos que, colocados junto ao piano que Franz Liszt trouxe para Portugal em 1845, pretendem documentar circunstâncias relacionadas com essa viagem.

Esta situação determina que o visitante obtenha a sua informação essencialmente a partir da observação dos vários objectos, um pouco à semelhança do que acontece em museus de arte. Consegue assim apreciar a estética das peças e intuir algo mais a partir dos diálogos que estas estabelecem entre si, mas à falta da interpretação proporcionada pelo Serviço Educativo ou da consulta de informação complementar (por exemplo, o roteiro do Museu), terminará a visita sem obter informação histórica.

Essa falta de informação contribui, por outro lado, para uma menor apreensão do valor da colecção (uma das mais ricas da Europa, com instrumentos raros e de incalculável valor histórico e organológico), impossibilitando a valorização dos seus ex-libris, praticamente “anónimos” na exposição.

Talvez em função destas contingências, muitos visitantes apontam frequentemente a falta de informação como um dos aspectos a melhorar29, isto apesar de se declararem contentes com a visita,

assinalando geralmente a beleza e a diversidade da colecção e apontando o interesse cultural do Museu.

28 Consubstanciando esta ideia, encontramos nos livros de visitas comentários como: “… Deveriam pôr instrumentos para tocar, para tornar o museu mais divertido…”; “As crianças necessitam de uma parte mais interactiva para tornar o museu Mais vivo.”; “Seria interessante expor instrumentos que fossem modernos, possíveis de poderem ser manuseados e tocados.”; “Um Museu do séc. XXI onde não se pode tocar nem ouvir os instrumentos? É como um Museu de Pintura às escuras!!”

29 Nos livros de visitas do Museu encontramos vários comentários que vão neste sentido. Para que se perceba, apresento aqui alguns deles: “Falta explicação dos instrumentos. Têm instrumentos maravilhosos, mas que nada sabemos sobre eles.”; “… todas as explicações sobre o que está em exposição são necessárias. Os museus não podem tornar-se elitistas (…) diminui a afluência, que infelizmente já não é muita.”; “A informação é fraca, limitando-se a nomes e datas.”; “Falta um pouco de história e contextualização, podiam explorar melhor essa parte que falta tanto em Portugal”; “… you should explain how they are played with diagrams or photos.”

Procurando dar resposta a alguns dos problemas mencionados, foram finalizadas, já em 2011, visitas áudio que estão disponíveis através de seis leitores de mp3 que os visitantes podem alugar por 50 cêntimos (este valor reverte a favor da Associação dos Amigos do Museu da Música).

Com recurso a estes equipamentos, os visitantes podem ter acesso a gravações com o som de peças que integram a exposição (algumas delas registadas com recurso a instrumentos do Museu), assim como a pequenas narrações baseadas em conteúdos do roteiro. Até ao momento, este serviço não está, contudo, a ter a receptividade que seria de esperar, o que talvez se possa explicar por falta de divulgação, porque as narrações estão apenas em português, porque a informação disponível é limitada ou ainda porque a sua disponibilização não é gratuita.

Em função dos aspectos que aqui referi, é preciso frisar o importante papel que o Serviço Educativo desempenha na mediação entre os públicos do Museu e a exposição. Tendo em vista esse objectivo, os técnicos do Museu realizam, mediante marcação prévia, tanto visitas guiadas como um conjunto fixo de actividades. Dirigidas a públicos-alvo distintos, estas visitas e actividades têm como objectivo comunicar a exposição, assim como o Museu e as suas colecções, não esquecendo a música em si. Como tal, podem ser preparadas em conjunto com os educadores, professores e responsáveis pelos grupos.

A oferta disponível é, contudo, limitada aos dias de semana e não suficientemente diversificada para atingir todos os públicos do Museu, o que se explica em função dos parcos recursos humanos e financeiros disponíveis (ver 2.5.). Por outro lado, as visitas e actividades são apenas dirigidas a grupos. Nessa medida, não beneficiam os visitantes individuais, que têm, no entanto, acesso a uma programação cultural da qual podem fazer parte concertos, conferências, workshops ou exposições temporárias. Estas actividades realizam-se ao longo de todo o ano, com menor frequência nos meses do Verão, sendo na sua maioria destinadas a um público adulto. Note-se, porém, que na maior parte dos casos não conseguem ser um prolongamento / complemento da exposição permanente.

À falta de outros espaços, tanto umas actividades como outras se realizam na sala central da exposição. A polivalência desta área representa um acréscimo de funcionalidade para o Museu, mas tem por vezes resultados que deixam algo a desejar. Isso acontece porque a normal fruição da exposição permanente acaba por ser afectada. Os concertos são um exemplo disso mesmo, já que dificilmente um visitante poderá apreciar, por exemplo, os quatro medalhões de José Malhoa, situados precisamente no local onde os músicos tocam.

No caso concreto das exposições temporárias, foram várias as que o Museu organizou ao longo dos anos, algumas delas envolvendo meios relativamente consideráveis face à realidade actual, nomeadamente incluindo a produção de catálogos. Das exposições a que me refiro, quatro delas centraram-se em

personalidades do meio musical português (José Viana da Mota, Tomás Alcaide, Michel’angelo Lambertini e Frederico de Freitas), uma documentou a passagem de Franz Liszt por Lisboa, outra teve como tema a iconografia musical e a última delas retrocedeu à primeira república para relatar a história que antecedeu a criação do Museu.

Face aos recursos financeiros e humanos necessários para montar semelhantes exposições, tem sido política do Museu, em anos mais recentes, organizar antes pequenas mostras temáticas, beneficiando para isso de um conjunto de 15 vitrinas desmontáveis e de doze outras de carácter fixo, espalhadas ao longo do circuito expositivo. Dada a facilidade de manutenção, estas últimas são renovadas com alguma regularidade, acolhendo peças das colecções do Museu que não integram a permanente ou mesmo outras de colecções exteriores. A título de exemplo, estas incluíram já uma exposição dedicada à Banda da Carris, outras com instrumentos de bandas filarmónicas, guitarras eléctricas Fender e instrumentos dos países da União Europeia e uma outra com discos de música portuguesa.

Com menos destaque, estes espaços podem também acolher mostras de doações efectuadas num certo período, de uma colecção específica ou de uma selecção de peças destinada a assinalar uma dada efeméride. Como tal, são, por vezes, preparadas em coordenação com eventos programados para a sala central referida atrás.

Desde Abril de 2011, o Museu tem também vindo a destacar todos os meses uma peça do acervo, visando dessa forma dar a conhecer a riqueza e diversidade do património à sua guarda.

Tendo em conta a inexistência de espaços próprios e de uma estrutura financeira e de recursos humanos adequada, em anos mais recentes as mostras mensais de peças e outras programadas para os nichos e para a sala central têm feito a vez das exposições temporárias de maior envergadura, não as substituindo, porém.

A sua principal função é contribuir para a dinamização do Museu, pese embora em termos de resultados tivessem a beneficiar caso pudessem ser realizadas em espaços independentes. Não sendo assim, essas mostras acabam por vezes por parecer uma extensão da exposição permanente, com os equívocos que daí advêm para a compreensão dos respectivos discursos expositivos. Para que assim não seja, o Museu vê-se obrigado a recorrer a estruturas museográficas e a um design distinto do utilizado na exposição permanente, o que, dependendo dos orçamentos disponíveis, nem sempre é possível de colocar em prática.

Estas mostras, tal como muitos dos eventos realizados no espaço do Museu, apenas por vezes correspondem a uma programação pensada, diversificada, realizada com regularidade e equilibrada, sendo

antes fruto das oportunidades que se apresentam. Assim se explica, por exemplo, uma menor quantidade de actividades estruturadas em torno de investigação sobre as colecções do Museu.

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 35-39)