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Os melhores amigos do músico

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 79-82)

5. PROPOSTA DE PROGRAMA EXPOSITIVO

5.2. Produção (Emissão)

5.2.1. Performance e criação

5.2.1.4. Os melhores amigos do músico

Sobre a origem da música e dos instrumentos musicais existem muitas teorias. Para alguns o primeiro instrumento musical foi o próprio corpo humano, mais concretamente a voz51. Desde esse momento, o homem soube descobrir na natureza outros instrumentos musicais, nomeadamente a partir do manuseamento de utensílios cuja função original não era fazer música52.

51 “(...) there is little doubt that the very first 'musical instrument' would have been the human voice (…)” (ROEDERER, 2008: 18).

52 “O Paleolítico Inferior (c. 40 000-8000 a.C.) faculta os primeiros elementos que poderão ser descritos, embora sem grau absoluto de certeza, como instrumentos; conchas perfuradas poderão ter funcionado como chocalhos e ossos de animais

Com o aparecimento do instrumento musical nasce também o músico. Um e outro são inseparáveis e é precisamente da interacção entre ambos que a música evoluiu até ao que é hoje em dia. Nesse sentido, não é possível contar quer a história da música, quer a do músico, sem contar também a do instrumento musical.

Esse será, portanto, o mote deste núcleo, pelo que deverá ser constituído por uma selecção de instrumentos cuja ordem de disposição possibilite ao visitante uma compreensão do modo como evoluíram até chegarem à sua forma actual.

A exposição deverá, assim, ser organizada por épocas dentro da história da música, começando com uma referência aos que estão na raiz de quase todos os instrumentos contemporâneos, ou seja, aqueles que produzem som consoante são percutidos, friccionados, beliscados ou soprados.

Sendo este o ponto de partida, a evolução (e declínio, se for o caso) das diferentes tipologias de instrumentos deverá ser explicada em pequenos textos de parede. Estes deverão, nomeadamente, reflectir a sofisticação de que a música ocidental foi alvo, nomeadamente da Renascença em diante, e que resultou no desenvolvimento dos chamados consorts53, no aparecimento dos instrumentos de corda com teclado (do qual

o expoente máximo viria a ser o piano) e, mais tarde de vários outros instrumentos como o clarinete (século XVIII), saxofone, tuba, acordeão (século XIX), guitarra eléctrica ou sintetizador (século XX).

Os novos instrumentos, assim como as inovações que com o passar dos anos trouxeram mais potencialidades aos menos novos, deverão ser introduzidos sob a forma de textos explicativos capazes de identificar as motivações que estiveram na sua origem e contextualizar a sua relevância para os músicos (instrumentistas e compositores) e a música.

Esta história também se faz de muitos instrumentos que acabariam por não se impor ou perder o seu estatuto, seja por uma questão de moda, seja porque não souberam acompanhar a evolução da música, seja ainda porque não eram tão funcionais como seria desejável. Embora do lado dos vencidos, também estes deverão ter o seu lugar na exposição.

De igual modo, não deverão faltar instrumentos populares, mais concretamente aqueles que constituem o instrumentário português. Tendo em conta a abrangência deste tipo de património, ficarão, contudo, de fora instrumentos populares de outras realidades.

Por outro lado, e dada a sua importância para muitos músicos contemporâneos, a exposição deverá ainda contar com equipamentos electrónicos de captação, amplificação e reprodução do som,

53 “o mesmo instrumento em vários tamanhos, correspondendo cada um mais ou menos a uma das tessituras da voz” (ARDLEY et al, 1997: 28).

nomeadamente altifalantes, amplificadores ou microfones, além de acessórios da performance musical como pedais.

Dado que este será um núcleo essencialmente dedicado a instrumentos musicais e equipamentos (embora não o único onde estes marcam presença), aos espécimes aqui apresentados deverá ser dado um maior destaque individual, em particular tratando-se de peças de relevância das colecções do Museu, como o cravo setecentista de Joaquim José Antunes; o oboé de Eichentopf (Leipzig, segundo quartel do século XVIII); o violoncelo de António Stradivari, que pertenceu e foi tocado pelo rei D. Luís; ou o piano (Boisselot & Fils) que Franz Liszt trouxe de França em 1845.

Uma vez que a sofisticação progressiva dos instrumentos traduz a importância crescente do trabalho dos construtores, a exposição deverá também abordar a atenção que, em especial a partir do Barroco, estes passaram a dedicar aos materiais, à qualidade da construção e à estética, não esquecendo a inovação; tudo elementos que contribuíriam para fixar a forma de muitos instrumentos.

A importância da figura do construtor e também do fabricante deverá, assim, ser realçada, aproveitando para dar a conhecer um pouco do que se sabe sobre a construção de instrumentos em Portugal. Em particular será importante dar a conhecer os principais intervenientes nesta área, devidamente enquadrados com a realidade internacional. Entre outros, importará mencionar os vários elementos das famílias Antunes (construtores de instrumentos de tecla), Haupt (instrumentos de sopro), Grácio (guitarras), Capela (violinos) ou Machado e Cerveira (órgãos).

A este propósito, deverão ser disponibilizados pequenos vídeos com testemunhos de vários construtores e fabricantes portugueses, relatando um pouco da sua experiência. Estes vídeos poderão, tal como outros conteúdos, ser sincronizados com os áudio-guias.

A relevância destes profissionais será ainda assinalada através da recriação de uma ou mais oficinas portuguesas de construção de instrumentos musicais, tarefa que implicará a exposição de ferramentas, moldes e diversos materiais. Independentemente dessa recriação ou recriações, a exposição deverá contar sempre com uma importante componente gráfica de documentação dos processos de construção, seja através de fotografia ou recorrendo, tal como nos núcleos anteriores, à ilustração.

Essa componente gráfica deverá prolongar-se aos próprios instrumentos musicais, no sentido de facultar ao visitante informação sobre a forma como eram ou são tocados. Como tal, todas as tipologias de instrumentos deverão ser representadas graficamente na exposição, nos mesmos moldes definidos anteriormente.

A mesma preocupação com as mais-valias que poderão resultar para o visitante da existência de conteúdos complementares deverá estender-se ao som. Posto isto, a exemplo de outros núcleos, também aqui os visitantes poderão ouvir as várias tipologias de instrumentos expostos, recorrendo aos áudio-guias.

No documento A MÚSICA EM EXPOSIÇÃO: UMA (páginas 79-82)